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domingo, 18 de julho de 2021

ISAAC & KRONOS - COMPLEXOS PATERNOS

             

Na base das ordens religiosa, social e política ocidentais, atreladas de um modo geral ao chamado mundo masculino, a figura paterna sempre representou tradicionalmente a autoridade suprema nas três. Pai dos Deuses, Pai de Família e Pai da Pátria são expressões comumente encontradas em muitos textos que discutem tais ordens. Se vamos a outros ramos do conhecimento humano, os que tratam do nosso psiquismo, como a Psicanálise, por exemplo, a figura paterna aparece não só como instância ordenadora do nosso eu superior como aquela que tanto interdita o acesso do homem (filho) à figura materna como lhe inflige simbolicamente vários tipos de castração.

É por todas estas razões que a figura paterna, detentora do poder gerador ativamente considerado, assume vários papéis, os de dominação, de posse, de criador de valores etc. Deus, pai, patrão, mestre, tirano, professor, regente, são os papéis normalmente a ela atribuídos, concebidos, de um modo geral, como desestimuladores ou inibidores de quaisquer esforços de libertação por parte dos que a ela estão submetidos em vários níveis. A figura paterna, com relação aos filhos, é de se lembrar ainda, subsiste, em muitas tradições ocidentais ou não, como um ideal de transcendência que deve ser aceito pelos que dela dependem a título de uma relação inspirada, muitas vezes religiosamente, pelo chamado amor filial.

Para ilustrar este tema utilizei-me da história de Kafka, trazendo para nossa consideração as relações que ele manteve com o Pai, Hermann Kafka, comerciante estabelecido em Praga com negócio de armarinho. Em 1919, Franz Kafka, então com 36 anos, anunciou ao pai que ficara noivo de Julie Wohryzek. A frieza paterna foi o que obteve como resposta. Decepção, mágoa, ódio, talvez, fracasso, sentimentos confusos se misturaram, conforme um documento que escreveu sobre esse acontecimento. Esse documento faz parte hoje da literatura mundial. Seu título: Carta ao Pai. Nele, Kafka, chama o pai ora de regente, tirano, rei, Deus, papéis aos quais acima nos referimos.  Dentre outras expressões, para se referir ao pai, usa uma que ficou muito citada: Tu eras para mim a medida de todas as coisas...

A METAMORFOSE
Em texto anteriormente aqui exposto, Kafka e a Barata, me referi aos complexos que, para mim, estão ligados às relações de Franz com o pai, os de Isaac, de Kronos e de Édipo. Procurarei me ater resumidamente aos dois primeiros, menos conhecidos, deixando o último, para considerações posteriores, por suas ligações com a mitologia grega (Sófocles), nem sempre exploradas adequadamente pelos que do tema edipiano se valeram e, sobretudo, pela importância que Freud lhe deu em sua obra.

Geralmente, dá-se o nome de complexo a um lugar de condensação na nossa interioridade onde represamos sentimentos e representações parcial ou totalmente inconscientes, com enorme carga afetiva. São núcleos, agregados, ajuntamentos de conteúdos psíquicos que não chegando ao nosso consciente navegam de modo autônomo na nossa interioridade. Muitos desses núcleos não têm a devida consistência para se fazerem sentidos. Podem, contudo, ganhar corpo, formando uma espécie de segundo eu, causando divisões quanto à personalidade que o carrega. Um outro eu que pode tomar diversas formas. Adquirem eles, nesse caso, vida própria, tornando-se bastante ativos, impondo-se muitas vezes ao que denominamos vontade, podendo mesmo, em muitos casos, destruir a noção de identidade.

ASCLÉPIO
Os gregos antigos, através dos seus mitos, já haviam notado a importância desse fenômeno. Perto de Atenas, no santuário médico de Epidauro, do deus Asclépio, o deus-toupeira, os sacerdotes que lá viviam, dentre outros procedimentos terapêuticos que adotavam para dissolver ou descarregar a energia assim represada no psiquismo dos pacientes que os procuravam, praticavam a chamada nooterapia, com o auxílio da oniromancia (interpretação dos sonhos), dentre outras técnicas. Estas terapias tinham não só a finalidade de curar as mentes doentes como de reformar o homem por inteiro, psíquica e fisicamente, através de várias atividades e controles (canto, dança, teatro, esportes, cuidados alimentares etc.). O objetivo último era o de provocar nos que lá se internavam a metanoia, a transformação da mente para que os sentimentos represados fossem eliminados. Estes sentimentos, como agentes mórbidos, eram não só os causadores de muitas doenças do corpo físico como de muitos distúrbios na vida psíquica. Cura? Só com a destruição ou transformação dos sentimentos.

A partir de fins do século XIX, com a intensa retomada, no ocidente, das terapias do psiquismo, afastados, ainda que com muita dificuldade, os preconceitos religiosos e os da ciência oficial, aos complexos foram sendo atribuídos nomes de vários personagens do mito, da religião e da literatura. Através desses nomes definiram-se comportamentos, padrões de conduta, formando-se uma espécie de demonologia, que, em grande parte, passou dos confessionários religiosos para os consultórios médicos. Os exemplares desse universo estão nos mitos de diversas culturas. Muitos os chamam de arquétipos, modelos de comportamento, há muito forjados, que se impunham. Arche, em grego, é palavra que lembra superioridade, comando, anterioridade, antiguidade, poder, precedência; typos é marca impressa num corpo, em alguma coisa. Arquétipo, numa tradução livre, é o poder do antigo, do que foi forjado há muito tempo e que se impõe.

