quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

MITOLOGIAS DO CÉU - MERCÚRIO (5)


Entre os romanos, Mercúrio incorporará vários traços do Hermes grego. O nome latino Mercúrio têm relação com palavras que lembram negócios, mercadorias, comércio, trocas (merx, mercadoria, e mercari, traficar, negociar). Entre os romanos, era um deus importado, um novensile, viera de fora. Esta condição é atestada pela própria edificação do seu primeiro templo romano, levantado fora das muralhas da cidade. 

DIANA
 Desde o período arcaico, Roma recebeu do mundo grego deuses já feitos, prontos. Apolo (já venerado pelos etruscos), Deméter, que toma   o   nome  de  Ceres,  Cástor e  Polideuces  (Póllux  para   os romanos), Afrodite (Vênus), Ares (Marte), Átemis (Diana) etc. Esta apropriação, abastecida inclusive pelas divindades dos antigos
SIBILA DE CUMES
povos da península itálica, se fez evidentemente com algumas adaptações. O panteão romano apresentava-se, em relação ao essencial, como uma extensão do grego, mas não uma simples cópia. Hermes passou para Mercúrio muitas de suas atribuições, mas este não era uma imitação daquele. O mesmo se diga com relação aos rituais. Os agones (jogos, competições) gregos, por exemplo, passaram em Roma por grandes transformações. Na prática da adivinhação também ocorreram alterações. Os métodos romanos procuravam conhecer os sinais dos deuses, favoráveis ou não; o aconselhamento permaneceu com os oráculos gregos. Os imperadores romanos sempre procuraram orientação pessoalmente ou através de emissários no oráculo de Delfos, que sempre manteve uma posição importante, embora a Grécia (Atenas) já tivesse perdido a sua independência há muito. Para as questões mais imediatas, prementes, da vida quotidiana, os adivinhos e os oráculos nacionais (Cumes, por exemplo) bastavam para os romanos.

O nome  de  Mercúrio  nunca  apareceu nos Indigitamenta, onde os 

antigos romanos registravam os nomes, os rituais e as invocações dos seus deuses. O culto de Mercúrio só aparece por volta do séc. V aC, mais ou menos duzentos anos depois da fundação de Roma. Hermes penetrou no mundo romano por ritos que a antiga ocupação grega instaurou ou por aqueles trazidos por comerciantes, marinheiros ou viajantes, feitas ao longo do tempo as devidas adaptações. Desde logo, os romanos, muito pragmáticos, associaram Mercúrio ao comércio. O funcionário encarregado de administrar o seu templo ficaria com a incumbência de controlar o comércio do trigo na cidade e de organizar a sua associação de comerciantes (Collegium Mercatorum). Este modelo logo se espalhou pelo território italiano. 


 Além do modelo grego, o Mercúrio romano incorporou também alguns traços de Turms, divindade etrusca, que tutelava o comércio, as trocas e os negócios em geral. Turms tinha também entre os etruscos relação com o mundo infernal, no que lembrava um pouco o Hades grego. Quando assumia essa função passava a ser conhecido pelo nome de Turms Aita.


 Em Roma, Mercúrio era também o grande mensageiro de Júpiter, seu assessor especial, encarregado inclusive de resolver os seus problemas amorosos, como Plauto descreve na sua comédia
JÚPITER (LOUVRE)
Anfitrião. Antes, porém, de assumir a assessoria de Júpiter,Mercúrio, durante um bom tempo, só foi conhecido em Roma como deus dos comerciantes. Foi Plauto quem registrou essa ampliação das funções mercurianas na referida comédia, descrevendo o deus como mensageiro e patrono do comércio (nuntiis et lucro). Mercúrio, em Roma, tinha ascendência sobre três outras divindades secundárias, Pecunia (deusa da riqueza; primitivamente, deusa dos rebanhos, pecu), Aesculanus (deus da moeda de cobre: aes, cobre) e Argentinus (deusa do dinheiro; argentum, prata, dinheiro), que,
PLAUTO
devidamente cultuados, impediam os comerciantes de fazer negócios não lucrativos. Os artistas romanos se inspiraram principalmente no Hermes grego para representar Mercúrio, dando-lhe uma imagem imberbe e como atributos o caduceu e o pétaso alado, com uma bolsa na mão. O principal templo de Mercúrio em Roma se situava no Aventino, uma das sete colinas da cidade.


