terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

MITOLOGIAS DO CÉU - MERCÚRIO (1)



Mercúrio é o mais quente, o mais rápido, o mais próximo e o menor dos membros da família solar. É muito parecido com a Lua em volume, sendo pouco maior que ela. Enquanto esta corresponde a 2% da Terra, Mercúrio corresponde a 6%. Sua temperatura diurna, elevadíssima (mais de 400º), se deve à sua grande proximidade do Sol (58 milhões de km.). Por esta razão, desenvolve uma espantosa velocidade orbital, cerca de 172.000 km/hora, não sendo por isso “sugado” pelo Sol. Seu ano é de 88 dias: seu período sinódico, de 116 dias. O seu afastamento máximo (elongação) com relação ao Sol é de 28º. Seu tamanho e sua distância (proximidade) do Sol tornam bastante difícil a sua observação.

MERCÚRIO DIANTE DO SOL
 Mercúrio, conforme dados acima, pode estabelecer com o Sol apenas dois aspectos, a conjunção e o semi-sextil. Astrologicamente, no primeiro caso, mente e vontade trabalharão juntos. No caso do segundo, quando Mercúrio estiver no seu máximo afastamento do Sol, podemos ter a possibilidade de uma pessoa não ajustar a sua mente à sua vontade. Aliás, além da sua determinação celeste ou terrestre, todos os aspectos, harmônicos ou desarmônicos, que Mercúrio vier a formar com qualquer planeta sempre nos darão informações sobre as características da mente racional de alguém.  

   A atividade intelectual na mitologia assiro-babilônica era do deus
MARDUK ATACANDO TIAMAT
 Nabu, filho do deus Marduk, o deus vencedor do caos, Tiamat, que inicialmente personificou a ação fecundante das águas e, por isso, uma divindade agrária, de quem dependia o crescimento e desenvolvimento da vida vegetal. À medida que a Babilônia se transformava no maior centro de poder da Mesopotâmia, aumentava o poder de Marduk, acabando ele por assumir a posição máxima no panteão do país. Marduk organizou o universo, distribuiu funções entre as divindades, fixou a órbita dos astros, criou o homem de seu sangue, tornando-se o deus da cura e dos encantamentos mágicos.

NABU
Os gregos identificaram Marduk como Zeus, sendo ele na astrologia o nome do planeta Júpiter. O principal santuário de Nabu
se situava em Borsipa, perto da Babilônia. O poder que irradiava do pai o beneficiava, vindo ele, com o tempo, a assumir algumas funções paternas. Quando Marduk fixava o destino dos humanos cabia a Nabu fazer os devidos registros dos decretos divinos. Nessa função ele ultrapassava a de um simples escriba. Podia, a seu critério, aumentar ou diminuir o número dos dias de vida que cabia a cada um dos mortais. Nabu também exercia as funções de secretário das assembleias divinas.

Sua mulher, a deusa Tashemetohm, muito honrada, inventora da escrita, tutelava os que se dedicavam à arte literária. Eram atributos de Nabu, herdados do pai, o dragão com cabeça de serpente, símbolo do caos primordial, vencido pelo deus com o estilete e a  tabuleta (tábua de argila) para a gravação da escrita cuneiforme, símbolos do cosmos, ou seja, a escrita como criadora da ordem universal. A escrita inventada pela deusa Tashemethon tinha características especialíssimas: era polifônica, isto é, uma mesma sílaba (ideograma) admitia vários sons, o que gerava uma pluralidade de sentidos e de valores. No mais, lembremos que a Mesopotâmia era uma terra de aluvião. A natureza oferecia em abundância o material destinado às inscrições. Bastava escolher e polí-lo. Tratava-se da argila mole, onde se gravavam os sinais com um estilete de madeira. Depois, as tabuletas de argila eram queimadas e endurecidas. Nessas condições, podiam durar milhares de anos (o melhor “backup”  conhecido até hoje).  


Nas cerimônias que se realizavam anualmente para celebrar a vitória do deus Marduk sobre o caos (Tiamat, o caos primordial, o elemento líquido, o dragão serpente que tudo envolvia, símbolo do feminino de onde sairia a terra), a mais importante festa do calendário religioso babilônico, que recriava a batalha original, a imagem do deus Nabu era removida do seu santuário e conduzida ao grande templo de Marduk, onde o deus se unia simbolicamente ao seu pai. Esta cerimônia tinha o objetivo de deixar claro que a mente deve estar sempre submetida a uma finalidade de direção superior, o que astrologicamente significa aqui a firme declaração de que, conforme a ordem astrológica, Mercúrio (Nabu) deve ser um servidor de Júpiter (Marduk).



