sexta-feira, 2 de setembro de 2011

EGITO: RELIGIÃO, POLÍTICA, ASTROLOGIA



Heródoto, o grande historiador grego do século V aC, declarou que os egípcios eram, dentre todos os homens, os mais escrupulosamente religiosos. Nenhum povo, efetivamente, como o egípcio, gerou tão grande quantidade de deuses e de objetos sagrados. Ninguém construiu templos tão magníficos ou colocou a seu serviço uma quantidade tão grande de religiosos, de cantores e de músicos ou, ainda, criou tantos ritos e cerimônias como os egípcios o fizeram. Quando uma divindade egípcia saía periodicamente do seu templo, em procissão, para visitar a sua cidade o espanto era geral, principalmente o dos estrangeiros.

O que chamava a atenção inicialmente era a grande quantidade de divindades. Cada uma das quarenta e duas províncias tinha o seu deus oficial, sendo comum, porém, que dois ou mais nomos (divisões territoriais, comarcas) tivessem em comum a mesma divindade. Não havia nomo, por menor que fosse, que não tivesse a sua divindade, o seu patrono, nem nomo algum que se contentasse em ter apenas um deus. Cidades grandes como Tebas, a cidade das cem portas, honravam a sua tríade e muitas outras divindades, o mesmo acontecendo com Mênfis e assim por diante...


TEBAS

A diversidade formal das divindades, o seu visual, era outro aspecto que chamava muito a atenção, deuses animais, objetos divinizados etc. Os gregos que visitavam o país observavam que no seu Olimpo as divindades tinham a forma humana, uns eram senhores na maturidade, outros na adolescência, algumas deusas eram matronais, outras maravilhosamente jovens, algumas horríveis, mas prevalecendo nelas sempre o humano. Por isso o grande espanto dos gregos com relação aos deuses egípcios e aos seus "componentes", espanto este que, com relação aos romanos, se transformava em escândalo.

Para os egípcios, praticamente tudo o que vivia sobre a superfície da terra, nos ares, nos mares e mesmo objetos de uso cotidiano deu forma a alguma divindade. O leão, o boi, o carneiro, o lobo, o cão, o gato, a íbis, o abutre, o falcão, o hipopótamo, o crocodilo, a serpente, o delfim, peixes diversos, monstros marinhos, árvores, o arpão, um nó, pequenos animais (rã, escaravelho, gafanhoto) eram adorados aqui e acolá. Havia deuses com a forma humana, plenos de força, como Amon e monstros como Seth; outras divindades já se distinguiriam pela sua roupa, pelos seus adereços, pelo seu penteado, pelos seus atributos. Muitos seriam confundidos se não trouxessem sobre a cabeça o hieróglifo que os designava. Outras divindades, ainda que nelas prevalecendo a forma humana, teriam muitas relações com o mundo animal.

Outro item importante era o problema das metamorfoses. Amon, muito citado por Heródoto, ora se apresentava como uma figura humana com a cabeça de um carneiro ou de um ganso, ora vinha com um disco solar na cabeça. As duas irmãs, Ísis e Neftis, se transformavam em duas aves de rapina (milhafres) quando velavam sobre sarcófagos. Em outro lugar, Biblos, Ísis se transformava em andorinha. Algumas vezes, uma divindade tomava sob sua proteção uma certa espécie, como é o caso de Neith, que "adotou" o maior dos peixes do Nilo; Hathor se interessava por um outro peixe, enquanto o macaco estava sob a tutela de Toth. A causa da maior parte destas metamorfoses e destas ligações sempre permaneceu desconhecida.

Outro aspecto a ressaltar, de mais fácil compreensão, era que os deuses que se revestiram inicialmente de forma animal foram, com o tempo, apresentando a tendência de tomar a forma humana, antropomorfizando-se. Toth era muitas vezes representado por uma figura humana com a cabeça de íbis ou somente pela forma da ave. Horus era uma figura humana com cabeça de falcão. Seth chegou a adquirir uma forma animal que é desconhecida até hoje pelos naturalistas, embora tivesse predileção pelo crocodilo. Hathor tanto era a vaca como uma figura de mulher com cabeça de vaca.

