terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

SEXTO TRABALHO DE HÉRCULES




AMAZONAS

   O CINTURÃO  DA  RAINHA  DAS AMAZONAS - Hércules recebeu ordens de se apoderar do cinturão de Hipólita, a rainha das Amazonas.  As amazonas eram guerreiras que viviam isoladas em seus territórios e não aceitavam o mundo masculino. Sobreviventes de um período histórico chamado matriarcado, no qual as mulheres foram socialmente muito mais importantes que os homens, mantinham um regime político-social que ficou conhecido pelo nome de ginecocracia.

HÉRCULES SE APODERA DO CINTURÃO DE HIPÓLITA

Nos antigos sistemas matriarcais,  a principal figura da unidade familiar era a  mãe, aparecendo os homens apenas como entidades reprodutoras e desempenhando um papel inferior na organização tribal. Eram elas que decidiam sobre os bens comuns a todos, assumindo o controle tanto da sua produção como da sua distribuição. Além disso, centralizavam-se também nelas a identificação dos filhos (matrilinearidade) e a transmissão dos bens, decidindo  elas, no geral, tudo o que dissesse respeito ao mais conveniente para a melhor sobrevivência da tribo.

Os estudos clássicos sobre o matriarcado são os do antropólogo,
J. J. BACHOFEN
filólogo e jurista suiço J.J.Bachofen (1815-1887), defensor da tese segundo a qual esse sistema social estaria na base de todas sociedades humanas. Aos seus trabalhos se juntaram depois os de outros pesquisadores, adotando-se também o nome de sociedades matrifocais para designá-las. Como sempre acontece  quando uma tese inovadora como a de Bachofen é apresentada, os meios oficiais acadêmicos se manifestaram contrários (muitos até violentamente) aos argumentos do estudioso suíço. Outros, em menor número, do
qual fizeram parte alguns escritores, poetas e  mitógrafos,  de  mente mais aberta, como Erich Fromm, Robert Graves, Rainer Maria Rilke, Thomas Mann, Lewis H.Morgan, Joseph Campbell e Jane Elle Harrison (fig. direita) deram-lhes acolhida muito simpática e até entusiasta (Jane Harrison, por exemplo não só encampou muitos dos argumentos de Bachofen para as suas visões do mito como escreveu uma das grandes obras da mitologia; Themis – A Study of the Social Origins of Greek Religion, na qual as teses matriarcais aparecem com destaque. 

Pesquisas arqueológicas demonstraram e vêm demonstrando que as sociedades matriarcais parecem ter existido realmente. Um exemplo: J.A. Evans (1851-1941), arqueólogo, em fins do séc. XIX, constatou, quando de suas escavações em Creta, que por volta de 3.000 aC existira na ilha uma ginecocracia. Os trabalhos de Evans comprovaram também a veracidade de várias histórias, que, sob a forma de mitos, tidos como fantasiosos, “coisas de poetas”, nos descreviam as relações entre a  ilha e a Grécia continental. Foi ele quem, ao aproximar a matéria histórica e mito,  deu o nome de minoica à esplêndida civilização cretense, a partir de registros míticos que falavam de personagens como Minos, Pasífae, Ariadne, Minotauro e Teseu.

Com base nos trabalhos de Bachofen, os estudiosos modernos dividiram o matriarcado em três fases: 1) Heterismo; 2) Amazonismo; e 3) Demetrismo. A palavra hetera (hetaira, em grego) quer dizer concubina, prostituta. A primeira fase, também destacada nos trabalhos de Bachofen, se caracterizava por uma espécie de comunismo tribal, com fortes componentes nômades e acentuada promiscuidade sexual (poliamor, no dizer de Bachofen). As mulheres dominavam a vida social, exercendo os homens, como se disse, apenas a função de machos reprodutores. A Grande-Mãe era representada por figuras femininas enormes, obesas, esteatopígicas,figuras que no dizer de Bachofen eram uma  espécie de proto-Afrodite. É por essa razão, lembre-se, que essas mães começaram a ser chamadas pelos arqueólogos e pesquisadores acadêmicos  de Vênus, ao qual se acrescentava o nome do lugar em que eram encontradas as estatuetas, Vênus de Willendorf, Vênus de Brassempouy etc.