 Toth foi o nome que no período greco-romano tomou o deus Djehuti, identificado pelos gregos como Hermes. Entre os egípcios, ele era o  mensageiro do céu, por todos reverenciado como um deus lunar, senhor das letras, das ciências, das invenções, da sabedoria, além de porta-voz e arquivista dos deuses. Era Toth também o patrono dos astrônomos-astrólogos, dos mágicos, dos curandeiros e dos encantadores. Djehuti era o antigo nome do Baixo-Egito, cuja capital era Hermópolis parva. Foi dessa região que o culto do deus se espalhou por todo o país. Posteriormente, o principal templo de Toth, já como deus nacional, foi instalado em Hermópolis magna. 


Comumente, Toth era representado com a cabeça de uma ibis, no alto da qual se fixava um crescente lunar. Esta ave, a íbis, simbolizava no Egito todas as operações do intelecto prático. Matá-la era incorrer com certeza em pena de morte. No Livro de Job encontramos referências ao poder que tinha a ave de anunciar as cheias do Nilo. O culto que a ela se prestava devia-se em grande parte ao fato de ela ser ofiófaga. Este culto prestado à íbis, lembremos, não era privilégio dos egípcios. Ressaltemos que a íbis era muito venerada (desde quando?) pelos chamados ofiófagos, um povo que vivia além da Etiópia (teriam eles passado o culto da íbis aos egípcios?), já perto do golfo arábico, em cavernas, numa região chamada de Troglodítica (troglè, caverna, mais dyo, entro, penetro, submerjo-me). Por causa da sua forma, fino, longo e curvo, voltado para baixo, com o aspecto de um clister (klyster, seringa, em grego), o bico da íbis foi muito usado para lavagens intestinais.   


TROGLODÍTICA
        
 A íbis, hibi para os egípcios, adquiriu um grande valor simbólico pelo fato de viver em regiões pantanosas,  sempre curvada, com seu bico que lembra o crescente lunar, a escarafunchar o solo, numa atividade incessante, para buscar alimento. Esta, sem dúvida, uma das grandes razões que levaram os egípcios a consagrar a ave a Toth, considerando-o como a sua representação terrestre. É por esta razão também que a ave era embalsamada, muitas delas encontradas aos milhares nesta forma em vasos de terracota, perto dos túmulos de Saqqarah. 
TOTH BABUÍNO

Toth “gostava” muitas vezes de tomar a forma de um babuíno cinocéfalo, uma espécie de macaco com o focinho alongado, semelhante do de um cão. Se os egípcios veneravam Toth sob essa forma, um de seus demônios tinha também a forma de um macaco da África central, chamado Baba, demônio que sempre procurava privar os mortos de relações sexuais, como está em O Livro dos Mortos (13º capítulo): Ó falo de Rá escapa da infelicidade! Minha impotência nestes milhões de anos vindouros é obra de Baba, que utilizou contra mim a força que está acima da força, o poder que está acima do poder...

RA
A astúcia que caracteriza o macaco, muitas vezes considerada diabólica, endemoniada, pode ser encontrada em muitas histórias dos deuses a ele associados, como Hermes, Toth e Hanuman, característica transferida para os tipos humanos mais influenciados por Mercúrio sob o ponto de vista astrológico. O macaco (pithekos, em grego, simia, em latim), originário da África e da Ásia do sul, era no Egito muito respeitado, de modo especial o tipo hamádria (hamádria pode ser: a) ninfa grega dos bosques que nascia e morria com a árvore, o carvalho no caso, de cuja guarda estava incumbida; b) é uma espécie de borboleta, conhecida como estaladeira; c) babuíno do Egito, do Sudão, da Somália, da península arábica e da Etiópia). Muitas eram as histórias no nordeste africano sobre a sua inteligência; dizia-se que entendia a linguagem humana e que eram mais inteligentes que muitos alunos. Os gritos desse animal antes do nascer do Sol ou quando ele começava a se levantar no horizonte eram considerados como preces. O deus Toth era muitas vezes representado como um velho babuíno branco sentado no ombro de alguém, supervisionando o que esta pessoa escrevia. 