O quatro, número das estações, dos elementos (fogo, terra, ar e água), dos pontos cardeais e das fases lunares, sempre foi usado desde a pré-história para representar o sólido, o tangível, o sensível. Por sua ligação com a cruz, ele se tornou naturalmente um símbolo incomparável para expressar a plenitude, a universalidade, sempre traduzindo ideias de totalização, por qualquer ângulo que o considerássemos. Nada mais natural que ele sempre aparecesse associado a Hermes-Mercúrio. Daí, a quarta-feira ser dedicada a ele, com o nome de Mercurii Dies, entre os romanos. Dia fasto no ocidente para a realização de negócios e viagens, o melhor dos dias da semana para esses fins. Lembremos que na ordem do panteão romano, Marte sempre veio antes de Mercúrio, inclusive quando foram dados nomes aos dias da semana. Se a quarta-feira (Mercurii Dies) ficou com Mercúrio, como se disse, a terça-feira coube a Marte (Martis Dies). 


Participavam também do mundo de Mercúrio três outras divindades, que velavam sobre a sinceridade nas transações. 


Fides, originária da Sabina, personificava a boa fé pública e privada, especialmente nas convenções verbais. Seu templo ficava no Capitólio, perto do de Júpiter e no seu frontispício estava escrito: Aedes Fidei Populi Romani. Outra divindade era Deus Fidius, originário também da Sabina, era o guardião da hospitalidade. A terceira era Semo Sancus, deus dos juramentos. Neste nome se juntam ideias de colheita (Semodia, deusa das colheitas entre os sabinos) e de heroísmo; Sancus era um herói sabino, uma espécie de Hércules, protetor das pessoas honestas. 

Duas outras divindades tinham relação direta com Mercúrio: Laverna e Summanus. Lavernio é ladrão em latim; summano é
LAVERNA
fazer correr, escamotear, sub mano. Ambos acolhiam as preces dos ladrões. O último tinha também poder sobre os fenômenos atmosféricos noturnos. Menos diretamente ligados a Mercúrio, mas sempre presentes nas atividades tuteladas por ele, encontramos Bonus Eventus, deus das iniciativas, a quem incumbia o sucesso dos acontecimentos. Era inicialmente uma divindade ligada às boas colheitas.


Entre os romanos, Mercúrio tinha também como pais Júpiter e Maia. Tão logo nascido, passou a fazer parte da elite divina, não
CÍCERO
obstante o desagrado do deus bifronte Janus, um deus autenticamente nacional. Cícero, no seu tratado De Natura Deorum, fala de cinco Mercúrios entre os romanos. O primeiro era filho do Céu (uma espécie de Urano romano) e de Dia (deusa da luz do dia, responsável pelo crescimento dos vegetais, uma variante de Ceres); o segundo, de Valor (deus do justo preço) e de Phoronis (filha do rio Inachus), que permaneceu na Terra com o nome de Trotonio; o terceiro, filho de Júpiter e de Maia; o quarto era filho do rio Nilo, que, segundo os egípcios, não podia ser nomeado; o quinto era adorado em Fenea, cidade da Arcádia, sendo responsável pela morte do dragão Argos Panoptes (o que vê tudo). 


