sábado, 9 de novembro de 2019

DOS PECADOS - I

  
OS  SETE  PECADOS ( HIERONYMUS  BOSCH , 1450 - 1516 )

Os dicionários definem o pecado como a violação de um preceito religioso. É sempre uma desobediência a qualquer norma de conduta estabelecida pelas religiões. Pecado, na antiga Roma, de peccare, latim, era simplesmente cometer uma falta qualquer. Quando o cristianismo se tornou religião oficial do império, a palavra passou a ser usada no sentido religioso também. Peccare, na origem, significava tropeçar. Peccus era a palavra latina que se usava para designar o que andava mal, o manco, o perneta. 


Os preceitos religiosos mais simples que os adeptos das religiões deviam observar foram reunidos sob o nome de mandamentos. Eles deram base ao que se chamou de moral, regras de vida e de convivência, desta ou daquela religião. Estas regras são, sobretudo, de foro íntimo, isto é, ligam-se antes mais ao âmbito da individualidade de cada um, segundo a própria consciência, e depois à vida em comum.


Muitos dos mandamentos estabelecidos pelas religiões podem ser desrespeitados sem que nada aconteça ao pecador. Por exemplo, o pecado da gula. Já outros mandamentos, ao fazer parte da estrutura jurídica das várias sociedades, tipificam contravenções, delitos ou crimes. Neste caso, é o Estado a fonte material de um direito a que se deu o nome de penal, uma vez que é o legislador quem cria as normas penais, dadas ao conhecimento de todos por meio de leis.  A fonte do Direito Penal é, pois, a lei e subsidiariamente, dentre outros elementos, os costumes, a analogia, a equidade, os tratados e convenções internacionais estabelecidos. 


INVEJA  ( EDVARD  MUNCH , 1863 - 1944 )

Cabe ao Estado, assim, fixar as normas penais a cuja observância os indivíduos podem ser compelidos mediante coerção (jus puniendi). A estas normas todos estão vinculados. O mesmo não acontece com relação aos mandamentos religiosos, como se disse acima. Posso ser, por exemplo, uma pessoa invejosa e nem por isso serei punido pelo Estado. O pecado da Inveja, como se sabe, está tipificado como pecado mortal pela Igreja Católica.



Chama-se no Direito Canônico, na Igreja Católica (etimologicamente, do grego katholikós, de kata, para baixo, e holos, para todos, isto é, para baixo e para todos, universal), o conjunto de leis e regulamentos feitos ou adotados por ela para o governo da organização cristã católica e de seus membros. Cada religião cristã, além da católica, como a anglicana, a ortodoxa, a presbiteriana e a luterana, tem hoje o seu Direito Canônico (canon, em grego, é lei, princípio,  medida).


O catolicismo adotou, como mandamentos, o Decálogo (do grego, dez ditos, dez palavras), nome dado a um conjunto de normas que, segundo a Bíblia (Antigo Testamento), teriam sido originalmente escritos por Deus em tábuas (Tábuas da Lei) de pedra e entregues ao profeta Moisés no alto do Monte Sinai. Nessas placas recebidas por Moisés estavam sintetizadas as normas que deveriam orientar a vida dos crentes. Os dez mandamentos aparecem mencionados em dois livros do Antigo Testamento, no Êxodo e no Deuteronômio. 


MOISÉS  RECEBENDO  AS  TÁBUAS  DA  LEI
( 1868 , JOÃO ZEFERINO  DA  COSTA )

Moisés é nome que vem do hebraico, Moxeh ou Mosheh, este por sua vez originário do egípcio, mes, mesu, que tanto significa filho como servo. O nome do nosso profeta, ao que parece, faz parte do nome Ramsés, servo de Ra, nome de vários faraós da 19ª e da 20ª dinastias, chamados ramessessidas. Alguns estudiosos hebraicos fazem o nome Moisés derivar do verbo retirar (msh). No geral, historicamente Moisés é situado no séc. XIII aC., como membro da tribo de Levi. Abandonado ao nascer, nas águas de um rio, foi acolhido pela filha do faraó, que o educou como um filho. Adulto, Moisés matou um egípcio que maltratava um judeu (tomara conhecimento da sua origem hebraica por volta dos 40 anos) indo, por isso, se refugiar no país de Madian, a leste do Sinai, lá se casando com a filha de um sacerdote de nome Jethro. 