Segundo os teólogos hermopolitanos, Toth era uma espécie de demiurgo universal, identificado como a Ibis divina que havia chocado o ovo do mundo em Hermópolis. Nesta condição, Toth ensinava também que havia realizado a obra da criação pelo som de sua voz quando abriu seus lábios pela primeira vez ao despertar no Num, o caos primordial. Da materialização desse som, nasceram quatro divindades masculinas e quatro femininas, razão pela qual  Hermópolis sempre foi conhecida como a “cidade dos oito” (Khmunu). A tradição hermopolitana nos revela que estas oito divindades perpetuaram a criação pela sua palavra, cantando hinos a cada manhã para garantir a continuidade da marcha solar


PLATÃO
 Lembro que Platão  (428-348 aC), provavelmente inspirado por estas ideias egípcias, fala de um artesão divino que se confundia com o próprio princípio organizador do universo; mesmo sem nada criar de fato,modelava a realidade, organizando a matéria caótica preexistente através da imitação de modelos eternos e perfeitos. Este conceito foi adotado mais tarde por várias seitas platônicas e gnósticas que consideravam o demiurgo como um intermediário de Deus na criação do mundo, responsável pelo mal que não poderia ser atribuído ao Criador supremo. Na linguagem comum, não filosófica ou religiosa, demiurgo é, literalmente, o que trabalha (ergon, trabalho) pelo povo (demo, povo, população).

No Livro das Pirâmides, Thot aparece ora como filho mais velho de Ra, o Criador, o Sol, soberano e mestre do céu, deus de Heliópolis, ora como filho de Geb e Nut (o segundo casal da enéada, identificados por Plutarco, respectivamente, como Kronos e Reia) e, portanto, como membro da família osiriana (Osíris, Isis, Seth, Nephthys e Haroeris). No geral, porém, Toth não faz parte dessa família, sendo considerado apenas como o vizir do “Ser Bom” (Osíris) e o escriba sagrado de seu reino. 


OSÍRIS
Fiel ao seu Mestre assassinado, Toth contribuiu decisivamente para a sua ressurreição graças à entonação perfeita de sua voz na recitação das fórmulas mágicas que fizeram Osíris voltar à “vida”, além, é claro, dos ritos  que oficiou de modo a lhe purificar completamente os membros (algo semelhante acontecerá com Zeus na mitologia grega). Mais ainda: Toth ajudou Ísis a defender o pequeno Hórus enquanto órfão, limpando inclusive do seu corpo o veneno de um escorpião que o atacara. 

Quando da luta que travou contra Seth, seu tio, Horus saiu dela
HORUS - SETH
cheio de cortes profundos e arranhões. Toth o ajudou bastante; com as suas artes, cicatrizou-lhe rapidamente todas as feridas. Quando os dois irreconciliáveis inimigos foram convidados a comparecer perante o tribunal dos deuses, como se sabe, a sentença proferida, obtida pela arte de Toth, obrigou Seth a devolver ao seu sobrinho a herança da qual indevidamente se apossara.


Dotado de sabedoria inigualável, foi Toth o inventor de todas as artes e ciência, destacando-se dentre elas a aritmética, a agrimensura, a geometria, a astronomia, a adivinhação, a magia, a medicina, a cirurgia, a música e mais a fabricação de instrumentos de corda e de sopro, além do desenho e sobretudo a escrita, sem a qual a humanidade correria o risco de perder as suas doutrinas e suas descobertas. 


        Chamado, na sua qualidade de inventor dos hieróglifos (escrita
HIERÓGLIFOS
sagrada), Thot é muito conhecido pelo nome de Sensu (O Mais Velho), como o primeiro dos mágicos. Seus discípulos se vangloriavam de entrar livremente na sua cripta onde ele guardara os seus livros de magia, nos quais ele registrara todas as fórmulas que comandavam as forças da natureza e que definiam a própria ordem cósmica, às quais as próprias divindades deviam se submeter. Foi este imenso poder, que se estendia ao Céu, à Terra e ao “Outro Lado”, que levou os egípcios a lhe darem o nome de Trimegisto (três vezes grande), nome depois usado pelo Hermetismo greco-alexandrino. 


NUT - GEB
  Retirando-se para o Céu, depois de reinar sobre a Terra e o Outro Lado, Toth transformou-se em deus da Lua, em seu guardião. A Lua, entre os egípcios, possui uma individualidade própria sob o nome de “Aah”. Uma das passagens mais importantes da vida de Toth é aquela em que ele conseguiu vencê-la num jogo de damas e, com isso, compor cinco dias inteiros para que Nut (Reia) pudesse parir os cinco filhos que nasceram de sua relação com Geb (Kronos). Como já foi mencionado, o Grande Ra proibira que Nut parisse filhos em qualquer mês do ano. Thot, com a vitória sobre a Lua, acrescentou cinco dias ao ano, possibilitando assim o nascimento da família osiriana. Esses dias foram chamados de epagômenos, ou seja, dias que se acrescentam a um calendário. Entre os egípcios, epagômeno é cada um dos cinco dias adicionados ao ano civil, que compreendia doze meses de trinta dias cada um.  