O quarto Mercúrio acima referido era filho do rio Nilo na forma do deus Hapi. Esta divindade, como se sabe, era representada numa forma masculina robusta, saudável, mas com dois seios não muito firmes. Vestido como barqueiro, ele levava na cabeça uma coroa feita de plantas aquáticas do rio; se representado no Alto-Egito, esta
HAPI
coroa tinha muitos lótus; se representado no Baixo-Egito, a coroa tinha muitos papiros. O Nilo (Hapi) fazia a ligação do Egito entre o Sul e o Norte, sendo responsável pela unificação do país. Para os egípcios, ele era um desdobramento do oceano primordial (Num) que tanto banhava o mundo vísivel como invisível por onde navegava a barca do deus Ra. No panteão egípcio, Hapi nunca ocupou um lugar proeminente, aparecendo como um servidor e auxiliar dos demais deuses, aos quais oferecia as suas águas sem nada pedir em troca.  


         Lactâncio, apelido de Lucius Caecilius Firmianus, retor latino

(260-325), convertido ao cristianismo, preceptor de Crisipus, filho do imperador Constantino, falou de quatro Mercúrios: 1) filho de Júpiter e de Maia; 2) filho do Céu e de Dia; 3) filho de Liber (divindade rústica, que assegurava a germinação da semente e a seara) e de Prosérpina (esposa de Dis Pater, assimilada a Perséfone) ; 4) filho de Júpiter e de Cilene (ninfa do monte onde teria nascido Hermes).

Tito Lívio (64 aC-10 dC), deixou na sua monumental obra Ab Urbe Condita Libri uma história curiosa, muito antiga, colhida por ele,
TITO LÍVIO
sobre o Mercúrio romano, a de que este deus teria morrido e fora sepultado em Carthagena, cidade espanhola da costa mediterrânea, muito famosa por suas minas de prata. A história deste Mercúrio nos revela que ele era filho de Júpiter e de Maia, esta, como se sabe, filha do titã Atlas e de Plêione. Devido à sua ancestralidade titânica (neto de Atlas, este irmão de Prometeu, Epimeteu e Menécio, todos filhos de Jápeto, titã, filho de Urano e Gaia). Quando Atlas faleceu, Mercúrio herdou dele e de seu tio Plutão a Itália, a Gália, a Hespéria e a Mauritânia (África ocidental), tornando-se senhor absoluto desses territórios. 


Mercúrio, desde muito jovem, sempre fora muito dissimulado e astuto. Teria viajado pelo Egito para se instruir nos costumes dos seus antigos habitantes, aprender religião, teologia, e sobretudo magia, ciência na qual fez espantosos progressos. Pelos titãs, foi considerado como o seu primeiro áugure, sendo por eles consultado frequentemente. Por outro lado, sua eloquência e habilidade nos negócios eram muito utilizadas por seu pai, sempre em luta contra os titãs. Entretanto, por seus vícios, não menores que as suas boas virtudes, sua conduta desleal, seu jogo duplo, seu caráter atrabiliário, levaram os seus irmãos, outros filhos de Zeus, a lhe declarar guerra. Vencido, foi obrigado a se retirar para o Egito. O mais certo, segundo Tito Lívio, foi Mercúrio ter se exilado na Hespéria, terras que herdara de seu avô, ali morrendo.


A história de Hermes-Mercúrio, como podemos ver, foi alimentada por contribuições provenientes de várias tradições, por pitorescas fábulas, agudas alegorias, tudo sempre inspirado por suas múltiplas qualidades e defeitos. Uma das melhores fontes tardias para o seu conhecimento é Luciano (125-192), nascido na Síria, nos últimos anos do império de Trajano. Escritor grego, satírico, mordaz, cético, abandonou a carreira de advogado para se voltar inteiramente para a sofística. Viajou muito e acabou por se fixar em Atenas. É o criador do gênero literário da utopia satírica. Dentre os seus textos, todos muito interessantes para o estudo do nosso Hermes-Mercúrio, os mais importantes são, sem dúvida, os seus “Diálogos” (dos Mortos, dos Deuses, das Cortesãs) e “O Sonho”, também chamado de “O Galo”.


