sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

CONSUMIR É SER FELIZ

                                               
                                                 
Desmantelada a utopia socialista com o esfacelamento da antiga União Soviética, o Império do Mal, como está no filme “Guerra nas Estrelas”, a economia mundial, sob a tutela norte-americana, foi se encaminhando cada vez mais para o chamado regime de mercado: livre iniciativa na área dos negócios, ênfase nas conquistas científicas e tecnológicas, globalização, censura mínima ou nula, nenhuma intervenção do Estado. Mais: grande incentivo ao consumo (consumir é ser feliz), maximização dos lucros, transformação do indivíduo-cidadão em consumidor, de modo a sempre se considerá-lo como um futuro comprador de mercadorias, de bens ou serviços, mesmo que deles não necessite. Nesse sistema, logo se constatou, tudo podia ser colocado à venda, tudo tinha seu preço, inclusive pessoas; era só uma questão de se chegar ao número certo.

O sucesso desse modelo é hoje diretamente proporcional à sua agilidade operacional e ao seu poder criativo de oferecer sempre “novidades”, ou seja, produtos “novos” que envelheçam rapidamente. Para isso, o mercado teve que recorrer a conceitos como violência e velocidade. Um dos maiores teóricos do modelo instaurado foi Alvin  Toffler (O Choque do Futuro, A Terceira Onda, As Mudanças do Poder). Esse homem, que andou por aqui, há tempos, a fazer conferências por milhares de dólares, sob o patrocínio das elites econômicas do país, diz, numa de suas obras: “O novo sistema para fazer riqueza consiste numa rede global em expansão de mercados, bancos, centros de produção e laboratórios em comunicação permanente uns com os outros, trocando constantemente enormes e cada vez maiores fluxos de dados, informações e conhecimentos. Esta a economia rápida de amanhã.”




O que se veio constatando, todavia, diante do que dessa receita está implantado (Vale do Silício, instituições “sem fins lucrativos” como a Rand Corporation, Bolsas de Valores, FMI, Banco Mundial, Mercado Comum Europeu, Nasdaq, Internet, Facebook, conglomerados multinacionais etc.) é que, em vez de se equilibrarem melhor os países, criaram-se, ao contrário, enormes concentrações de riquezas de um lado e desigualdade e grandes bolsões de miséria de outro, com graves problemas sociais em todos (veja a crise econômica de 2008, muito semelhante à de 1929).

Nos países onde a tecnologia e o dinheiro se concentram mais, sobram a violência, a poluição, a droga, a corrida armamentista, as aventuras bélicas, a ganância infecciosa, o consumismo absurdo, o escapismo total. Nos outros, além dos muitos males que acabamos de citar, sobram, ao lado do analfabetismo, ridículos índices de saúde e educacionais, a impunidade, o desemprego, a miséria, a distribuição perversa de renda, a alienação social, a destruição dos valores nacionais, a privatização de bens públicos, a rapinagem dos grandes bancos e dos políticos, a grande mídia a serviço de todos etc. Como cenário, o sistema de mercado idealizado por Alvin Toffler e outros.

Mais: operando a prazos mínimos (chegar ao tempo real como queria Toffler), o mercado tem que oferecer recompensas imediatas. Esse pensamento já alcançou as religiões, pois não é mais possível deixar as recompensas para depois da morte. As coisas têm que acontecer aqui e agora. Esse, por exemplo, é o discurso profundamente consumista dos nossos evangélicos com os seus milionários pastores e bispos que guardam as suas imensas fortunas no exterior.

Diante disso, não se pode cogitar do destino das nossas gerações futuras. A lista de devastações é enorme. Em nome do progresso, destruímos como nunca não só o meio ambiente, mas também noções importantes que nos ajudavam a viver um pouco melhor. Perdemos há muito a noção de cidadania, fomos

diluindo a figura do nosso próximo (aquele que poderia se solidarizar conosco), escondendo-nos atrás de muralhas de autoproteção, senhas, siglas, muros eletrificados, cercas, aparelhos que atendem por nós, contratamos seguranças, pondo cães assassinos em nossos quintais, fechamo-nos em carros blindados. Não temos mais a capacidade de ver o outro nem simpaticamente. Ele é sempre alguém que nos intranquiliza, uma ameaça, alguém que sempre nos causa temor, que pode tirar alguma coisa de nós, nos fazer sofrer.