Foram os egípcios antigos os primeiros a marcar o início do ano em outro período que não o equinocial, quando o dia e a noite têm a mesma duração. Os egípcios, como vários outros povos, aliás, por

motivos religiosos, políticos, raciais ou científicos, fizeram o início do seu ano coincidir com os primeiros transbordamentos do rio Nilo, isto é, no dia 19 de junho (Primeiro dia do mês de Thot). Era desse transbordamento que dependia a vida do país como um todo. Muito solenes eram as festas que se realizavam quando as águas do rio começavam a subir, alagando as suas margens por alguns quilômetros. Quando esse alagamento não ocorria, quando o nível das águas se mantinha inalterado, sinistros eram os agouros e dolorosas as interrogações. 

Lembremos ainda que os antigos egípcios foram os primeiros, dentre os povos da antiguidade, a medir com aceitável exatidão o ano, dando-lhe a duração de 365 dias. A fixação deste número, como se sabe, tinha uma base astronômica, a comparação de duas passagens seguidas do Sol diante de uma mesma estrela. Esta exatidão não se verificava, contudo, no que dizia respeito quanto à data de seu início. Isto porque, por mais regular que fosse o fenômeno das cheias do rio, ele sempre dependia de inúmeros fatores irregulares e incontroláveis, a falta de chuvas nas suas cabeceiras, tempestades de areia, ventos contrários e mesmo a ação humana poderiam influir, como de fato influíram, ao longo da história do país para que as águas não começassem o seu transbordamento no primeiro dia do mês de Thot. Foi o deus Thot, na qualidade de deus lunar, o responsável pela medição do tempo no panteão egípcio.     


Como deus agrimensor, Thot se encarregou de todos os cálculos e anotações pelos quais o país foi dividido, suas dimensões fixadas e seus recursos levantados devidamente. Arquivista dos deuses, ele é o patrono da História do país, anotando cuidadosamente a sucessão dos faraós. Cabe a ele inclusive inscrever sobre as folhas das árvores sagradas (palmeiras) o nome do futuro soberano que a rainha vier a conceber em razão de sua união com o Senhor do Céu, Ra,  bem como o número de anos de reinado que a grande divindade lhe conceder.   


PSICOSTASIA
 Arauto dos deuses, funciona Toth também muitas vezes como uma espécie de tabelião. Comuns os textos que começam por esta expressão: Ra disse, Thot escreveu. Na psicostasia (pesagem das almas), uma vez proferido o julgamento, cabe a Thot, que acompanha sempre cuidadosamente todo o processo, a proclamar em voz alta o veredicto libertador ou condenador, obrigatoriamente registrado nas tabuletas. Investido da confiança de todos os deuses e escolhido por eles como árbitro, foi Thot que, perante todos, justificou a ação de Hórus e condenou Seth. 

Os textos religiosos costumam associar Maat, a deusa da Verdade e da Justiça, a Toth. Duas outras divindades são consideradas como suas esposas, Seshet e Nehmauit. A primeira é, a rigor, mais um duplo feminino de Toth, como deusa da Escrita e da História. É representada por uma figura feminina que ostenta na cabeça um crescente lunar voltado para baixo, nele se fixando duas penas, constituindo tudo um ideograma que pode ser traduzido como "aquela que ajuda na escrita, aquela que secretaria".

SESHET

Mais tarde, no lugar das duas penas foram colocados dois chifres voltados para baixo, recebendo a deusa o nome de Safekht (aquela que ostenta dois chifres). Além de auxiliar Thot na elaboração de calendários, foi-lhe conferido o título de a “Senhora guardiã da casa dos livros”. Recebia também o título de a “Senhora da casa dos arquitetos”, sendo apresentada nesta função como fundadora de templos, ajudando o faraó a fixar o lugar de sua edificação segundo a posição de determinados astros no céu.


A principal festa de Toth, segundo Plutarco, era celebrada no dia 19 do seu mês, alguns dias depois do plenilúnio, no começo do ano. Mel, figos e manjares finos eram servidos a todos os que participassem das cerimônias que se realizavam em sua homenagem. 


