sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

MITOLOGIAS DO CÉU - A LUA (1)




A Lua gira em torno da Terra, como seu satélite, em aproximadamente 28 dias, ao mesmo tempo em que gira em torno do seu eixo. Satélite lembro, vem de satelles, itis, um guarda que na antiga Roma acompanhava um príncipe, um cortesão. É devido ao seu giro, em torno do Sol e da Terra (rotação sincrônica), que apenas um lado do corpo lunar se revela para nós. Seu diâmetro é de 3745 km, cerca de 1/4 do terrestre. Sua massa é de 1/8 da massa terrestre. Dista da Terra 385.000 km. Sua força gravitacional é de 1/6 da nossa, significando isto que uma pessoa que pesasse na Terra 90 kg pesaria na Lua apenas 15 kg. Sua temperatura oscila, mais ou menos, entre 121º (máxima) e -162º (mínima).
          
          Sob o ponto de vista astrológico, a polaridade lunar é feminino-negativa, sendo ela magnética, emocional e fecunda. Associa-se a Lua ao elemento água, com a participação das qualidades primitivas relacionadas com a umidade e o frio, predominando a primeira sobre o segundo.

Segundo a lei da correspondência, a Lua tem sintonia, quanto às cores, com o branco, o azul-claro e o prateado. Quanto às formas, tem ela relação com as arredondadas. Quanto aos animais, são lunares o coelho, a lebre, a corça, a tartaruga (que passa muito tempo recolhida na sua casa), a rã (muito ligada ao orvalho matinal, produto lunar) e muitos animais de chifres, como o touro e a vaca, sacralizados como divindades lunares.

A Lua tem relação com os aspectos da sensibilidade da personalidade humana e com os contactos emocionais com o meio ambiente. Neste sentido, como receptividade, dispersão, imaginação, passividade, memória, intuição, que normalmente levam a estados de inquietação, de inconstância e de ansiedade, opõe-se ao Sol.


O Sol sempre permanece o mesmo, é sempre igual, não passa por mudanças. Reaparece a cada dia do mesmo modo. A Lua, ao contrário, desaparece, cresce, torna-se cheia, míngua, volta a desaparecer. Nascimento, desenvolvimento, morte, renascimento. O ser humano, mais a mulher, muda como a Lua. Ficamos sem ela por quase uma semana nos céus. A morte é seguida sempre de um renascimento; a obscuridade lunar, a sua morte, nunca é definitiva. Essas mudanças são chamadas de fases da Lua.

É pelas razões acima apontadas que a Lua é muitas vezes reconhecida como um símbolo da renovação devido às suas reaparições periódicas, mas é também de dependência e de conhecimento indireto porque reflete a luz recebida do Sol. O crescimento da Lua nos primeiros catorze dias do mês sempre foi associado por analogia ao desenvolvimento dos seres vivos. Daí o entendimento de que o período mais favorável para os empreendimentos humanos é o crescente.

Tudo indica que os cultos lunares são muito mais antigos e teriam mesmo precedido os solares, estes desenvolvidos nas religiões patriarcais. Dentre todos os corpos celestes, inclusive o Sol, a Lua foi aquele que desde recuados tempos pré-históricos mais atiçou a imaginação dos humanos. Ainda que regular no seu curso, a Lua sempre foi considerada como misteriosa, principalmente devido às suas fases, que implicam a mudança de sua forma, a variação da quantidade de sua luz e a alteração de sua posição nos céus.

O simbolismo da Lua sempre foi associado ao do Sol, pois uma de suas principais características depende dele diretamente. A Lua, como se sabe, não tem luz própria, reflete a do Sol (a alegoria da caverna, de Platão, é uma ilustração deste princípio). Por essa razão, simboliza, salvo algumas exceções, a dependência do princípio feminino do masculino bem como a periodicidade e a renovação.

Depois do Sol, o centro celeste das religiões patriarcais, a Lua é a divindade mais importante. Entre os gregos ela é Selene (esq.- Museu do Vaticano) e Ártemis, entre os romanos é Diana. A Ísis egípcia, a Astarte dos fenícios, a Mylitta dos persas e a Alilat dos árabes têm todas uma natureza lunar.



