As Éguas de Diomedes - Diomedes, filho de Ares e de Pirene, rei da Bistônia, possuía éguas selvagens, negras, antropófagas, que soltavam fogo pelas ventas.
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DIOMEDES |
A Bistônia ou Trácia ficava ao norte da Grécia, perto do mar Egeu. As tribos que lá viviam, oriundas da Ásia Menor, falavam uma língua derivada do indo-europeu. Eram pastores, belicosos e ferozes, famosos pelas suas bebedeiras, e gostavam muito de cavalos. Adoravam o deus Dioniso e suas sacerdotisas, tão alucinadas quanto as mênades, eram conhecidas pelo nome de bistônidas Forneciam escravos e mercenários aos gregos. Tinham uma cultura importante, com destaque para a música e para a poesia. É desse mundo que saem os cultos dionisíacos e os mitos referentes a Orfeu, Lino, às musas Piérides e aos Cabiros que vão permear toda a cultura grega.
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HÉRCULES E LINO |
Chegando ao seu destino, Hércules foi logo desafiado por Diomedes. Atracam-se; golpeado mortalmente pelo nosso herói, o corpo do rei da Bistônia foi lançado às éguas, que o devoraram.
HÉRCULES E DIOMEDES |
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HÉRCULES DOMINANDO AS ÉGUAS (ARTE ETRUSCA) |
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ARES E AFRODITE |
Ares, como toda divindade grega, era acompanhado nos seus deslocamentos por um séquito barulhento agressivo, dele
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ARES |
A mãe de Diomedes chamava-se Pirene (etimologicamente, de pyr, fogo), sendo, ele, portanto, irmão de Cicno, bandido violento e sanguinário que matava peregrinos que se dirigiam a Delfos. A pedido de Apolo, Senhor do famoso oráculo, Hércules o matou. Numa peça de Eurípedes, Alceste, Hércules, numa de suas falas, nos revela que era de seu costume opor-se constantemente aos outros filhos de Ares (Licaon e Cicno).
Os gregos, a elite grega do período clássico mais especialmente, muito voltada para os prazeres da inteligência e para as sutilezas do espírito, manifestaram sempre uma certa repugnância por Ares, deus que, no fundo, tanto pela sua origem como por seu caráter e atribuições, era visto como um “mal necessário”. Ou seja, Ares era até muito útil na medida em que a aristocracia grega colocava as suas aventuras colonialistas sob a sua tutela. Nesse sentido, lembre-se, por exemplo, que o ciclo dos argonautas (a conquista do Velocino de Ouro objetivava na realidade a instalação de colônias gregas na Cólquida) é um mito tipicamente ariano.
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JASÃO E O VELOCINO DE OURO |
Foi durante a sua caminhada em direção da Trácia que Hérculesrealizou o primeiro dentre os seus muitos trabalhos secundários (episódios de percurso). Ao passar pela Tessália, região muito inóspita, em Feres, sua capital, recebeu a informação de que o rei da região, Admeto, fora sorteado para baixar ao Hades. O deus Apolo, que em seu exílio na Terra trabalhara para Admeto, interveio, obtendo das Moiras que elas o poupassem, desde que alguém o substituísse. Os pais do rei, já velhos, não se animaram a fazer o sacrifício pelo filho. Outras pessoas consultadas também não. Só Alceste (modelo de fidelidade conjugal), jovem e bela esposa do rei, se prontificou a morrer pelo marido. Foi neste momento, quando a jovem estava prestes a partir, conduzida por Thanatos, o deus da morte, que Hércules chegou à cidade, pedindo hospitalidade. Tomando conhecimento da história, nosso herói, como era de seu feitio, se dispôs a intervir e travou então um combate terrível contra Thanatos, vencendo-o, conseguindo arrancar Alceste de suas garras.
