sexta-feira, 3 de agosto de 2018

AQUÁRIO (2)


HAPI
No Egito, o signo de Aquário aparecia associado ao rio Nilo, o “rio azul”. Lembremos que o nome Nilo vem dos gregos (neilos) e é encontrado no sânscrito como adjetivo, nila, azul. Do latim, nilus, passou para o árabe e para o português, como o temos,por exemplo, na palavra anil. O rio era divinizado pelos egípcios quando de suas enchentes, sendo chamado então de Hapi. Representavam-no por uma figura antropomorfizada, obesa, com grande ventre, com seios pendentes, desenvolvidos como os de uma mulher, o que lhe dava um aspecto andrógino. Vestido como um barqueiro, às vezes como um pescador, usava Hapi uma coroa de plantas aquáticas na cabeça (lótus se representado no Alto Egito, papiro, no Baixo Egito). O deus Hapi era aquele que nutria, que alimentava o país e os próprios deuses; morava na primeira catarata do rio, numa ilha, de onde derramava de suas ânforas a água que iria abastecer o céu e depois a terra.

Autogerado, Hapi era chamado de Único, acreditando os egípcios
NUN
que ele saía do Oceano primordial, o Nun, que envolvia a Terra, do qual Hapi era uma forma secundária. Nun guardava todas as formas possíveis, as positivas e as negativas, e dentro dele se manifestou o demiurgo. Nun era considerado o deus das origens na cosmogonia heliopolitana. Em Hermópolis, era um dos quatro princípios masculinos, representando o infinito líquido, associado à sua contrapartida feminina, Nenet. Rodeando o mundo visível, ele esta na origem das enchentes. É da profundeza de suas águas que no final dos tempos sairá um demiurgo para nos proporcionar um novo ciclo de vida.  


HERMÓPOLIS  ,  SÍTIO   ARQUEOLÓGICO

Já os devotos da deusa Ísis davam outra interpretação às cheias do Nilo, que começavam em meados de junho. Afirmavam eles que tal acontecimento se devia às lágrimas da deusa, chorosa pela morte de
OSÍRIS
Osíris, assassinado por seu irmão gêmeo Seth. Qualquer que seja, porém, o aspecto religioso privilegiado, o que se sabe é que, além de muitas oferendas, cânticos e poemas sempre haviam sido entoados e recitados às margens do rio desde tempos muitos remotos para que as águas atingissem um ponto ideal quando das enchentes de modo a proporcionar a máxima fertilidade paras terras vizinhas, mais ou menos a 20 km. de ambas as margens do rio,  Deste ponto ideal dependia anualmente a prosperidade ou a infelicidade do povo egípcio. Quando gregos e romanos ocuparam o país, a referida altura, para que a almejada fartura das colheitas fosse obtida, estava fixada em mais ou menos dezesseis côvados, quase onze metros.  

Lembremos que o deus Hapi, apesar de muito reverenciado,  nunca chegou a fazer parte de qualquer sistema teológico no Egito. Nos templos, ele exercia uma função doadora, para outros subalterna, sendo uma espécie de auxiliar dos grandes deuses, oferecendo-lhes o produto de suas águas. Neste sentido, a função de Hapi lembra muito a de Ganimedes como escanção dos deuses do Olimpo grego. Muito representado na escultura religiosa do país, Hapi atuava juntamente com as divindades do mar, dos grãos, do florescimento do mundo vegetal, das oferendas e, de um modo geral, dos que de algum modo proporcionavam bem-estar e felicidade.  

Na mitologia egípcia, os deuses sempre mantiveram uma relação muito difícil com o mar, com as suas enormes extensões de água salgada que muitas vezes se tornavam perigosas quando ventos e tempestades vindos da massa líquida marinha se abatiam sobre a costa. Na verdade, o alto-mar para os egípcios sempre representou uma região de acesso muito difícil, pois era preciso atravessar, para atingi-lo, as zonas instáveis do delta do rio, zonas pantanosas, perigosas, que lembravam sempre a sofrida peregrinação de Ísis em busca de seu amado Osíris. Contudo, se os extensos pântanos significavam por um lado proteção contra ataques externos, por outro desestimulavam tentativas de atravessá-los, uma alternância com a qual os egípcios tiveram que conviver por milênios.


