sexta-feira, 15 de abril de 2016

PLUTÃO (1)





Plutão foi notado no dia 21 de janeiro de 1930, depois de muitas pesquisas. Desde o início do século XX que alguns astrônomos notavam certas irregularidades na órbita de Netuno, descoberto em meados do séc.XIX. O astro responsável por essas irregularidades, revelado em janeiro de 1930, teve o seu descobrimento anunciado a 12 de março do mesmo ano.

Para designar o planeta descoberto foram sugeridos centenas de nomes, mensagens enviadas de várias partes do mundo ao observatório Lowell. Segundo consta, o nome Plutão, divindade
PERCIVAL   LOWELL
infernal dos gregos, foi sugerido por uma menina de onze anos, de Oxford, interessada em mitologia grega e astronomia. A sugestão prendeu-se ao fato de ser o planeta descoberto frio, gelado, escuro, rochoso e extremamente sólido. No dia 24 de março de 1930, o nome sugerido pela menina foi aprovado oficialmente pelas entidades científicas. Outros historiadores da astronomia, entretanto, dizem que o nome foi escolhido para homenagear o astrônomo Percival Lowell (as duas primeiras letras de seu nome), aquele que primeiro mencionou a existência de tal planeta. 

O planeta descoberto era o mais distante do sistema solar, embora nem sempre esse afastamento se mantivesse de modo uniforme. Por causa da excentricidade de sua órbita, no seu periélio, ele invadia a órbita de Netuno, alterando-se essa posição, deixando Plutão de ser o limite do sistema solar. Tal alteração ocorria, como se constatou, sempre que Plutão transitava pelo signo de Escorpião, sendo o seu  afélio de quase 7,5 bilhões de km. Percebeu-se também que Plutão afetava tanto os movimentos de Urano como os de Netuno, muito maiores que ele, o que podia ser atribuído à sua densidade, nove vezes maior que a da Terra, e possuir ele uma poderosa força gravitacional, cinco vezes maior que a da Terra. 





Plutão dista do Sol, em média, cerca de 5 bilhões de km. Sua órbita tem grande inclinação, 17º, podendo ele levar de 12 a 32 anos para atravessar um signo. O diâmetro de Plutão é de 2.320 km. (66% do diâmetro da Lua). Seu passo médio anual é de 1º, sendo sua translação, também média, de 250 anos. O ano de Plutão tem o equivalente a 91.250 dias terrestres. Sua permanência média em cada signo é de 29 anos. Temperatura (média): -229º. Duração do dia (rotação): 6,5 dias terrestres.  Satélites: Charon (Caronte, que alguns acham não ser um satélite, mas que forma com Plutão um planeta binário), descoberto em 1978. Depois,  foram descobertos Nix e Hydra em 2005, Kerberos (Cérbero) em 2011 e Styx (Estige) em 2012. Com essas descobertas, Plutão passou a ter mais luas (satélites) que Mercúrio, Vênus, Terra e Marte juntos.

Astrologicamente, no símbolo de Plutão, incorporam-se os três elementos presentes na composição simbólica dos demais planetas, o círculo, o semicírculo e a cruz. Numa leitura “ascensional”, temos a alma elevando-se acima do corpo e o espírito situando-se acima desta, uma ilustração que se ajusta perfeitamente ao que Plutão representa astrologicamente como regente diurno do signo de Escorpião (Marte é o regente noturno). Plutão se exalta em Áries, tendo a sua queda em Libra. Urano, por sua vez, se exalta em Escorpião.

Alguns mestres hinduístas, no que coincidem com os filósofos existencialistas, Sartre especialmente, nos dizem que a nossa libertação não pressupõe a entrada ou chegada a algo fixado de antemão. A nossa libertação, sempre renovada, afirmam eles, só pode acontecer quando as energias do nosso eu interior e profundo nos são reveladas continuamente ao irem se rompendo as cadeias da nossa ignorância. 