ABRAÃO , À DIREITA
CATEDRAL DE CHARTRES
Os mandamentos acima mencionados representam as cláusulas da aliança concluída entre Deus e Israel e neles estavam fixadas as bases religiosas que iriam orientar a vida política e social do povo israelita. A aliança (berit, em hebraico) faz referência ao acordo estabelecido entre o primeiro patriarca Abraão, que vivia em Ur (cidade da Suméria, na antiguidade situada na embocadura do rio Eufrates) e Deus, Yahvé, nele estando incluídos itens como a circuncisão dele e de seus descendentes homens e a doação de terras a Israel (Canaã, a Terra Prometida). Etimologicamente, Abraão, do hebraico Abhraham, quer dizer o pai é exaltado. No Gênesis, ele será chamado de o pai de todas as nações. O pacto foi estabelecido em Harran (cidade da Mesopotâmia) entre Yahvé, sob o nome de El Shaddai, e Abraão.

CIRCUNCISÃO  DE  JESUS ( FRIEDRICH  HERLIN , C. 1460)

Judeus que não fizessem a circuncisão estariam excluídos do pacto celebrado. Deste pacto fazia parte também a promessa de uma numerosa descendência, que viria através de Ismael (origem dos povos do deserto, os beduínos), filho dele, Abraão, e da serva Agar (concubina); de Isaac, filho dele e de sua esposa Sarah. Com a morte dela, Abraão uniu-se a outra concubina, Quetura, e com ela teve mais seis filhos. A aliança foi renovada por Moisés no Monte Sinai, nela se incluindo os dez mandamentos entregues por Deus, dando-se o nome de Torá (etimologicamente, ensinamento) à primeira expressão dessa aliança. 


MOISÉS  NO MONTE  SINAI ( NICOLAS  DE  VERDUN ( 1130 - 1205 )


CATECISMO
Os dez mandamentos entregues a Moisés são os seguintes: 1) Não terás outros deuses diante de mim; 2) Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu; 3) Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; 4) Que do dia do shabat se faça um memorial, tomando-o como sagrado;  5) Honra teu pai e tua mãe; 6) Não matarás; 7) Não cometerás adultério; 8) Não furtarás; 9) Não prestarás falso testemunho contra o teu próximo; 10) Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem tudo que a ele pertencer. Jesus, como está em Mateus (22:37-40), no Novo Testamento, resumiu o que está acima em dois grandes mandamentos: 1) Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. 2) Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.


Os mandamentos que Moisés recebeu, considerados mais de perto, não estabelecem, a rigor, as bases para a fundação de uma religião, pois constituem muito mais um conjunto de leis e de regras do que propriamente uma religião revelada. Leis e regras morais com um caráter imperativo que conscientizadas ditam um comportamento que impossibilita aquele que delas toma conhecimento de praticar certos atos, roubar, matar, mentir, cobiçar o que é dos outros e assim por diante. Além do mais, os mandamentos têm um sentido prático, de alcance social, na medida em que impõem obrigações relacionadas com a vida coletiva. 


ADORAÇÃO DO BEZERRO DE OURO
( 1966 , MARC  CHAGALL )
Moisés, ao descer do monte Sinai, encontrou seu povo adorando um bezerro de ouro, eguel ha-zahav, em hebraico. Ficou muito enfurecido, quebrando as duas tábuas que recebera de Deus. Aarão, irmão de Moisés e de Miriam, foi o responsável pela construção do bezerro com o ouro obtido dos seus irmãos judeus, procedimento que, em última instância, significou a substituição da vida espiritual pela vida material.

Os dez mandamentos judaicos no mundo cristão passaram a ter a seguinte redação, conforme Compêndio do Catecismo da Igreja Católica: 1) Adorar a Deus e amá-lo sobre todas as coisas; 2) Não usar seu santo nome em vã; 3) Santificar os domingos e festas de guarda; 4) Honrar pai e mãe e os outros legítimos superiores; 5) Não matar, nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo; 6) Guardar castidade nas palavras e nas obras. 7) Não furtar nem justamente reter ou danificar bens do próximo; 8) Não levantar falsos testemunhos nem de qualquer outro modo faltar à verdade ou difamar o próximo; 9) Guardar castidade nos pensamentos e desejos; 10) Não cobiçar as coisas alheias. Segundo o cristianismo, quem ouve os dez mandamentos e os coloca em prática tem vida eterna. Os mandamentos enunciam os deveres fundamentais do católico para com Deus, para com seu próximo e para com a Igreja.