Os exemplares desse universo estão nos mitos, nas lendas, na literatura, nos contos, em histórias muito antigas, fazendo parte de tradições às vezes esquecidas ou perdidas, encontrados em todas as culturas. Sua origem é muito discutível. Partiram de um tronco único? Ou cada sociedade os fabricou? O que parece mais aceitável é que esses padrões de comportamento aparecem como símbolos a partir de um modelo original. Conforme o contexto social em que aparecem, são atualizados simbolicamente em cada momento histórico, como se disse, pela arte, pela literatura, pelo teatro e hoje pelo cinema, pelo teatro, pela chamada comunicação de massas.

O revestimento básico desses padrões de comportamento, na cultura ocidental, é dado, na sua maior parte, pela mitologia grega, não se excluindo deste predomínio, porém, o fato de outras culturas terem colaborado bastante para dar vida a outros modelos. Os complexos constituem um entrave na vida de qualquer pessoa, criando sempre muitos obstáculos para o pleno desenvolvimento de sua personalidade. Sociedades muito rígidas, de características acentuadamente puritanas, por exemplo, favorecem o aparecimento e a fixação desses complexos. 

Dentre alguns complexos vindos desse mundo, um dos mais significativos é o de Isaac, que aqui abordamos. O nome do filho de Abraão e de Sara, Isaac, deriva do verbo rir. Os pais o tiveram já velhos, daí o riso, as gargalhadas, quando anunciado o seu futuro nascimento. Deus testou a fidelidade de Abraão (10 testes). Um dos testes foi o de que ele deveria oferecer o filho tão aguardado ao sacrifício.

Segundo a tradição bíblica, Abraão era um respeitado patriarca e grande astrólogo em sua terra (Ur, Mesopotâmia). Quando tinha 75 anos foi visitado por Deus. Recebeu ordens para abandonar sua casa e seus pais e partir em direção de uma terra que Deus lhe mostraria.  Seguindo em direção de Canaã, com sua esposa Sara, seu sobrinho Lot e companheiros convertidos à sua fé monoteísta, Deus lhe prometeu, dentre outras coisas, uma descendência numerosa, tão numerosa quanto as estrelas do céu, como está no texto bíblico. 

Quando Abraão chegou aos 99 anos, Deus lhe apareceu novamente para ratificar com ele e seu povo sua aliança e ordenou que ele se circuncidasse, um símbolo da referida aliança, prática a ser mantida por todos os seus descendentes. Como a tradição revela, foi a partir desse acontecimento que Abraão se tornou perfeito, que o nome de sua mulher, também muito idosa, foi mudado de Sarai (minha princesa) para Sarah (princesa de todas as nações), e que se anunciou para breve o nascimento do filho tão desejado. Assim aconteceu, nascendo Isaac.

SACRIFÍCIO DE ISAAC
(REMBRANDT,1606-1669)
Homem cheio de devoção e benevolência, Abraão foi submetido então por Deus a vários testes para que, através deles, desse demonstração de sua fé. O seu último e mais difícil desafio, como a Torá revela, era o do sacrifício de Isaac. Conhecemos os detalhes da viagem do pai e do filho, então com 25 anos, para o local do sacrifício, o monte Moriá. No último momento, porém, quando Abraão estendeu a mão para cortar a garganta de seu amado e dócil filho, surgiu o arcanjo Gabriel que salvou Isaac. Akedá é como os judeus chamam este teste de obediência, também designado por alguns pelo nome de teste da amarração. 

No lugar de Isaac foi colocado um carneiro, animal sacrificial por excelência, que, como se sabe, representa o princípio solar viril, luminoso, ligando-se o seu simbolismo ao ciclo das estações. Na tradição judaica, cristã e muçulmana o animal torna-se a vítima sacrificial do período do Pessach, da Páscoa e do Ramadã, inclusive entre os povos védicos. Adotado especialmente pelos cristãos, o animal representa o Messias, o Verbo divino. Sempre ligado a ritos de fertilidade, ele aparece associado à chamada festa equinocial da primavera, enquanto a festa do bode tem relação com a das colheitas. 


Lembremos que bem antes de Abraão, o primeiro patriarca judeu, o carneiro já aparecia como um símbolo astrológico-religioso. O shofar, pequena trompa feita com chifres desse animal, passou a ser empregado em rituais religiosos e usado em sinagogas ao fim do Yom Kipur. No cristianismo, o Pessach tomou o nome de Páscoa. Outra versão, porém, narra que foi Abraão quem colocou, como um sacrifício alternativo, no lugar de Isaac um carneiro, animal que aparecia como suporte simbólico de numerosos ritos que falavam da continuidade da vida. O que se sabe quanto a Isaac, é que após a traumática experiência da akedá, ele se retirou da vida mundana, mas ficou com sérios problemas nos olhos por ter olhado o céu enquanto estava amarrado no altar do sacrifício e visto Deus. Além disso, seus olhos foram também afetados pelas lágrimas de chorosos anjos, apiedados de sua sorte.