Acho que essa observação, como introito à nossa “descida” simbólica ao reino de Plutão, seja bastante aceitável. Realmente, depois das ideias de purificação no signo de Virgem e  de julgamento no de Libra, o ser humano tem que fazer a sua descida
JYOTISH
noturna pela qual deve começar a aprender a se libertar da vida material a fim de melhor se relacionar com o seu eu profundo e entender  que por trás da multiplicidade se esconde a unidade. Dizem os mestres da antiga astrologia védica (Jyotish) que, assim caminhando, o ser humano percebe que ele tem que viver no relativo, mas com os olhos voltados para o Todo, o Absoluto, confundindo-se com a eternidade.

HADES
O signo de Escorpião, governado por Plutão (o deus Hades da mitologia grega), é o cadinho onde se funde e renova a personalidade do homem. Como signo fixo, a força de Escorpião é ilimitada, razão pela qual dois símbolos, dentre outros, lhe são atribuídos, a águia e a serpente. A primeira alcança alturas onde ninguém pode atingi-la. Já o veneno da serpente, animal sempre relacionado com a vida inconsciente, tanto pode salvar como matar.

Os poderes de Escorpião nos dão a vida e a possibilidade da

transcendência. No primeiro caso temos a sexualidade, o poder pelo qual a vida é criada; no segundo, temos a metamorfose, a mudança da forma e a passagem para novos planos da existência. Realmente, o signo de Escorpião e o seu planeta regente representam para o ser humano a mais completa metamorfose que podemos conhecer no microcosmo material, a morte. 

Antes, porém, da transformação total pela qual teremos que passar, os diferentes registros astrológicos numa carta astrológica do planeta Plutão nos informarão sempre quanto às  “mortes” que deveremos enfrentar na nossa trajetória existencial. Sabemos que Plutão e todos os planetas transaturninos são astros muito mal adaptado ao reino da matéria, cujos limites são fixados por Saturno. É por essa razão que esses três planetas, Urano, Netuno e Plutão, invisíveis a olho nu, dizem respeito à nossa vida inconsciente. 

A posição de Plutão num tema astrológico, sua angularidade, se for o caso, e seu domínio nos mostrarão, como se disse, o alcance das diferentes metamorfoses pelas quais  teremos  que passar, dando-nos por isso indicações claras daquilo que à falta de melhor nome chamamos de destino. É por essa razão que a palavra destino entre os gregos aparecia associada às Moiras, as donas do fio da via, as Fiandeiras, e ao verbo meiromai, obter por partilha, pelo acaso; entre os romanos temos a ideia de fatum, que tanto significava predição, oráculo, como destino, fatalidade. 



AS   FIANDEIRAS  ( DIEGO  VELÁSQUEZ - 1657 - MUSEU  DO  PRADO , MADRI )  


Realmente, onde  temos Plutão num mapa astrológico ali temos o Hades, o inferno da mitologia grega e o nome de sua divindade tutelar, lugar do nosso destino final, queiramos ou não. Daí Plutão, como planeta, representar, mais do que qualquer outro,  um poder
PLUTÃO
pelo qual certos acontecimentos estariam fixados de antemão, apesar dos seres humanos, por maior vontade e inteligência que tenham, tentem fazer algum coisa para evitá-lo. Os efeitos que Plutão produz num mapa astrológico são “vividos”, na maioria dos casos,  mais como resultantes de forças exteriores, distintas da nossa vontade, do que como produzidos a partir de nós mesmos.


No plano físico, lembremos, Plutão governa a sexualidade, a morte e a liberação da energia sob todas as suas formas. No plano físico, a liberação da energia pode acontecer explosivamente (Urano no signo ou na casa VIII, ou em aspecto com Plutão, pode aumentar o “estrago”), pois  esta possibilidade, se não considerada a nossa metamorfose final, nos leva sempre a um plano de existência a outro, desligando-nos muitas vezes de todos os nossos suportes materiais. 



No plano físico, Escorpião e Plutão celebram a vitórias das forças da destruição, das forças noturnas sobre as forças diurnas. Para amenizar um pouco o que aqui se disse de Plutão até agora, ouça September Song, um hino escorpiano ou veja o filme September Affair. Observação importante: composta por Kurt Weill e Maxwell Anderson, September Song tem que ser ouvida na gravação de 1938, de Walter Huston (1884-1950), como Woody Allen inclusive a colocou num de seus filmes. Mas, voltando: para os que só sabem se identificar com o seu corpo e com o lado físico da existência, Plutão costuma torna-se cruel. Neste caso, quando no lugar em que temos Plutão num mapa astrológico pensamos em renascimento, a metamorfose ali indicada costuma ser vivenciada com grande desapontamento. 