ÍSIS

Desde tempos imemoriais se falava no país de uma força poderosa, desconhecida, que aterrorizava os pescadores que iam além do delta do Nilo, uma força que atacava e destruía barcos e homens, ninguém sobrevivendo. Era o deus dos mares, que, às vezes, avançava sobre as terras da região do delta; ora era o gado, criado nessas regiões, levado pelas águas; noutras ocasiões, pequenos vilarejos eram destruídos e cadáveres apareciam presos às raízes das plantas dos pântanos. Os rumores se multiplicavam, o temor tomava conta de todos que viviam na região. 

A afirmação dos antigos ganhou corpo com o tempo: falava-se que um monstro de nome Yam, vindo das profundezas marinhas, andava à noite pelo delta, acompanhado de crocodilos e hipopótamos. Uma boa parte da mitologia egípcia registra com ênfase a luta entre o deus Hapi e os agentes monstruosos do deus marinho, todos relacionados, sob o ponto de vista astrológico, com os dois últimos signos zodíaco.


PROTEU
Quanto aos gregos, lembremos, desde Homero, atribuíram eles inicialmente a um deus chamado Proteu (o primeiro gerado, o que vem antes, etimologicamente), cujo apelido era O Velho do Mar, a tutela dos mares gregos e egípcios. Sua residência ficava numa ilha arenosa, Pharos, situada na costa do delta do rio Nilo. Proteu era uma divindade dotada de poderes oraculares, exercendo também a função de pastor de
PTOLOMEU FILADELFO
rebanhos de animais marinhos (focas e outros). Não gostava de ser incomodado nem consultado, evitando sempre os inoportunos. Fugia deles, tomando a forma de qualquer animal marinho ou simplesmente se transformando em água ou fogo. No ano de 300 aC, Ptolomeu Filadelfo, rei do Egito, mandou construir na ilha de Pharos, diante de Alexandria, uma torre de mármore branco de 180 m. de altura. Esta notável edificação, uma das sete maravilhas do mundo, guiava os navegantes à noite, graças a fogueiras que eram mantidas permanentemente acesas no seu topo.



GEIA  E  FILHOS
Proteu era também chamado pelos gregos de Nereu (o que vive mergulhado, etimologicamente), pai das nereidas, ninfas do mar, tendo sido gerado pela união de Pontos e de Geia, esta última a Grande-Mãe Terra. O primeiro mencionado, cujo nome lembra caminho, lugar por onde se transita, representa no mito grego, como sabemos, a primeira concepção do mundo marinho, ou melhor, da energia que há no elemento líquido oceânico e passa por ter sido o pai também de, além de Nereu, de Taumas (O Maravilhoso), Fórcis (O Branco, no sentido de encanecido), Ceto (A Baleia) e Euríbia (A de Grande Força Vital), entidades marinhas. 

Os gregos, através de seus primeiros escritores, poetas ou não, como Homero, Hesíodo e Heródoto, sempre consideram o oceano
OCEANO , MOSAICO  ROMANO
como um imenso rio que fluía em torno da Terra. Na sucessão das divindades que o tutelaram, depois das  entidades primordiais acima mencionadas, aquele que melhor representou a massa circular líquida que envolvia a Terra, como um rio-serpente, foi o deus Oceano, o filho mais velho de Urano e de Geia, um titão, portanto. Sempre considerado como extremamente cordato e acessível ao se relacionar, Oceano, unindo-se a Tétis, símbolo do poder gerador das massas oceânicas, tornou-se pai das Oceânidas, as ninfas dos oceanos e mares, e de inúmeros rios que atravessa a Terra. Dentre os mais importantes filhos de Oceano, destacamos, segundo os gregos (Hesíodo), os rios Nilo, Aqueloo,  Alfeu, Erídano, Peneu... 

DEUCALIÃO  E  PIRRA
Antigos povos da Mesopotâmia, como os babilônicos, principalmente, associavam o signo de Aquário ao décimo-primeiro mês do seu zodíaco, Shabatu, palavra que tem o significado de Curso das Águas da Chuva. Na Grécia, é de se notar, o signo antes de ser associado a Ganimedes, aparecia ligado a  Deucalião, filho de Prometeu e de Clímene, herói que se salvou do dilúvio enviado por Zeus. Etimologicamente, o nome Deucalião lembra mergulho, imersão no elemento líquido. Casou-se com Pirra, filha de Epimeteu e de Pandora. 

