segunda-feira, 11 de novembro de 2019

DOS PECADOS II

                                          
OS SETE  PECADOS  CAPITAIS

2) Pecado mortal é pecado grave que pode ser considerado de diversos modos, mas sendo, antes de tudo, uma ação livre e consciente do homem que quebra a relação homem-vida religiosa. O homem perde totalmente o contacto com o divino, ao qual se ligava pela religião (de religare, religar, latim). O pecado mortal introduz uma desorganização no mundo, rebaixando o divino, o espiritual, a níveis puramente físicos. A gravidade do pecado mortal tem dois componentes profundamente deletérios sob o ponto de vista da lei divina: ele é cometido com pleno conhecimento, isto é, quem o comete sabe o que está fazendo e a ele adere plenamente com a sua vontade.

Dolo é procedimento fraudulento, denota má-fé, é logro, ardil, que pode levar alguém a fazer com que outra pessoa pratique um ato lesivo contra si mesma. No Direito Penal, é ação deliberada de violar a lei por ação ou por omissão, com pleno conhecimento da criminalidade do que é feito. Nestes sentidos, o pecado mortal causa a perda da graça divina, levando à danação eterna. Esta danação eterna entre os antigos gregos significava o encerramento da alma no Tártaro, a camada mais profunda do Hades (O Inferno), de onde ela jamais sairia, isto é, reencarnaria, lugar de sofrimentos eternos, onde a luz jamais chegava. 


INFERNOS ( LIVRO DAS HORAS DO DUQUE DE BERRY , C 1415

O pecado mortal, sob os aspectos acima mencionados, é, pois, sempre doloso, isto é, quem o comete tem a deliberada intenção de cometê-lo, de violar a lei divina, tem pleno conhecimento do que está fazendo. Aquele que vive em estado de pecado, cometendo, por exemplo, continuamente, os chamados pecados capitais, está preso a um destino que o levará certamente à danação eterna. Para sair deste estado, será preciso que o pecador retorne ao reino de Deus através da Graça, pelo arrependimento e pela penitência. Para Santo Tomás, os vícios capitais são sete vícios especiais que gozam de uma especial liderança. O vício compromete muitos aspectos da conduta humana, é uma restrição à autêntica liberdade e um condicionamento para o mal.


O   DIA   SEGUINTE  ( EDVARD  MUNCH , 1863 - 1944 )

Para possibilitar ao fiel receber ou voltar a receber a graça divina, a Igreja católica instituiu os sacramentos, atos rituais não só a tanto destinados como também a conferir sacralidade a certos acontecimentos da vida cristã. Os sacramentos, como sabemos, são sete: batismo, confirmação (crisma), eucaristia, reconciliação (confissão, penitência), unção dos enfermos, ordem e matrimônio.

A CONFISSÃO DE UMA MULHER ITALIANA
(KARL PAVLOVICH BRYULLOV, 1799-1852)
A instituição da confissão sempre mereceu grande destaque para garantir que o crente voltasse a receber a graça divina. Este destaque foi muito realçado entre os sécs. XIII a XIX. Os confessionários foram realmente os centros através dos quais se desenvolveu um verdadeiro drama entre a dialética da culpa e do perdão. O confessor foi uma espécie de médico de almas durante esse período. Milhões de pessoas durante os séculos apontados passaram por confessionários no mundo ocidental em busca do perdão, lugares onde sofredores, seres culpados, angustiados, encontravam a sua redenção. 

SANTO  AFONSO  DE  LIGÓRIO
Santo Afonso de Ligório escreveu no seu Guia do Confessor: para cumprir os deveres de um bom pai, o confessor deve mostrar-se cheio de caridade, e o primeiro uso que deve fazer dessa caridade consiste em acolher com igual benevolência todos os penitentes, pobres, sem instrução e cobertos de pecados. Recomendava o autor, além de uma abertura especial para a benevolência, que fosse adotada uma técnica cuidadosa de escuta e de questionamento do pecador. 

A maneira afável e cuidadosa proposta por Santo Afonso de Ligório foi adotada pela Igreja católica até a segunda metade do século XIX. Tal procedimento não impediu, porém, que uma certa hostilidade se fizesse sentir, principalmente por parte dos homens, com relação ao sacramento da confissão. Os sacerdotes, em muitos casos, foram acusados de intervir na intimidade dos lares, na política, de opor a mulher ao homem etc. 