Um dos grandes instrumentos do sistema de mercado é a comunicação de massas, a tal mídia como a chamam, produzida industrialmente, de caráter totalitário, composta pelo cinema, TV, rádio, jogos eletrônicos, videogames, indústria fonográfica, telefones-computadores inteligentes, tablets, Internet etc. As tecnologias dessa comunicação, como sabemos, são avançadíssimas, aperfeiçoadas constantemente (ou tornadas obsoletas de propósito), tanto mais perfeitas quanto mais instantâneas e totalizantes. Vende-se ao indivíduo-cidadão a ideia de que ser civilizado e vencedor (o winner dos norte-americanos) é participar de tudo isso. Quem não adere é perigoso, marginal, excêntrico ou simplesmente idiota, um pobre coitado inadaptado, um loser.

Aos poucos, pela ideologia segregada por esse tipo de comunicação, operou-se em nível mundial uma homogeneização do gosto, nas roupas, nos trejeitos e decoração corporais, nas expressões  verbais,  nos modos de ser, nas gírias.


 Tudo, dependendo do gosto, é light, heavy, soft, clean, dark, emo, off, fast, delivery, cash, sugar free, start up, ou, para os que têm dificuldades com essa gíria importada, é tipo assim ou com certeza, como falamos aqui. Dois dos mais importantes jornais do país, contaminados por essa ideologia, como que a nos indicar uma vocação de submissos, de colonizados inclusive intelectualmente, deram há alguns anos os seguintes nomes a duas publicações suas: Help chamou-se um dicionário e Folhateen era o nome de um suplemento para jovens. Se era assim há alguns anos, hoje a coisa piorou bastante; a invasão externa, tanto no plano das ideias como dos recursos técnicos, é total. Nos nossos grandes jornais, por exemplo, a pauta dos editorialistas e colunistas vem nos dando lições de oportunismo político há muito tempo. Quanto à matéria redacional, reportagens etc., o empobrecimento sob o ponto de vista do seu conteúdo e da sua linguagem é alarmante. Se a publicidade televisiva apresentava há alguns anos um pouco de vida inteligente, alguma criatividade, hoje a boçalidade impera nela.

Ouvi, não faz muito tempo, a história de que a matéria redacional de um jornal noticioso de alcance nacional de uma de nossas mais importantes TVs era preparado para que pessoas de baixo nível mental pudessem entendê-lo. Parâmetro adotado: os diálogos dos personagens do programa Família Simpson. Parâmetro, como sabemos, é padrão por intermédio do qual se estabelece uma relação de comparação entre dois ou mais termos.     




Com mentalidades como essas fica fácil entender porque estamos liquidando e falsificando tantas manifestações culturais específicas do nosso folclore, tradições populares, festas, cantos, danças etc. e barramos a entrada de uma programação mais inteligente, principalmente nos canais de TV aberta. O halloween, por exemplo, está se transformando numa festa nacional.  Sem condição de avaliar aquilo que recebe, porque as elites políticas e econômicas de nosso país não têm o mínimo interesse em mudar esse quadro, o nosso grande público, principalmente fora dos centros urbanos, nenhum acesso tem às poucas produções artísticas de nível que procuram furar esse verdadeiro bloqueio da mídia mantida pelo sistema.

Os canais abertos, como é do conhecimento de todos, importam ou copiam descaradamente o que de pior se faz lá fora.  
A  tudo  

isto  se  junte  a  baixaria    de   sempre, a jogatina aberta  
disfarçada, o incentivo à pedofilia, à prostituição masculina e feminina, a enganação religiosa do “xô, Satanás” evangélico ou dos padres católicos metidos a popstars, a grossura barulhenta da publicidade nos comerciais, as palhaçadas ufanistas midiáticas, os programas de auditório idiotizantes, a erotização de mulheres e crianças pela moda, as horas e horas perdidas nas discussões idiotas sobre futebol, a bunda-music, imbatível, que impera; sobram as xuxinhas e angeliquinhas que procuram nos fazer esquecer a matança de pivetes, a prostituição infantil e a droga. Quanto aos filmes, a programação, com algumas exceções nos canais pagos, é só violência, destruição, pancadaria e desastres, a tela quente.