Sob o ponto de vista astrológico, não há como se negar que a história de Isaac esta repleta de símbolos arianos. Áries é o signo do Carneiro, marcado pela entrada do Sol, a cada ano (hemisfério norte), a 21 de março, nessa constelação (equinócio da primavera). Áries é o signo que marca o despertar da natureza, a passagem do frio ao calor, da escuridão à luz. Lembremos que o carneiro entre os muçulmanos está na relação dos dez animais admitidos por Maomé no paraíso. A divindade védica Kubera, guardiã dos tesouros e das riquezas da Terra, aparece cavalgando um carneiro divino, sua montaria (vahana).  

Isaac foi o primeiro judeu a ser circuncidado no tempo certo (oito dias depois do nascimento). Para desfazer boatos sobre seu nascimento, Isaac foi criado de modo a que se parecesse o máximo possível com seu pai. Por exigência de Sara, Ismael (Deus escuta, em hebraico) e a mãe, a escrava Agar, foram expulsos por Abraão, tornando-se nômades do deserto. Apareceu-lhes então um anjo que os conduziu a um poço onde o Senhor anunciou a Agar que de seu filho nasceria uma grande nação. Seus descendentes seriam chamados de filhos do vento. Nômades e livres, eles tomaram o nome de beduínos (de badw, deserto) por se considerarem os únicos descendentes diretos de Ismael. Isaac se casou com Rebeca e se tornou pai dos gêmeos Esaú e Jacó. 

CHOURAQUI
Diante do exposto e das preciosas informações que retiramos da "insólita Bíblia" (tradução francesa e comentários de André Chouraqui, 1917-2007), o tema do complexo ilustrado por esta história pode ser explicitado: Isaac é o arquétipo dos filhos aos quais os pais transferem os seus problemas para que estes os assumam ou paguem por eles; é o filho que passivamente se coloca à mercê do pai, que procura lhe impor uma profissão ou fazê-lo seu herdeiro profissional; é o caso do descendente que deve assumir deveres ou responsabilidades paternas sem se revoltar. O patriarca hebreu Abraão é, nesta perspectiva, um ser cruel, orgulhoso, dominador, um ser da separação que rejeita o amor à posteridade, apesar de tudo o que os textos da ortodoxia judaica defendem contrariamente. Na Idade Média, Isaac tornou-se o símbolo do martírio judaico. A morte de crianças judias pelos pais por causa da perseguição cristã ou pelo batismo forçado foi inspirada pela akedá de Isaac, acompanhada sempre da esperança da ressurreição. 

HEGEL, 1770-1831
Ao longo da tradição cultural da humanidade, a história de Abraão e de Isaac foi interpretada e usada de diversos modos. Hegel, por exemplo, antes de Freud, viu no Deus dos judeus a imagem da crueldade, sendo Abraão um ser da separação; seu desprezo pela humanidade leva-o a rejeitar um dos sentimentos mais profundos do ser humano, o amor à posteridade. De um modo geral, inclusive na visão de escritores modernos que se valeram do tema, como Kierkgaard, Marcel Proust, Alfred Döblin e Thomas Mann, Isaac é o exemplo da vítima consentida, escravo do Pai, ser do silêncio e da solidão, sendo Abraão um patriarca egoísta e orgulhoso.

MOZART, 1756-1791
O complexo de Isaac apresenta variadas nuances. Podemos, por exemplo, encontrá-lo no mundo da realeza, nos casos de Luís XV e Luís XVI. No mundo empresarial, temos muitos casos de filhos que nos dão lamentáveis e patéticos exemplos. Entre os profissionais liberais de sucesso são notáveis os casos do complexo de Isaac, isto é, de filhos que, sem a mínima condição profissional, herdam empresas, escritórios e clínicas famosos. Um exemplo histórico de como não funcionou o complexo foi o de Mozart, ainda que Leopoldo, seu pai, tentasse impô-lo ao jovem Wolfgang. O pai pretendeu fazer com que ele, desde a infância, “entrasse” no complexo. Só que Mozart era imensamente maior do que o papel que o pai queria lhe impor. Além de inúmeros exemplos colhidos no mundo real, a literatura poderá ser também uma boa fonte para os estudos de casos deste complexo, como encontramos em Eça de Queiroz, Balzac, Turgueniev etc. 

Quanto aos gregos, como dissemos, deixaram-nos eles um dos melhores exemplos de um complexo semelhante ao de Isaac (mas muito diferente em vários aspectos) centrado na figura paterna, arquetípico para a cultura ocidental. Os antigos poetas gregos especialmente Hesíodo, sempre consideraram a Idade do Ouro da mitologia grega, que coincidiu com a do reinado de Kronos, como um período muito favorável aos humanos. Na realidade, porém, o que temos, nesta Idade, é uma sociedade estruturada com base na figura paterna, na sua necessidade de concentração de poder, na sua rigidez e na eliminação de qualquer forma de sucessão. É por esta razão que, segundo o mito, Kronos exigia que Reia, sua esposa, lhe entregasse, assim que nascidos, os filhos para devorá-los. Este modelo grego aproxima-se muito do que Franz e seu pai Hermann viveram. Kafka, entretanto, a seu modo, a duríssimas penas, conseguiu (?) superar o massacre a que o Pai o submeteu. Outro caso  exemplar, que ilustra à perfeição este complexo, é o do italiano Gavino Leda, cuja história foi levada exemplarmente para o cinema (Padre Padrone, obra-prima) pelos irmãos Taviani.