Outro fator que afetou bastante o sacramento da confissão em meados do séc. XIX foi um conjunto de ideias que desde o final do séc. XVIII entrou em circulação. A verdade das religiões, tida como revelada, indiscutível, começou a ser combatida por intelectuais que falavam, muitos sem o saber direito o que faziam, em nome da nova classe ascendente, a burguesia. No geral, este movimento que filosoficamente tomou às vezes o nome de Iluminismo ou de Enciclopedismo, se opunha à ”verdade” de que os centros da vida estavam  na Igreja, na realeza, na nobreza e na tradição. Não mais confundir o presente com o eterno, como queria a Igreja. Combater a espiritualidade cristalizada, refundi-la no sentido de torná-la algo vivo, em permanente movimento.

ASCLÉPIO
Outro grande problema para as religiões, esvaziando mais os confessionários,  tomou forma na segunda metade do século XIX: o papel de ajudar as pessoas na solução de seus crimes, pecados ou faltas, geradores de crises de consciência, começou a ser assumido por certos profissionais da área médica. Com a “redescoberta” da chamada vida subconsciente (já conhecida pelos antigos gregos do Santuário Médico de Epidauro, do deus Asclépio), esses profissionais, que hoje são os nossos psicólogos, psiquiatras ou psicanalistas, vêm, desde os fins do séc. XIX, desempenhando, em grande parte,
SANTUÁRIO  DE  EPIDAURO ,  RUÍNAS
com maior ou menor sucesso, com o auxílio ou não da Química, a função de psicoterapeutas, cumprindo, em grande parte, senão totalmente, a função que antes cabia aos sacerdotes nos confessionários. Pertinente por isso, aqui, a observação jungiana de que os modernos tratamentos, baseados na análise, tiveram origem no sacramento da confissão. 

  CAVALGADA  DOS  PECADOS
Os pecados mortais mais comuns são: 1) Idolatria, a real ou a simbólica. 2) Substituição do amor e do serviço a Deus pelos bens do mundo (conforto e prazer); neste item estão incluídos a falta à missa dominical; o trabalho dominical desnecessário; fazer compras aos domingos; o marido, acomodado, que deixa a esposa assumir a condição de cabeça do casal; controle da natalidade; aborto, laqueadura e vasectomia etc. 3) Incesto. 4) Adultério. 5) Concubinato. 6) Masturbação. 7) Falta de modéstia no vestir. 8) Embriaguez e drogas. 9) Práticas homossexuais. 10) Heresia. 11) Apostasia. 12) Eutanásia. 13) Agnosticismo. 14) Atos no vestir que mais revelam o corpo que o cobrem. 15) Inseminação artificial e muitos outros pecados que seria longo demais  aqui enumerá-los. O papa Gregório X (Concílio de Lyon, 1274) declarou que as almas daqueles que morreram em pecado mortal ou apenas com o pecado original, em qualquer caso, descem imediatamente ao Inferno, embora punidos com diferentes castigos.


EVRÁGIO DO PONTO
Dentre os pecados mortais destaque especial para os pecados capitais (etimologicamente, de caput, capitis, em latim, cabeça, no sentido de elevado, de importante). Embora o tema dos sete pecados capitais já tivesse aparecido antes do cristianismo, quem teve a ideia de listá-los foi o monge asceta Evágrio do Ponto (séc. IV dC), autor do livro Origens Sagradas de Coisas Profundas. Como um bom asceta, muito preocupado com as tentações mundanas, vivendo em locais afastados dos centros urbanos, Evágrio procurou fixar aqueles que, segundo a tradição, mais facilmente corrompiam os homens.

Estes pecados, na Igreja católica, entretanto, só foram devidamente fixados no séc. VI dC, pelo papa Gregório Magno. Para tanto, ele usou as Epístolas de São Paulo onde aparecem definidos, como pecados, vários vícios de comportamento:: Orgulho (Soberba), Inveja, Ira, Indolência, Avareza, Gula e Luxúria. Nesta lista, a Indolência entrou no lugar da Acídia ou Preguiça e a Melancolia foi substituída pela Inveja. 

 A  DIVINA  COMÉDIA
Dante Alighieri, entre os séc. XIII e XIV, em sua A Divina Comédia, concebeu o Inferno como uma espiral descendente dividida camadas, que descem da superfície da Terra até o seu centro. Quem o guiou nessa viagem foi Virgílio, o poeta da Eneida. É no oitavo ciclo, dividido em dez fossos (malebolges, fossos do mal), que são punidos os que cometeram pecados mortais, os fraudulentos, os rufiões, os sedutores de toda espécie, os

aduladores, os simoníacos, os adivinhos, os feiticeiros, os políticos corruptos, os hipócritas, os ladrões, os conselheiros fraudulentos, os astrólogos, os provocadores de escândalos, os heresiarcas, os alquimistas, os falsificadores etc. A lista dos sete pecados capitais só se tornou oficial, porém, no séc. XIII, com a Suma Teológica, de Santo Tomás de Aquino. 

