domingo, 23 de maio de 2021

TOTH

    

TOTH


DJEUTHI
Toth é a forma que toma, na época greco-romana, o nome do deus de Djeuthi, identificado pelos gregos como uma espécie de Hermes. Deus da Lua, da escrita, da magia, da sabedoria, Toth era adorado no Baixo Egito, desde o período pré-dinástico. 

TUTHMOSIS
Seu nome foi adotado por muitos faraós, como o de Tuthmosis (nascido de Toth). É ele muitas vezes descrito como um ser humano com cabeça de íbis ou como um babuíno africano sentado com um disco lunar sobre a cabeça. Era conhecido também como “aquele de Djehuthi”, este último nome pelo qual se identificava em tempos muitos remotos o Baixo Egito, cuja capital, Hermópolis parva, parece ter sido o berço do culto do deus, transferido depois para um grande templo no alto Egito, em Hermópolis magna. 

Toth era também o mensageiro dos céus, adorado em todo o Egito como deus lunar, senhor das letras e das ciências, das invenções e da sabedoria, patrono dos escribas, porta-voz e arquivista dos deuses. Era, como escriba divino, aquele que anotava as palavras de Ptah e os veredictos de Anúbis, quando este pesava a alma dos mortos.

O deus era representado comumente por uma íbis ou por um ser com o corpo humano  com uma cabeça de íbis, encimada por um crescente lunar. Era representado também por um ser com uma cabeça de macaco, de focinho alongado como o de um cão. Segundo os mitos hermopolitanos, Toth era o verdadeiro demiurgo universal, pois, com a sua voz, materializou tudo, inclusive os deuses, a partir do Num primordial.

HERMÓPOLIS
Toth era a palavra criadora na forma do deus ainda como patrono dos astrônomos, dos contadores, dos mágicos, dos curandeiros e dos encantadores. O bico da íbis simbolizava toda operação intelectual prática, embora, por mais prática que fosse, nenhuma operação intelectual poderia, para os antigos egípcios, excluir o seu lado esotérico. A íbis, assim, pela forma de seu bico, sempre lembrou o crescente lunar. 

Mais: a ave será um emblema da arte médica, pois seu bico tem a forma de um clister, a seringa retal usada para lavagens e purificações internas. O crescente lunar lembrava também periodicidade, renovação, transformação e crescimento, já que a Lua é o astro dos ritmos biológicos por excelência. Crescendo, minguando, desaparecendo e retornando, a Lua indicava que a vida estava submetida à lei universal do vir a ser, do nascimento à morte. 

Quanto ao macaco, a relação se estabelece através do comportamento do animal: agilidade, capacidade para reproduzir, para imitar, movimentação descontrolada, agitação. Por isso, Toth, nos seus aspectos negativos, pode ser um símbolo da consciência dissipada, indeterminada, ambivalente. Já com relação ao cão, lembremos que os deuses cinocéfalos têm, dentre outras funções, nas mais variadas mitologias, a de guiar os mortos  na travessia noturna da morte depois tê-los acompanhado durante toda  a vida.


PTAH

A associação de Toth com Ptah se dá a partir de Mênfis, centro do culto deste último, onde foi adorado como criador do mundo. Seu pensamento é Áton, representado pelo disco solar, e sua língua é Toth. Ptah aparece também como o patrono dos artesãos, dos artistas, inventor das artes, metalúrgico e construtor. Uma espécie de Hefesto grego. Anúbis era o deus que abria o caminho  do outro mundo para as almas dos mortos. Deus psicopompo, pois. Era representado por um chacal negro ou como um ser humano com a cabeça do animal (às vezes, cão). 

ANÚBIS
O culto de Anúbis tinha como centro Cynópolis. Presidia o deus aos embalsamamentos e à encomendação dos corpos (preces funerárias). O chacal, entre os egípcios, era um animal ligado a cemitérios, alimentando-se de cadáveres, sendo, por isso, em muitas tradições símbolo de mau augúrio. Anúbis, o deus chacal, era, por isso, com todo o seu poder, o grande senhor das necrópoles.