Mas vamos às éguas: neste trabalho, elas representam simbolicamente a vida na escala instintiva, o primeiro nível do elemento fogo (o segundo é o da vida racional e o terceiro da vida espiritual, que, na astrologia, correspondem, respectivamente, aos signos de Leão e Sagitário), fonte de ideias, conceitos ou teorias que costumam nos levar a paixões e a conflitos destrutivos, mortais. Como matrizes descontroladas, essas éguas geravam cavalos (os nossos próprios atos) indomáveis, assassinos, que, como percebeu Hércules, se tornavam muito mais furiosos e enlouquecidos ao beber das águas de um lago próximo, alimentado por um rio da região. Hércules entendeu que se impedisse que as águas do rio chegassem ao lago, os cavalos perderiam muito de sua fogosidade. Foi o que fez; desviou-as, tornando-se os animais, ao consumir apenas a água do lago, muito mais calmos, o que facilitou sobremodo a sua captura. É neste trabalho, como podemos notar, que Hércules demonstra pela primeira vez um forte traço de sua personalidade, repetido outras vezes, a sua grande inclinação por trabalhos hidráulicos, inclusive de drenagem, para a solução dos problemas concretos que encontrava.
Os cavalos, como sabemos, são símbolos do psiquismo inconsciente, aparecendo associados sempre à impetuosidade, à força indomável dos desejos, que podem se impor à mente racional (segundo nível do fogo), ao bom senso e à lógica. Será preciso dominá-los, mantê-los sob permanente controle. Do contrário, eles nos destruirão, como aconteceu com Abderis (símbolo do mental descuidado, distraído, desatento). Para homenagear seu amigo morto, Hércules fundou Abdera, cidade trácia que se tornaria depois muito importante.
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POSEIDON |
Há palavras no léxico de algumas línguas que conservam essa relação entre o cavalo e vida inconsciente. Em francês e inglês, temos, respectivamente, cauchemar e nightmare, pesadelo, palavras que etimologicamente significam a “opressão do cavalo”. A Bíblia, ao usar o cavalo como símbolo do psiquismo descontrolado, contém várias recomendações sobre a necessidade de se controlá-lo, tudo com o sentido de que o homem deve dominar os seus instintos como o bom cavaleiro domina a sua montaria.
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ILUMINAÇÃO DE BUDA |
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PÉGASO (CONSTELAÇÃO) |
Pégaso, cavalo alado da mitologia grega. Símbolo da inspiração poética, foi esse animal, filho de Poseidon, que, ferindo com uma patada as encostas do monte Helicon, ali fez brotar a fonte de Hipocrene (Fonte do Cavalo), muito visitada por poetas, onde viviam as Musas. Pégaso só podia ser montado por heróis (artistas), isto é, por aqueles que o soubessem dominar, que tivessem a tekhne. A imaginação criativa, por si só, não era suficiente.
Em Áries, começa o equinócio da primavera; a energia universal,
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QUANDO DOIS ARIANOS SE ENCONTRAM |
Áries é a primeira emanação de autoconsciência que nos põe diante de um processo de individuação, processo este que analogicamente corresponde a uma cosmogonia. É sempre a imagem do aparecimento de algo acima da superfície (no que lembra um vegetal), trazendo, portanto, a ideia de individuação, de uma energia em busca de forma. É o primeiro movimento, sendo o signo representado, por isso, pelo carneiro, o animal do sacrifício (a energia cósmica presa a uma forma). Na natureza, as plantas começam a despontar, os frutos a buscar a sua forma, os animais saem da sua hibernação. Na Índia, o signo de Áries, ao se relacionar com o impulso vital ainda não orientado adequadamente, para objetivos e metas devidamente formulados, tem o nome de Aja (não nascido). Ou seja, é um signo “a ser”; por isso, os seus nativos só nascerão efetivamente depois de tomarem consciência do que
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MOISÉS (G. DORÉ) |
Fogoso, impetuoso, indomável, o carneiro é suporte simbólico de diversos mitos e histórias. Ao representar as forças irrefreáveis e criadoras da natureza, ele representa o instinto de procriação que assegura a continuidade da vida. Cada cultura traduziu tudo isso à
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AKEDÁ |
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CHOFAR |
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REI DAVID E SUA HARPA |
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ELIAS SUBINDO AOS CÉUS |
O potencial energético do ariano é imenso, tudo nele é movimento, impulso. Falta-lhe, contudo, a noção de limite, de objetivo, de experiência, ou seja, muito fogo e carência do elemento terra. Inflama-se e muda com facilidade, precisa de constante excitação, animação. Sua dificuldade está em se relacionar com os outros, o que implicará sempre em concessões segundo o seu modo de pensar, algo sempre difícil para ele. Receber ordens será também um problema, assim como examinar com cuidado todos os detalhes quando ele tiver que se envolver numa ação.