OVÍDIO
Desgostoso com o comportamento dos heróis da Idade do Bronze, descontrolados, que viviam atolados no vício e no crime, Zeus resolveu, como diz o poeta Ovídio, castigar todos os homens, afogando-os nas águas de um dilúvio. Salvou-se o casal Deucalião e Pirra, que fundou um reino e, com os seus filhos e descendentes, repovoou a terra, criando uma nova humanidade.
  
Entre os latinos, certamente por influência grega, quando Ganimedes já havia substituído Deucalião como representante mítico do signo, surgiram, para designar Aquário, além de Ganimedes, naturalmente, nomes como Amphora, Junonis Astrum (Astro de Juno, esposa de Júpiter), Jovis Cynoedus ou Cinaedus  (Favorito de Júpiter), Puer Iliacus (Garoto de Ilion, Troia), Puer Aquilae (Garoto da Águia).  


AQUÁRIO
Na tradição ocidental, pela via latina, fixou-se o nome Aquarius, para o décimo primeiro signo zodiacal. Aquarius, em latim, lembre-se é tudo o que concerna à água, servindo a palavra para designar também tanto aquele que tem a função de transportar água como o que trabalha como inspetor encarregado da supervisão das águas. Note-se ainda que os franceses adotaram para designar o signo a palavra Verseau, hydrokhoeus, em grego. vertedouro, o que derrama  água.

Diante do exposto, acredito que fique fácil entender porque os antigos associaram essa região do zodíaco à água, região conhecida em antigas astronomias pelo nome de Mar. Para representar essa região nos céus, os antigos utilizaram uma onda, que era o hieróglifo egípcio da água, elemento que põe tudo em comum, que apaga as fronteiras, ligado alquimicamente à solutio. É por esta razão que o signo que ocupou esta região do céu sempre foi considerado com aquele em que o ser humano transcende a sua individualidade e a sua vida social para se integrar a humanidade.

O acesso a esta transcendência, entretanto, terá que ser feita atrvés do elemento ar. Ou seja, é pelo despertar de sua consciência coletiva que o homem compreende que ele é também a humanidade. É por isso que este signo faz quadratura (conflito) com os signos de Touro (a matéria) e com o signo de Escorpião (a metamorfose) e faz oposição ao signo de Leão (o ego). 

Fixando-nos mais na tradição que nos vem da Grécia, não podemos deixar de considerar inicialmente que as relações entre o signo de Aquário e Urano, estabelecidas desde a descoberta desse astro em fins do séc. XVIII, confirmaram todas as aproximações anteriormente feitas entre mitologia e astrologia. Melhor, não só confirmaram como permitiram que o homem entrasse em contacto com dimensões desconhecidas da sua interioridade e do universo, ampliadas mais tarde com a descoberta de Netuno (meados do séc. XIX) e Plutão (década de 1930).


SISTEMA   SOLAR

Se os  planetas visíveis a olho nu até Saturno dizem respeito mais diretamente à evolução física e moral do ser humano individualmente considerado, os três  planetas invisíveis ao olhar humano (Urano, Netuno e Plutão), situados além de Saturno, dizem mais respeito à sua sua interioridade, à sua vida subconsciente, e afetam sobremodo a humanidade como um todo. 

Foi, aliás, por essa razão que os planetas transaturninos foram considerados como a oitava maior de Mercúrio (Urano), Vênus (Netuno) e Marte (Plutão). Quando, na música, dizemos que uma nota está uma oitava acima da outra isto significa que a nota é a mesma, situada porém numa região mais aguda do instrumento. Tome-se o caso de Mercúrio, planeta que numa carta astral descreve como funciona a mente de uma pessoa. Urano, como sua oitava maior, nos descreverá outros tipos de vibração mental, de natureza mais evoluída, que vão além de Mercúrio. É neste sentido, por exemplo, que Urano é considerado como o planeta da intuição, um conhecimento imediato, instantâneo, ao qual se pode chegar sem necessidade das demonstrações que a mente normal precisa para a ele chegar, se é que consegue. É a intuição uma apreensão que se parece muito com o conceito filosófico do Zen, o satori, que se pode traduzir como compreensão profunda e imediata, iluminação.