PLATÃO
Na função demiúrgica (demiurgo de demo, povo, público e ourgos, produtor), Toth tornou-se assim o intermediário entre o mundo divino e a criação. O Cristianismo se apropriará dessa função pela via grega, atribuindo-lhe, além da organização do mundo material, a criação do mal, que não poderia ser atribuído ao Criador Supremo. Segundo Platão, demiurgo é o artesão divino, o princípio organizador do universo que, sem criar de fato a realidade, a modela e organiza a matéria caótica preexistente através de modelos eternos e perfeitos. Num para os egípcios é o Caos, uma espécie de oceano primordial onde estavam os germes de todas as coisas. Não é propriamente um conceito religioso, parece-se com o Brahman dos hinduístas. Mais filosófico, o conceito não era entre os egípcios o resultado de uma especulação abstrata. Provavelmente lembrança de uma época muito remota. Uma fórmula gravada nas pirâmides fazia alusão a um tempo em que o céu não tinha nascido, nem a terra, os humanos, a morte, os deuses, nada. A noção de Num viria do paleolítico, a visão do Nilo monstruoso e indisciplinado que procurava o seu leito no continente africano. A cada inundação tudo parecia se desfazer, um mar imenso, de onde depois emergiria a vida. A autoria da criação não é do Num, que traduz como conceito mais uma ideia de passividade, de onde surgirá também a primeira força divina. 

GEB E NUT

RA
Em antigas inscrições nas pirâmides Toth aparece ora como filho de Ra, ora como filho de Geb e de Nut, ora simplesmente como o vizir divino. Fiel a Osíris, ajudará Isis a fazer seu irmão e esposo voltar à vida, tornando-se protetor de Hórus, na luta que este travará contra Seth, inimigo mortal de seu pai. Ra ou Re era o deus solar de Heliópolis, criador do universo no seu aspecto energético, pai dos nove deuses primordiais (enéada). A cada dia, realizava a sua viagem para, à noite, mergulhando nas trevas, lutar contra a serpente Apópis, imagem do caos, sempre vencida, mas sempre ameaçando a marcha solar. 

RA  KHEPRI
Ao raiar do dia, Ra é Khepri; ao meio-dia é Ra, ele mesmo, e ao entardecer é Áton. Khepri vem de kheprer, escaravelho, figura utilizada para dar imagem ao verbo kheper, isto é, “aquele que veio à existência por si mesmo”, o sol levante. O escaravelho, como sabemos, é um símbolo cíclico do Sol e de sua ressurreição.


PLUTARCO
Geb e Nut, na informação de Plutarco, formam um casal divino, que tem muito em comum com Cronos e Reia gregos. Geb cederá seu reino a seu filho mais velho Osíris, uma mistura de Dioniso e de Hades-Plutão gregos. Primitivamente, um deus da vegetação, ou melhor, é o espírito do mundo vegetal, que morre e renasce constantemente. É neste sentido que Osíris é o deus dos mortos e do renascimento, tornando-se a primeira divindade do panteão egípcio. Seu culto se irradia de Tebas, do Alto-Egito. Como deus civilizador, seu grande vizir é Thot. Devido a um complô preparado por Seth, seu irmão, é assassinado. Isis, sua irmã e amante, recupera o corpo, ajudada por Thot, por Anúbis e por Hórus, este último filho de Osíris e da deusa. Seth será condenado. A ressurreição de Osíris é devida, sobretudo, à palavra, ao poderoso verbo, e à magia de Toth, bem como à purificação a que o deus-médico submete Osíris. Osíris é o deus do mundo vegetal e, em especial, do trigo e da vinha. O conflito que mantém com Seth simboliza a luta entre o deserto e a terra frutífera, o vento seco e áspero e a umidade fecundante, as trevas e a luz.