O discurso da televisão, hoje totalmente publicitário, procura impor aquilo que chamamos de “a tirania do prazer”. Isto é, felicidade de qualquer maneira, sempre a ser atingida pela via do consumo. Por isso, todos os meios para se chegar ao consumo serão válidos. Aliás, a lei aqui é esta: todos os meios serão ética e moralmente válidos e justificáveis se eficazes. Já houve quem dissesse que nossas concepções éticas são forjadas por processos em que o capital, um bem finito, tem mais prioridade do que bens infinitos: a dignidade, a liberdade, a paz, a experiência espiritual, a vida interior, a solidariedade etc. Despojados de marcas famosas, não somos nada, ninguém.

Há um duplo aspecto a observar quanto à imagem televisiva comercial. Primeiro, ela tem que ser bonita, despertar prazer, mostrando-nos corpos jovens, como o fazem os comerciais das cervejas ou as “meteorologistas” que nos dão a previsão do tempo. Por causa de grandes competições esportivas, como a Copa do Mundo e outras, esta regra (corpos bonitos) pode ser quebrada: jogadores e ex-jogadores de futebol, ainda que analfabetos e com uma “produção visual” horrível, conseguirão também pontificar na TV. Em tempos normais, excetuando-se porém os períodos de fim de ano, o Natal especialmente, gordos, feios, velhos, deficientes físicos ou mentais devem ser sumariamente excluídos. No mais, sempre que possível,  copiar a imagem de atores, atrizes, atletas, apresentadores da TV americana. Por isso, nesse contexto condenamos a existência

dos viciados craquentos e de meninos de rua, sempre feios, sujos, feridentos, incômodos, mas aplaudimos alegremente a genitália infanto-juvenil exposta nos programas de auditório e novelas. Nesse cenário, passando-se um traço, a Escola já era. Como aparelho ideológico, ela foi substituída por novelas, programas de auditório e talk shows. Os nossos “educadores” são hoje os titulares dos grandes programas da TV aberta, herdeiros dos grandes programas de auditório das nossas antigas estações de rádio.

Como sempre, tudo se nivela por baixo; o que temos é a infantilização cultural, fator que determina qualquer sucesso no mercado da TV. Além da imagem “bonita”, sempre fonte de prazer, a outra gratificação deve acontecer porque a mercadoria anunciada é aquela “exclusiva” que irá fazer de cada um de nós, anônimos, um ser mais especial que os outros. Com o produto comprado, o gozo prometido será vivido através da sensação de sermos superiores aos que nos cercam.

Há pouco tempo, participei de um grupo que fez uma pesquisa entre jovens universitários (20-25 anos), que frequentavam (sim, é o termo) universidades pagas. O perfil médio foi o seguinte: a) necessidades: consumir e competir; b) objetivo: ter sucesso econômico; c) símbolos do sucesso: casa própria, casa de praia, sítio com piscina e churrasqueira ou fazenda, carro importado, viagens ao exterior; d) prazeres: comer, descansar, baladas, puxar fumo e às vezes drogas mais pesadas (droga pesada aqui é a cocaína, porque aumenta o pique competitivo), ver TV, Fórmula Um, bater papo no celular, navegar na Internet (o Facebook ainda não havia entrado em moda); e) ideal coletivo: não há bandeiras políticas ou crenças relevantes; f) preocupação: garantir o próprio bem-estar e o dos que estão próximos; exigir que polícia acabe com a violência para que a gente possa gozar a vida em paz; g) outras observações: bebidas alcoólicas e drogas voltaram a ficar em alta, pois relaxam e aproximam amigos.

