sábado, 15 de novembro de 2014

MITOLOGIAS DO CÉU - MARTE (2)




Os antigos persas constituíam um ramo do tronco ariano. Eran ou Iran era o nome do país dos árias (etimologicamente, nobres, leais, senhores), tribos que haviam emigrado da Rússia meridional, passando à Ásia pelos Dardanelos ou pelo Cáucaso. Estabelecidas no planalto iraniano, essas tribos traziam como culto principal o do fogo (atar), tanto o do céu como o que está encerrado na madeira. 


ZARATUSTRA

ZEND-AVESTA
As primitivas crenças dos persas consistiam na adoração dos elementos, do fogo em especial, e dos astros, Sol e Lua principalmente. Depois do reinado de Dario, um profeta de gênio, Zaratustra, Zoroastro para os gregos, deu a seu povo o Livro da Verdade, o Zend-Avesta, que, segundo ele, fora objeto de revelação divina. Este livro está na base do Mazdeísmo, a religião persa sistematizada, que dá corpo a uma doutrina dualista. 

Nesta concepção, há um ser eterno, supremo, sem princípio ou fim, anterior a toda a criação, origem de todas as coisas, Zervan Akarena. Como emanações deste ser eterno temos dois princípios, duas divindades superiores, Ormuz (Ahura Mazda), o bom, o sapientíssimo, e Ahriman (Ayra-Lanya), mau e inteligente.


ORMUZ   ( AHURA   MAZDA )

Do primeiro procede todo bem, toda luz, toda pureza; do outro, toda maldade e corrupção. Ambos compartilham a obra da criação, sendo chefes de duas falanges sobrenaturais em luta permanente, em ciclos de doze mil anos, divididos em quatro idades, que terminam com a vitória das forças da luz. 

Ormuz, o criador, gerou os céus, a luz, o fogo, os astros, os metais, a humanidade, o reino animal, as árvores, as águas. É conservador e sustentador. É o provedor do fogo que anima todos os seres e dá alento às retas intenções dos homens.

Sob as ordens de Ormuz, temos os seis Amshaspand, seres que das alturas velam por toda a criação. São gênios benéficos, formando o seu séquito. Abaixo destes seis auxiliares, há um grupo de vinte e oito seres, os Izeds, espíritos benfeitores e amigos dos homens, mediadores entre estes e as principais divindades, e que governam em sua esfera inferior os elementos da criação e o tempo.

O mais importante dos Izeds é Mitra, espírito luminoso e potente, gênio do Sol e do fogo. É um dos principais agentes de Ormuz, possuindo mil orelhas e dez mil olhos. É o mais ativo dos Izeds, cuidando de todas as criaturas. Exerce funções militares, marcianas, usando sempre uma fulgurante armadura, vigiando os povoados e caminhos. Exerce também funções judiciais, como sustentáculo dos vínculos morais; tem a seu cargo o julgamento das ações humanas quando finda a vida terrena e se dá a passagem dos que morreram pela ponte que leva à eternidade. O nome de Mitra era invocado três vezes ao dia: na aurora, ao meio-dia e ao crepúsculo.


AHRIMAN
Diante dos rutilantes espíritos do bem, temos as hostes de Ahriman, sombrias e maléficas, formando toda uma hierarquia dos poderes inferiores. Sete príncipes fazem parte do seu séquito, distribuindo-se entre um grande número de demônios todas as atividades maléficas. 


Fazem parte da falange do mal espíritos sombrios e maléficos, toda uma hierarquia de poderes infernais, graduada segundo as regras de Ahriman. Toda a Natureza aparece também dividida entre os dois princípios. Frente ao homem justo e piedoso vive o ímpio e o malvado. Os animais sagrados são atacados pela feras, as plantas se dividem entre úteis, nutritivas, e tóxicas ou simplesmente nocivas. 

A luta entre os dois princípios é constante, mas não eterna. Na primeira fase do ciclo de doze mil anos, Ormuz se dedica à criação enquanto seu inimigo, Ahriman, se prepara, ardiloso e falso, para combatê-lo, corrompendo a criação. Na segunda fase, Ahriman sai das trevas e ataca Ormuz. Cego, porém, pela brilhante luz das entidades celestes, precipita-se num abismo, impotente e raivoso. 