Luciano completa a crônica de Hermes, informando-nos quanto a outras traquinagens praticadas por ele, não mencionadas pelos poetas gregos que reuniram a tradição mítica transmitida oralmente.
ARES E SUA ESPADA
Assim, conta-nos Luciano que Hermes teria roubado a espada de Ares, surrupiado de Afrodite o seu famoso cinturão, o tridente de Poseidon e, como se tudo isto não bastasse, atreveu-se a se apropriar do cetro de Zeus; enganando-se, porém, pois o que arrebatou foi o ardente raio divino, que teve que devolver por não saber lidar com ele. Foi por isso, segundo Luciano, que, punido pelo pai, optou por se exilar na Terra, isto é, viver muito mais aqui do que no Olimpo. 


É pelas narrações de outros escritores e poetas do período greco-romano que ficamos conhecendo outras passagens de Hermes-Mercúrio. Revelaram-nos eles, por exemplo, que Apolo só descobriu que Hermes lhe furtara os animais do rei Admeto, que estavam sob sua responsabilidade, pela  denúncia de um pastor chamado Bato. Mesmo subornado por Hermes, que lhe dera uma vaca em troca do seu silêncio, Bato o denunciou a Apolo. Enojado com esse procedimento, Hermes o metamorfoseou, transformando-o na pedra de toque. Esta pedra, como se sabe, de jaspe, basalto ou quartzo polido, é usada para avaliar a pureza de um metal ou de uma liga metálica.


HERMES - OGMIOS

Superada a questão do roubo dos animais e das negociações, ficamos sabendo que os dois irmãos se reconciliaram, fazendo uma loga viagem pelo mundo. Apolo divulgando as artes e Hermes cultivando e ensinando a eloquência. Segundo alguns, foi por causa dessa viagem que Hermes passou a ser representado com correntes de ouro saindo de sua divina boca, ligadas não só aos ouvidos dos que o seguiam, encantados, mas sobretudo aos seus corações. Este Hermes foi o modelo do Ogmios celta.

Como a oratória rendia muito pouco, Hermes abandonou a carreira,  deixando antes porém registradas as bases daquilo que

mais tarde seria desenvolvido e conhecido pelos filósofos como Retórica, a arte da eloquência, a arte de bem argumentar com as palavras, uma das três artes que depois se integrariam ao trivium (gramática latina, lógica e retórica) na Idade Média, ensinada nas universidades. Corrompida pelos filósofos modernos e sobretudo pelos advogados, esta arte tomou o nome de Logomaquia, o debate inútil, o discurso sobre coisas vãs.

Foram os poetas gregos e latinos do período romano da história grega (sécs. I aC-IV dC)  que nos passaram informações muito mais detalhadas sobre o caduceu de Hermes. Os poetas gregos (sécs. anteriores ao V aC), por motivos óbvios, sempre nos falaram que o bastão que Apolo entregou a Hermes, quando da mencionada negociação dos animais roubados, era de ouro. O que se sabe, porém, é que o bastão fora feito de um galho da aveleira, árvore mágica por excelência.


É preciso lembrar que a existência do caduceu já era atestada historicamente entre os babilônios desde o quarto milênio aC. As duas serpentes enroladas em torno do bastão eram símbolos do
NINGISHIZIDA
deus Ningishizida, o Senhor do Mercúrio, pai de Tammuz (Dumuzi), este último o grande amor de Ishthar. Da Mesopotâmia, o caduceu passou à Síria, sendo usado pelo deus Simios, de onde se espalhou pela Egeida. Desde a Mesopotâmia, o caduceu, no mito, tinha, dentre outros poderes, o de projetar deuses e mortais no sono ou de fazê-los acordar, de estabelecer a paz entre querelantes etc. O bastão de Asclépio era diferente do de Hermes, pois nele havia apenas uma serpente. O caduceu, na mão dos humanos, como símbolo, se banalizou a partir do Renascimento, quando passou a ser usado na heráldica e, sobretudo, a partir do século XVIII para representar a atividade comercial e as ciências contábeis.  