VÊNUS DE WILLENDORF

As estatuetas dessas Grandes-Mães, como indicaram as pesquisas, já apareciam no paleolítico ( desde 30.000 aC) e sua produção estendeu-se até a era de Touro (mais ou menos entre 4.000-2.000 aC), período em que se concluiu a passagem da tutela da unidade familiar do feminino matriarcal para o masculino patriarcal. Duas observações importantes a se fazer aqui quanto ao nome de Vênus dado às estatuetas: 1) elas são representações da Grande-Mãe, cujas funções nada tem a ver com as atribuições de Afrodite-Vênus, como está na mitologia. As representações acentuam fisicamente  o que sobretudo na mulher lembra fecundidade, ventre, nádegas seios, vulva. 2) Esses pesquisadores, ao desenterrar o mundo matriarcal, nos ajudaram a reavaliar corretamente a história da humanidade e o papel que nela teve a mulher. Contudo, a visão que eles nos apresentaram veio carregada de preconceitos machistas, algo que uma pretensa objetividade científica conseguiu camuflar. A ironia com que trataram o assunto deixa entrever tudo isso. Eles, por exemplo, deram às estatuetas um nome que nada tem a ver com o que elas representam.  Este preconceito pode ser notado também na designação dada à primeira fase do matriarcado, heterismo, pelo qual se procurou comparar o papel da mulher nessas sociedades ao de prostitutas, o que é absolutamente incorreto, pois a prostituição é atividade mais ou menos institucionalizada que visa o ganho de dinheiro com a cobrança por atos sexuais, o que não ocorria em tais sociedades.

TELLUS MATER
   
O que temos de confirmado é que na ordem matriarcal sabia-se quem era a mãe, sendo o pai uma figura apagada e, no geral, ignorada. Assim, as uniões não eram monogâmicas. A vida, a rigor, dependia delas, das mulheres,  cujo corpo analogicamente se confundia com a própria Terra como fonte da vida, de todos os seres. Daí os nomes da Grande-Mãe nas várias mitologias, Geia ou Gaia, Magna Mater, Tellus Mater, Deusa da Montanha do Mundo, Potnia Theron, Maya-Shakti-Devi, Ísis, Cibele, Aditi,  todas doadoras e tomadoras da vida, sempre representadas por figuras enormes, gigantescas, solenes. 

CIBELE
  
Bachofen fala que na segunda fase do matriarcado, com a diminuição das  atividades  predadoras e coletoras, um incipiente processo de sedentarização deu condições ao aparecimento da agricultura e de cultos ctônicos, adquirindo a Grande-Mãe características lunares, representada por figuras que lembravam vagamente a Deméter grega. A esta fase se seguiu outra, a que ele deu o nome de dionisíaca, uma fase onde se notam já interferências masculinas mais ou menos poderosas. 

DEMÉTER
  
Aqui, quanto à chamada fase dionisíaca, outra imprecisão, um erro mesmo. Dioniso não faz a transição do feminino para o masculino. Ele age, isto sim, para destruir as formas que não sabem
DIONISO (MIGUEL ÂNGELO)
se renovar, tanto masculinas como femininas (ele, por exemplo, destruiu Ariadne, divindade do mundo vegetal, do mundo matriarcal). Num mundo saturado de machismo como o grego,tanto histórica como miticamente, Dioniso aparece muito mais ligado ao mundo feminino, sendo, como tal, venerado pelas amazonas. Extremamente complexo como divindade, ele se liga ao mundo animal e ao mundo vegetal, à energia que os percorre. Como deus das metamorfoses, anima a natureza com a sua energia de poder embriagante, confunde-se com a seiva, a própria vida do mundo vegetal.                                           


