quinta-feira, 19 de setembro de 2019

DRAGÕES E SERPENTES NO MITO, NA ASTROLOGIA E NA ASTRONOMIA

PLANETAS
Em 1930, a União Astronômica Internacional  estabeleceu que no céu havia 88 constelações, distribuídas como  boreais (norte celeste), austrais (sul celeste) e zodiacais, que envolvem a Terra, por onde circulam, do ponto de vista terrestre, o Sol, a Lua e oito planetas: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão, estes três últimos invisíveis a olho nu. Os nomes destas constelações foram fixados na língua latina embora a maioria deles provenha da língua grega, da mitologia grega principalmente. Na antiguidade eram conhecidas, entre os três grupos acima mencionados, apenas 48 constelações, número definido por Ptolomeu no Almagesto. Hoje, esse número se expandiu para mais de cem.

LOS LIBROS DEL SABER
Historicamente, é de se recordar que só em 1252, na Europa, em Toledo, na Espanha, os estudiosos do céu voltariam a fazer uma nova e mais consequente avaliação do que gregos, latinos e outros povos haviam deixado. Esse trabalho tomou o nome de Los Libros Del Saber de Astronomia, as celebres Tábuas Afonsinas, compiladas pelos astrônomos árabes, sob o patronato do futuro rei Alfonso X, o Sábio, 1221 - 1284, dedicado astrônomo. De Alfonso, falavam os seus súditos,
CANTIGAS  DE  SANTA  MARIA
carinhosamente diga-se, que ele abandonava muitas vezes a coroa pelo astrolábio, esquecendo seus deveres terrestres pela sua paixão pelas coisas celestes. Vale informar também que Alfonso ficou também muito conhecido por sua atividade literária, sendo considerado, se não como o autor das 427 famosas Cantigas de Santa Maria, o poeta que compôs muitas delas. 

AL SUWAR
Aos agrupamentos de astros que formavam as constelações os gregos deram genericamente o nome de Morphoseis (semelhantes, parecidas) ou Schemata (figuras). Os latinos chamaram tais agrupamentos estelares de constellatio, constelações, dando-se o nome de Zodia àquelas que lembravam a forma animal. Em 1515, numa edição do Almagesto, apareceu o nome Stellatio para designá-las enquanto no mundo árabe já circulava, há muito, para o mesmo fim, o nome Al Suwar.

Foram os antigos gregos que, no ocidente, começaram a utilizar os nomes de figuras de animais para designar, principalmente, os agrupamentos estelares. Vindos do mito, dragões e serpentes ocuparam um lugar especial quanto a essa designação. Nomeando figuras formadas a partir de agrupamentos de estrelas, “sensibilizando” pontos do círculo zodiacal, atuando em certas áreas (quadrantes) ou isoladamente através de uma estrela fixa, dragões e serpentes marcaram fortemente desde então sua presença na Astrologia. Presentes em todas as tradições, esses estranhos seres, considerados como produzidos pela imaginação dos homens, costumam significar nos mapas astrais em que aparecem muito mal-estar, sofrimento e angústia.


QUATZACÓATL
A figura do dragão parte, no geral, de um modelo clássico, o da serpente, transformada ao receber pernas e componentes típicos dos répteis, como os dos crocodilos; ou receber também das aves asas, como no caso da serpente emplumada dos toltecas ou olmecas, o quatzacóatl (serpente, em língua nahuati); ao incorporar ainda dos animais marinhos barbatanas, escamas, caudas bífidas etc. A imagem desses monstros se completa muitas vezes pelo acréscimo de víboras, pequenas serpentes venenosas ao seu corpo escamoso, à guisa de pelos. 