SATURNO (GOYA, 1746-1828
Ao complexo de Kronos damos também o nome de complexo do sucessor ou do herdeiro. Nos tipos mais significativos dos que neste complexo melhor se enquadram temos os casos daqueles que jamais se sentem à vontade na relação pai-filho, sempre vivendo na defensiva com relação ao pai, no seu temor, na sua dúvida, num eterno autoquestionamento, modos de ser que costumam, considerados mais de perto, tipificar muitas fases de estados depressivos ou bipolares. É por tudo isso e muito mais que Saturno (Kronos na mitologia) é conhecido também como o planeta da melancolia, estado mórbido, depressivo, caracterizado por um esgotamento físico e moral que pode levar a um progressivo apagamento do eu, acorrentados que ficam os filhos a um destino que sempre significa aniquilação, frustração e autocrítica negativa. Foi Goya quem talvez tenha melhor ”ilustrado” este complexo com a sua fantástica obra Saturno devorando um de seus filhos, encontrada na Quinta Del Sordo, hoje no Museu do Prado.


S

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

PRIMEIRO TRABALHO DE HÉRCULES




 

As Éguas de Diomedes - Diomedes, filho de Ares e  de Pirene, rei da Bistônia, possuía éguas selvagens, negras, antropófagas, que soltavam fogo pelas ventas.
DIOMEDES
Chamavam-se elas Podargo, Lâmpon, Xanto e Dino e eram filhas de uma das Harpias, pavorosos monstros infernais arrebatadores. Alimentavam-se de carne humana que Diomedes lhes dava, principalmente a dos estrangeiros que inadvertidamente entravam no território trácio e por ele eram mortos. Geravam essas éguas cavalos selvagens como elas, indomáveis, destruidores. A tarefa de Hércules era a de dominar os animais e levá-los a Micenas.

A Bistônia ou Trácia ficava ao norte da Grécia, perto do mar Egeu. As tribos que lá viviam, oriundas da Ásia Menor, falavam uma língua derivada do indo-europeu. Eram pastores, belicosos e ferozes, famosos pelas suas bebedeiras, e gostavam muito de cavalos. Adoravam o deus Dioniso e suas sacerdotisas, tão
 alucinadas quanto as mênades, eram conhecidas pelo nome de bistônidas Forneciam escravos e mercenários aos gregos. Tinham uma cultura importante, com destaque para a música e para a poesia. É desse mundo que saem os cultos dionisíacos e os mitos referentes a Orfeu, Lino, às musas Piérides e aos Cabiros que vão permear toda a cultura grega. 

HÉRCULES E LINO

Chegando ao seu destino, Hércules foi logo desafiado por Diomedes. Atracam-se; golpeado mortalmente pelo nosso herói, o corpo do rei da Bistônia foi lançado às éguas, que o devoraram.
HÉRCULES E DIOMEDES
Uma vez saciadas, mais calmas, Hércules conseguiu dominá-las com relativa facilidade, pondo-lhes cabresto, e as entregou aos cuidados de seu amigo Abderis (um filho do deus Hermes) para que ele as conduzisse com a recomendação de que fossem mantidas sob rígido controle. Descuidando-se, porém, Abderis acabou devorado por elas. Hércules teve que recapturá-las, um trabalho intenso, cansativo; ao cabo de muito tempo, conseguiu aprisioná-las, levando-as a Euristeu, que as mandou soltar no monte Olimpo, onde foram mortas por bestas selvagens.



HÉRCULES DOMINANDO AS ÉGUAS (ARTE ETRUSCA)
Diomedes é um nome grego cuja etimologia nos remete à ideia de que as ações humanas devem ser inspiradas por princípios superiores, o que jamais aconteceu, como se pode constatar pela extensa biografia do filho do deus Ares. Diomedes é um exemplo típico de arianos que podemos chamar de primeiro nível, ou seja, aqueles inteiramente dominados pela vida instintiva e que se caracterizam sobretudo por uma grande disposição combativa, por um incontrolável espírito de contradição e por uma forte tendência a dispender a esmo enormes quantidade de energia.


ARES E AFRODITE
Quanto ao pai, Diomedes, como se disse, era filho de Ares, deus da guerra, uma divindade que, embora fizesse parte do panteão olímpico oficial, nunca se aproximou muito de Zeus. Ele e Afrodite, considerados como divindades “estrangeiras”, jamais mantiveram boas relações com os olímpicos. Ares era oriundo da Trácia, que ficava perto da Macedônia, uma região muito temida pelos gregos, cujos habitantes sempre foram por eles mantidos à distância. Em grego antigo, aliás, Trácia quer dizer perturbação, agitação. Além do mais, Ares tinha um aspecto brutal, seu comportamento violento e agressivo, seu prazer pela carnificina e pelas batalhas nunca o tornaram simpático aos deuses e aos mortais.

Ares, como toda divindade grega, era acompanhado nos seus deslocamentos por um séquito barulhento  agressivo, dele
ARES
fazendo parte, além de outras, entidades como Eris, a deusa da discórdia, as Keres, deusas das carnificinas, as Harpias, monstros infernais, Enio (em Roma chamar-se-á Belona), demônio da guerra,  a condutora dos carros de batalha, Bia, a Violência, e Crato, o Poder, estes dois últimos também capangas de Zeus, todos eles espíritos belicosos.   

A mãe de Diomedes chamava-se Pirene (etimologicamente, de pyr, fogo), sendo, ele, portanto, irmão de Cicno, bandido violento e sanguinário que matava peregrinos que se dirigiam a Delfos. A pedido de Apolo, Senhor do famoso oráculo, Hércules o matou. Numa peça de Eurípedes, Alceste, Hércules, numa de suas falas, nos revela que era de seu costume opor-se constantemente aos outros filhos de Ares (Licaon e Cicno). 