A grande lição de Plutão é que a energia por ele liberada deve, no nosso plano interior, se identificar com a energia universal (o Brahman dos hindus) e no plano exterior, simultaneamente, com a
FISSÃO   NUCLEAR
polaridade masculino-feminina, ou, se quisermos, com o deus e a sua shakti, através da qual devemos continuamente encontrar, perder e recuperar o nosso equilíbrio. A desintegração plutoniana tem a finalidade de transformar a matéria em energia. No plano científico, da Física moderna, a essa ruptura dá-se o nome de fissão nuclear, a separação dos átomos que antes estavam unidos.

Na perspectiva acima, é que podemos entender Plutão como o mestre das riquezas invisíveis (pluto, em grego, quer dizer rico, um eufemismo para designar o deus). Desintegrar, provocar a destruição para que haja a renovação, tanto no plano individual como coletivo. A radioatividade, força invisível, como se sabe pode provocar a morte, desequilibrando completamente a matéria. No

reino animal, o ser que pode suportar as maiores doses de radioatividade é o escorpião. Enquanto o ser humano pode suportar no máximo 600 roentgens o escorpião aguenta 75.000 unidades radioativas. Além do mais, o escorpião, no reino animal, é o ser mais resistente às infecções bacterianas; infecções que para os grandes animais ou para o ser humano podem ser mortais mal são registradas por ele. O escorpião pode suportar temperaturas muito baixas ou muito altas sem ser aparentemente afetado ou permanecer por mais de dois dias submerso sem que nada lhe aconteça. Um velho ditado astrológico nos diz que o signo zodiacal de onde saem os tipos mais resistentes só poderia ser representado pelo animal mais resistente da natureza.

ESCORPIÃO
O escorpião, aracnídeo muito perigoso por causa de seu aguilhão venenoso, também chamado lacrau ou lacraia, adquiriu desde a pré-história o significado de uma ameaça mortal. Em muitos povos do oriente e da África não se pronuncia seu nome, pois nomeá-lo seria atrair o mal que ele representa. Ele é um animal de hábitos crepusculares, noturnos, um formidável e solitário caçador, belicoso, “mal humorado”, sempre pronto a atacar e a matar. Por outro lado, em muitas culturas, segundo lendas que se contam a seu respeito, apesar desse seu lado demoníaco, ele (a fêmea) é também um símbolo da abnegação, já que as crias se alimentam das entranhas maternas antes de vir à luz. Quando há falta de alimento (o escorpião é carnívoro), ele pratica o canibalismo, isto é, pode devorar o seu semelhante. Há também histórias de que é o único animal, além do homem, obviamente, que se suicida quando não encontra saída diante de um perigo mortal.

Uma característica muito interessante do escorpião é a de que, no reino animal, ele parece ser o que, numa relação tamanho-consumo de alimentos, consome a maior quantidade alimentícia, sempre muito grande para o seu tamanho, de dez a quinze centímetros, embora alguns possam chegar a trinta centímetros. Constitutivamente, porém, só precisa de 10% do que consome para sobreviver, podendo passar até um ano sem se alimentar. Quanto à água, praticamente nenhum consumo, pouquíssimo, uma ou duas gotas, para uma vida inteira, que pode oscilar entre quatro anos e vinte anos, para algumas espécies (cerca de 2.000) mais resistentes. 


EXPLOSÃO  NUCLEAR
A radioatividade, astrologicamente, como se sabe, é governada pelo planeta Plutão como uma força que para regenerar deve, antes, destruir. Aliás, foi quando da descoberta de Plutão que a ciência moderna chegou realmente à Física atômica. Os artefatos bélicos, que têm por base a desintegração do átomo, quando explodem, reproduzem numa fração de segundo temperaturas que só o Sol pode atingir.