Quanto ao culto das árvores ou de objetos, as informações são mais escassas. Até onde as pesquisas puderam chegar, os egípcios, ao tempo em que levavam uma vida nômade, colocavam o emblema de sua tribo num objeto conhecido por neteret, palavra que talvez tenha dado origem a Neter, deus. Muitos documentos de períodos anteriores à primeira dinastia, encontrados, conservam uma série de emblemas, um elefante, um falcão, o astro do dia, duas flechas cruzadas etc. A tribo do Elefante, sabe-se, fundou assim a cidade de Elefantina, na ilha do mesmo nome. Cada tribo divinizava então o mundo à sua volta, um animal, um objeto. Parece certo, qualquer que fosse a importância do santuário, templo faustoso ou humilde recinto sagrado, que o corpo sacerdotal fosse enorme ou reduzido a um pequeno número, que os deuses nacionais do Egito teriam sido primitivamente guias das tribos errantes que percorriam o país antes dos tempos históricos. Sua existência é atestada já em tempos muitos remotos, bem antes daquele do faraó (Menés) que unificou o país, por volta de 3000 AC.

Outra característica interessante da religião dos egípcios é que nela não encontramos um território divino comum a várias entidades, com seu palácio central, como, por exemplo, o Olimpo no caso dos gregos. Cada divindade guardou o território em que se fixou desde tempos imemoriais, posse esta respeitada ao longo de milênios. Mesmo os deuses que adquiriram um caráter cósmico, como Amon-Ra, tinham um território pessoal. A localização geográfica do deus e de seu culto eram sempre mencionados, ao lado de seus epítetos e de suas funções. Se um deus tivesse muitas referências como as que mencionamos, os egípcios as atribuíam ao fato de ele gostar muito de viajar e ser muito hospitaleiro...

Quanto ao problema das "propriedades" divinas, elas não escaparam da mesma sorte que tinham as propriedades humanas, isto é, deuses conquistadores (Osíris, o maior talvez) se apoderavam do território de outros deuses. Osíris tinha domínios no Alto e no Baixo Egito, lugares que não lhe pertenceram em tempos anteriores a Menés, conforme provado por textos e pela arqueologia. Além do território, que se confundia com a área do próprio nomo, cada divindade possuía o seu templo, concebido à imagem de palácios reais. Chega a ser quase uma obsessão dos egípcios a mania de registrar tudo, dar nomes a tudo, inclusive às menores partes de qualquer edifício religioso, público ou privado, principalmente com relação aos dois primeiros tipos. Os templos tinham um centro, "naos", que continha a imagem mais sagrada da divindade. Em torno deste recinto, um longo corredor para o qual se abriam câmaras que continham tudo o que era necessário ao culto e, em muitos, capelas de divindades "amigas". Entre o templo e o muro que o cercava ficavam as lojas, os alojamentos, as escolas, os jardins, um lago sagrado. Os deuses mais importantes possuíam "dependências de repouso" fora de seu templo, na cidade ou num outro lugar, um bosque sagrado também, um barco ancorado, pronto para navegar. Os barcos dos grandes deuses eram verdadeiros templos flutuantes, alcançando o comprimento de 100 côvados (66 m), construídos com madeira importada do Líbano e totalmente dourados.

Evidentemente que para se manter tudo isto eram necessárias muitas pessoas, enormes contingentes, muito bem organizados burocraticamente, tendo por objetivo principal o de manter, conservar, reparar e aumentar sempre os bens de cada comarca religiosa. O chefe deste corpo burocrático era chamado de Hem Neter, o servidor do deus. Este Hem Neter (Amon, na qualidade de divindade mais importante, chegou a ter quatro) era muito mais um funcionário do que um religioso e gozava de grande prestígio. O culto era assegurado por religiosos de formação, os chamados "puros", uma pureza muito mais material que espiritual. Depilados totalmente, cabeça raspada, circuncidados (retirada cirúrgica do prepúcio), banhando-se e lavando-se sempre, vestiam-se de linho imaculado. Só podiam entrar no recinto sagrado depois da devida ablução. Não eram contudo celibatários nem constrangidos a viver numa austeridade muito dura. Não eram também proselitistas nem apóstolos de qualquer moral. Desde que mantidos certos limites, viviam e deixavam viver... No geral, um sacerdote era filho de sacerdote. O cotidiano sacerdotal exigia a observância de muitos detalhes, não devendo o religioso ignorar nada que fosse do deus, a sua origem, a sua história, as suas metamorfoses, seus hinos, preces, fórmulas etc.