Os cavalos, na mitologia grega, são criação do deus Poseidon sob o nome de Hippios, tendo relação, simbolicamente, como se disse, com o psiquismo inconsciente ou com a psique que não é humana. Parecem-se os cavalos, pela sua imagem ao galopar, crinas ao vento, como a corrida impetuosa das ondas do reino de Poseidon. Lembram possessão, vida inconsciente, impetuosidade dos desejos, que se impõe à vida consciente, simbolizada pelo cavaleiro, o mental. À mercê das forças descontroladas que o cavalo simboliza, o cavaleiro é um possuído, tornando-se o animal um agente devorador do mundo ctônico, das trevas. O ardor ariano (esta é a lição) deve ser usado não só para movimentar o corpo, para dilatá-lo ou expandi-lo, mas para ativar a mente de modo a que a vida instintiva se submeta à racional e esta, se possível, à espiritual (menos eu, mais o Todo). Tudo isto pede percepção do que está à nossa volta, talvez um pouco menos de entusiasmo e um pouco mais de consideração (etimologicamente, olhar o céu com atenção) pelos outros. O fogo ariano deverá ser transmutado em luz, para que seja possível uma melhor visão do caminho.
No simbolismo astrológico, o carneiro (aries, em latim) representa o começo do Zodíaco. A razão pelo carneiro estar entre os signos zodiacais se deve ao mito do Velocino de Ouro. Em reconhecimento à sua participação nesta história, foi o animal colocado entre as constelações. A longa permanência da pele (velo) de ouro do animal na Cólquida teria enfraquecido o brilho desta constelação e explicaria a razão pela qual as suas estrelas são de magnitude inferior. Esta é uma história que os antigos astrólogos gregos nos contam...
As pessoas nascidas quando do trânsito do Sol por esta constelação entre 21 de março e 20 de abril ou nascidas, pela hora, quando a Terra para ela se volta (Ascendente), se caracterizam normalmente, como dissemos, por disposições combativas, por uma vitalidade incandescente, por um espírito de contradição (criadores de casos), por buscarem sempre um ritmo de vida progressivo, ainda que no geral desorientado. É por essa razão que o tipo clássico ariano alia a sua fogosidade e a sua generosidade a uma obstinação que podem perturbar a sua visão, levando-o por caminhos perigosos. Tipicamente um primário diante da vida, ou seja, é um tipo que processa rapidamente os estímulos recebidos, vivem muitos no tumulto e na intensidade; é desse universo que saem os ativistas, aqueles que costumam, correr todos os riscos, com os seus choques, seus perigos e suas proezas, mesmo que isso possa significar a morte.
Normalmente, o ariano se sente submetido a um imperativo interior que o leva sempre para frente, obedecendo uma única lei, a da sua própria vontade. Sempre presente a ideia de vencer obstáculos, de vencer os seus antagonistas. A vontade ariana não costuma admitir obstáculos ou limites. Desconsideração e temeridade, próprias do signo, lembram uma de suas máximas, a de que todos os meios são bons, desde que eficazes, como já se disse. O signo pressupõe exploração, iniciação, autoconfiança, liderança nas suas melhores expressões.
Nas suas expressões inferiores, simbolizadas neste trabalho pelos cavalos, o signo lembra impulsividade, grosseria, falta de controle, imprevisibilidade, brutalidade, despotismo. Como proposta de vida superior, o signo pede um aprendizado mais ou menos longo quanto à necessidade do desenvolvimento de atitudes que lembrem moderação, tato, receptividade, percepção do outro, inspiradas por signos que com ele dialogam mais diretamente, Câncer, Libra e Capricórnio, principalmente os dois últimos, Libra, que lhe é complementar, e Capricórnio, que é o seu oposto psicológico.