Os poderes do escorpião estão ligados ao vermelho e ao negro (cores muito usadas pelo nazismo), uma clara indicação de que entramos na vida pelo vermelho (signo de Áries) e saímos pelo negro (signo de Escorpião), cor do signo que marca o auge do terceiro quadrante zodiacal, quando a vida começa a desaparecer pela degradação da natureza, momento no ciclo anual em que as trevas começam a se impor definitivamente à luz.   

O poder de Escorpião, centrado na sexualidade, tem relação, nas escolas filosóficas da Índia, (darshanas) com a energia por elas chamada de kundalini. Essa energia, no Yoga, é divina e está retraída no interior do corpo humano grosseiramente, enrolada como uma serpente  dormente, na base da coluna vertebral, num lugar profundo, entre o sexo e a região anal, conhecido como muladhara (mula, raiz, e adhara, base). 





Na Índia, o sadhaka (buscador) pronuncia então os mantras para despertar essa energia enquanto controla as suas inalações, fazendo o pranayama com o objetivo de limpar o caminho (sushumna), ao lado da coluna vertebral, através do qual ela, a serpente, "subirá". Os sadhakas dão a essa prática o nome de “acordar a serpente”, que, erguendo a sua cabeça, ao subir, toca na sua passagem em certos pontos, centros (chakras) de energia. Os mestres hindus nos dizem que a consciência espiritual do homem só é despertada quando kundalini desperta também. Ninguém pode chegar à vida espiritual só pela leitura dos livros sagrados. 




Na Índia, na astrologia védica (Jyotish), o signo de Escorpião aparece associado ao que eles chamam de Kundalini Yoga ou o Yoga do Despertar da Energia Enrolada, que depende da perspectiva tântrica. Para esse Yoga, em Shiva (Realidade Suprema), consciência una e absoluta, sem diferença ou gradações, jaz, indiferenciada, a causa da manifestação universal, a que é dado o nome de Shakti, poder que cria o movimento e a multiplicidade por meio de limitações e divisões. 


SHIVA  -  SHAKTI
Esses dois princípios, Shiva-Shakti, vão, pelo despertar de kundalini e por um jogo eterno de relações, produzir, como se disse, a vida universal. Com relação à Realidade Absoluta (Brahman) esses dois princípios são apena um. A Shakti, geradora da multiplicidade, suscita a possibilidade do esquecimento da Realidade Última. É o seu poder de obscurecimento (avarana), de ocultação; é ela quem faz o mundo sensível parecer diferente daquilo que é em essência. Por isso, ela é chamada também de Maya, Magia, a ilusão da separatividade. 

Essa Maya, no plano cósmico, corresponde no plano individual à ignorância espiritual (a incapacidade de ver o Todo), chamada avidya, nesciência, ajñana, causador do samsara. Essa doutrina explica, melhor do que qualquer tratado filosófico ou psicológico ocidental, porque um elemento de inconsciência está sempre presente em toda manifestação humana. Ou seja, tudo o que é limitado pelo corpo ou pelo psiquismo humano não é consciência pura, mas condicionada. Nada no mundo fenomenal é absolutamente consciente ou inconsciente. O consciente e o inconsciente estão sempre entremeados, eis uma das máximas do Kundalini-Yoga. Além do mais, quem conserva os traços e vestígios das encarnações passadas, segundo o Hinduísmo, é a Shakti.

Estas ideias parecem explicar  porque a consciência (Cit) nunca está ausente de nada, porque umas pessoas parecem ser mais consciente do que outras. A consciência sempre se manifesta em diferentes graus e maneiras. Os graus dessa manifestação são determinados pela natureza e pelo desenvolvimento da mente e do corpo nos quais está presente. A manifestação da energia universal no ser humano é difícil porque ela está sempre velada ou contraída, em maior ou menor grau, pela mente e pela matéria. 

O signo de Escorpião no seu sentido inverso nos revela assim que o aspecto maléfico da serpente (kundalini) significa no plano anímico o poder de dizer não e a recusa da luz. Este tema da rebeldia diante da luz é expresso, mais do que em qualquer outro, pelo signo astrológico de Escorpião e por mitos e tipos com ele relacionados. Se por um lado a serpente pode ser destrutiva, inimiga da luz, ela pode por outro se tornar salvadora, quando pensamos na filosofia do Yoga- Kundalini. 