Uma particularidade muito interessante do culto de cada divindade egípcia era a chamada interdição. Cada deus tinha a sua interdição, sendo muitas vezes impossível descobrir a sua motivação. Um, por exemplo, proibia que se fizesse mal às gazelas, outro a um determinado tipo de peixe, outro a hipopótamos. Alguns, simplesmente, baixavam uma proibição porque reservavam a si o direito de, por esporte, matar esta ou aquela espécie... Às vezes, a interdição dizia respeito apenas a uma parte do corpo do animal, à cabeça, a um dos membros. No geral, estas interdições concordavam com a moral universal ou com regras de higiene. As interdições podiam ser válidas só para uma cidade, para uma província ou para todos os fiéis do deus, onde se encontrassem.


ATON E PTAH

Os deuses assumiam tudo, ocupavam-se de tudo, Protegiam os fiéis contra as doenças, contra ataques externos, contra inimigos, faziam com que as iniciativas pessoais ou empreendimentos coletivos fossem levados a bom termo e assim por diante. Eram universalistas. Um ponto a destacar é que nem todos os deuses eram criadores. Esta função cabia só a alguns, cada qual com a sua metodologia. Aton, por exemplo, deus solitário, que não durou muito, fazia sair de seu sêmen ou de sua saliva (cusparada) o primeiro casal divino enquanto Ptah se utilizava de todos os órgãos, o coração como centro do conhecimento, a língua que repetia tudo o que o coração pensava e os membros que executavam todos os trabalhos. Toth era o senhor de todas as letras e escritos, sagrados ou não. Invocado pelos escribas, ele os inspirava. Seth era monstruoso, chamado também de Apofis, lembrando o Tifon grego; tinha um caráter belicoso, sendo aquele que anunciava os combates.

Quanto às origens, as versões são muitas. Em cada santuário importante há a descrição de uma cosmogonia. Uma antiga fórmula das pirâmides fazia alusão a um tempo em que nada existia, a terra, os humanos, os deuses... Fala-se de um demiurgo que teria operado a criação a partir de uma espécie de oceano primordial chamado Num. Esta noção de Num parece não ter resultado de especulações abstratas, mas, sim, da visão que os homens do paleolítico ou do neolítico tiveram do Nilo monstruoso e indisciplinado que cavava o seu leito no território africano. Cada inundação do rio reconstituía o vale na sua forma original, a de um mar imenso. Este Num teve um papel passivo na criação, lugar de manifestação da força criadora divina.

SETH OU APOFIS

O problema maior neste particular é que não existem versões completas dos mitos egípcios. A forma dos textos religiosos parece excluir textos completos. O que temos são versões com tratamento bastante secular, de épocas diversas. De um modo geral, os mitos da criação dão uma certa primazia aos deus solar Ra. O que de mais aceitável temos é a ideia do Num, um caos líquido de onde se destaca um criador que, no alto de um monte (a primeira matéria sólida), se masturba ou cospe, criando um par de divindades, Shu e Tefenet, que, por sua vez, darão origem a Geb e Nut (segunda dinastia, algo assim como Cronos e Réia gregos), a terra e o céu, cujos filhos foram Osíris, Ísis, Seth, Haroeris e Néftis. Osíris e Ísis serão os protagonistas do mais conhecido mito egípcio que se desdobrará no assassinato de Osíris por Seth, na concepção de Horus por Ísis, na busca do corpo de Osíris e na vitória de Horus sobre Seth.


OSIRIS

A religião fazia parte da vida política, econômica e social do Egito, alcançando inclusive todos os níveis do cotidiano do homem comum. Tudo dependia das disposições divinas, desde acontecimentos tão importantes como a enchente do Nilo até algo tão banal como a morte de um animal doméstico. Como aconteceu em outras tradições, os egípcios dos tempos pré-históricos também mantiveram uma relação de muito respeito e temor diante dos fenômenos da natureza e se impressionaram bastante com os animais que encontraram no seu vasto território.