Dioniso sempre viveu entre mulheres. Sua fidelidade a Sêmele (nome que podemos aproximar de semen, tanto semente animal  como vegetal), filha de Cadmo, sua mãe, é notável. Dioniso, como sabemos, retirou-a do Hades para transformá-la na primeira das suas sacerdotisas, das suas mênades. Lembremos que, no período clássico da história grega, foram as forças dionisíacas que destruíram as formas do poder masculino da polis ateniense, dominada por Apolo, o deus da aristocracia grega. Dioniso intervém sempre que as formas masculinas ou femininas não sabem se renovar, corrompendo-as, apodrecendo-as, aviltando-as, enlouquecendo, conforme o caso, tanto os indivíduos como as coletividades, as sociedades humanas. 

ARIADNE E DIONISO (ANTOINE-JEAN GROS - 1821)

 Muitos séculos e séculos se passaram. Quantos? Aos poucos, na eterna luta dos opostos (masculino-feminino, ativo-passivo), no jogo de alternância das forças cósmicas, o mundo masculino  foi adquirindo poder, fortalecendo-se, conquistando posições políticas e sociais, apossando-se do campo religioso. As mulheres foram sendo rebaixadas. As divindades masculinas, de características fortemente patriarcais, passaram a ocupar as principais posições nos panteões religiosos.

MARDUK E TIAMAT

A ultima fase do matriarcado é chamada por Bachofen de apolínea, fase que, segundo afirma, está na origem da civilização moderna. Com efeito, a liquidação do matriarcado pode ser rastreada em
THEMIS
muitos exemplos míticos como o temos na Mesopotâmia: o domínio de Tiamat, princípio feminino, visto como uma ameaça do caos, pelo herói Marduk. Outro exemplo, muito significativo, foi a tomada do Oráculo de Delfos, de  Geia e de Themis, a Grande-Mãe e sua filha, guardado pelo dragão-serpente Python, por Apolo. Com a vitória de Apolo, a mântica divinatória, por incubação, tipicamente feminina, foi substituída pela mântica profética, apolínea, tipicamente masculina.  


À terceira fase, na visão mais “moderna” das teses matriarcais,  já totalmente dominada pelos homens, deu-se o nome de Demetrismo. Uma homenagem à Grande-Mãe através da deusa Deméter, da agricultura, dos grãos, dos cereais. Honrava-se de alguma modo o feminino, dava-se-lhe uma posição divina, mas absolutamente secundária, subalterna e inferior nos panteões. Uma figura que, embora necessária, pouco ou nenhuma representatividade tinha.

Na mitologia grega, por exemplo, dá para perceber o que aqui se afirma quando pensamos nos grandes operadores do sistema
PALAS ATHENA (GIUSTINIANI)
olímpico. Apolo e Palas Athena, os mais chegados a Zeus, além de Hera, tinham posição privilegiada nos grandes centros urbanos, seus maiores templos ficavam na polis. Uma divindade como Deméter não possuía templos nestes centros. Suas festas eram realizadas no campo, longe Os mistérios de Eleusis eram dela e de Dioniso, mistérios que falavam de morte simbólica e renascimento, algo que, em absoluto, interessava à aristocracia grega. As festas de Palas Athena, ao contrário, eram urbanas, atraíam pessoas do campo para a cidade. Suas festas, as Panateneias, tinham um caráter pan-helênico, citadino, sendo festas totais do mundo grego.


A reação do princípio feminino é consequência da terceira fase apontada por Bachofen. As mulheres procuraram resistir ao crescente aumento do poder masculino. Agruparam-se, formaram sociedades. A estas mulheres se deu o nome de amazonas (em grego, ausência de seio) porque elas, diz o mito, para melhor manejar o arco, arma na qual eram exímias, extirpavam um dos seios. As amazonas, quando precisavam assegurar a continuidade do seu grupo, raptavam homens, usando-os como reprodutores. Se da relação nascesse uma menina, conservavam-na, uma futura amazona. Se nascesse um menino, abandonavam-no ou o matavam.