Os defensores do sistema de mercado acreditam que as sociedades nele envolvidas são capazes, no seu todo, de deliberar sobre assuntos de seus interesses e daqueles que tiverem em comum, bem como de tomar, quando necessário, as cabíveis decisões racionais tanto interna quanto externamente para necessários ajustes. Como pressupostos desta maneira de pensar temos as propostas de mínima ou nenhuma intervenção estatal (veja o caso Madoff, nos USA) e a capacidade do sistema de mercado de se autorregular por si mesmo. Exigir por exemplo que as TVs melhorem um pouco a sua produção (menos boçalidade, violência e alienação), nem pensar, pois isto seria visto sempre como um atentado às liberdades democráticas.

Não se apercebem os ilustres defensores destas ideias de que ao investirem tudo na liberdade de mercado eles estão desguarnecendo a outra ponta que a complementa, desequilibrando-a, isto é, o social. O que temos, então, ao invés dos ajustes necessários, como a experiência vem nos mostrando, são as formas mais ou menos disfarçadas daquilo que poderíamos chamar de um imperialismo da segurança, intervenções punitivas, guerras por setores, a violência instaurada sob as mais variadas formas, porque o sistema de mercado, ao afastar a participação estatal, não sabe nem pode criar formas de vínculos sociais, comunitários.

Os aspectos mais perversos desse quadro em sociedades como a nossa explode com grande violência principalmente nos centros urbanos, pondo a nu a desumanização desse sistema, quando os excluídos da sedução consumista começam a perguntar por que não eu, também?  Como se tudo isso não bastasse, a crise

econômico-financeira deflagrada a partir de 2008 veio para ficar e está a exigir um comportamento social que o sistema montado procura evitar de todas as maneiras. A tudo isto se acrescente a primavera árabe (uma criação do Ocidente), a crise da Igreja Católica, a satanização do mundo árabe, o estado de beligerância setorializado em alguns continentes, inspirado e mantido pelas grandes potências. Os impasses se acumulam e tendem a ficar insolúveis. Os USA (leia-se: ambos os partidos, o republicano e o democrata, a mesma coisa no fundo) não tolerarão certamente que a tutela mundial lhes escape das mãos. Solução? Caminhamos para as soluções que sempre foram adotadas, as guerras, muito úteis para os países tradicionalmente fornecedores de armas, para que os recursos naturais dos países envolvidos passem para outras mãos e para a indústria da reconstrução.

Tudo isso acaba ocasionando o esfacelamento da vida privada e, por consequência , o da vida pública, que são interdependentes. Na vida pública, como já colocamos, o indivíduo-cidadão acaba sendo  transformado em anônimo consumidor. Quanto à política, ela não passa hoje de um jogo de defesa corporativa de interesses privados, apoiado pela pauta dos grandes meios de comunicação, a serviço do grande capital, indústrias, bancos etc. Nas relações do trabalho, a informatização vai gerando desemprego sem a menor hesitação moral; a prática da reflexão ética, se é que a tivemos, foi substituída pelos cálculos econômicos; celebramos o fim das utopias socialistas e, no lugar, colocamos o deus-mercado. No plano pessoal (a nossa triste classe média, sobretudo), reduzimos o nosso sucesso à nossa capacidade de consumir e aparecer, de sermos vistos no Facebook, citados, mais se isto se der pela mídia, tornando-nos uma celebrity. As nossas universidades viraram, quanto ao item trabalho intelectual, centros de produção padronizada de diplomas e teses, teses que pouco ou nada têm a ver com a nossa realidade, meros instrumentos de obtenção de prestígio pessoal, de viagens, de bolsas, de títulos etc.