Não é por acaso que o monstro devorador que participava da psicostasia (julgamento das almas dos mortos) era um ser híbrido, formado pelo crocodilo, pelo hipopótamo e pelo leão ou pantera. Anubis, por exemplo, o fiel guardador dos túmulos e deus dos mortos, era representado por um chacal, um animal que costumava desenterrar os ossos humanos. Um dos animais que maior impressão causou ao egípcio foi a íbis, ave venerada como uma encarnação do deus Toth, personificação do saber, padroeira dos astrônomos e dos mágicos, dos curandeiros e dos encantadores, dona de todas as operações do intelecto prático. Em virtude da forma de seu bico, longo e curvo, como um crescente lunar, a íbis sempre foi associada à superior capacidade intelectual seletiva. Recolhendo seu alimento na lama, a íbis, com o seu bico fino e penetrante, sabia sempre retirar dela o melhor “alimento”.


THOT

O culto dos animais, da natureza, dos seus objetos e dos seus fenômenos é, como se sabe, a primeira forma que tomam as primitivas religiões. Na medida em que o ser humano adquire uma certa experiência e domínio do meio exterior, conseguindo se relacionar melhor com o mundo natural, aumenta a valorização das qualidades humanas. É nesse momento que temos a substituição das divindades zoomórficas pelas antropomorfizadas, a concepção dos deuses sob a forma humana. As representações antropomorfizadas do divino tomam então, obviamente, o visual das classes mais elevadas, das elites dirigentes.


O acontecimento mais importante na vida do país era a anual cheia do Nilo, intimamente ligada a certos fenômenos celestes. Não podemos esquecer, quanto a este particular, que o calendário egípcio foi estabelecido por e para agricultores. Fato importantíssimo nesse calendário era a referida inundação do rio, que se estendia por cerca de um terço do ano. As outras duas partes, sensivelmente iguais, eram a germinação dos vegetais (cereais) e a sua colheita. Tínhamos assim no Egito três estações de quatro meses, muito bem demarcadas, de 120 dias cada uma. Akhit era o nome do período da cheia do Nilo; perit, o da germinação dos vegetais; e chemu era a colheita.

Muito antes do início da quarta dinastia, o ano egípcio já contava com 365 dias. Como o início da cheia do Nilo não tinha uma data fixada para começar, foi procurado um ponto de observação o mais estável possível. Esse ponto era o aparecimento da estrela Seirios (Sirius latina), que passou a marcar o início do ano. Sothis era o seu nome egípcio, uma estrela da constelação do Canis Major, atualmente a 13º24´ de Câncer. Sothis era chamada também de “A Estrela do Nilo” ou “A Brilhante”. A cheia no Nilo sempre apareceu associada a Osiris e Isis, em sua eterna luta contra a desertificação, representada por Seth.

Num determinado período da história do Egito, Amon-Ra tornou-se a grande divindade do país com o título de rei dos deuses, muito semelhante a sua condição à do Zeus grego. Praticamente desconhecido no período do antigo império, antes de 2000 aC, Amon assumiu uma proeminente posição a partir dos primeiros séculos do médio império. Sua promoção ocorreu dentro do sistema cosmogônico de Hermópolis, que tinha como Toth a sua principal divindade.

Amon tornou-se a divindade suprema do país já unificado, irradiando-se de Tebas o seu culto. Aparecia antropomorfizado; sua cabeça era de bronze, coberta com uma espécie de gorro alto em forma de torre, no qual se fixavam duas penas, a simbolizar a união do alto- Egito com o baixo-Egito. Majestoso no seu trono ou em pé, carregava nas mãos, quase sempre, um chicote. Muito comum era também a sua representação sob a forma de um carneiro, viva encarnação do deus, à qual se juntava simbolicamente um ganso, seu animal sagrado. Como os historiadores ignoram o quanto a Astrologia pode nos revelar sobre os acontecimentos históricos, registros como estes sobre Amon-Ra são apenas feitos por eles sem maiores explicações. Sem descer a muitos detalhes, lembre-se que quando o deus Amon se tornou a principal divindade do Egito começava a era astrológica de Áries, referência que por si só bastará para nos iluminar quanto a implantação do monoteísmo do Egito e o aparecimento de símbolos como o carneiro e o ganso.