Quanto à questão das origens, alguns asseguram que elas eram teriam saído  do Irã e passado a viver na Cítia, numa região que ficava perto perto do Ponto Euxino ou Mar Negro, entre a Europa, a Anatólia e o Cáucaso. A palavra amazonas viria  de hamazan, que, em iraniano, quer dizer lutar em grupo, lutar juntamente com alguém. 

 A realidade histórica das amazonas sempre foi questionada; existiram realmente essas guerreiras ou não? O que temos, com relação à antiguidade, aparece nas obras de vários escritores. Heródoto, o pai da História, relata que os sármatas (povo que vivia na região da atual Polônia) eram descendentes delas e dos citas. Já Hipócrates as menciona íntegras, nada dessa história de seio decepado para melhor poder manejar o arco. Diodoro Sículo, ao falar dos trabalhos de Hércules, nos dá notícias de que a capital do país das amazonas era a Temiscira, ao que parece na costa turca. Os depoimentos sobre elas se acumulam, havendo inclusive um,  entre os romanos, o de Júlio Cesar, que disse tê-las conhecido.

 Hércules é um dos mais perfeitos representantes do mundo masculino patriarcal. É filho do maior dos deuses, Zeus; sua mãe era uma princesa mortal e, embora casada, ainda era virgem; foi escolhida pelo Senhor do Olimpo, que a fecundou para torná-la mãe de um herói que simbolizasse a união das forças terrestres com as forças celestes. Hércules é um guerreiro e nunca abriu mão do entendimento de que quem faz o Direito é a Força. 
 
Recebeu nosso herói neste sexto trabalho a incumbência de ir ao país das amazonas com o objetivo de se apoderar, como bem entendesse, de um famoso cinturão que Hipólita, uma filha do deus Ares, a rainha das amazonas, possuía. A previsão de Hércules e de seu pequeno grupo, todos truculentos e violentos guerreiros como ele, era a de uma luta terrível, pois as amazonas sempre se mostraram como temíveis combatentes.

 Nada do previsto, porém, ocorreu. O pequeno grupo chefiado por Hércules foi recebido amistosamente pela rainha. Declarou nosso herói o objetivo de sua missão. Hipólita (etimologicamente, aquela que desatrela os cavalos) respondeu que poderia negociar, discutir a questão, o que seria feito no dia seguinte. Em nome da paz, a rainha se prontificou inclusive a entregar o seu cinturão, símbolo do poder feminino, desde que ambos, o masculino e o feminino passassem a viver em condições de igualdade. 

Os cintos e cinturões dão uma ideia de união, de ligação, de poder, de submissão, de dependência, tudo ao mesmo tempo. Como peça que envolve a cintura, o cinto, no entender dos antigos, separava o corpo em duas partes, a inferior, onde se alojam os órgãos genitais, da superior, sede do coração. Ao envolver a cintura, onde se encontram os rins, órgãos do equilíbrio (signo de Libra, oposto ao de Áries, sede da energia individualizada), o cinto indica assim uma submissão conquistada, ou melhor, uma vontade de se integrar livremente a uma outra para formar um todo maior. 

HÉRCULES MATA HIPÓLITA

Na noite que antecedia o dia da reunião marcada, aproveitando-se da calma que reinava no palácio, Hércules e seu grupo, desconfiados da proposta de Hipólita, e querendo logo resolver a questão,  atacaram de surpresa a rainha e as suas companheiras mais chegadas, não lhes dando a mínima possibilidade de reagir, promovendo uma carnificina sem igual; mataram-nas quase todas, poupadas algumas que foram dadas como escravas aos que do grupo mais se haviam destacado pela violência.  Mais uma vitória, uma grande façanha, sem dúvida.

Esta história é, evidentemente, uma ilustração do conflito entre os mundos masculino e feminino, uma polaridade universal, que aparece em todos os níveis da criação. No ser humano, na sua fisiologia, no seu psiquismo, na vida social, na convivência humana, nas relações entre as nações, na vida religiosa etc., sempre estão em ação estes dois princípios. 