HÉRCULES  E  CÉRBERO
Os dragões, quanto à forma, podem ser policéfalos, polioftalmos, polimorfos, polípodes etc. Vomitam fogo, sua baba é venenosa, seus sangue mata, mas, em alguns casos, é possível fabricar do corpo do dragão ou de suas secreções remédios e antídotos (contravenenos) maravilhosos É, por exemplo, o caso de Cérbero, o cão infernal tricéfalo da mitologia grega, de cuja baba, quando esta atinge o solo, nasce o acônito. Versão mais completa sobre a origem desta planta nos informa que tal aconteceu quando Cérbero, vencido e trazido à luz por Hércules (10º trabalho), foi atingido por raios solares.  Contorcendo-se, o monstro vomitou uma baba escura e no lugar em que ela tocou a terra, brotou imediatamente um pé de acônito. Esta planta, como se descobriu posteriormente, já vicejava no Hades, no Tártaro, região infernal mais profunda, nos jardins lá mantidos pela deusa Hécate. Cérbero, como bem sabem os bons astrólogos, pode “aparecer” numa carta astral no lugar onde está posicionado Plutão.


ACÔNITO
O acônito, planta muito tóxica era utilizado na Grécia antiga em alguns rituais de magia negra. Na Europa, desde a antiguidade, o acônito era usado para afastar vampiros e curar a licantropia. Segundo a tradição, quem absorvia acônito podia morrer. Porém, aquele que estivesse envenenado e o absorvesse podia curar-se. Quando usado em doses homeopáticas o acônito costuma trazer muitos benefícios. É neste caso indicado para tratamento da ansiedade, de crises de pânico, tanatofobia, acrofobia, claustrofobia, necrofobia e descontroles físico-mentais em geral.

Em todas as tradições, qualquer que seja a sua forma, dragões serão sempre, num primeiro momento, um símbolo do Mal. Para efeitos práticos, serão dracônticos todos os seres que atuem nessa direção.  É neste sentido que os mitos relacionados com dragões, serpentes, gigantes e demônios nos revelam que quando esse seres atuam estamos sempre em perigo, sempre diante de situações ameaçadoras, que podem nos levar à morte.  

MONSTROS
Monstros, como sabemos, são seres disformes, fantásticos, tidos como produzidos pela imaginação, pela fantasia (phantasia, em grego, é imaginação) do homem. Monstro etimologicamente, quer dizer prodígio da natureza. Prodígio é palavra aplicada a seres que são aberrações, desvios, distorções, com relação ao que é natural, normal. Os monstros nos causam espanto, são descomunais. Estão presentes nos mitos, nas religiões, nas lendas e em muitas histórias da literatura universal.

MONSTROS
De um modo geral, eles têm relação com as cosmogonias, com a vida primordial e sua origem, sendo seu ambiente natural o das forças primitivas em ação no universo, forças que, embora consideradas como potencialidades formais, resistem tenazmente  a qualquer ordenação que se lhes queira dar. Nesse sentido, os monstros  aparecem sempre ligados ao caótico, ao desordenado, ao indiferenciado, ao que não tem limite ou lei. É por essa razão que os mitos e depois a psicologia fizeram deles símbolos da predominância, no ser humano, de forças instintivas ou irracionais, forças que devem ser sacrificadas em nome de uma vida superior, organizada, orientada racionalmente. Os monstros são assim avessos à ideia de cosmos, de ordem, de harmonia.

SÃO MIGUEL ARCANJO
Enquanto as serpentes, no seu modelo clássico, participam da terra e da água, os dragões se relacionam com os quatro elementos, fogo, terra, ar e água, com ênfase maior quanto ao primeiro. No cristianismo, por exemplo, a luta de São Jorge ou de São Miguel contra dragões é mais uma vitória do fogo espiritual sobre o fogo a serviço da matéria. 



Em muitas culturas, o estudo das forças do Mal, nas suas várias expressões, inclusive sob o ponto de vista histórico, é designado pelo nome de Demonologia. É nestes textos que são estudadas inclusive todas as metamorfoses pelas quais as entidades do Mal passaram e passarão continuamente para intervir não só no destino pessoal de cada ser humano como no das sociedades humanas em geral. À Demonologia aqui referida  podemos associá-la a um outro  conhecimento muito importante, a Criptozoologia, o estudo de espécies de animais lendários, hipotéticos ou simplesmente avistados, extintos ou desconhecidos, e sua relação com mitos de várias culturas.