Os gregos, a elite grega do período clássico mais especialmente, muito voltada para os prazeres da inteligência e para as sutilezas do espírito, manifestaram sempre uma certa repugnância por Ares, deus que, no fundo, tanto pela sua origem como por seu caráter e atribuições, era visto como um “mal necessário”. Ou seja, Ares era até muito útil na medida em que a aristocracia grega colocava as suas aventuras colonialistas sob  a sua tutela. Nesse sentido, lembre-se, por exemplo, que o ciclo dos argonautas (a conquista do Velocino de Ouro objetivava na realidade a instalação de colônias gregas na Cólquida) é um mito tipicamente ariano.



JASÃO E O  VELOCINO DE OURO
Foi durante a sua caminhada em direção da Trácia que Hérculesrealizou o primeiro dentre os seus muitos trabalhos secundários (episódios de percurso). Ao passar pela Tessália, região muito inóspita, em Feres, sua capital, recebeu a informação de que o rei da região, Admeto, fora sorteado para baixar ao Hades. O deus Apolo, que em seu exílio na Terra trabalhara para Admeto, interveio, obtendo das Moiras que elas o poupassem, desde que alguém o substituísse. Os pais do rei, já velhos, não se animaram a fazer o sacrifício pelo filho. Outras pessoas consultadas também não. Só Alceste (modelo de fidelidade conjugal), jovem e bela esposa do rei, se prontificou a morrer pelo marido. Foi neste momento, quando a jovem estava prestes a partir, conduzida por Thanatos, o deus da morte, que Hércules chegou à cidade, pedindo hospitalidade. Tomando conhecimento da história, nosso herói, como era de seu feitio, se dispôs a intervir e travou então um combate terrível contra Thanatos, vencendo-o, conseguindo arrancar Alceste de suas garras.

Mas vamos às éguas: neste trabalho, elas representam simbolicamente a vida na escala instintiva, o primeiro nível do elemento fogo (o segundo é o da vida racional e o terceiro da vida espiritual, que, na astrologia, correspondem, respectivamente, aos signos de Leão e Sagitário), fonte de ideias, conceitos ou teorias que costumam nos levar a paixões e a conflitos destrutivos, mortais. Como matrizes descontroladas, essas éguas geravam cavalos (os nossos próprios atos) indomáveis, assassinos, que, como percebeu Hércules, se tornavam muito mais furiosos e enlouquecidos ao beber das águas de um lago próximo, alimentado por um rio da região. Hércules entendeu que se impedisse que as águas do rio chegassem ao lago, os cavalos perderiam muito de sua fogosidade. Foi o que fez; desviou-as, tornando-se os animais, ao consumir apenas a água do lago, muito mais calmos, o que facilitou sobremodo a sua captura. É neste trabalho, como podemos notar, que Hércules demonstra pela primeira vez um forte traço de sua personalidade, repetido outras vezes, a sua grande inclinação por trabalhos hidráulicos, inclusive de drenagem, para a solução dos problemas concretos que encontrava.   

Os cavalos, como sabemos, são símbolos do psiquismo inconsciente, aparecendo associados sempre à impetuosidade, à força indomável dos desejos, que podem se impor à mente racional (segundo nível do fogo), ao bom senso e à lógica. Será preciso dominá-los, mantê-los sob permanente controle. Do contrário, eles nos destruirão, como aconteceu com Abderis (símbolo do mental descuidado, distraído, desatento). Para homenagear seu amigo morto, Hércules fundou Abdera, cidade trácia que se tornaria depois muito importante. 



POSEIDON
Os cavalos, lembremos, segundo o mito grego, são criaturas de Poseidon, deus do elemento líquido, dos mares e dos oceanos, que os gerou sob o nome de Hippios. Esta a razão pela qual esses animais em todas as tradições, dentre outras hipóteses simbólicas, sempre apareceram associados à fertilidade, às águas de origem subterrânea, a fontes, a algo que podia aflorar descontroladamente na superfície. Relacioná-los com a imaginação e com estados mediúnicos foi (é) também algo muito difundido. Não é por acaso que em certas tradições religiosas se dá o nome de cavalo àquele que recebe entidades, espíritos, àquele que inconscientemente dá passagem a energias sobre as quais não consegue ou não pode exercer controle, sendo cavalgado por elas.

Há palavras no léxico de algumas línguas que conservam essa relação entre o cavalo e vida inconsciente. Em francês e inglês, temos, respectivamente, cauchemar e nightmare, pesadelo, palavras que etimologicamente significam a “opressão do cavalo”. A Bíblia, ao usar o cavalo como símbolo do psiquismo descontrolado, contém várias recomendações sobre a necessidade de se controlá-lo, tudo com o sentido de que o homem deve dominar os seus instintos como o bom cavaleiro domina a sua montaria. 



ILUMINAÇÃO DE BUDA
Talvez o melhor exemplo que possamos apontar sobre a relação cavalo-psiquismo inconsciente nos venha do budismo. Sidarta Gautama só se tornou Buda, o Desperto, quando dominou o seu turbilhão mental, alimentado por grandes pressões inconscientes (sentimentos e emoções). Essa conquista ele a realizou, como nos revela a tradição, num plenilúnio (festival de Wesak, Lua cheia do signo de Touro) sentado sob uma árvore que tinha o nome de ashvatha (ficus religiosa), etimologicamente, a “árvore em baixo da qual os cavalos se aquietam”.