Ainda que encontremos as noções de pecado em várias religiões, como no judaísmo e no protestantismo, a referente a pecados capitais parece ser exclusividade do catolicismo. O nome que aparece aqui é o de Santo Tomás (1228-1274), teólogo e filósofo italiano, nascido em Aquino, perto de Nápoles.  Recebeu o apelido de Doutor Angélico tanto pela santidade de sua vida como pela importância de sua obra filosófica. Ele nos explica que quando a Igreja católica usa a palavra capital para designar os referidos pecados está se fazendo, primeiramente, uma referência a uma passagem de São Paulo, em Coríntios: um homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta desonra sua cabeça. Em segundo lugar, capital tem a ver com um versículo das Lamentações: espalharam-se as pedras do santuário pelas cabeceiras de todos os caminhos. Em terceiro lugar, Tomás nos diz que cabeça significa chefe ou governante do povo, pois os seus outros membros são de certo modo por ela governados. A lista de Santo Tomás era a seguinte: Vaidade, Inveja, Ira, Acídia, Avareza, Gula e Luxúria. 

TRIUNFO DE S. TOMÁS
(B.GOZZOLI ,1420-1497)
Para Tomás de Aquino os três sentidos supracitados têm relação com os vícios capitais. Além disso, prossegue o Doutor Angélico, um pecado pode se derivar de outro de quatro maneiras: 1) pela supressão da graça divina; 2) o pecado predispõe a uma inclinação, podendo criar um hábito; 3) um pecado costuma oferecer matéria a outro; 4) um pecado causa outro quanto à finalidade, isto é, para cometer um pecado, um homem pode se servir de outro. 

A Igreja católica desde o início, isto é, desde que definidos os pecados capitais, procurou oferecer aos seus fiéis meios de enfrentá-los, as chamadas virtudes fundamentais. Foram Santo Ambrósio de Milão, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino que, cada um a seu modo, a partir de Platão, fixaram virtudes que podem auxiliar os pecadores. A palavra virtude vem de virtus, latim, onde tem o significado de qualidades que fazem o valor de um homem física e moralmente. Virtus, por sua vez, vem de vir, viri, homem (em oposição à mulher), homem na plenitude do termo, distinto de homo, ser humano.


SOPHROSYNE, 1872
( E.BURNE - JONES )
Chamadas também de virtudes cardinais, as virtudes fundamentais são quatro: 1) prudência, originalmente em latim sapientia, aquela que ajuda a discernir o inferior do superior, o bem do mal, ligada a ideias de escala, de medida, de regra. É considerada mãe de todas as virtudes. Praticada, permite que o homem aprenda a entender o que são as paixões, a razão e a fé. Esta virtude tem relação direta com a sophrosyne dos gregos, palavra que lembra comportamento precavido que leve em consideração os outros; aponta-nos etimologicamente a palavra para ideia de sanidade moral, para autocontrole, moderação. Na mitologia grega, Sophrosyne era um daimon, uma entidade sobrenatural situada entre os humanos e os deuses. Atuava no sentido contrário de Afrodite, deusa que inspirava grandes paixões. Como Aidós, o Pudor, outro daimon, Sophrosyne, desgostosa com o comportamento dos humanos, abandonou-os, indo viver entre os olímpicos.  

2) justiça, de jus, juris, o direito, em latim, o que é reto. Justitia é aquilo que é conforme o que é justo, reto, sentimento de equidade. Qualidade do que está conforme com o que é direito, correto. Por extensão, realização dos deveres relativos ao divino.  3) fortaleza, que assegura a firmeza, a constância dos propósitos na procura do Bem. É força moral. É um esforço que a pessoa deve fazer sobre si mesma para mobilizar toda a sua energia no sentido do fim a ser atingido. 4) temperança ou moderação,  permite o controle das paixões, virtude de quem é comedido, sóbrio, contido, Manter o corpo e a mente sob controle, domínio sobre as faculdades de percepção e de ação. Conhecer a diferença entre sensualidade e sensibilidade.  Às vezes, estas quatro virtudes se tornam sete, sendo assim apresentadas: humildade, disciplina, caridade, castidade, paciência, generosidade e temperança. 