PABLO   PICASSO
Não é por acaso que os grandes rebelados, no plano físico, no plano das ideias, no plano da arte, no plano da política, fecunda ou não a sua rebelião, saem todos do signo de Escorpião: Martin Luther King (ideias), Trotsky (revolução), Picasso (arte), de Gaulle (política), Lutero (religião), Racine (teatro), Stendhal (romance) etc.  


Também não é por acaso que a palavra Satã designa o grande adversário da luz  (Satan, em hebraico, é o adversário). Segundo os
LÚCIFER ( GUSTAVE  DORÉ )
judeus, Satã, rebelando-se contra Deus, passou a ser considerado como o rei dos demônios e, ao exilar-se do céu, levou consigo uma hoste de anjos caídos, tornando-se o seu líder. A rebelião começou quando Lúcifer, o que transporta a luz, este era o antigo nome de Satã, então o maior dos anjos, recusou-se a prestar homenagem a Adão. Como criatura, Adão fora feito de argila, enquanto Lúcifer fora feito de pura energia divina. Ele ficou com ciúmes do status de Adão e, além do mais, encheu-se de desejo por Eva. 



ADÃO  E  EVA
 CATEDRAL NOTRE DAME , PARIS
Foi Satã, diz a Bíblia, quem armou a trama da expulsão de Adão e Eva do Paraíso, do Jardim do Éden. Por meio da serpente (também símbolo do signo de Escorpião), Satã manteve relação sexual com Eva, tornando-a mãe de Caim, segundo explicam os mesmos judeus. Consta que foi também Satã quem induziu Noé a se embriagar e procurou fazer com que Abraão desobedecesse a Deus no episódio Akedá. Satã, em última instância, é no homem a inclinação para o mal, o grande tentador, aparecendo sob uma miríade de formas, todas enganadoras. 



SACRIFÍCIO   DE   ISAAC  ( REMBRANDT )



Escorpião como signo, lembre-se, tem a ver, por isso, tanto com a origem da vida, através do esperma, como com a expulsão da matéria através dos órgãos da excreção. O eixo Touro-Escorpião, como se sabe, simboliza o alimento e a sua excreção, a garganta e o ânus, a voz e o sexo, a matéria e o esperma. 

Em Escorpião temos astrologicamente o exílio de Vênus e a queda da Lua. O primeiro é o planeta que nos fala das ligações, do amor, da reciprocidade afetiva, sendo consultado no mapa astrológico para analisar as possibilidades amorosas de alguém, seu poder de atração e de sedução, as suas relações com o amor. Já a Lua vai refletir os nossos estados de ânimo e os nossos sentimentos tão rapidamente mutáveis e flutuantes, as nossas emoções. A Lua pode ser considerada como o ponto mais fraco da natureza humana porque ela se situa no limiar da nossa vida subconsciente, um lugar onde somos mais vulneráveis aos caprichos emocionais. Sempre que uma Lua estiver mal posicionada e/ou colocada num mapa astral teremos uma pessoa emocionalmente instável.

Enquanto mestres de Touro, Vênus e a Lua representam também a comida que possibilita o crescimento e o desenvolvimento de nosso corpo e, como tal, a sua permanência e duração. Ora, Escorpião, signo oposto, é o inimigo da matéria, da carne, ao anunciar o seu fim, o inimigo daquilo que quer durar. É por essa razão que os regentes do signo ou qualquer planeta na casa onde temos  Escorpião indicarão,  inclusive por seus aspectos, se os tivermos, situações nas quais teremos que experimentar alguma transformação sob o ponto de vista de nossos sentimentos. 

Se Touro se volta para a busca da matéria, Escorpião, como signo
TOURO
de água, se concentra na absorção das energias psíquicas que fluem das pessoas que vivem no ambiente em que  se encontre. Diferentemente dos tipos cancerianos e piscianos, os escorpianos estão preparados, com maior ou menor intensidade, mas sempre preparados, para se apropriar dessas energias. Muito curiosamente, porém, as pessoas que rodeiam os escorpianos, que estão “ali” para lhes dispensar o “alimento” psíquico de que necessitam, costumam ser atraídas por eles através de um secreto encanto (uma promessa de absoluto?). Deixam-se assim invariavelmente expropriar, sentindo-se “felizes” ao cumprir esse papel; muitas chegam até a agradecer o “benefício” recebido, quando, na realidade, é delas que parte esse jogo vítima-predador. Por esse processo, o jogo, isto é, a relação costuma se fortalecer cada vez mais.  
  