PÉGASO (CONSTELAÇÃO)
O que aqui se coloca ficará mais claro com uma referência a
Pégaso, cavalo alado da mitologia grega. Símbolo da inspiração poética, foi esse animal, filho de Poseidon, que, ferindo com uma patada as encostas do monte Helicon, ali fez brotar a fonte de Hipocrene (Fonte do Cavalo), muito visitada por poetas, onde viviam as Musas. Pégaso só podia ser montado por heróis (artistas), isto é, por aqueles que o soubessem dominar, que tivessem a tekhne. A imaginação criativa, por si só, não era suficiente. 

Em Áries, começa o equinócio da primavera; a energia universal,
QUANDO DOIS ARIANOS SE ENCONTRAM
da qual uma pequena parte está em nós, inicia a sua trajetória no plano da matéria. O pensamento precisa comandar a ação, impor-se à vida instintiva, controlá-la, não suprimi-la. Áries é o nascimento desse impulso vital, sendo o seu regente o planeta Marte. Daí o signo governar o nascimento do dia, a aurora, as iniciativas, o começo das coisas e também, no corpo, a cabeça. Corresponde o signo ao nascente, à aurora, ao leste, ao oriente. Os olhos e o fogo são de Áries (aries, arietis, carneiro). Aríete é máquina de guerra para derrubar muros e também saliência reforçada na proa de navios para avariar o casco de embarcações inimigas. Ganhar na marra, vencer à força, a qualquer preço (marrar é bater com a cabeça, acometer com os chifres), é atitude ariana muito comum.

Áries é a primeira emanação de autoconsciência que nos põe diante de um processo de individuação, processo este que analogicamente corresponde a uma cosmogonia. É sempre a imagem do aparecimento de algo acima da superfície (no que lembra um vegetal), trazendo, portanto, a ideia de individuação, de uma energia em busca de forma. É o primeiro movimento, sendo o signo representado, por isso, pelo carneiro, o animal do sacrifício (a energia cósmica presa a uma forma). Na natureza, as plantas começam a despontar, os frutos a buscar a sua forma, os animais saem da sua hibernação. Na Índia, o signo de Áries, ao se relacionar com o impulso vital ainda não orientado adequadamente, para objetivos e metas devidamente formulados, tem o nome de Aja (não nascido). Ou seja, é um signo “a ser”; por isso, os seus nativos só nascerão efetivamente depois de tomarem consciência do que
MOISÉS (G. DORÉ)
significam Touro (segundo mês da primavera, aparecimentos das formas) e Gêmeos (último mês da primavera, as trocas com o meio exterior). Por razões análogas, os antigos astrólogos judeus sempre consideraram os signos de Áries e de Touro como instintivos, associando o início da vida mental a Gêmeos. Este, aliás, é o signo de Moisés, aquele que, com as suas leis escritas, deu realmente nascimento à nação de Israel.

Fogoso, impetuoso, indomável, o carneiro é suporte simbólico de diversos mitos e histórias. Ao representar as forças irrefreáveis e criadoras da natureza, ele representa o instinto de procriação que assegura a continuidade da vida. Cada cultura traduziu tudo isso à
AKEDÁ
sua maneira. Entre os judeus, por exemplo, é bastante ilustrativa a história de Isaac. Abraão, por ordem de Deus, deveria sacrificar esse filho tão ansiosamente esperado. A esse sacrifício os judeus davam o nome de Akedá (amarração). No último momento, o arcanjo Gabriel deteve a mão de Abraão. Isaac, que se submetera voluntariamente à ordem paterna, estava amarrado num altar. Salvo, no seu lugar foi colocado um carneiro. Do chifre desse
CHOFAR
carneiro se fez o chofar. Desamarrado, Isaac ficou, entretanto, com a visão muito prejudicada, pois estivera com o rosto voltado para o Sol durante muito tempo, e também porque as lágrimas dos anjos, com muita pena do seu triste destino, como nos diz sua história, caíram sobre seus olhos abertos. Astrologicamente, como sabemos, a visão é regida pelo signo de Áries.  



REI DAVID E SUA HARPA
É desse animal, o carneiro, que tem dez tendões no corpo, que saíram as dez cordas utilizadas por David (nome ariano, derivado de raízes indo-europeias que significam conduzir, brilhar, arder), para fazer a sua harpa. Mil anos antes de nossa era, o reino desse ariano, pastor e guerreiro, marca o apogeu do poderio israelense e anuncia a vinda de um messias. 


ELIAS SUBINDO AOS CÉUS
Ainda dentro desse mesmo cenário, lembremos que o profeta Elias, que ascendeu aos céus numa carruagem puxada por cavalos de fogo, usava um cinto feito com a pele do carneiro. De um dos chifres desse animal foi feito o chofar (trompa), instrumento de sopro tocado na festa de Rosh Há-Shaná para despertar as pessoas de sua letargia espiritual e para convocá-las ao arrependimento. Por trás destas representações está o carneiro que substituiu Isaac na história do Akedá. É por isto que entre os judeus a festa de Pessach, onde se toca o chofar, é comemorada na primavera, no mês de Nissan, o primeiro mês do calendário hebraico. Era nesse mês que se dava início à colheita da cevada, período situado entre março e abril, quando o Sol atravessa o signo zodiacal de Áries.  