TALMUD
(C.1960, MARC CHAGALL)
Os judeus designam o pecado pela palavra chet, que lembra desvio, falha de conduta, com relação ao caminho certo, o da Torá. O arrependimento, retorno ao caminho certo a Deus, é admitido. Segundo o Talmud, no homem há duas inclinações, uma para o Bem (Deus) e outra para o Mal (Satã), tendo ele o poder de escolher entre uma e outra. A esse poder foi dado o nome de livre-arbítrio, a possibilidade de decisão, de escolha, em função da própria vontade humana, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante. Mais: segundo o judaísmo, o homem tem uma índole, uma natureza fraca, que o inclina para o Mal. Misericordioso, Deus, entretanto, permitiu que, tendo optado pelo Mal, o homem, desde que arrependido, pudesse voltar ao Bem. O homem, para o judaísmo, nasce em pecado em consequência do pecado original, de Adão e de Eva, que recai sobre toda a humanidade.


SANTO  AGOSTINHO ( 1645 , PHILIPPE  DE  CHAMPAIGNE )

No catolicismo, Santo Agostinho vai pelo mesmo caminho dos judeus, dizendo-nos que pecado é qualquer ato ou desejo contrário a Deus, ou seja, contrário a tudo o que está expresso nos dez mandamentos. Outros antigos padres da Igreja sempre insistiram num ponto: qualquer pecado é um abuso de liberdade. São Paulo já havia discorrido sobre a universalidade do pecado e da imensa miséria que oprimia o homem.

As religiões fundadas a partir da Bíblia deixaram de lado, porém, até hoje uma questão fundamental, a do livre-arbítrio, ou melhor, o problema de como se evitar que interferências desconhecidas influenciem nossas decisões. Tanto as religiões como a ciência não conseguiram até hoje resolver esse problema. O estudo da Verdade proclamada pelas religiões ou pela filosofia (ética, moral)  não têm sido capaz de fazer com que os homens consigam pôr em prática os seus preceitos. Desde a antiguidade, o conhecimento das religiões sempre se manteve apenas teórico, condenado a se mostrar impotente diante das referidas influências. Basta ver, por exemplo, como continuamos roubando e matando cada vez mais, inclusive em nome das religiões.


Renovando-se constantemente, tais influências nos mantêm numa espantosa maioria em experiências de vida totalmente condicionadas. Nenhuma intervenção religiosa tem se mostrado válida para eliminar a ignorância, isto é, os tremendos fatores de servidão que nos aprisionam, que nos impedem de melhorar a nossa capacidade de discernir realmente o que mais interessa ao homem individual ou coletivamente, tendo-se em vista o reino dos Céus. Quaisquer que sejam os nomes que possamos dar a esses fatores, dinheiro, poder, egoísmo, ignorância, ódio, prazer, vingança, sucesso, eles, como se diz popularmente, desde que o mundo é mundo, vêm nos aprisionando cada vez mais.   


ANJO  SORRIDENTE
CATEDRAL DE REIMS
O que as religiões nos ofereceram, como meio mais eficaz, para nos ajudar quanto ao que está acima, a vencer as forças da servidão do Mal que nos subjugam, foi a intervenção dos anjos. Em todas as tradições religiosas não só oriundas do Antigo e do Novo Testamento encontramos a ideia, a crença, melhor dizendo, de que seres espirituais superiores atuariam como intermediários entre o divino e o humano. A palavra anjo veio para a língua portuguesa através do grego (angelos) e do latim (angelus), com o sentido de mensageiro, intermediário ou daquele que anuncia. No judaísmo, no cristianismo e no islamismo é um ser puramente espiritual, servidor de Deus, e seu mensageiro com relação aos humanos.  


Recebem também essas entidades genericamente o nome de anjos da guarda, já que uma de suas principais funções é a de tomar conta das almas (vida interior) dos seres humanos, de velar continuamente por eles, defendendo-os e guardando-os. Neste sentido, são um símbolo da própria consciência humana. Muitos os conhecem pelo nome de anjos custódios, palavra que tem o mesmo sentido. Custodiar é proteger, defender, guardar. Segundo o catolicismo, os anjos foram criados num estado de graça e de felicidade, com a liberdade de escolher entre o bem e o mal.