Quando o Sol atravessa a constelação de Virgem, último mês do verão, há uma retração da luz do verão, uma contenção. No mês seguinte, O Sol estará no signo de Libra, equinócio de outono, onde o dia e a noite têm a mesma equivalência. Fica fácil entender: para que possam se unir, os dois lados têm que se equilibrar continuamente, o que nem sempre é fácil. Quando pensamos em Libra, temos que pensar num mundo de medidas, de nuances, de atenuações, de ajustes permanentes, através dos quais o todo caminhará. É por isso que Libra é signo do elemento ar, que pressupõe comunicação. É este jogo de relações e de ajustes permanentes que gera o nascimento, como modelo de convivência, no dizer dos antigos gregos, da Afrodite Dourada. Quem prepara o nosso ingresso consciente no signo de Libra é o signo de Virgem. 

O que a história nos revela é que faltou sensibilidade a Hércules para perceber que lhe estava sendo oferecida uma oportunidade de equilibrar o masculino e o feminino tanto em termos de sua personalidade como de convivência humana, uma possibilidade de entendimento entre estes dois componentes que todo ser humano possui em variados níveis nos seus três corpos, o físico, o emocional e o mental. Mas ele nada disso percebeu. O que lhe interessava era a vitória, a qualquer preço. Faltou-lhe compreensão para notar que se oferecia a ele um meio, ainda que não muito claro, de dar um primeiro passo na direção de algo maior. 

No signo de Virgem, o sexto na ordem zodiacal, surgem, nas suas expressões superiores, ideias de sacrifício, de compreensão e de tolerância em nome do Todo que vier a ser formado. Para isso, há que se purificar o ego nascido no signo anterior (Leão), limpá-lo dos seus excessos luminosos, egoicos, preparando-o para que seja capaz de se ajustar constantemente, diariamente, em Libra, o signo da união. Em Libra, entramos no equinócio do outono, quando momentaneamente os dias e as noites têm a mesma duração. 

O número do signo de Virgem é o seis, que integra dois ternários. Como tal é o número dos dons recíprocos e também dos
antagonismos. A estrela de seis pontas tem relação com uma visão macrocósmica, enquanto a de cinco pontas nos remete à ideia microcósmica, do ser que adquire a luz somente para fins materiais. As seis pontas indicam os dois triângulos entrelaçados e invertidos, o encontro da matéria com o espírito, um encontro que pode significar um sentido evolutivo ou involutivo para a vida.

Os cinco primeiros trabalhos de Hércules cobrem um período de preparação, da construção de um ego autônomo. A partir de Leão uma nova etapa se apresenta. O lado material (ego leonino) deve começar a se subordinar ao espiritual. Nesta etapa virginiana é que temos que nos preparar para todas as formas humanas de contrato, purificando o nosso ego, atenuando-o para que possamos conviver melhor com o outro e, partir dele, nos integrarmos à grande família humana.

Virgo é o ponto intermediário entre a matéria e o espírito. A força de Virgo está na colheita e não na semeadura. Colher e preparar o alimento. Aproveitar o essencial, deitar fora o supérfluo, o inútil,
VIRGO: A COLHEITA
tanto uma função cerebral como intestinal. O perigo de Virgo está na imobilidade diante das escolhas. Em Virgo, surge a ideia de sacrifício, de cortar e de jogar fora, de selecionar e  criticar (verbo e função virginianos). A ação de Virgo tem que se voltar para coisas práticas, pois é através delas que decidimos quanto à organização da nossa vida diária. Em Virgo, temos que dominar os excessos leoninos, o egoísmo, as tendências narcísicas, os excessos da nossa subjetividade, sempre um intransponível obstáculo para  a compreensão e o entendimento.


Os perigos de Virgo estão na exagerada busca da lucidez, na tendência às abstrações, na valorização da memória prática e das infindáveis classificações. Neste sentido, é que o lacre, o selo, o não violado têm a ver com Virgo. Nos tipos malogrados do signo,  comuns as tendências ao celibato, à timidez, à castidade, ao puritanismo, à visão do sexo como sujeira, à mania de limpeza, à hipocondria,  aos transtornos obsessivos compulsivos (TOC).