O potencial energético do ariano é imenso, tudo nele é movimento, impulso. Falta-lhe, contudo, a noção de limite, de objetivo, de experiência, ou seja, muito fogo e carência do elemento terra. Inflama-se e muda com facilidade, precisa de constante excitação, animação. Sua dificuldade está em se relacionar com os outros, o que implicará sempre em concessões segundo o seu modo de pensar, algo sempre difícil para ele. Receber ordens será também um problema, assim como examinar com cuidado todos os detalhes quando ele tiver que se envolver numa ação. 

 Os cavalos, na mitologia grega, são criação do deus Poseidon sob o nome de Hippios, tendo relação, simbolicamente, como se disse, com o psiquismo inconsciente ou com a psique que não é humana. Parecem-se os cavalos, pela sua imagem ao galopar, crinas ao vento, como a corrida impetuosa das ondas do reino de Poseidon. Lembram possessão, vida inconsciente, impetuosidade dos desejos, que se impõe à vida consciente, simbolizada pelo cavaleiro, o mental. À mercê das forças descontroladas que o cavalo simboliza, o cavaleiro é um possuído, tornando-se o animal um agente devorador do mundo ctônico, das trevas.  O ardor ariano (esta é a lição) deve ser usado não só para movimentar o corpo, para dilatá-lo ou expandi-lo, mas para ativar a mente de modo a que a vida instintiva se submeta à racional e esta, se possível, à espiritual (menos eu, mais o Todo). Tudo isto pede percepção do que está à nossa volta, talvez um pouco menos de entusiasmo e um pouco mais de consideração (etimologicamente, olhar o céu com atenção) pelos outros. O fogo ariano deverá ser transmutado em luz, para que seja possível uma melhor visão do caminho.




No simbolismo astrológico, o carneiro (aries, em latim) representa o começo do Zodíaco. A razão pelo carneiro estar entre os signos zodiacais se deve ao mito do Velocino de Ouro. Em reconhecimento à sua participação nesta história, foi o animal colocado entre as constelações. A longa permanência da pele (velo) de ouro do animal na Cólquida teria enfraquecido o brilho desta constelação e explicaria a razão pela qual as suas estrelas são de magnitude inferior. Esta é uma história que os antigos astrólogos gregos nos contam...

As pessoas nascidas quando do trânsito do Sol por esta constelação entre 21 de março e 20 de abril ou nascidas, pela hora, quando a Terra para ela se volta (Ascendente), se caracterizam normalmente, como dissemos, por disposições combativas, por uma vitalidade incandescente, por um espírito de contradição (criadores de casos), por buscarem sempre um ritmo de vida progressivo, ainda que no geral desorientado. É por essa razão que o tipo clássico ariano alia a sua fogosidade e a sua generosidade a uma obstinação que podem perturbar a sua visão, levando-o por caminhos perigosos. Tipicamente um primário diante da vida, ou seja, é um tipo que processa rapidamente os estímulos recebidos, vivem muitos no tumulto e na intensidade; é desse universo que saem os ativistas, aqueles que  costumam, correr todos os riscos, com os seus choques, seus perigos e suas proezas, mesmo que isso possa significar a morte.

Normalmente, o ariano se sente submetido a um imperativo interior que o leva sempre para frente, obedecendo uma única lei, a da sua própria vontade. Sempre presente a ideia de vencer obstáculos, de vencer os seus antagonistas. A vontade ariana não costuma admitir obstáculos ou limites. Desconsideração e temeridade, próprias do signo, lembram uma de suas máximas, a de que todos os meios são bons, desde que eficazes, como já se disse. O signo pressupõe exploração, iniciação, autoconfiança, liderança nas suas melhores expressões.

Nas suas expressões inferiores, simbolizadas neste trabalho pelos cavalos, o signo lembra impulsividade, grosseria, falta de controle, imprevisibilidade, brutalidade, despotismo. Como proposta de vida superior, o signo pede um aprendizado mais ou menos longo quanto à necessidade do desenvolvimento de atitudes que lembrem moderação, tato, receptividade, percepção do outro, inspiradas por signos que com ele dialogam mais diretamente, Câncer, Libra e Capricórnio, principalmente os dois últimos, Libra, que lhe é complementar, e Capricórnio, que é o seu oposto psicológico.



PERSEU E ANDRÔMEDA
Ao signo de Áries e consequentemente ao primeiro trabalho de Hércules associamos cinco constelações: Cassiopeia, Cefeu,
Andrômeda, Ceto e Eridano. A primeira (25º Áries – 0º Gêmeos) nos fala de uma rainha orgulhosa, tomada pela hybris (descomedimento), muito vaidosa, que se considerava mais bela que as nereidas. Incomodadas por essa ofensa, elas pedem a intervenção do pai, o deus Poseidon. Cassiopeia quer dizer tanto beleza de rosto e de voz quanto orgulho. O deus dos oceanos enviou um monstro marinho, Ceto, para destruir o país. Consultado, o oráculo diz: para que isto não aconteça, alguém terá que ser oferecido em sacrifício. Andrômeda, filha de Cassiopeia e de Cefeu, o rei, acaba sendo escolhida. Perseu, herói que voltava da expedição em que degolara a Medusa, intervém e salva a princesa, que lhe é dada em casamento, condição imposta pelo herói para intervir. A mais importante estrela da constelação de Cassiopeia é Schedar, a 7º05´Touro, cujas influências apontam para honras, respeito, desejo de reconhecimento.