Passam-se seis mil anos e na terceira fase o Maléfico, recomposto, tenta novamente atacar as forças do bem à frente de um exército de Devas, tenazes e muito belicosos. Invadem Gorotman, a mansão de Ormuz. Mitra, chefe dos exércitos celestes, trava renhido combate com as forças de Ahriman. Vencido, despenca em direção da Terra. Rearticuladas depois de muito tempo, as forças de Ahriman tentam um assalto final.





AHRIMAN

Tomando a figura de uma serpente, Ahriman se dirigiu ao paraíso onde vivia o primeiro casal humano, Meskia e Meskianea. Disse-lhes que era o criador de todas coisas e que possuía poderes infinitos. Deu-lhes leite de cabra e frutos, submetendo-os. A partir desse momento, perdida a sua inocência original, Meskia e Meskianea morreram. Seus corpos se misturaram, suas almas foram para o céu e ali ficaram à espera do grande dia da ressurreição da carne.


Trava-se então uma batalha final entre Ormuz e Ahriman. As forças do mal haviam obtido algumas vitórias. As almas dos mortos vagavam perdidas. Os Izeds intervém, reunindo-as e as levando para atravessar a ponte Tchinevad, que separa a eternidade do mundo humano. É ali que Mitra, o campeão das forças do Bem, tem o seu tribunal, assessorado por Bahman, divindade do firmamento, da luz e da ordem. As almas boas atravessam a ponte. Não são atacadas pelo grande cão infernal Sura. As almas dos malvados serão o butim dos Devas, os membros do exército do Mal.

Durante grande parte da última fase do ciclo, as forças de Ahriman espalham a corrupção pelo mundo, considerando-se vitoriosas. Ormuz, no entanto, escolheu dentre os humanos um ser especial, Zaratustra, e lhe revelou a doutrina da salvação, o Zend-Avesta

 No final dos tempos, um cometa maléfico, símbolo de tudo o que foge à ordem cósmica, escapará da vigilância da Lua, que rege o seu curso, e, precipitando-se no espaço, chocar-se-á contra a Terra, abrasando-a em fogo. Chamas imensas destruirão toda a matéria, apagando completamente a criação, trazendo a confusão dos elementos e fazendo tudo voltar à indeterminação, reconciliando, assim, finalmente, Ormuz e Ahriman. Um  novo ciclo será então será criado...

MITRA
O nome que melhor representa as virtudes marcianas na antiga civilização persa é Mitra, que, dentre todos os campeões das forças do Bem, é o que ostenta de modo exemplar as virtude de uma autêntica pureza moral, conservada graças a uma atitude belicosa, como um verdadeiro soldado da fé. Daí, o grande prestígio de Mitra entre os generais e as legiões romanas. Com efeito, o mitraísmo propunha a veneração da luz, emblematizada pelo Sol Invictus, invencível, o grande inimigo das forças das trevas.



MITRA   DEGOLANDO   O   TOURO

Mitra é representado comumente como um herói degolando um touro, o primeiro ser vivo da mitologia persa, de cujo sangue nascerão os vegetais e os outros animais. Ormuz depositou no corpo desse  touro primordial, Abudab, os germes de todos os seres corpóreos. Como senhor do tempo, Mitra é também muito representado como um ser humano com cabeça de leão e o corpo envolto por uma serpente, representando esta imagem urobórica o curso do Sol no ciclo do tempo. Mitra nasceu de um rochedo num dia 25 de dezembro, dia em que se celebrava na antiga Pérsia o renascimento do Sol (Sol Natalis), isto é, a volta do Sol,  que  havia


AURELIANO
se deslocado para o hemisfério sul, ao hemisfério norte. Esta data, como se sabe, foi usada pelos cristãos, no séc. IV,  para estabelecer a festa da natividade de Cristo, com o objetivo de substituir a festa em honra ao deus Mitra, até então muito celebrada no mundo romano. O mitraísmo era tão popular em Roma que o imperador Aureliano, em 274, o declarou como religião do estado.