A formidável energia do signo é encontrada nas casas astrológicas onde temos Escorpião e os seus regentes, Plutão e Marte. Por essa observação astrológica fica fácil entender que a energia mais forte do signo é encontrada evidentemente na força do seu desejo, sempre de singular intensidade, desejo que tem seu centro na correspondência orgânica do signo, nos órgãos da sexualidade, representados pelos seus planetas regentes.


É nesta perspectiva que podemos associar simbolicamente a aranha ao signo (o escorpião, relembremos, é um aracnídeo). A aranha, como se sabe, ao invés de sair à caça, estende a sua rede, e espera; atraídas não se sabe bem por qual razão, as vítimas vão a ela, sendo devoradas. É famoso o conluio sexual entre as aranhas: a fêmea, logo depois de consumada a relação carnal, mata o macho. Raros os machos que escapam dessa relação que caracteriza realmente o ato sexual como uma “atração fatal”.

Não é por acaso que a mais perigosa das aranhas peçonhentas é a chamada viúva negra, mencionando-se que a tarântula é também muito temível. Esta última, com a sua picada, inocula uma substância que, embora não mortal, causa febres altas e induz, segundo as crenças populares em várias partes do mundo, a movimentos convulsivos. Foi com base nestas histórias sobre as aranhas venenosas que nasceu a tarantela, dança popular e composição musical originária de Nápoles (transformadas em eruditas depois), de caráter vivo, acompanhada de castanholas e tamborins.






É por essa razão que no universo dos símbolos astrológicos a aranha deve ser associada ao escorpião e à serpente como representante do signo de Escorpião. Muito mais do que um símbolo da maternidade devorante, da mãe castradora, canibal, a aranha denota sempre uma feminilidade temível, profunda, da qual

os homens têm, como o demonstram a arte, a literatura, o teatro e o cinema, tanto horror, a chamada gimnofobia (horror à mulher, ao feminino). A aranha, neste sentido, é um emblema da mulher fatal, vampiresca, que esvazia o macho de suas forças, ameaçando-o de destruição (vide a fantástica história L´Homme qui rit, de Victor Hugo).



Examinando os símbolos de Marte, o antigo regente do signo, e de Escorpião, vemos que ambos têm na sua extremidade a ponta de uma flecha, um ferrão, a denotar um caráter belicoso, destrutivo. Foi necessário esperar vários séculos, milênios até, para se chegar à conclusão de que essa destruição poderia adquirir um caráter transformador, positivo. Esse entendimento, que já estava claro sob o ponto de vista mitológico, só ficou mais claro quando as doutrinas relacionadas com a vida subconsciente e inconsciente tomaram forma a partir do séc. XIX.

Desde tempos pré-históricos, o homem procurou dividir o espaço que habitava. A primeira ideia que desenvolveu para isso levou-o a uma concepção tripartite: a Terra, onde ele vivia; acima dela, o Céu, fonte de luz; e abaixo da Terra, um mundo subterrâneo, também chamado de ctônico, escuro, sempre associado à morte, pois era para ele que os mortos eram encaminhados.

Nessa estrutura, a Terra sempre representou um papel passivo. Ela era um dado imediato; sua extensão, sua solidez, a variedade de seu relevo e a sua vegetação eram percebidas concretamente, nenhuma suposição, nenhuma inferência. O espaço superior, ao contrário, era inacessível, imperscrutável, insondável. O que se podia apreender dele eram as suas manifestações fecundantes da Terra, esta o fundamento e tudo o que se encontrava sobre ela, apesar da sua aparente diversidade, formava uma grande unidade.

Aos poucos, principalmente depois do aparecimento da agricultura, a relação entre a inesgotável capacidade que a Terra tinha de gerar frutos e a mulher foi se estabelecendo. A solidariedade entre a fecundidade da Terra e a mulher constitui um dos traços fundamentais das sociedades agrícolas. A vida vegetal tinha seu início no interior da Terra, um acontecimento invisível aos olhos humanos. O mesmo se poderia dizer com relação ao nascimento de uma criança, originando-se a sua vida através de um processo também invisível aos olhos humanos. 

