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ESFINGE DO PALÁCIO DO BELVEDERE DE VIENA |
Embora o modelo clássico seja formado por uma mulher (cabeça) e por um corpo de animal (leão), sua forma admitia muitas variações no mundo antigo. Podiam ser encontradas Esfinges com cabeças de homem (androsphinx), com cabeças de carneiro (criosphinx) e com cabeças de falcão (hieracosphinx), ou com cabeças de faraós, do deus Amun e do deus Horus.
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ESFINGE COM CABEÇA DE CARNEIRO |
Nas Esfinges onde o touro aparecia, seus flancos, para muitos, representavam a matéria corporal, a nutrição abdominal, a inércia, a vida da sensualidade, a linfa. A cabeça humana da esfinge, nessa composição, representava já o espírito imaterial, sede do pensamento, mas preso ao saber terrestre e ao elemento terra. As garras e os membros dos animais representavam o fogo devorador, o vigor ativo e a energia unificadora que punha em ação os instintos e as resoluções voluntárias, com maior ou menor intensidade.
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QUATRO ELEMENTOS |
Temperamento, como sabemos, é índole, propensão, constituição psicofísica particular, conjunto de características vitais. Cada temperamento se relaciona com um ou mais elementos fundamentais da vida universal (fogo, terra, ar e água) dando-nos uma ideia do caráter (etimologicamente, coisa gravada) daquele que o ou os ostenta. No geral, temos mais de um elemento que costumam atuar em conflito. Neste sentido, temperamento é dosagem. Nos humanos, por exemplo, a dominante fogo (masculina) produz o tipo colérico, que se caracteriza pela atividade, pela determinação ou impetuosidade. Suas resoluções são rápidas e tendem a descarregar suas emoções em atos, palavras ou manifestações grandiosas. O tipo fogo mais puro é lacônico e costuma reduzir a sua sociabilidade a um meio para alcançar os seus fins.
A dominante terra (feminina) produz o tipo melancólico, de temperamento introvertido, analítico, desconfiado, minucioso. A sociabilidade não é o seu forte, fazendo, por isso, amigos com certa ou muita dificuldade. Costuma ceder ao pessimismo, apresentando aversão por pessoas que têm pontos diferentes dos seus. Perfeccionista, precisa de muitos dados e informações para tomar decisões. Psiquicamente é o que podemos chamar de um ruminante.
A dominante ar, considerada masculina, produz o tipo normalmente vivo, ativo mentalmente, agitado. Tem facilidade de expressão, comunica-se com relativa facilidade. Pode ser inconstante e oscilar entre a atividade mental exuberante e a indolência. Estabelece muitos contactos, mas geralmente não os aprofunda. Sua noção de espaço não é muito boa, atrasando-se com frequência. Nas religiões, liga-se à manifestação do chamado sopro divino, sendo, como tal, um símbolo de espiritualização.
A água, elemento feminino como a terra, é uma força original adaptável e calma geralmente, tendo relação com o norte, com o frio, com a pureza, indicando, nos sonhos, a necessidade de regeneração, de esquecimento do passado. É símbolo do inconsciente. É nesta perspectiva que sonhos com banhos podem significar a necessidade de mudanças ou da companhia de pessoas dinâmicas e realizadoras. O tipo água é muito sensível, sentindo sempre mais do que consegue expressar. Teme o perigo, mas pode produzi-lo pela imaginação. Nos tipos inferiores, faltando o entusiasmo, a lentidão e a dispersão predominam.
Cada temperamento, como se viu, corresponde a um dos quatro elementos e tem relação com características físicas, morais e psíquicas. Os estudiosos da ciência do temperamento na antiguidade nos diziam que é mais importante conhecer o temperamento de alguém do que simplesmente julgá-lo.
A sabedoria antiga retirava do enigma da esfinge as quatro regras fundamentais da conduta humana: 1) saber com a inteligência do cérebro humano; 2) querer com o vigor do leão; 3) ousar ou se elevar com o poder audacioso das asas da águia; 4) se calar com a força massiva e concentrada do touro.
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ESFINGE DE GIZÉ |
A grande Esfinge de Gizé, no Egito, é sem dúvida o mais antigo e conhecido desses monumentos compostos, inclusive pelo tamanho. Tem cerca de 74 m. de comprimento; sua face tem 4 m. de altura. Até bem pouco tempo, sempre se acreditou que esse monumento havia sido construído entre os anos de 2.528 - 2.520 aC., durante o reinado do faraó Radjedef, sucessor do faraó Khufu, construtor da grande pirâmide. Está hoje provado, porém, que a esfinge egípcia é um monumento astrológico, como outros de natureza megalítica, encontrados em várias partes do mundo. Ela foi construída entre os anos 10.000 - 8.000 aC, para marcar a passagem da era astrológica de Virgem para Leão.
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ESFINGES FUNERÁRIAS |
No mundo grego, as Esfinges, por influência egípcia e oriental (Síria e Fenícia), começaram a ser usadas como monumentos funerários. Sob a forma de uma mulher alada, seios túmidos, sorriso misterioso, projetada para frente, presa a uma coluna, guardavam passagens e desfiladeiros. Propunham elas enigmas (enigma, em grego, é fala obscura, equívoca) aos que passavam, devorando todos aqueles que não os resolvessem.
Segundo este entendimento, formulariam as Esfinges gregas, de modo ambíguo, o enigma da vida, que só poderia ser vencido pela inteligência. Mas a grande perversão da vitória pela inteligência estava no fato de que ela não bastava, de que ela era sempre precária e efêmera, uma vitória onde a elevação não entrava, pois ela é em si mesma ausência de transcendência. Por isso, vencer a esfinge, símbolo da vaidade destrutiva, era mergulhar no abismo.
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ESFINGE ( FERNAND KHNOFF, 1858 - 1921 ). |
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ÉDIPO E A ESFINGE |
O que a esfinge nos propõe no fundo, também, é uma luta permanente que devemos travar contra a queda, contra a banalização, contra a acomodação, baseada em vitórias físicas e mentais desprovidas de elevação. A vitória sobre a Esfinge deve ser uma vitória sobre o permanente em nós, ou seja, uma vitória sobre a morte, sobre os acréscimos que trazemos para dentro do nosso ser ou que sobre (dentro dele) ele depositamos.
A vitória sobre a esfinge é a descoberta de que permanecer é morrer. Só uma coisa morta pode ser permanente. Os oceanos estão aí nos dizendo que vida é fluxo e refluxo. Sem fluxo e refluxo não há vida. Tudo vive através da mudança, isto é, ir de uma polaridade a outra, é alternância constante, pois só assim poderemos nos tornar mais vivos e renovados.
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MUSEU DO TEMPLO DE APOLO , DELFOS |