AS  TRÊS  GÓRGONAS
( GUSTAVE KLIMT, 1862 - 1918 )
Uma característica notável que muitos dragões apresentam no mito é a da ambiguidade, podendo, neste caso, quando controlados ou vencidos, produzir o Bem. Um dos exemplos mais significativos do que aqui se fala é o da Medusa, conhecida como uma Górgona, juntamente com as suas duas outras irmãs, Ésteno e Euríale. Das três, a mais perigosa realmente era a Medusa, monstro feminino, com a cabeça enrolada por serpentes, de olhar terrível, que petrificava as pessoas com as quais trocasse olhares. O herói Perseu, quando cortou a cabeça desse monstro, avisado por deuses que o haviam aconselhado, recolheu o sangue que jorrava pelo lado direito do seu pescoço, que tinha a propriedade de curar doenças e mesmo em alguns casos de ressuscitar os mortos. O sangue do lado esquerdo, porém, era veneno mortal. 



NIX  ( PEDRO  AMÉRICO , 1843 - 1905 )
MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, RJ 
Essa característica, aliás, a da ambiguidade, não estava presente no mito só com relação a alguns monstros. Muitas divindades que não podem ser classificadas como monstruosas, dracônticas, a possuíam, como, por exemplo, constatamos na história de Nix, a Noite, divindade primordial nascida do Caos. Nix, a Noite, entre os antigos gregos, sempre teve algum controle sobre doenças, sofrimentos, pesadelos, angústias, sonhos, infelicidades, disputas, guerras, assassinatos e morte. Tudo o que era inexplicável e temível para o ser humano podia, em muitos casos, vir dela de algum modo. Na Grécia antiga, as confrarias órficas foram na direção contrária deste entendimento, honrando-a de várias maneiras, santificando-a, porque, para elas, Nix trazia a bênção dos deuses. Símbolo de todas as germinações, de todas as gestações, Nix alimentava os luminares do céu e tudo o que a Terra produzia. O seu simbolismo tinha correspondências com a obscuridade, com o negro, com a ignorância, com o inconsciente e, por essa razão, com todas as possibilidades da existência, inclusive as de renascimento. Quando honrada devidamente, Nix tomava o nome de Eufrone, a mãe do bom conselho.

POSEIDON
Um dos maiores geradores de monstros na mitologia grega é Poseidon, deus do elemento líquido, dos mares e oceanos, Netuno entre os povos latinos, inclusive na Astrologia. Na forma de cavalo, Poseidon tomou o nome de Hippios, nome que pode ser associado à velocidade das ondas e à sua crista, como a de cavalos, quando do seu tropel marinho. Nos mitos, branco e alado, é um símbolo de espiritualidade, de autodomínio, da pessoa que sabe se dominar, se controlar. Negro, ele aparece ligado à Lua e à água, encarnando as forças descontroladas do psiquismo humano. 


BESTIÁRIO
Associado à luxúria nos Bestiários da Idade Média, o cavalo há muito já era considerado também um símbolo universal da energia psíquica colocada a serviço das paixões humanas. Todas as características e ligações de Poseidon com monstros simbolizam forças irracionais, algo tenebroso, abissal. Na Astrologia, é o planeta Netuno, princípio da receptividade passiva, manifestando-se por faculdades supranormais. Nos tipos superiores, é inspiração, intuição, amor universal, sacrifício desinteressado, espiritualidade. Nos tipos inferiores, é anulação da vontade, desorganização, caos. 

PERSEU E ANDRÔMEDA
( CHARLES - ANDRÉ  VAN  LOO, C.1740 )

Dentre outras possibilidades significativas, Poseidon (Netuno) é visto como o criador de paraísos artificiais e de ilhas, como a Atlântida. Pai de gigantes, ciclopes, salteadores e caçadores malditos, a prole de Poseidon é sempre sinônimo de desproporção, de descontrole, de malefícios. Um dos melhores exemplos que podemos mencionar com relação a Poseidon é o do monstro marinho que ele enviou para destruir o reino de Cefeu por causa da hybris (orgulho, soberba) de sua mulher, a rainha Cassiopeia,  que se considerava mais bela que todas as nereidas e que a própria deusa Hera, esposa de Zeus. 

