Para muitos, a mais bela palavra da língua portuguesa. Muitos a sintetizam através da fórmula: AMA = Amor + Memória + Ausência. Na origem, temos soidade, suydade, suedade, do latim solitas, solitatis, trazendo-nos ideias de solidão, unidade, retiro, isolamento. Dizem os estudiosos que a palavra em português traduz um sentimento tão complexo que não encontra, a rigor, sinonímia em nenhuma outra língua.
Almeida Garrett, numa erudita nota ao seu Camões, deixou-nos observações importantes sobre a palavra, no que parece repetir o que outros, D.Duarte e D.Francisco Manoel, antes dele, haviam igualmente observado. Os franceses falam de regret, palavra que lembra um movimento para trás; os alemães têm erinnerrungskult, culto da recordação; os negros africanos usaram banzo, uma mistura de lembrança e tristeza; os ingleses cunharam homesickness, uma espécie de doença causada pelo afastamento da casa familiar ou da pátria, sempre para eles um longing, no caso desejo intenso e persistente de voltar à casa familiar; os árabes empregam saudá, algo assim como sangue pisado no coração; os espanhóis, catalães, galegos e outros ibéricos nos falam de añoranza (desejar muito), morriña (desalento, tristeza), lonxedad (dor que a distância causa); os italianos usam malinconia (do grego, bile negra). Nostalgia é palavra nova; em 1.678, o médico suíço J.J. Harder, da Basileia, criou a palavra, do grego nostos (regresso), mais algia (dor), ou seja, a dor por não se poder voltar ao passado).
Os gregos antigos, como sempre, a divinizaram; deram o nome de saudade, etimologicamente desejo da presença de uma ausência, a uma divindade, Pothos, a única que podia vencer Hipnos, deus do sono, pois saudoso ninguém dorme.
Nietzsche falou da saudade como a bela imediatez perdida. Rainer Maria Rilke (1875-1926) fala da saudade como heimkraft, isto é, terra natal e energia, “poder misterioso que tende a levar seres e coisas de volta à sua origem, ao regaço materno, à terra nutriz”.
Chrétien de Troyes (século XII) sobre a saudade: De todos os males, o meu é diferente porque me agrada; alegro-me, o meu mal é que eu o quero e é a minha salvação. Não vejo, portanto, de que deveria me queixar, pois meu mal decorre da minha vontade; é o meu querer que se torna o meu mal; mas, experimento tanto prazer deste modo, que sofro com gosto e há tanta alegria na minha dor que estou doente entre delícias!
CHRÉTIEN DE TROYES |