Dotado de todo o saber, Toth inventou todas as ciências e artes: aritmética, a geometria, a astronomia, a agronomia, a adivinhação pela magia, a medicina e a cirurgia, a música com os instrumentos de corda e de sopro, o desenho e, acima de tudo, o alfabeto e a escrita, sem a qual a humanidade correria o risco de esquecer e perder as suas descobertas. É por esta razão que a profissão de escriba no antigo Egito era uma das mais importantes. A eles cabia o registro de tudo o que ocorria, na vida pública e particular. Pesavam, mediam, classificavam, inventariavam, arquivavam. Os textos falam que “um livro é mais importante que uma casa, que um palácio, que uma lápide num templo.”

HERMES TRIMEGISTO
Designado, por ter inventado os hieróglifos, como o Senhor das palavras divinas, é também reverenciado como o primeiro dos mágicos. Seus discípulos podiam entrar livremente na cripta onde ele guardava seus livros de magia para consultá-los e aprender a decifrar as fórmulas do mundo natural e delas se assenhorearem. Foi este enorme poder que levou seus fiéis a designá-lo pelo nome de Hermes Trimegisto no período helenístico da história grega. 

HARPÓCRATES
Retirando-se para o céu, depois de sua longa permanência na terra, Toth continuou desempenhando várias funções: é o deus da Lua, ou melhor, o seu guardião. O deus, na forma de um macaco cinocéfalo ou de íbis, vela a Lua, o olho esquerdo de Hórus, representado sob a forma de um falcão (princípio celeste) ou ser humano com a cabeça da ave. Seus olhos são o Sol e a Lua. Os gregos o vêm como uma espécie de Apolo. Uma das grandes representações de Hórus é a dele como criança, Harpócrates. O mundo greco-romano fará dessa representação uma divindade do silêncio, honrado por filósofos e místicos. 

Uma passagem de O Livro dos Mortos narra que Ra ordenou a Toth que tomasse o seu lugar no céu enquanto ele visitasse o mundo inferior e que ele assumisse a proteção da Lua, quando de suas viagens noturnas na forma de um barco, protegendo-a contra os monstros que tentavam devorá-la. Na qualidade de deus lunar, Toth é a divindade das medidas e das divisões do tempo. Como administrador de todas as ações divinas, cabem-lhe todos os registros e cálculos, desde a divisão geográfica do país, suas dimensões, o levantamento dos recursos naturais e o inventário de todos os seus tesouros.

HELIÓPOLIS
Arquivista dos deuses, é, ao mesmo tempo, patrono da História. Anota cuidadosamente a sucessão dos soberanos, escrevendo, sobre as folhas da árvore sagrada de Heliópolis, o nome do futuro faraó que a rainha acabava de dar à luz, fruto de sua união com o senhor do céu. Inscreverá também Thot, sobre folhas da palmeira sagrada, os anos felizes que as divindades lhe concederão. Fecha seus escritos com a expressão: Ra o disse, Thot o registrou.

MAAT
Recebendo plena confiança dos deuses, Thot é o árbitro de todas as questões e disputas universais. Por sentença sua, Horus é absolvido por ter atacado Seth, vingando, assim, seu pai, Osíris, e aquele é condenado. Os textos registram que Maat, a deusa da Verdade e da Justiça, é a companheira natural de Toth, embora às vezes outras ligações sejam apontadas. A principal festa de Toth era celebrada, segundo Plutarco, alguns dias depois da Lua cheia, no começo do ano. Neste período, as pessoas se saudavam com a expressão doce é a verdade; frutas (o figo, em especial) e mel eram sempre oferecidos nessas ocasiões.

Toth, o senhor da luz e do intelecto, quando prestou favores ao grande deus Ra, recebeu a incumbência de se responsabilizar não só por todos os astros da noite como, de modo especial, de tutelar a Lua e de governar, no ano, o período que se estendia de 15 de maio a 16 de junho. Para os egípcios, os nascidos nesse período, recebem do deus muitos dons, sendo privilegiada a sua inteligência, a sua capacidade de se comunicar e de relacionar, embora, no geral, sempre encontrem muitas dificuldades quanto à sua vida afetiva devido à sua grande inconstância.