Lembremos que não só através de divindades tidas como naturalmente benéficas, como Afrodite e Zeus, Vênus e Júpiter respectivamente na Astrologia, pode se “esconder” muito mal. Uma mulher, ainda exemplificando, pode viver astrologicamente a Vênus de seu mapa através de arquétipos representados pelas Sereias, pelas Ondinas ou pelas Melusinas (genericamente de todas as ninfas ligadas aos mares e aos oceanos, se quisermos), sempre belíssimas,  temíveis sedutoras que costumam levar muitos homens do mar à perdição e mesmo à morte. A  etimologia grega de seirazein, de onde sai a palavra sereia, quer dizer “prender com uma corda”.


JOGO  DAS  SEREIAS  ( ARNOLD  BÖCKLIN , 1886 - 1901 )

Afrodite tem vários nomes, apelidos, gerados pelos diversos papéis que pode representar, Calipígea, Trívia, Urânia, Pandêmia, Androfona, Citereia, Cípris etc. Toda pessoa que se envolve num processo afetivo de trocas, a deusa a transforma num ser especial, quase “divino”. Quando Afrodite se apossa da personalidade de uma mulher, ela costuma se abrir para o mundo, para os outros,
PALAS  ATHENA
( GUSTAV  KLIMT , 1862 - 1918 )
socializando-se, podendo inclusive aumentar bastante o seu magnetismo pessoal, chamado pelos gregos de enkrateia. Quando por razões sociais, culturais e religiosas a mulher é rebaixada, Afrodite se “ausenta”. O arquétipo pode pôr uma mulher, dependendo do meio, em divergência com os padrões de moralidade vigentes. Por isso, as mulheres-Afrodite podem ser marginalizadas, satanizadas, consideradas como perigosas, quando não como raptoras do masculino, como no caso das Sereias. Em Atenas, lembre-se, onde Palas Athena, deusa virgem, guerreira, inspiradora dos trabalhos úteis e guia de heróis  pontificava, Afrodite era conhecida como a “oriental”, a “prostituta”.



ASCLÉPIO
As serpentes, desde tempos muito remotos, sempre apareceram associadas à vida e a  transformações porque elas têm a propriedade de mudar de pele, o que levou os antigos a considerá-las como capazes de recuperar a juventude. Por essa razão a serpente foi usada como um dos símbolos do deus Asclépio, que pontificava no santuário de Epidauro. Filho de Apolo, deus solar, educado pelo centauro Kiron, Asclépio “vivia” no Tholos, um edifício de seu complexo médico em Epidauro, em companhia de uma serpente sempre enrolada num bastão, que não só possuía o poder da adivinhação, por ter acesso ao mundo  ctônico, como por simbolizar também, como se disse, a vida que se regenerava continuamente. Não podemos esquecer que Asclépio era também conhecido pelo apelido de deus-toupeira, por fazer com que seus sacerdotes-médicos “penetrassem” na escuridão do psiquismo dos doentes, usando a  oniromancia (interpretação dos sonhos), juntamente com a chamada nooterapia (cura pela mente) técnica que levava à metanoia, à transformação dos sentimentos. A toupeira, como se sabe, é um animal ctônico, adaptado para ver na escuridão. Vive no interior da terra, movimentando-se em pequenos túneis e galerias,verdadeiros labirintos. 

ILUMINURA  MEDIEVAL
Na tradição alquímica, por exemplo, o dragão é Saturno, o adversário da luz, do espírito, do ouro, enquanto representa o chumbo. Como princípio da contração, da condensação, da inércia, força que tende sempre a cristalizar, impedindo irradiações, Saturno prende sempre à forma, impedindo mudanças. O chumbo, seu metal, governa a base mais modesta, mais inferior, de onde se pode partir em busca de alguma evolução, sempre muito difícil. Saturno se liga à falta de luz, é denso, pesado, governa a lei da gravidade e tudo o que limita e cerceia.