A Lua, astro ao qual sempre se atribuíram a chuva e o orvalho fertilizantes, é considerada em todas as tradições como um símbolo de fecundidade. É por isso que divindades que se ligam aos nascimentos, quaisquer que sejam, no reino animal ou vegetal, têm uma natureza lunar. Hera, por exemplo, quando investida nas funções matrimoniais, tomava o nome de Lucina, sendo associado à sua imagem um crescente lunar, colocado no alto de sua cabeça, o que a tornava a deusa dos partos, atividade que dividia com a sua filha Ilítia (etimologicamente, a que intervém, a que acode, a que faz vir à luz).


Embora não possamos falar de uma mitologia dos povos pré-históricos, sempre será possível, pelo que eles nos deixaram, objetos, utensílios, inscrições, desenhos, imagens etc, admitir que eles possuíam mais ou menos estruturados certos sentimentos religiosos. Deles fazia parte a magia como arte prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, valendo-se o mago (muito mais a maga) da intervenção de seres fantásticos ou de algum princípio oculto presente na natureza, convocado seja por meio de fórmulas rituais ou se ações simbólicas. Dentre as mais importantes modalidades da magia, duas, em especial, eram as mais praticadas, a da caça e a da fecundidade. A caça, como se sabe, talvez tenha sido a mais antiga das atividades do homem, juntamente com ação coletora.

A alimentação para os homens do paleolítico dependia sobretudo da caça. Para terem sucesso nesta atividade, vital para eles, recorriam à magia, cuja principal função era a de proporcionar boa caçada; esta magia era chamada de mimética, na qual, através de disfarces (máscaras e pintura corporal) de uma coreografia, os animais poderiam ser atraídos. Talvez mais importante que esta fosse a magia homeopática, que se baseava na ideia que uma operação efetuada sobre o simulacro de um ser real produziria efeito sobre esse próprio ser. Já a da magia da fecundidade tinha por objetivo o aumento do número de animais, a fim de que fosse assegurada uma caça abundante. Grande parte das imagens da magia da fecundidade está concentrada nas representações de animais aos pares, machos e fêmeas juntos, ou só de fêmeas, isoladamente.

Foi por tais razões que a caça sempre se viu marcada por fortes traços religiosos (a fertilidade dependia do céu, da Lua especialmente) e por muitas metáforas religiosas. Por trás da captura e da morte de animais, do poder que o homem procurava adquirir sobre as representações teriomórficas, havia uma atitude perigosa, desafiadora, do mundo masculino, diante das divindades que representavam a Grande-Mãe, a Natureza, como a Lua, investida na forma de Senhora dos Animais (Potnia Theron), como a chamavam os antigos gregos, nome depois atribuído a Ártemis.


Os dados históricos disponíveis atualmente nos permitem afirmar que bem antes da chegada das tribos indo-arianas à região que mais tarde tomaria o nome de Grécia, por volta de 2000 aC, existia na região do Mediterrâneo oriental uma cultura que recebeu o nome de egeia. Sua cronologia se estende, mais ou menos, de 3000 aC ao séc. XII aC, quando foi definitivamente destruída pela invasão dórica. A essa região, formada por inúmeras ilhas, deu-se o nome de Egeida, de Egeu, nome que o mar Mediterrâneo tomou, numa homenagem a Egeu, rei mítico de Atenas, pai do herói Teseu. Os gregos denominavam os egeidas de pelasgos, um povo autóctone e bárbaro. Estabelecidos inicialmente em Creta e Chipre, teriam vindo, ao que tudo indica, da Ásia.

Nessa civilização, a religião ocupava naturalmente uma posição de relevância. Embora os elementos arqueológicos disponíveis não sejam suficientes para determinar todo o quadro religioso, é possível afirmar, como ocorre em antigas tradições, que as primeiras manifestações nesse sentido tenham tomado uma forma de fetichismo, culto de pedras sagradas, de pilares, de armas (duplo machado, o bipene, origem do labrys, símbolo cretense, de onde saiu a palavra labirinto), de árvores e de animais. Fetichismo, como se sabe, é o culto de objetos que representam entidades espirituais e que possuem poderes mágicos. A palavra vem de feitiço, daquilo que não é natural, do que é artificial, tomando depois o sentido de sortilégio, bruxaria, encantamento etc. Na psicologia, é desvio do interesse sexual para alguma das partes do corpo do parceiro, para alguma função fisiológica ou para peças do vestuário.