HERMES TRIMEGISTO

Quando falamos das diversas formas e expressões do Mercúrio astrológico, não podemos esquecer de uma delas, muito importante, a que toma como figura central do chamado Hermetismo. Tendo como centro irradiador a cidade de Alexandria, situada no delta do rio Nilo, o Hermetismo é uma convergência de muitas tradições culturais e religiosas provenientes de várias regiões do mundo
PTOLOMEU
antigo (filosofia grega, gnosticismo, judaísmo, cristianismo, mitraísmo, magia, alquimia, astrologia, ocultismo, variadas mancias etc.) que à época, entre os sécs. III aC e III dC, se encontraram nessa grande capital egípcia, governada pelos Ptolomeus, descendentes de Alexandre Magno. Dois caminhos tomou o Hermetismo em Alexandria, o culto e o popular. Sua figura central era Hermes-Toth, também conhecido como Hermes Trimegisto. 


Hermes-Toth  foi uma divindade “inventada”, para servir de seu patrono, por um grupo de filósofos marginais de Alexandria para melhor colocar no mercado da cultura as suas propostas. Era, nesse sentido, Hermes-Toth uma logomarca. Entenda-se: a filosofia oficial, patrocinada pelo Estado, ensinada nas suas escolas, tinha por base Pitágoras e Platão, principalmente. A citação destes nomes garantia para os neopitagóricos e neoplatônicos a aceitação indiscutível do que divulgavam e bons empregos. O mesmo fizeram os hermetistas, atribuindo a Hermes-Toth a revelação do que diziam, procurando garantir assim a sua credibilidade. 


Segundo Clemente de Alexandria (sécs.II-III dC), Hermes
CLEMENTE DE ALEXANDRIA
Trimegisto “deixou” 42 tratados, dos quais 10 falam de religião, 10 de cerimônias secretas, 2 de hinos aos deuses e de regras para os reis, 6 de medicina, 4 de astronomia-astrologia, 10 de cosmografia, de geografia e de ritual. Historicamente, dá-se o nome de Hermética a esse conjunto de textos atribuído a Hermes-Thot, mas, na realidade, escrito por filósofos greco-alexandrinos. O Hermetismo popular se voltou para as chamadas artes ocultas, compreendendo ele o Liber Hermetis (consagrado à astrologia), os Kyranides (consagrado aos lapidares), a Liturgia Mitríaca (escritos sotereológicos). Os principais textos do Hermetismo, 19 tratados ao todo, são o Kore Kosmou (Pupila ou Virgem do Mundo), o Poimandres e o Asclepius. Ligado à Gnose, os seus mitos se opõe a ela por uma concepção unitária e otimista do universo, com o qual a alma pode se fundir (Grande Todo). 


No mundo helenístico, Hermes-Toth aparece como um deus civilizador, patrono das ciências e de todas as gnoses. A eficiência que os tocados por ele (kydos) foi aos poucos sendo considerada como algo mágico, recebida secretamente, ocultamente, um saber transmitido a poucos. A medicina hermética, a cura pela palavra (oniromancia, interpretação dos sonhos) era praticada com muito sucesso no santuário do deus médico Asclépio, em Epidauro. Tornando seus protegidos invulneráveis às trevas, livrando-os das pressões do subconsciente, não demorou muito para que a Hermes-Toth  fosse conferido o título de “o guia de todos os magos”.


GIORDANO BRUNO SENDO JULGADO
 O Renascimento, como movimento filosófico, impregnado de esoterismo, recuperou muitas das criações do mundo greco-alexandrino. Os grandes pensadores desta época são grandes esoteristas, Marsilio Ficino, Pic de La Mirandola, Corneille, Agrippa, Parecelso, Cardan, Giordano Bruno e outros. Os textos do Hermetismo foram sempre muito lidos e estudados. O Renascimento, como movimento artístico, se voltou bastante para a tradição esotérica. Grandes artistas mergulharam no neopitagorismo, no neoplatonismo, na Cabala hermética, na quiromancia, na geomancia, na Astrologia; a Alquimia forneceu um abundante material para gravuras maravilhosas. 

As principais leis do Hermetismo foram reunidas num livro chamado Le Kybalion (O Caibalion) a seguir expressas:

1) Lei do Mentalismo: O Todo é mente; o universo é mental; 2) Lei da Correspondência: O que está em cima é como o que está em baixo e vice-versa. 3) Lei da Vibração: Nada está parado, tudo se move, vibra. 4) Lei da Polaridade: Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meio-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados. 5) Lei do Ritmo: Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é compensação. 6) Lei do Gênero: O gênero está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e feminino; o gênero manifesta-se em todos os planos da criação. 7) Lei de Causa e Efeito: toda causa tem seu efeito, todo efeito tem sua causa; muitos são os planos da causalidade, mas nenhum escapa à Lei.