Andrômeda (em grego, andros, homem viril, corajoso; medein, impor-se comandar) vai de 12º Áries – l5º Touro. Sua influência é de natureza venusiana. Suas principais estrelas atuam em l3º 37 Áries (Alpheratz, alfa), inclinando à vida em liberdade, novas ideias; em 29º42´Áries (Mirach, beta), favorecendo a receptividade, a intuição criativa, a sensibilidade para ouvir.

Cefeu (em grego, soberania do macho, zangão) vai de 17º Peixes – 0º Câncer. Características saturno-jupiterianas, ideias de limites impostos pela lei. No mito, não deixou herdeiros masculinos; será substituído por Perses, seu neto. Aldemarin é a sua estrela mais importante, a l2º05´Áries; proporciona benefícios por atitudes não agressivas, menos dramaticidade na ação.



FAETONTE FULMINADO POR ZEUS
Eridano no mito é filho de Oceano e de Tetis, um deus-rio. Está ligado à história de Faetonte, filho do deus solar Hélio e de Clímene. Jovem, impetuoso, ele pede ao pai o seu carro solar. Atendido por intercessão materna, recebe a recomendação de não se afastar da eclíptica. Desprezando o conselho, não sabendo dominar os cavalos do carro solar, põe em perigo a ordem cósmica, ameaçando especialmente a Terra (Geia), com os seus perigosos rasantes. É fulminado por Zeus, caindo o seu corpo no rio Eridano. Suas irmãs, as Helíades, recolheram-no, prestando honras fúnebres. As lágrimas das irmãs, em contacto com as terras das margens do rio, provocaram o nascimento de árvores que lembram tristeza (chorões, salgueiros). A constelação vai de 15º Peixes – 0º Gêmeos. Eridano corre em direção do oceano levando tudo no seu fluxo, indiferente ao que arrasta. Ao final, a chegada à indiferenciação oceânica. Descendo montanhas, atravessando planícies, perdendo-se nos lagos, os rios simbolizam o fluir da existência humana com os seus desejos, as suas intenções, os seus sentimentos e emoções. Neste sentido é Eridano o rio da vida. Sua principal estrela é Achernar, que será analisada em Peixes.



CETO, PERSEU E ADRÔMEDA
Ceto era o monstro que devoraria Andrômeda. Perseu o matou ao
lhe apresentar a cabeça da Medusa. É uma espécie de descomunal baleia que tudo engole. Vai de l7º Peixes – 14º Touro Os astrólogos cristãos medievais a identificaram como a baleia que engoliu Jonas. Sua principal estrela é Menkar, a 13º37´Touro. Predispõe a sofrer influências da vida coletiva, podendo ajudar, se bem aspectada, a escolher caminhos favoráveis. Ceto faz parte da galeria dos grandes monstros  que se caracterizam por sua bocarra gigantesca, da qual fazem parte o crocodilo (na Índia, Makara, nome do signo de Capricórnio), o hipopótamo, o lobo, o jaguar etc. São animais de grande goela, que tudo devoram, funcionando simbolicamente a sua bocarra como instrumento de mediação entre dois estados, o inferior e o superior, lembrando vida infernal ou renascimento (a saída do ventre da baleia).

A constelação de Áries, entre mais ou menos 2.000 aC e 500 dC (matematicamente, entre 1.662 aC e 498 dC) adquiriu a condição

de heliacal (a que aparece com o Sol), marcando por isso o equinócio da primavera e assumindo uma posição de liderança no chamado zodíaco trópico. A boa leitura astrológica dos céus sempre nos permitiu entender que quando o equinócio da primavera se movimenta (precessão dos equinócios) para uma nova constelação, a cada 2.160 anos, grandes acontecimentos mudam a vida na Terra (questões religiosas, políticas, sociais, econômicas, culturais).

Quando Áries assumiu a posição apontada tivemos historicamente uma grande movimentação das tribos no chamado mundo indo-europeu, com migrações que acabaram por dar origem às civilizações indiana, grega e celta. Foi durante a era cósmica de Áries (signo de fogo, cardinal) que constatamos a ocorrência de grandes invasões e a ocupação de grandes territórios na Europa e na Ásia (primeiro nível do fogo, correspondente ao império da vida instintiva; guerras, destruição etc.), que tivemos, no ocidente, o aparecimento da filosofia (segundo nível do fogo, pensamento racional; a escola jônica na Grécia; a substituição do mito pelo
TALES DE MILETO (ESCOLA JÔNICA)
logos, a “morte” dos deuses gregos em nome da razão; Hermetismo greco-alexandrino etc.) e que, finalmente, grandes profetas apareceram (terceiro nível do fogo, vida espiritual), instituindo-se oficialmente muitas religiões, crenças e seitas filosófico-religiosas: Buda, Lao-Tse, Mahavira, Mitra, Moisés, Confúcio, Cristo, Maomé (a última religião da era de Áries), Mani etc. As principais religiões da era de Áries encontram a sua mais antiga expressão nas grandes religiões patriarcais, monoteístas, as religiões do Uno, a judaica (inspirada no culto do deus Aton, sob o patrocínio do faraó Akhenaton) e suas dissidências, a cristã e a islâmica, todas se valendo dos principais ingredientes do signo para se impor:  guerras, ocupação militar, colonização, catequização forçada e grande patrimônio em bens materiais e financeiros.