Aos poucos, tornando-se mais complexas as relações sociais desse mundo, com a concepção antropomórfica do divino, foram surgindo os seus mitos, que acabaram por se diluir em grande parte na mitologia grega. Como em várias civilizações asiáticas a esse tempo, a principal divindade da Egeida tinha um caráter feminino. Era uma Grande-Mãe, uma mãe universal, que simbolizava a fecundidade, estendendo-se seu poder à vida humana, aos animais e aos vegetais. Seu poder alcançava os céus, regulava o curso dos astros e o ciclo das estações. Na natureza, fazia germinar as plantas, proporcionava riqueza aos homens, protegia-os nos combates e favorecia as viagens por mar. Domava e controlava as bestas ferozes, matando-as quando bem entendesse. Tinha poder sobre o mundo ctônico, o que a transformava numa divindade absoluta da vida e da morte.

Essa Grande-Mãe era representada entre os cretenses por uma mulher poderosa, ereta geralmente, vestida à maneira das mulheres da ilha, de busto nu. Assim, de saia longa, seios descobertos, ancas poderosas, na cabeça uma espécie de turbante ornado de flores ou de um penacho, às vezes uma tiara à maneira oriental, com uma serpente em cada uma das mãos, eram também representadas as suas sacerdotisas.

Esta divindade era, ao que parece, na antiga Creta, chamada de Rhea, mais tarde associada pelos gregos ao culto de Zeus, dando-a Hesíodo na sua Teogonia como mãe do Senhor do Olimpo. O nome Rhea traduz uma ideia de amplidão, de imensidão terrestre. Dois outros nomes dessa Grande-Mãe foram conservados, Dictyna e Britomartis. A primeira serviu aos gregos de modelo para a “deusa das redes” (diktyon, rede). Na origem, ela era uma oréade de Creta, do monte Dicte, mais tarde tido como um dos lugares do nascimento de Zeus. Nos mitos elaborados em torno de Minos, rei da ilha, Dictyna teria sido perseguida por ele; lançando-se ao mar, transformou-se numa divindade dos pescadores.

BRITOMARTIS

A ninfa Britomartis (doce virgem) seria a mesma Dictyna numa outra versão. Perseguida por Minos, lançou-se do alto de um penhasco. Foi salva por pescadores. Numa outra variante, Britomartis estaria relacionada com a invenção das redes de caça. Enredando-se acidentalmente numa delas, foi salva por Ártemis. O que temos evidentemente nestas histórias é o fenômeno do sincretismo religioso entre mitos cretenses e gregos, com predominância destes últimos a partir da conquista de Creta pelos gregos micênicos.

Associado à Grande-Mãe egeida, subordinado a ela, segundo modelos religiosos da Ásia Menor (Tamuz-Ishtar, Attis-Cibele e Adonis-Astarte), temos a figura de Asterios (estrelado), divindade celeste. Lembro que o nome do primeiro rei mítico de Creta era Asterion, que se uniu a Europa (etimologicamente, a de largo rosto), princesa fenícia. Na mitologia grega, Zeus, na forma de um touro divino, tomado de amores por ela, levou-a para a ilha, onde, na praia de Mátala, a ela se uniu.


O que chama atenção na personalidade de Asterion é sua forma teriomórfica, entre o touro e o humano, na qual se unem idéias de força e de energia criadora animal ao humano. Este modelo talvez tenha sido herdado dos elamitas, do seu deus touro, ou dos sumérios, de Enki (o touro selvagem do céu e da terra). Astrologicamente, lembro, tudo isto teria acontecido na era de Touro, entre 4000 e 2000 aC, mais ou menos.

Segundo Hesíodo, na sua Teogonia, da união de Geia, a Grande-Mãe terrestre, com seu filho Urano, o céu, nasceu a raça dos titãs, seres gigantescos, ambiciosos, revoltados e descontrolados, que representava os primeiros momentos da criação. Estas expressões míticas simbolizavam a luta dos elementos, o seu ajuste, para que fosse possível o surgimento do Cosmos (princípio de ordem) e das duas coordenadas, a do espaço e a do tempo, que possibilitaram o aparecimento do ser humano.