 Hércules, fixado no seu eu leonino,  não soube se abrir para a oportunidade que Hipólita lhe ofereceu. Permaneceu na horizontalidade do seu ego, não entendendo que o leonino deve procurar a verticalização através da caminhada espiritual a partir de Virgo. Entender-se com o outro (social) para chegar à humanidade, ao coletivo (espiritual).  
 
Do grupo de Hércules, dentre outros, fazia parte Teseu, herói da Ática, tão importante no mito quanto ele, também filho de um deus, Poseidon. Como Hércules, saturado de energia masculina, recebeu como presente pela vitória sobre as amazonas  Antíope, irmã de Hipólita. Uma das versões desse mito nos conta ela foi levada por Teseu para Atenas, passando a viver com ele, tornando-se mãe de Hipólito,  personagem famoso que terá seu nome ligado mais tarde a Fedra, uma outra mulher de Teseu. 

         É neste sexto trabalho de Hércules que temos um dos famosos
MORTE DE LAOMEDONTE
episódios de percurso do nosso herói. Ao retornar do país das amazonas, ele passou por Troia, então vitimada pela peste. Apolo e Poseidon faziam a cidade padecer terrivelmente porque não haviam sido recompensados devidamente pelos serviços que haviam prestado ao rei Laomedonte, a construção das muralhas da cidade. Consultado, um oráculo revelara que o mal só seria afastado se o rei oferecesse em sacrifício a sua filha Hesíone, para ser devorada por um monstro. 


Foi a essa altura que Hércules, passando por Troia, se prontificou, como era de seu costume, a resolver o problema real, desde que Laomedonte lhe desse, em pagamento, umas éguas divinas recebidas de Zeus. Assim foi combinado, cumprindo Hércules a sua parte, isto, é, matando o dragão. Laomedonte, porém, se negou a cumprir o acertado. Furioso, Hércules se retirou da cidade. Tempos depois, contudo, a ela voltou com um pequeno exército. Matou Laomedonte e escravizou os troianos. Deu Hesíona de presente ao herói Telamon, permitindo que ela levasse algum troiano como escravo. Hesíona escolheu o seu próprio irmão, Podarces, resgatando-o antes, porém. Por isso, Podarces teve seu nome mudado para Príamo (etimologicamente, o resgatado, o comprado), quando, mais tarde, por uma virada do destino, assumiu o trono de Troia.


  
A constelação de Virgem estende-se nos céus de 20º Virgem a 6ºScorpio. Está hoje comprovado  que ela já era conhecida pelos egípcios desde remotíssimos tempos pré-dinásticos. Entre, mais ou menos, 10.000 e 8.000 aC, no ciclo das eras cósmicas (2.160 anos cada era)  os egípcios celebraram a passagem do Sol da constelação de Virgem para a de Leão, construindo a sua famosa esfinge no Baixo-Egito, tendo sido mais tarde levantadas ao seu lado as pirâmides  de Keops, Kephren e Mikerinos. 

É de se lembrar que tanto a localização dessas três pirâmides como a da esfinge foram
DENDERAH
determinadas astronomicamente (fato não aceito pela egiptologia oficial). A esfinge já fazia parte do zodíaco de Denderah como uma representação de Ísis, esposa de Osíris e mãe de Hórus. Ela era vista com uma espiga de trigo na mão, por ela lançada no espaço para formar a Via Láctea. O zodíaco de Denderah, um dos maiores monumentos astrológicos da história da humanidade, é um baixo-relevo esculpido no pórtico da câmara do deus Osíris, num templo da deusa Hathor, como mãe do Sol. Está hoje no Museu do Louvre. 

Os árabes chamavam a constelação de Virgem de Al Adhira al
ERÍGONE E DIONISO
Nathifah, A Inocente Donzela. Os chineses a chamaram de A Frígida Donzela. Os gregos tanto a viram como Deméter, deusa dos cereais, como Erígone, filha de Icário, camponês que hospedou o deus Dioniso quando ele desceu ao mundo para ensinar aos humanos a cultura da vinha. Dioniso se apaixonou por Erígone, uniu-se a ela para que nascesse Estáfilo, o “cacho da uva”. 