Os  anjos, como potências  invisíveis,  têm  correspondência com valores humanos, representando desde a mais alta espiritualidade, a vida mística, até o seu nível mais baixo, o dos seres que se entregam totalmente aos estados mais abjetos da sua vida instintiva. No primeiro caso, a iconografia, em função da sua elevação e imaterialidade, os representa com asas e sempre vestidos de branco. Já sob o ponto de vista da Psicologia, representam os anjos as energias positivas ou negativas do inconsciente. Alguns anjos, como se sabe, pecaram por orgulho e foram condenados eternamente, como demônios, ao mundo infernal, instigando o homem a optar sempre pelo caminho do mal. Jung considera que os demônios representam as funções inferiores que atuam na escuridão do subconsciente humano. Historicamente, lembremos que os anjos, ao mais recuadamente que possamos chegar, são entidade encontradas em antigas crenças astrais assiro-babilônicas que, espalhando-se pelo mundo semítico, foram utilizadas depois pelo monoteísmo dos hebreus com o nome de malachim, classificados em diversas hierarquias. 


ADÃO  E  EVA  NO  JARDIM  DO  ÉDEN
( MARC  CHAGALL , 1887 - 1985 )

O catolicismo classifica os pecados de três maneiras: 1) Pecado original ou adâmico: dele participam todos os seres humanos devido à sua origem. Adão e Eva, ao comer dos frutos de uma árvore que Deus lhes mostrara, proibindo-os de deles provar, foram expulsos do paraíso. Esta expulsão definiu desde então a natureza humana, tornando-a ignorante, voltada para o sofrimento, inclinada ao pecado e destinada à morte. Pelo sacramento do batismo, estabelecido mais tarde, este pecado pode ser perdoado.


SATÃ
(GUSTAVE  DORÉ,1832-1883)
A doutrina judaica, especialmente o Talmud, defende a ideia de que todo homem é dotado de livre arbítrio, o que o habilita a escolher corretamente o que é do Bem e o que é do Mal, isto é, o que é do reino de Deus e o que é do reino de Satã. Livre arbítrio, como se sabe, é a possibilidade que tem o ser humano, em função de sua vontade, de decidir sobre alguma coisa, sem a interferência de qualquer condicionamento, motivo ou causa. 

Renovando-se constantemente, tais influências nos mantêm (continuo das religiões fundadas a partir da Bíblia), numa espantosa maioria, inclusive os que se dizem religiosos, em experiências de vida totalmente condicionadas. Nenhuma intervenção religiosa tem se mostrado válida para eliminar a ignorância, isto é, os tremendos fatores de servidão que nos aprisionam, para melhorar a nossa capacidade de discernir realmente o que mais interessa ao homem individual ou coletivamente. 


SITRA  ACHRA
O reino de Satã, para o judaísmo, é o Sitra Achra (literalmente, o Outro Lado), nome aplicado de um modo geral a todas as forças demoníacas, situadas sempre à esquerda, e governadas por Samael e Lilith. Samael é o príncipe dos demônios, chefe dos anjos que foram expulsos do céu. Lilith foi a primeira mulher de Adão, criada juntamente com ele por Deus, em condições de igualdade. Ao perceber que Adão, com a concordância de Deus, não a consideraria como uma igual, Lilith fugiu para o mar Vermelho, unindo-se em seguida a Samael, tornando-se a principal figura feminina do Mal.


Os judeus dão também o nome de Agrat Bat Mahalata, a uma rainha dos demônios, neta do Ismael bíblico, que anda pelo mundo a espalhar o Mal. Concubina de Samael, teve seus poderes controlados pelo sábio Chanina Ben Dosa, que lhe permitiu apenas atuar nas noites de terça e de sexta-feira, recomendando-se que nenhum judeu saia sozinho nessas noites. Chanina Bem Dosa, natural da Galileia, foi um famoso operador de milagres, asceta, que viveu no primeiro século da era cristã. 