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PERSEU E ANDRÔMEDA |
Andrômeda, Ceto e Eridano. A primeira (25º Áries – 0º Gêmeos) nos fala de uma rainha orgulhosa, tomada pela hybris (descomedimento), muito vaidosa, que se considerava mais bela que as nereidas. Incomodadas por essa ofensa, elas pedem a intervenção do pai, o deus Poseidon. Cassiopeia quer dizer tanto beleza de rosto e de voz quanto orgulho. O deus dos oceanos enviou um monstro marinho, Ceto, para destruir o país. Consultado, o oráculo diz: para que isto não aconteça, alguém terá que ser oferecido em sacrifício. Andrômeda, filha de Cassiopeia e de Cefeu, o rei, acaba sendo escolhida. Perseu, herói que voltava da expedição em que degolara a Medusa, intervém e salva a princesa, que lhe é dada em casamento, condição imposta pelo herói para intervir. A mais importante estrela da constelação de Cassiopeia é Schedar, a 7º05´Touro, cujas influências apontam para honras, respeito, desejo de reconhecimento.
Andrômeda (em grego, andros, homem viril, corajoso; medein, impor-se comandar) vai de 12º Áries – l5º Touro. Sua influência é de natureza venusiana. Suas principais estrelas atuam em l3º 37 Áries (Alpheratz, alfa), inclinando à vida em liberdade, novas ideias; em 29º42´Áries (Mirach, beta), favorecendo a receptividade, a intuição criativa, a sensibilidade para ouvir.
Cefeu (em grego, soberania do macho, zangão) vai de 17º Peixes – 0º Câncer. Características saturno-jupiterianas, ideias de limites impostos pela lei. No mito, não deixou herdeiros masculinos; será substituído por Perses, seu neto. Aldemarin é a sua estrela mais importante, a l2º05´Áries; proporciona benefícios por atitudes não agressivas, menos dramaticidade na ação.
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FAETONTE FULMINADO POR ZEUS |
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CETO, PERSEU E ADRÔMEDA |
lhe apresentar a cabeça da Medusa. É uma espécie de descomunal baleia que tudo engole. Vai de l7º Peixes – 14º Touro Os astrólogos cristãos medievais a identificaram como a baleia que engoliu Jonas. Sua principal estrela é Menkar, a 13º37´Touro. Predispõe a sofrer influências da vida coletiva, podendo ajudar, se bem aspectada, a escolher caminhos favoráveis. Ceto faz parte da galeria dos grandes monstros que se caracterizam por sua bocarra gigantesca, da qual fazem parte o crocodilo (na Índia, Makara, nome do signo de Capricórnio), o hipopótamo, o lobo, o jaguar etc. São animais de grande goela, que tudo devoram, funcionando simbolicamente a sua bocarra como instrumento de mediação entre dois estados, o inferior e o superior, lembrando vida infernal ou renascimento (a saída do ventre da baleia).
A constelação de Áries, entre mais ou menos 2.000 aC e 500 dC (matematicamente, entre 1.662 aC e 498 dC) adquiriu a condição
de heliacal (a que aparece com o Sol), marcando por isso o equinócio da primavera e assumindo uma posição de liderança no chamado zodíaco trópico. A boa leitura astrológica dos céus sempre nos permitiu entender que quando o equinócio da primavera se movimenta (precessão dos equinócios) para uma nova constelação, a cada 2.160 anos, grandes acontecimentos mudam a vida na Terra (questões religiosas, políticas, sociais, econômicas, culturais).
Quando Áries assumiu a posição apontada tivemos historicamente uma grande movimentação das tribos no chamado mundo indo-europeu, com migrações que acabaram por dar origem às civilizações indiana, grega e celta. Foi durante a era cósmica de Áries (signo de fogo, cardinal) que constatamos a ocorrência de grandes invasões e a ocupação de grandes territórios na Europa e na Ásia (primeiro nível do fogo, correspondente ao império da vida instintiva; guerras, destruição etc.), que tivemos, no ocidente, o aparecimento da filosofia (segundo nível do fogo, pensamento racional; a escola jônica na Grécia; a substituição do mito pelo
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TALES DE MILETO (ESCOLA JÔNICA) |