HESÍDIO
Conforme nos conta Hesíodo em seu poema A Teogonia, Urano era o nome que os gregos davam ao céu estrelado. Nascido de Geia por partenogênese, sem o concurso de qualquer divindade masculina, gerado por ela em igualdade de esplendor e beleza para que ele a cobrisse, como está no poema, Urano passou a fecundá-la e ela pôs no mundo vários filhos, divindades e monstros, os titãs, os Cíclopes e os Hecatônquiros.

O relacionamento entre Urano e seus filhos, como se sabe, sempre foi difícil; os filhos produzidos por ele e Geia formavam no seu todo uma prole anárquica, revoltada, perigosa, desmesurada; seu comportamento era espasmódico, imprevisível, oscilando todos entre entre estados de grande exaltação e de profunda depressão. Urano tinha tanto horror dos seus filhos, tão pouco gratificantes para o seu amor-próprio, que não hesitava em lançar uns no Tártaro, encerrando-s na camada mais profunda do inferno, ou obrigar Geia a reabsorver outros.

Levando a um paroximismo incontrolável a sua função procriadora, sempre debruçado sobre Geia, fecundando-a incessantemente, Urano jamais deu ouvidos às suas queixas. Inconformada, ela chamou seus filhos à revolta com a finalidade de dar fim à prepotência de seu filho-amante. O único que a atendeu foi Kronos, o caçula; Geia lhe forneceu-lhe então uma foice de silex com a qual ele investiu contra o pai e o castrou. Dessa castração, do contacto da genitália de Urano lançada ao mar com a sua espuma (aphros, em grego), tudo em meio a sangue e secreções, nascerá Afrodite, deusa do amor.

Parece não haver dúvidas de que o papel representado por Geia na castração de Urano foi inspirado por aquele que Cibele, deusa frígia, como Grande-Mãe, desempenhava  na mitologia dos povos do oriente-próximo. Até onde se sabe, foi no culto de Cibele que se encontrou o primeiro ritual de castração masculina devidamente registrado.


CASTRAÇÃO   DE   URANO


CIBELE
Esta história apresenta algumas versões, parecendo-nos a mais aceitável a mais antiga, a greco-oriental, que nos apresenta Atis, deus anatólio da vegetação, servidor a amante de Cibele, mãe dos deuses, dos humanos, dos animais e da vegetação selvagem. Grande-Mãe, Cibele se situa entre as maiores divindades da fertilidade do mundo antigo. Montada num carro puxado por leões,  símbolo de seu poder, ela possui uma chave com a qual abre as portas da Terra onde estão encerradas todas as suas riquezas. Seu culto se espalhou pelo Mediterrâneo, alcançando Roma, onde era apresentada majestosamente com pequenas torres numa coroa  que ostentava na sua cabeça, emblemas das várias cidades que protegia. 

CIBELE   E   ATIS ( ANGELO MONTICELLI , 1778 - 1837 )

Seus cultos, no oriente, eram de natureza orgiástica, neles se encaixando a história de Atis. Amado pelo hermafrodito Agdistis e não podendo a ele se unir, por sua dependência de Cibele, Atis enlouqueceu, e se mutilou, castrando-se (emasculação), numa das festas da Grande-Mãe, realizadas anualmente. Ovídio, muito mais tarde, retomou a história de Atis, da sua castração, eliminando, porém, a sua ligação com Agdistis.  Atis passou,  a partir dessa versão, a ser considerado  como um deus da vegetação que morria e renascia anualmente, um representante da chamada fecundidade pela morte.

Considerando o que até agora foi expôsto com relação a Urano não será preciso muito esforço para se perceber, mesmo para os que não se aventuraram na caminhada astro-mitológica, o quanto o filho amante de Geia pode se insinuar, como poderoso arquétipo na personalidade de muitos daqueles que a astrologia chama de aquarianos. Realmente, Urano, como deus do céu, além de outros excessos, parace apresentar, quando analisado mais de perto, como característica principal, uma incontrolável e anárquica criatividade, a personificação de uma fecundidade que não conhece limites.