No mundo moderno, ao lado dos três poderes criados há séculos – Legislativo, Executivo e Judiciário – há um quarto poder, o poder do sistema de mercado, cujos pilares de sustentação são a violência e a velocidade, como dissemos. A economia de mercado ridiculariza todo o jogo democrático, pois apresenta um claro aspecto ditatorial e totalitário, fascistizante. Nesse sistema, o indivíduo-cidadão só pode ser considerado como força de trabalho e entidade consumista. Não poderá, a rigor, ter status político ou jurídico. A ideologia do mercado procura justificar de um modo absolutamente cínico essa sensação de “zero à esquerda” das grandes massas. Ela fala de aceitação das regras do jogo; a miséria dos grandes bolsões que ela cria deverão ser vistos como “pluralidade de projetos de vida” ou explicados como sendo um “folclore de diferenças”, exotismo etc. A economia de mercado ridiculariza todo jogo democrático. A promessa é a de que esse sistema, apesar de algumas falhas, é o único capaz de promover a felicidade. Do ponto de vista do mercado – dos seus ideólogos, economistas, profetas, universitários bem instalados ou jornalistas bem pagos – é imperioso que o poder estatal não interfira nesse “quarto poder”, que considera o cidadão apenas como “força de trabalho” e consumidor. Fora desse quadro, esse cidadão-consumidor não tem a rigor, realmente, apesar do seu título de eleitor, status político ou jurídico.

As justificativas para a perpetuação desse quadro, na superfície muito dinâmico e multifacetado, vão desde teses racistas e lombrosianas (ainda funcionam, sim!) até a famosa “aceitação das regras do jogo democrático”.  O fato é que o Estado, por pressão das próprias elites, veio se retirando da cena, desacreditado por culpa delas próprias. O que resta hoje de sua política é, como sabemos, principalmente em muitos países da América Latina, Ásia e África, gerido por fundos econômicos e outras entidades mundiais a serviço das grandes potências. Esse quadro todo não é considerado obviamente pelos meios oficiais, inclusive por muitos meios científicos ou culturais, como um fracasso social. Países ou mesmo áreas formadas por muitas comunidades que demonstrem dificuldades ou rebeldia com relação ao sistema de mercado, que não se conformam com o seu destino de consumidor, para eles montar-se-ão esquemas de segurança, intervenções militares, apoio logístico, verbas especiais, fomento de tecnologia, missões de paz e boa-vizinhança, esquemas disfarçados ou abertos de corrupção, conforme o caso. Mais ainda: dentro desse quadro, os desacertos produzidos pelo próprio sistema, vêm, de uns tempos para cá, sendo isolados. É o new-look dos modelos. Os excluídos do mercado nas suas pátrias de origem devem ser barrados nas suas fronteiras. É o que chamamos de globalização através da exclusão em nome da saúde dos donos do sistema de mercado. A Europa, hoje, está sem saber como resolver os problemas criados pela primavera árabe, não sabe, mas está sendo compelida a pagar a conta. Só a Alemanha, a maior economia da Europa, tem, neste 2015 que acaba  de terminar, cerca de 300.000 refugiados espalhando-se pelo seu território.




Quanto ao resto é o que se vê: a soberania estatal se decompondo. Muitos governantes, não sabendo ou não querendo enfrentar esses problemas, debitam ao mercado os males dos seus países, mas continuam atrelando-os ao grande Mal, vinculando-os ao aumento do seu PIB, ou seja, fazer crescer o bolo para deixá-lo nas mão do Deus-Mercado. As elites antigas, donas do poder, dele pejadas pelos mais modernosos, lutam numa briga de foice, com unhas e dentes, para se apropriar das sobras. Ou se associam, formando frentes partidárias como acontece muito entre nós. Um número crescente de funções estatais, sob falsos argumentos, vai passando para as mãos de paraestatais ou simplesmente acabam nas mãos de particulares que fazem por ignorar qualquer compromisso social.


O problema é que a felicidade prometida não chega. Por isso, temos de ir em busca de novos produtos que acabam de ser lançados, já que a nossa ideia de felicidade depende da nossa maior  capacidade de consumir. Não faz mal que muita coisa nos escape nesse processo, dignidade, solidariedade, a

valorização do ser humano, a proteção da natureza, a ideia de fraternidade, a aspiração a uma sociedade mais justa, pois o mais importante é garantir um lugar na fila para sermos um dos primeiros a comprar o novo  tablet ou o último smart que está para ser lançado...