MONSTRO MARINHO
Dragões golpeiam, serpentes enlaçam e engolem. São diferentes dos animais de chifre que penetram e perfuram. Enquanto os dragões se ligam mais às quatro direções do espaço e aos quatro elementos, a serpente, por sua forma, liga-se mais ao movimento circular, participando de uma reabsorção cíclica, de
URÓBORO
uma ideia de eterno retorno. É neste sentido que em alguma tradições a serpente recebe o nome de
uróboro (do grego, cauda e engolir). É neste sentido que a serpente rompe o movimento linear, lembrando um criação contínua, um perpétuo retorno. Daí ideias de continuidade e de auto-fecundação, cujo melhor exemplo encontramos no círculo zodiacal. Além do mais é preciso observar, ainda simbolicamente, que serpentes atuam mais no mundo subterrâneo, na vida subconsciente; dragões agem mais na superfície, atacando o ego que se pretende consciente.


Etimologicamente, a palavra dragão (drakon, o macho, e drakaina, a fêmea, em grego, vem do verbo derkomai, que significa “olhar fixamente”, no sentido de um olhar devolvido, muito penetrante. Os judeus lhe deram o nome de tannin, grande serpente, palavra cuja origem está ligada ao chacal (tan), animal necrófago. 

ZEUS   E   TIFON     
O dragão, nos mitos, costuma ter a sua origem estabelecida em períodos em que a ordem cósmica ainda não se fixara, períodos nos quais ele assumia o comando das forças regressivas que se opunham às que procuravam atuar evolutivamente. Nesta perspetiva, o dragão é um agente do caos. Na antiga Grécia, as forças que se 
TIAMAT
opunham à ordem cósmica tinham um representante máximo, o monstro Tifon, filho de Geia e do Tártaro. Os caldeus viram estas forças simbolizadas por Tiamat, personificação feminina do mar. É contra estas primitivas forças cegas do caos que os deuses inteligentes e organizadores devem sempre entrar em luta.

Os dragões encarnam o mal que deuses, heróis ou mesmo os seres humanos têm que vencer quando tentam buscar um caminho evolutivo. Se o dragão aparece associado ao seco, à esterilidade, o tesouro por ele guardado será então a fertilidade, representada pelo úmido, por um princípio feminino, uma princesa, por exemplo. Se, por outro lado, pensamos no escuro da vida subconsciente e nos monstros que ali habitam, o herói que deverá enfrentá-los será um representante da razão (elemento ar). Uma ilustração do que aqui se diz está na derrota do dragão de natureza luciferiana. Quem o derrotou foi Miguel, arcanjo que revelou a Sara que ela seria mãe de Isaac e que anunciou a Abraão que  não sacrificasse o filho na akedá. Miguel (Mikael: mi, quem, ka, como, El, por Elohim), em hebraico, aquele que é como Deus. Miguel está sentado à direita do trono divino, aparecendo associado aos arcanjos Gabriel, Rafael e Uriel, mas sendo a eles superior. Seu grande inimigo é Samael, líder dos demônios, chefe das forças do Setra Achra, o reino do Mal.


HESPÉRIDES  ( EDWARD  CALVERT , 1799 - 1883 )

Entre os gregos, a constelação do dragão, Draco, uma das mais antigas do céu, aparece unida a dois mitos. Na primeira temos a história do dragão de cem olhos que juntamente com as Hespérides guardava os pomos de ouro no maravilhoso jardim que ficava no extremo-ocidente. Outra versão nos conta que Apolo, para tomar posse do oráculo de Delfos, matou a drakaina  Python, também chamada de Delfine, que Geia gerara e designara para vigiá-lo.  Os egípcios identificavam Draco pelo nome de Ammit, monstro formado por partes de crocodilo, hipopótamo e pantera, que atuava na sua psicostasia (pesagem das almas).