Conforme alguns textos apontam, a humildade, como o nome sugere, lembra positivamente consciência das próprias limitações. Negativamente, é sentimento de fraqueza, de inferioridade com relação a alguém ou a alguma coisa. Submissão, fraqueza de caráter. Disciplina é saber obedecer a regras e regulamentos, cumprir obrigações e deveres, inclusive com relação a pessoas que nos sejam hierarquicamente superiores. Caridade, aqui, é disposição favorável em relação a alguém em situação de inferioridade material, física, mental ou psíquica. Lembra a empatia. Castidade, externamente, além de controle com relação aos prazeres dos sentidos, é, sobretudo, purificação interior. A constância, a força e a clareza dos nossos pensamentos, do nosso raciocínio, precisam da castidade nos dois sentidos. Paciência é a capacidade de saber avaliar o que é  e o que não é mais importante em nossa vida. Ter noção do que é possível realizar mais ou menos rapidamente. O grande inimigo da paciência é o que antigos gregos chamavam de koros, o desdém, a altivez arrogante. Generosidade é virtude daquele que sabe sacrificar os próprios interesses em benefício de outrem, da humanidade. Temperança é noção de comedimento, de proporção que temos entre nós e os outros. É também  o esforço que podemos fazer, para mais ou para menos, no sentido de nos encaixarmos melhor socialmente para que o todo funcione melhor.  Ajustes na convivência humana. 

3) Pecado venial – Venial, etimologicamente, é o que é digno de perdão, desculpável. Venia, em latim, quer dizer graça, favor, que se dá ou se presta ao que é perdoável, ao que é leve. O que caracteriza este pecado é, sobretudo quando cometido, a ausência de consentimento. Ele é cometido sem o que o pecador tenha a deliberada intenção de cometê-lo. Não há adesão de sua vontade, mesmo que ele possa, em certas circunstâncias, ser considerado como grave, mortal. Ele não é doloso, é culposo, segundo a linguagem do Direito. É um pecado que não rompe a ligação do crente com Deus, mas a enfraquece. É pecado que merece penas mais leves, purificadoras. Perigoso, porém, se muitas vezes repetido, podendo levar à adoção de hábitos nefastos.


PURGATÓRIO  ( G. DORÉ , 1832 - 1883 )
Purgatório, na teologia católica, é o lugar onde as almas dos que cometeram pecados veniais vão purgar as suas faltas antes de ir para o Paraíso (do persa, etimologicamente, amplo parque, pomar, jardim). As almas dos que morreram na graça de Deus, mas não estão inteiramente livres de seus pecados, vão para o purgatório para se purificar completamente. A tradição católica fala que há um fogo purificador no purgatório. A fim de ajudar as almas que vão para lá, a Igreja recomenda aos seus fiéis, de um modo geral, que pratiquem atos meritórios, como esmolas, obras de penitência, doações a obras católicas etc.

Ideias semelhantes quanto à purificação dos pecados existem em outras tradições religiosas, mas sem uma conceituação como a que lhe deu o catolicismo. Muitos Padres da Igreja católica nos dizem que a ideia da existência de um estado intermediário entre o Céu e o Inferno já pode ser encontrada em São Paulo (Coríntios). O
SÃO  PAULO
catolicismo parece ter fixado o conceito de purgatório (sem a ideia de reencarnação) doutrinariamente a partir de Santo Agostinho como um lugar onde as almas seriam purificadas através de um fogo que sempre causaria muita dor (purgatorius ignis). O modelo do purgatório católico veio, sem dúvida, da mitologia grega, do Érebo, lugar de trevas inferiores, situado no Hades, antes do Tártaro, para onde ia a alma (psyche), na forma de um eidolon, purgar os seus crimes, temporariamente, para depois reencarnar. O Purgatório é assim, como se disse, no catolicismo, um lugar intermediário entre o Céu e o Inferno. Há muitas hipóteses sobre a sua adoção pelo cristianismo. Uma delas, que nos parece muito viável, foi a de que nos primeiros tempos do cristianismo o extremismo Céu-Inferno afastava muitas pessoas da religião cristã, então procurando se afirmar no mundo romano.  


COMPÊNDIO DO CATECISMO
Para o Compêndio do Catecismo da Igreja católica, publicado em 2005, o purgatório é o estado dos que morreram na amizade de Deus, com a certeza de sua salvação eterna, mas que ainda têm necessidade de purificação para entrar na felicidade do céu. As almas das pessoas que morreram em pecado mortal e nunca se arrependeram sinceramente vão para o Inferno, morada de Satanás. Nunca mais sairão de lá, não há arrependimento possível. O castigo é eterno, como no Tártaro da mitologia grega. Já as almas que foram para o purgatório sempre terão a certeza de que lá permanecerão por uns tempos, de nunca irão para o Inferno, todas indo para o Céu, mesmo que seja no final dos tempos.