AVELEIRA

 Desde a mais alta antiguidade, cetros e bastões mágicos ou divinatórios eram feitos de galhos da aveleira. Antigas tradições, confirmadas por poetas latinos, nos falam que o bastão de aveleira
CADUCEU
que Hermes-Mercúrio recebeu, além de servir para conduzir os animais, evitar dispersões, tinha a propriedade de acalmar as exaltações e as paixões dos humanos como a de melhorar as suas virtudes. Ainda hoje, em muitos lugares da Ásia e do Mediterrâneo, recomenda-se que seja plantada uma aveleira perto da porta de entrada das casas para que seja preservada a serenidade dos que nelas habitarão. Um pedaço da casca da nogueira é também usado como amuleto no sentido de impedir querelas. 


É muito interessante notar que em várias lendas e contos folclóricos a avelã (a sua casca dura) é usada como barco ou veículo. Hércules, por exemplo, usou uma casca da noz da avelã, enviada pelos deuses, quando voltou dos jardins das Hespérides (3º trabalho). Sabemos também que fadas usam muitas vezes a casca da noz da avelã à guisa de veículo, como é o caso de Maab, rainha das fadas, em Romeu e Julieta, de Shakespeare.


Dentre os vários nomes que os latinos agregaram ao seu Mercúrio, repetindo apelidos gregos, inclusive, destacamos: Vialis (protetor
MERCÚRIO (ARTUS QUELLINUS)
dos caminhos), Triceps (triplo, porque exercia suas funções nos três mundos), Argicida (matador de dragões), Caduceator ou Caducifer (o do caduceu), Infernalis (na sua função ctônica). Quando aparecia ligado a alguma divindade, recebiam os seguintes nomes as estátuas de Hermes em Roma, preservando-se o nome grego: Hermanubis (Hermes-Anubis), Hermapolon (Hermes-Apolo), Hermapócrates (Hermes-Harpócrates), Hermateneo (Hermes-Atena), Hermesacles (Hermes-Herácles), Hermeros (Hermes-Eros), Hermitra (Hermes-Mitra), Hermosiris (Hermes-Osiris).


HERMES E DIONISO
   
Não podemos esquecer que a civilização romana durou cerca de um milênio, constituindo, ao tempo, o maior império já conhecido. Além de ampliar a herança recebida dos gregos, os romanos souberam, como nenhuma outra civilização antes o conseguira, garantir a extensão e a estabilidade do império que construíram. O império romano, como sabemos, foi construído pelas armas, pela diplomacia e sustentado pela inteligência com que soube administrar os territórios que ia anexando como províncias. 

MARTE
  
Dois deuses do panteão romano se destacam nesse cenário, Marte e Mercúrio. O primeiro tem seu nome ligado ao mito mais importante dos romanos, o que nos fala da fundação da cidade e da expansão territorial do império. Mercúrio tem seu nome indissoluvelmente ligado à consolidação do império. Na esteira das legiões romanas, tuteladas por Marte, deus da guerra, da primavera e da juventude que ia em busca de riquezas, vinha a “gente de Mercúrio”, administradores, funcionários públicos, arquitetos e negociantes, que foram imprimindo às terras conquistadas o modelo romano,
sabiamente adaptado às peculiaridades de cada uma delas. De inspiração mercuriana direta, podemos citar como grandes instrumentos que modelaram o mundo que ia sendo conquistado, a abertura de estradas (muitas delas ainda hoje perfeitamente utilizáveis), o corpo burocrático (para fins religiosos e administrativos), o sistema jurídico (Corpus Juris Civilis, mais tarde, a partir do ano 1000, quando redescoberto, o fundamento da ciência jurídica da Europa) e a urbanização das cidades.