HÉLIO, SELENE E EOS

Hiperion (o que contempla de cima), um dos Titãs, unindo-se a sua irmã Teia (divina) gerou Hélio, Selene e Eos. Os dois primeiros, como já vimos, o Sol e a Lua considerados fisicamente e a última, a Aurora, todos com grande relevância no mito.



Selene é nome que lembra clarão, luz (selas, em grego). Em antigos textos também se dava a ela o nome de Mene, mediadora, designação atribuída ao tempo que a Lua levava para atravessar uma constelação zodiacal, isto é, o mês. Mene vem da raiz me, indo-europeia, que significa medida. Daí, em português, mês, medida, menstruação, catamênio, mesura, imenso, desmesurado etc. Em alemão, Mond, Lua; em inglês, Moon, Lua, Monday, segunda-feira, dia da Lua etc. Os gregos tinham o verbo seleniadzein, literalmente, “ser ferido pela Lua”, por sua luz, ligada a referências maléficas, perigosas. Uma pessoa atacada por esta luz, no plenilúnio, podia tornar-se descontrolada, lunática, epiléptica.

Lembro que num filme, uma verdadeira obra-prima, dos irmãos Taviani, Kaos (Itália, 1984), baseado em cinco histórias de Luigi Pirandello, temos, tratado de forma magistral, um exemplo do chamado mal di Luna, pelos italianos. É a história de um camponês da Sicília que em noites de Lua cheia ficava perturbado e sofria muito com medo de virar lobo.

Belíssima, Selene percorria os céus à noite num carro de prata. Quando aparecia na sua plenitude, fazia com que todos os demais astros perdessem sua importância. Vinha coroada, esplêndida, parecendo emergir do reino do deus Oceano. Selene tinha como animal predileto o burro (mulo), que Fídias colocou no Partenon.
Na mitologia zoológica, o burro é um animal de divindades ou de personagens noturnas. É emblema de obscuridade em muitas tradições, de tendências satânicas muitas vezes. No Egito, aparecia associado a Seth, o grande inimigo de Osíris. Além de Selene, na Grécia, Dioniso era outra divindade que a ele se associava, bem como Príapo, na medida em que estas duas divindades, representavam formas de fecundidade descontrolada, perigosa.

Os efeitos maléficos atribuídos à Lua (Selene) estão registrados inclusive na Bíblia, em passagens (evangelho de Mateus) onde se narra que pessoas doentes, atacadas por males diversos, possessos e lunáticos, foram levadas a Jesus para que ele as curasse.

Desde a mais remota antiguidade, temos notícias de que as fases da Lua influenciam muitos acontecimentos terrestres, as marés oceânicas, o movimento ascendente e descendente da seiva nos vegetais, os nascimentos, a menstruação e as hemorragias no corpo humano. É por essa razão que se prescrevia o uso de plantas lunares (que se abrem à noite) para a cura de males de natureza feminina. De um modo geral, sabe-se, por exemplo, que os chamados vegetais lunares (ervas, frutos etc.) apresentam folhas macias e suculentas, nascem e se desenvolvem frequentemente em água doce, são grandes, alguns arredondados, contendo muita água concentrada (pepino, melão, melancia) e muitos não apresentando sabor (chuchu), sendo seu formato o de um quarto crescente (pepino).

Como corpo celeste mais próximo da Terra, a Lua, em razão das suas mudanças de aparência (“la donna è mobile qual piuma al vento”, Verdi, Rigoletto), sempre representou o instável, o provisório. Na astrologia, por isso, tem a ver com tudo o que oscila, treme, vacila, com o que não tem forma fixa, com tudo que é influenciável, vago, moldável, impreciso. Enquanto na mulher ela inspira a sua personalidade exterior, o seu jeito de se mostrar ao mundo, no homem ela afetará muito mais o seu eu profundo, a sua “anima”, aspectos do seu inconsciente, suas tendências femininas, o que tudo nele é impreciso, indefinível, influências muitas vezes sedutoras, mas ameaçadoras e destrutivas.