DRAGÃO
( G. DORÉ , 1832 - 1883 )
Os dragões, segundo a sua morfologia, indicam também as áreas da vida humana em que atuam. Assim, dragões com bico e pés de águia apontam para desejos de elevação, para um potencial celeste. Com o corpo se serpente, apontam para o mundo subterrâneo, para  a vida subconsciente. Com asas de morcego, sugerem elevação pelo intelecto; com corpo e/ou cauda de leão, se vencidos, indicam a vitória da vida racional sobre o instinto. 

A constelação de Draco, entre os gregos, tinha em tempos pré-históricos uma configuração bem maior do que a que tem hoje. Ela incorporava as duas Ursas, a Maior e a Menor. Estende-se atualmente entre as latitudes 63º e 81º N. A principal estrela de Draco é Thuban (nome adotado pelos árabes para tradução do nome grego Draco), que no ano de 2.700 aC ocupava a posição de estrela polar, o que fazia do dragão o guardião do centro em torno do qual todo o universo girava. Como circumpolar, a constelação do Draco nunca se põe, o que significa dizer que ela nunca “dorme” (se põe), como os dragões.

DRACO
Thuban (estrela alfa Draconis na astrologia ocidental) sensibiliza hoje o signo de Virgem a quase 7º. Sua influência, segundo Ptolomeu, é da natureza de Marte e de Saturno. No geral, os efeitos de Draco são considerados através dessa estrela. Sua proposta: o tema do tesouro e de sua respectiva proteção e vigilância. Pode isto significar numa carta astral a necessidade de muito zelo e cuidado com relação a algo a que a pessoa esteja ligada, uma ideia, uma habilidade, uma forma de arte, uma atividade profissional, algo inventado por ela etc. A influência de Draco (Thuban) também diz respeito ao ato de dar ou de compartilhar “tesouros”, inclusive quanto às dificuldades que desse ato possam decorrer. Nesta última hipótese, podemos ter também, por Saturno, indícios de personalidade fechada, soturna, sombria, quando não esquizoide.  


Sob pressão do cristianismo, a Idade Média fez da serpente um símbolo do Mal, do psiquismo impuro, um animal duplamente amaldiçoado. Primeiro, pelo Criador como um ser da astúcia, da tentação, do pecado, em suma. Segundo, foi também amaldiçoada pela Virgem Maria por ter assustado o burrico que usava para transportar o menino Jesus, quando da fuga para o Egito. É por essa razão que muitos astrólogos cristãos medievais representaram o sexto signo zodiacal por uma Virgem com um pé sobre a cabeça de uma serpente ou pisando um crescente lunar. 


O  PECADO  ORIGINAL
( HUGO VAN DER GOES , ( 1440 - 1482 )
A satanização da serpente vem de longe, passando do judaísmo para o cristianismo. No primeiro, Satã, nome que significa acusador no antigo hebraico, era o maior dos antigos anjos. Recusou-se a prestar homenagem a Adão, uma criatura feita a partir do pó, enquanto ele, ainda que em bem menor proporção, como Deus, fora feito de luz. Lúcifer, etimologicamente, o que transporta a luz, ficou com ciúmes do status de Adão e desejou Eva. Na forma de uma serpente, tentou e manteve relação sexual com Eva, tornando-se o pai de Caim. Ao exilar-se do céu, tomou o nome de Satã, e levou consigo uma hoste de anjos, por ele liderados, formando o reino do Mal, Sitra Achra, que governa com Lilith, sua esposa. Quando se relacionou sexualmente com Eva, injetou sua peçonha nela e em todos os seus descendentes. Essa peçonha, segundo o Talmud, foi removida do povo de Israel quando Moisés lhe entregou os ensinamentos da Torá.

Em muitas constelações, encontramos referências a dragões e serpentes, como Ophiucus, Serpens, Cetus, além de monstros semelhantes. Nos doze trabalhos de Hércules, uma ilustração mítica do zodíaco, temos vários monstros de natureza dracôntica como as Éguas antropófagas de Diomeses, o Leão de Nemeia, a Hydra de Lerna, Cérbero , o Gigante Gerião e outros.