O mito nos revela que Geia, que sofria e gemia, cansada da violência de Urano, que a fazia reabsorver os filhos que gerava, resolveu libertar a sua prole. Pediu que os filhos a auxiliassem. Todos se recusaram, com exceção do caçula, Kronos. Retirando de suas entranhas um metal até então inexistente, o ferro, com ele confeccionou uma enorme foice, entregando-a a Kronos, encarregado de enfrentar seu pai e irmão. Aguardando o momento em que Urano se preparava para mais uma vez se deitar sobre Geia, Kronos se lançou contra ele, arrancando de um golpe, com a sua foice, a sua genitália.

Sob o impacto da surpresa e da dor, Urano se retirou violentamente de cima de Geia, liberando o seu corpo, criando-se imediatamente entre ela e ele um espaço que nunca mais voltaria a desaparecer. Essa façanha de Kronos é muito semelhante a que Shu, o Ar, praticou na mitologia egípcia: representado de joelhos, sustentando com as duas mãos Nut, a abóbada estrelada, separando-a, a boa distância, de Geb, a Terra. Desde então, a foice, como símbolo, associou-se às colheitas e à morte, aparecendo como um atributo das divindades agrícolas, cujo melhor exemplo pode ser encontrado no deus Saturno, dos povos latinos.


NUT 

Astrologicamente, foi atribuída a Urano, o planeta mais excêntrico do sistema solar até então conhecido (excentricidade até hoje não contestada), a tutela da constelação de Aquário, pelas seguintes razões, em função das influências que exerce sobre o nosso planeta e a vida humana: essencialmente, Urano é variável, eletromagnético, espasmódico, intuitivo, impulsivo, excêntrico, pioneiro, independente, súbito, político, excitante (mania, no sentido grego), explosivo, convulsivo, revolucionário, brutal, anárquico, incongruente, individualista, diferente (vedetismo), associativo, futurista (utópico), original, inédito e estéril.

Através dos adiante nomeados traços de personalidade, que destacamos, a influência uraniana costuma ser traduzida pelos seguintes comportamentos:  desmesurado impulso criador; peculiaríssima originalidade, caracterizada pela autossuficiência; excessos individualistas;  forte inclinação à independência (ação reflexa do singno oposto, Leão), alimentada muitas vezes por uma absoluta falta de compromisso ou de concessões com relação ao meio em que vive; obstinada cosmovisão; lógica e ética únicas, base de um comportamento que leva invariavelmente o tipo aquariano mais comum a não querer pertencer a “nenhum rebanho”. 

Lembro que a união de uma Deusa-Mãe com um Filho Amante é um modelo muito repetido nas primeiras fases de várias mitologias, uma forma incestuosa de relacionamento que nesses tempos primordiais terminava via de regra tragicamente, encontrando-se um de seus melhores exemplos, atualizado, na história do infortunado Édipo. 

EVA
( L.L.DHURMER, 1865 - 1953 ) 
O ímpeto criativo de Urano, talvez a sua característica mais marcante, costuma gerar, em muitos casos, o melhor e o prior através de inventos e formas, individual ou coletivamente.  É neste sentido que Aquário é o signo do demiurgo, do inventor, daquele que vai também rejeitar muitas vezes (sempre?) a sua própria criação, como Urano o fez com seus próprios filhos e como, entre os judeus, Javé, valendo-se da sua criatura masculina, fez com a mulher, Eva. 

Dentro deste contexto é que podemos estabelecer a analogia entre a inesgotável capacidade criadora do Céu Estrelado e a ação aquariana superior de caráter científico, tecnológico ou artístico, uma fantástica capacidade criadora nem sempre coerente e muitas vezes inconsciente, quanto aos efeitos maléficos daquilo que foi criado, poderia produzir. São estas considerações, a meu ver, que atualmente, diante do surto inventivo que tomou conta da humanidade a partir de fins do séc. XVIII, se nota nos países mais influenciados pelas características aquarianas, características que precisam ser trazidas à discussão para se questionar a responsabilidade dos inventores, forçando tais países a que se conscientizem e interroguem sobre os efeitos deletérios de sua  própria criação.