Vale contudo mencionar que o ganso, o pato e o cisne fazem parte de antigas tradições mitológicas como um grupo de aves aquáticas inimigas das trevas. No antigo Egito, a alma do faraó defunto era representada por uma gansa enquanto a designação do novo era anunciada por quatro dessas aves, soltas, lançadas nas quatro direções do horizonte. A associação do carneiro a Amon revelava que era dele, como divindade suprema, a força genésica que punha em movimento os ciclos vitais (o signo de Áries, carneiro em latim, marca o equinócio de primavera) como também o comando de todos os exércitos e das operações militares. O signo de Áries, governado pelo planeta Marte, associa-se às batalhas, às guerras, à vida militar. Como força geradora e produtora, Amon, numa forma itifálica e vegetal, era considerado como o “marido de sua mãe” (natureza) e, como tal, aquele que mantinha a vida no seu processo eternamente criativo.


A partir do médio império, entre 2133 e 1786 a C, Amon tornou-se o grande protetor de todos os faraós do período, durante o qual a centralização do poder político coincidiu, como se disse, com a instauração do monoteísmo religioso, modelo que serviria mais tarde de inspiração para o monoteísmo judaico. Tornando-se a grande divindade nacional, Amon começou a ser chamado de Amon-Ra. Ra, como se sabe, era a antiga divindade criadora, solar. Amon (etimologicamente, o escondido) assumiu as prerrogativas de Ra e passou a reinar sozinho no panteão egípcio. A proeminência de Amon-Ra coincidiu com a supressão dos privilégios feudais, com a realização de grandes obras de irrigação, com a ativa exploração das minas na região do Sinai e com a construção de postos avançados no sul, até a terceira catarata do rio Nilo. Culturalmente, o período “Amon-Ra” foi de esplendor, dando-se muita ênfase à arte do retrato, à literatura clássica e à construção de templos e esculturas em escala colossal

A classe sacerdotal, como sempre afinada com o poder político do país, colaborou bastante para que Amon absorvesse as atribuições de Ra, de Heliópolis. Assim foi que a nova divindade, Amon-Ra, se apossou da barca do Sol e passou a iluminar o mundo durante as doze horas noturnas. Glorioso e onipotente durante alguns séculos, Amon-Ra começou a perder prestígio lá pelo fim do reinado de Amenophis III, ao terminar o século XV aC. Uma nova divindade despontava, Aton (o disco solar que dava origem ao dia), filho de Amon-Ra e da rainha-mãe, mulher de Thutemosis IV. Quem deu o grande impulso ao novo culto foi Amenophis III (etimologicamente, Amon está satisfeito), que adotou um novo nome, Akhenaton (a glória de Aton).


AKHENATON

O reinado do deus Aton, entretanto, durou pouco, restaurando-se o poder de Amon pelos faraós da décima nona dinastia. Incorporado definitivamente o nome Ra ao seu, Amon teve o seu prestígio ainda mais aumentado. Durante o reinado de Ramsés III, um inventário dos “bens do Deus” nos informa que ele possuía, dentre outros itens no rol de seus bens, mais de oitenta mil escravos e mais de quatrocentas mil cabeças de gado. Os sacerdotes de Amon eram recrutados nas famílias dos mais poderosos senhores do país, que logo estabeleceram um sistema hereditário com relação ao preenchimento das vagas no corpo sacerdotal e dos administradores dos “bens do Deus”. Com isso, se formou uma espécie de estado teocrático, exercendo o Deus o seu poder por oráculos e por uma extensa rede burocrática de caráter administrativo-religioso que tinha como figura principal o faraó. O poder de Amon, assim renovado, se estendeu às tribos do deserto, os beduínos, criando-se inclusive centros religiosos para o atendimento de um grande número de peregrinos que continuamente vinham ao país para reverenciar o Deus.


BEDUÍNOS