Uma outra versão grega nos informa que a constelação da Virgem é Astreia (plural de astros). Filha de Zeus e de Themis, deusa das leis imprescritíveis,   Astreia, justa e virtuosa, vivia entre os humanos na Idade do Ouro. Pervertendo-se os humanos, ela, com a sua irmã Aidós, O Pudor, se retirou da Terra, fixando-se como a constelação da Virgem nos céus.

A principal estrela (alfa) da constelação da Virgem é Spica, uma das mais importantes dos céus, hoje a 23º09´Libra. Simboliza a
DIONISO E AMPELO
espiga de trigo, nas mãos da deusa, como uma promessa de dons (agricultura) para a humanidade. Importante também em Virgo é Vindemiatrix, etimologicamente, aquele que colhe cachos de uva. No mito, ele é Ampelo, jovem filho de um sátiro e de uma ninfa, amado por Dioniso. Ao colher um cacho de uvas numa videira que o deus lhe dera de presente, caiu e morreu. Desolado, o deus o transformou então em estrela, que está hoje a 9º15´Libra.


As constelações que associamos a Virgem são a do Pastor, Coma Berenices, Corona Borealis e a Ursa Maior. Na primeira, que se estende de 27ºVirgem-7ºEscorpião, temos a história de Arcas (etimologicamente, o que vem da ursa, arktos), filho de Zeus e de Calisto. A ninfa, grávida, foi transformada em ursa por Ártemis. O filho nasceu, recebeu o nome de Arcas e foi entregue a Maia, mãe do deus Hermes. Tornando-se caçador, Arcas um dia quase matou  a própria mãe transformada em ursa. Para evitar acontecimentos como este, Zeus levou Calisto para os céus como a constelação da Ursa Maior, colocando-a sob a tutela de Arcturus, a estrela alfa da constelação do Pastor ou Boieiro (Arcas).

CALISTO

 Na constelação de Coma Berenices, que vai de 17ºVirgem a
BERENICE
12ºLibra, se registra a história de Berenice, a mulher de Ptolomeu Evergetes. Princesa egípcia, Berenice pertence tanto ao mito como à História. Tendo seu marido partido para fazer a guerra na Síria, Berenice prometeu doar os seus belíssimos cabelos aos deuses se eles o protegessem. Assim aconteceu e Berenice depositou os seus cabelos no templo. Um dia, eles desapareceram. Para acalmar Ptolomeu, disseram-lhe que Afrodite os levara para os céus, transformando-os em constelação.

Corona Borealis (2º a 17ºScorpio), para os gregos, foi o diadema que Afrodite deu a Ariadne quando ela se uniu ao deus Dioniso na
ARIADNE E TESEU
ilha de Naxos, depois de abandonada por Teseu. Ariadne e Teseu, como sabemos, são expressões do matriarcado e do patriarcado, respectivamente. Dioniso, como nos conta o mito, depois dar três filhos à princesa cretense, a sacrificou, colocando o diadema que Afrodite lhe dera como constelação nos céus. O mito narra, numa outra leitura, ainda dentro das aproximações matriarcado x patriarcado, a penetração da cultura da vinha (Dioniso) no Mediterrâneo oriental, simbolizando a morte de Ariadne, como antiga deusa da natureza, o sacrifício da vegetação para que isso se tornasse possível.


A Ursa Maior (10ºCâncer-27ºVirgem) é a mais importante
URSA MAIOR
constelação dos céus, sendo considerada por todos os povos da antiguidade como o “umbigo do céu”.  Desde a pré-história, é um centro universal, fazendo todas as demais constelações um movimento circular à sua volta. Nela, durante milênios, se situou a estrela Polar, a partir da qual todo o universo se movimentou. Hoje, a estrela que desempenha esse papel, como o nome de Polaris (a 27º52´Gêmeos), é da constelação da Ursa Menor.