ADÃO  E  EVA
PETER PAUL RUBENS,1577-1640
Para dar a Adão uma parceira, Deus a ligou às costelas dele, ao seu flanco, formando uma espécie de ser andrógino, separando-a depois. Esse feminino recebeu o nome de Eva, promovendo o próprio Deus o casamento de ambos, uma cerimônia na qual tomaram parte muitos anjos, tudo com muita música e dança. Adão é nome que lembra barro, húmus, limo, lama vermelha. Para outros, o nome, ao que parece, vem de adamah, do hebraico, terra arável. Outros ainda relacionam o nome Adão ao assírio adamu, verbo que significa fazer, produzir.


Eva, segundo o Gênesis, é nome que vem de Hawwah, mãe de todos os seres que vivem, nome dado à segunda mulher de Adão depois da expulsão do paraíso. Antes de deixar o paraíso, ela se chamava Aicha (vivente) ou Icha (esposa), palavra que se aproxima de iccha, desejo, em sânscrito. O nome Eva também lembra awwah, desejo, em hebraico. Eva poderia ainda vir de Heba, esposa do deus hitita das tempestades.

O mundo judaico-cristão, profundamente misógino, ao invés de considerar Eva como uma iniciadora, pois Adão, isto é, o homem, sem ela, jamais teria adquirido uma consciência, sempre preferiu vê-la como responsável pela perdição da humanidade. A destacar ainda, quanto à grafia do nome Eva ou Ava, em várias línguas, que dele faz parte a letra V, que nos lembra o triângulo, forma sempre associada ao sexo feminino.  

   
SAMAEL  E  GABRIEL
(GUSTAVE DORÉ,1832-1883)
São os pecados dos homens que, segundo o judaísmo, nutrem o Sitra achra, mantendo-o separado do reino de Deus, dividindo a criação. Na Idade do Messias, esta divisão terá fim com a captura do próprio Samael pelo arcanjo Gabriel. Acorrentado, ele será entregue a Israel, sendo então expurgado de todas as forças maléficas que o constituem, transformando-se num agente do divino que iluminará a criação como um todo, eliminando-se a divisão entre os dois reinos. Apesar de tudo isto que a doutrina revela, o pecado de Adão e Eva, deixou a sua marca em todas as gerações que a eles se sucederam.


À desobediência de Adão e Eva dá-se o nome de A Queda do
A QUEDA DO HOMEM
CATEDRAL NOTRE- DAME, PARIS
Homem, caracterizada esta como a transição humana de um estado de inocência e de obediência a Deus para um estado de desobediência e de culpa. Neste sentido Queda do Homem e Pecado Original são equivalentes. O judaísmo e o islamismo não aceitam a doutrina do pecado original como os católicos a definiram. Para ambos cada homem deve ser responsável pela sua própria salvação, não havendo necessidade da graça divina para isso. Participando desse entendimento, o monge Pelágio da Bretanha (360-435), depois de intensos debates com Agostinho de Hipona, propôs uma doutrina, chamada de pelagianismo, segundo a qual todo homem é totalmente responsável pela sua salvação, não necessitando da graça divina para tanto. Para Pelágio, todo homem nascia moralmente neutro e seria capaz, por si mesmo, sem qualquer influência divina, de se salvar, desde que assim o desejasse e se empenhasse. Evidentemente, as teses de Pelágio foram rejeitadas pela Igreja católica e ele considerado herege.



O Talmud (literalmente, estudo em hebraico), a obra mais importante da Torá oral, nos revela que Samael, na forma de uma serpente, se uniu a Eva no Jardim do Éden nela injetando a sua peçonha, que foi transmitida a todos os seus descendentes. As forças satânicas do Sitra Achra, desde então, tomaram o lugar do princípio masculino diante de Deus. Só a Torá tem condições de livrar Israel do veneno da serpente. 

O  BATISMO (ANDREA DEL VERROCHIO,1435-1488)

O batismo, no cristianismo, como rito de agregação, elimina os efeitos do pecado original, abrindo as portas da vida cristã. Pode ser feito por mergulho (do grego baptismós, mergulho, imersão, ablução) ou por aspersão. Torna aquele que o recebe cristão católico para sempre. Formalmente, requer que sejam utilizados a água (renascimento, origem da vida), o óleo (relacionado com uma preparação para os embates da vida; quem o usava, antes de entrar nos combates, para melhor lutar, eram os lutadores romanos), a vela (o brilho,  uma luz nova) e as vestes brancas (entrar puro na nova vida).