PAPA  BENTO  XVI
Por fim, lembremos que a Igreja católica acrescentou, em 2008, à tradicional lista dos pecados capitais (ao que parece, agora, a ser sempre atualizada), mais sete, adaptados à vida moderna, conforme divulgação do Vaticano. Quem tomou a iniciativa foi o papa Bento XVI. São eles: 1) Pressa – Uma pessoa apressada não tempo para Deus. A pressa é mão da ira e causa acidentes. 2) Manipulação genética, pecado “tecnológico”, ou seja, tentar o homem “brincar” de Deus, algo absolutamente inaceitável. 3) Interferir no meio ambiente, o que não passa da adição de imperfeições à Criação divina. 4) Causar pobreza – Retirar dinheiro dos outros por Avareza. 5) Ser muito rico – causa desigualdade social, o que é inaceitável, pois todos são iguais perante Deus. 6) Usar drogas – interferir no organismo humano, sagrado diante de Deus. 7) Causar injustiça social, preconceito e bullying, em sua maioria.

Ao finalizar este capítulo sobre o tema de nosso interesse, julgo oportuno observar que muito do que a Igreja católica tem como estabelecido doutrinariamente até hoje com relação aos pecados não levou em consideração o que Santo Tomás de Aquino nos deixou sobre a Astrologia. O que ele escreveu sobre a Astrologia encontra-se espalhado sobretudo em sua Suma Teológica, textos que reunidos nos permitem formam um todo bastante coerente sobre a influência dos corpos celestes, como ele mesmo anotou. 

As observações de Santo Tomás sobre a Astrologia são bastante sensatas e lógicas, indicando que, além de um sério estudioso da matéria astrológica,e do mundo natural, ele a praticou também. Evidente que não podemos considerá-lo, quanto a este particular, como um “horoscopista”, desses que sempre dela se valeram e valem para faturar “algum”, antes nas feiras e mercados e hoje em “consultórios” bem mobiliados. Santo Tomás estudou Astrologia com base em sua formação filosófica, usando o seu conhecimento para abordar questões incômodas como a do livre-arbítrio. Usou também o que sabia para combater os que se aproximavam da Astrologia sob o ponto de vista da superstição e da feitiçaria. Como ele mesmo proclamava, escrevia, sim, muitas páginas para combater os falsos astrólogos, o que lhe permitiu compreender e reconhecer ainda mais o valor da Astrologia. 

Nesta perspectiva, Santo Tomás entrou em choque com outras importantes figuras do cristianismo, como Santo Agostinho, por exemplo, que viu a Astrologia apenas através dos falsos astrólogos, da sua “banda podre”. Santo Tomás radicalizou a sua posição de estudioso da Astrologia quando afirmou haver uma conexão real entre os astros e as inclinações do homem, ou seja, suas predisposições inatas. E o Doutor Angélico, reafirmando sua posição favorável à Astrologia, concluiu que os verdadeiros astrólogos poderiam, a partir dessa e de outras constatações, sem contrariar a doutrina católica, elaborar a sua ciência sobre as referidas conexões. Afirmava mais Tomás que o destino dos homens não estava rigorosamente “escrito” nos astros quando do seu nascimento. Sua máxima, a de que “astros inclinam, não determinam” foi desde então incorporada à “boa” Astrologia. 
A Astrologia defendida por Santo Tomás, nunca estudada a rigor pela
JEAN BAPTISTE MORIN
Igreja Católica (só por uns poucos de seus membros), e muito menos aplicada, tinha bases racionais e lógicas como aquelas que os árabes transmitiram ao ocidente, praticada por sábios como Ptolomeu (muito citado por Tomás), Kepler, Cardan, Tycho-Brahé e por aquele que talvez tenha sido o maior astrólogo de todos os tempos, Jean-Baptiste Morin de Villefranche. 


SANTO  ALBERTO 
Santo Tomás, como se sabe, foi aluno de Santo Alberto, o chamado Doctor Universalis, pela vastidão de seus conhecimentos. Para Alberto, a Astrologia como a Alquimia eram conhecimentos obrigatórios, principalmente a primeira, segundo ele, ao explicar como a esfera celeste (zodíaco e planetas) moldava não só o caráter de uma criança que estava para nascer como exercia influências sobre o poder curativo das ervas medicinais. 


SANTO  TOMÁS
( GENTILI  FABRIANO , 1370 - 1427 ) 

Foi, entretanto, Santo Tomás quem codificou a posição da “banda saudável” da Igreja católica medieval com relação à Astrologia, ao combater o determinismo adotado pelos falsos astrólogos que carregavam para as suas interpretações as suas próprias paixões e, sobretudo, quando a serviço dos Grandes, os seus interesses pessoais sob o ponto de vista político e econômico.