A resplandecente beleza de Selene levou-a a se envolver com muitos amores. Unindo-se a Zeus, foi mãe de Pandia, a totalmente divina, divindade festejada no plenilúnio mais próximo do equinócio da primavera. Representava a jovem filha de Selene nessa celebração, pelo seu lado benéfico, a serenidade do céu ático. Quando da vitória dos olímpicos sobre os titãs, Pandia foi enviada para o Tártaro. Depois, sentindo-se Zeus suficientemente fortalecido no poder, os titãs foram libertados, inclusive Cronos, que, segundo uns, passou a viver na Ilha dos Bem-aventurados e, conforme outros, foi para a Itália, onde, acolhido pelos romanos, passou a viver com o nome de Saturno, como divindade benfeitora.

Libertada, consta que Pandia se associou à sua prima Circe (fig. esq.), a maga, “a que descobria a luz”, a falconídea filha do deus Hélio, irmão de sua mãe. Recuperando os seus poderes, idênticos aos dos deuses olímpicos, Pandia se caracteriza sobretudo pela extrema facilidade com que se desloca pelo espaço (pode ser vista nos três mundos) e pela capacidade que tem de, com um simples olhar, desequilibrar a mente das pessoas.


Na Arcádia, uniu-se Selene ao deus Pan, o Todo, Tudo, que a presenteou com um rebanho de bois brancos. Em parte zoomorfo, em parte humano, Pan era uma divindade turbulenta, que com os seus aparecimentos súbitos provocava o pânico nos humanos, nas ninfas e mesmo nos deuses. Nos humanos, esse terror neles infundido passou a ser diagnosticado como uma síndrome, um conjunto de sinais e sintomas observáveis como vários processos patológicos. No seu aspecto mais visível, uma condição crítica passível de despertar inicialmente insegurança, medo, e terminar como prostração, imobilidade, às vezes com a sensação de morte súbita.

A chamada síndrome do pânico impede que a energia vital se readapte diante de situações existenciais que exigem prontas mudanças, novos procedimentos. Astrologicamente, é de se lembrar que o deus Pan “vive” entre a quarta e a quinta casas astrológicas. Na mitologia, Pan vive nos confins dos territórios lunares (agros) que fazem fronteira do conhecido com o desconhecido.

Dentre todos os amores de Selene, o mais famoso foi Endymion, belíssimo jovem, para uns pastor do Peloponeso, para outros o seu rei. A etimologia do nome (endyein) traduz uma ideia de mergulho, de se entrar em alguma coisa e também de insensibilidade. Uma versão deste mito nos diz que endeo, em tradições populares do Peloponeso, era um dos nomes do Sol quando ele mergulhava nas trevas noturnas em busca da Lua (Selene), uma ilustração do crepúsculo.

A história da paixão de Selene por Endymion nos diz que a deusa, atraída por sua extraordinária beleza, pediu a Zeus que o mergulhasse num sono eterno para que permanecesse sempre jovem. Assim se fez. Adormecido na encosta de uma montanha, Selene, sempre que possível, passou a visitá-lo todas as noites, cobrindo-o de beijos.

ENDYMION


Endymion participa também de uma história que faz parte dos mitos relacionados com a deusa Hera. Esta deusa não é somente a nuvem escura, símbolo da fertilidade; é também a nuvem branca, rosada, às vezes violácea, que vaga pelos céus (Leukolenos, a de braços brancos e rijos, é um dos epítetos de Hera), acompanhando o Sol, chamado de Endymion, quando ele se dirige para o poente, mergulhando nas trevas.


Há que se lembrar ainda que Endymion, noutras versões, aparece ligado ao deus Hipnos, irmão de Thanatos, ambos filhos de Nix, a grande deusa da noite. Hipnos, etimologicamente “fazer adormecer”, é o deus do sono (Somnus para os latinos). Apaixonado pelo jovem, mergulhou-o num sono eterno, mantendo-o porém de olhos abertos para se olharem sempre.

Como maior divindade sideral depois do Sol, Selene tinha seu culto muito difundido na antiga Grécia. A face negativa de Selene era reverenciada sobretudo na Tessália por feiticeiras que declaravam ter poderes sobre o astro lunar, fazendo-o descer à Terra ou livrando-o do dragão que ameaçava devorá-lo quando dos eclipses.

RAHU

Entre os hindus, o monstro devorador chamava-se Rahu. Medeia, por exemplo, sobrinha de Circe, a grande maga, segundo Ovídio, só recolhia as ervas para os seus trabalhos nos plenilúnios.