PALMIRA

Os cidadãos das províncias romanas, mesmo nos confins asiáticos do império, caminhavam por vias públicas iguais às de Roma. Ainda hoje, um pouco antes da guerra civil síria, pudemos passear calmamente por vias públicas e visitar monumentos (teatro), em perfeito estado, em Palmira, na Síria, a capital romana do oriente, construídos pelos romanos. Os mesmos produtos, nas lojas comerciais, eram tanto encontrados em Roma como em todas as principais cidades das províncias. Uma rede enorme de estradas unia as capitais das províncias a Roma. Guias de viagens encontrados falam dos aquedutos e das trezentas estradas a unir todo esse mundo, o que fez de Roma a cidade mais cosmopolita da antiguidade. 

VIA APIA

O sistema de propaganda mercuriano funcionava perfeitamente, tendo como base realizações estatais concretas. Os sinais vivos do poder imperial eram conhecidos por todos. O imperador Augusto, por exemplo, gabava-se, além do que mandara construir, de ter mandado restaurar 82 templos. A Via Ápia, a primeira das grandes estradas romanas, foi iniciada em 312 aC, estendendo-se por 575 km., de Roma até Brindisi, no sul da Itália,  sendo sua construção, como obra de engenharia, conhecida em todo o império. Viajar por ela era o sonho de todo cidadão, principalmente dos provincianos Na arquitetura urbana, os romanos introduziram uma nova proporção de grandeza, ainda muito visível na Roma de hoje. Seus arquitetos foram os primeiros a explorar o concreto para esse fim. Por razões estéticas, esse concreto era recoberto de mármore nos edifícios mais importantes. 

TABULARIUM  (ARQUIVO - ROMA ANTIGA)
Roma sempre procurou segundo uma inspiração mercuriana, incorporar ao seu panteão os deuses dos povos com os quais
NETUNO (POSEIDON) - ROMA
mantinha contacto, seja por conquistas militares ou pelo comércio. Mas os deuses, porém, teriam que “mostrar serviço”. O que interessava a Roma eram os resultados, já que pouca ou nenhuma atenção era dada à vertente espiritual da religião. O que interessava mais eram os ritos, os aspectos mais pragmáticos através dos quais se consolidavam as estruturas sociais. Era nesse terrenos que os deuses importados tinham que funcionar. Se assim não acontecesse, o culto era sumariamente encerrado.


Um dos melhores exemplos das influências mercurianas na vida

romana nós a encontramos na máquina de propaganda que foi montada durante o império de Augusto, divinizado pelo Senado depois da sua morte. Um dos grandes responsáveis por essa máquina foi um personagem chamado Mecenas, que tinha entre os seus protegidos Virgílio e Horácio. De origem etrusca, ministro de Augusto, muito rico, seu nome passou à História como sinônimo de patrocinador das artes  Foi ele quem incentivou os poetas a escrever obras que fossem do agrado do imperador. 

Os dois mencionados, mais Tito  Lívio,     na    prosa,
muito escreveram para fazer com que os romanos se orgulhassem da sua pátria e, por tabela, do reinado de Augusto (41 anos de reinado, de 27 aC a l4 dC). Embora a obra de Virgílio possa ser considerada sob esse prisma, como laudatória, ela, por suas próprias qualidades, fez-nos esquecer as circunstâncias de sua produção, ficando como um dos melhores exemplos da poesia épica. Muitos, por essa razão, a da grandeza de Virgílio, rebaixam a obra de Horácio, considerando-a menor. Horácio fazia uma poesia de natureza lírica, mais coloquial, mas nem por isso menos importante.    
                                                                                                Os que
alimentam esse preconceito acham apenas que o épico, por ser uma poesia voltada para grandes temas, para o coletivo, para registro de glórias nacionais, é superior à outra. A lírica é mais pessoal, fala de sentimentos, não sendo tão grandiloquente como a outra nem usa a sua técnica. A riqueza da lírica horaciana é, entretanto, tão grande quanto a outra. Seus quatro livros de Odes são exemplares, tanto pela variedade dos temas como pela riqueza da sua métrica.