A partir destas constatações foi se fixando a ideia de que o interior da Terra era um lugar de transformações, de morte e de renascimento. A  semente “morria” para que o vegetal pudesse “nascer”. Essa transformação acontecia no escuro, ligando-se o negro, desde então, a uma ideia de renovação, relação confirmada, noutro plano, por exemplo, pelas práticas alquímicas, por visões religiosas etc. Por essa razão, havia uma analogia entre o útero da mulher e o interior da Terra, que passou a ser considerado como um lugar de riquezas escondidas.   






Não foi por acaso que em várias tradições, desde tempos pré-históricos, encontramos o sacrifício de animais negros às divindades ctônicas. O negro do luto e da penitência é ao mesmo tempo uma promessa de ressurreição futura. Na alquimia, o negro (nigredo) é a cor do caos, da indeterminação, da prima matéria confusa, que deve ser trabalhada. Esta matéria negra é fecunda e por operações sucessivas deve ser extraída a fecundidade que nela se acha escondida. Estas concepções nos remetem à própria origem da alquimia egípcia, onde essa matéria tinha o nome de al-kemiya, confundida com a própria lama negra das margens do rio Nilo, produzida pelas inundações anuais.

O trabalho do adepto, em várias tradições filosófico-religiosas, começava sempre pelo negro, cor que as futuras terapias do psiquismo, nos tempos modernos, adotarão para simbolizar o
ANÚBIS
inconsciente absoluto, a cor da descida às trevas do mundo subconsciente. Esse trabalho começa pela chamada obra em negro, cuja primeira etapa é conhecida pelo nome de nigredo. No Egito antigo, lembremos, a cor negra era uma promessa de regeneração; cor de Osíris, deus dos mortos, e de Anúbis, deus do embalsamamento e condutor das almas. 

ÉSQUILO
Em todas as tradições mítico-religiosas, a Terra sempre foi valorizada inicialmente por causa da sua capacidade infinita de gerar frutos. Concebida como mulher e mãe, a Terra sempre se opôs simbolicamente nessa condição ao céu. Ligada à fecundidade e à regeneração, a Terra, como dizia Ésquilo, gerava todos os seres e depois os recebia na morte. 

O interior da Terra, associado à escuridão, recebeu o nome de
NIGREDO  E  ALBEDO
inferno, palavra que significa o que está abaixo. A analogia com a noite era inevitável, com o inverno, com o frio, com a solidão, com as trevas. A descida ao inferno do qual falavam os mitos correspondia aos primeiros dias do outono, prelúdio de um período que significaria a completa ausência da luz. Num nível simbólico, o inverno representava uma morte simbólica; nas religiões de mistério, a estação lembrava o abandono, pelo iniciado, da sua natureza profana em celas escuras, a passagem do negro (nigredo) ao branco (albedo) dos alquimistas. 

Apesar dos povos da antiguidade terem apresentado concepções variadas do inferno, a maioria sempre o imaginou como um lugar subterrâneo misterioso e aterrorizante onde as almas dos mortos passavam por grandes sofrimentos em razão dos crimes e pecados cometidos na Terra, depois de terem sido submetidas a julgamento por um tribunal, imagens das quais a moderna psicologia se apropriaria para representar o consciente e o subconsciente. 



INFERNO  ( GUSTAVE  DORÉ )


O inferno significaria ainda segundo estas ideias o estado do psiquismo do ser humano que não sabe orientar a sua vida numa perspectiva evolutiva, segundo o caminho solar. Em muitas tradições, os seres humanos se aproximam do inferno toda vez que tomam a direção contrária do Sol, de oeste para leste, o inverso do caminho existencial progressivo. 

A ideia do inferno, no correr dos tempos, desde o fim do período neolítico, como um lugar para onde iam as almas dos mortos, foi sofrendo algumas mudanças. Tais mudanças foram causadas sobretudo por certas doutrinas filosóficas sobre a imortalidade da alma e sobre os castigos e as recompensas quando do seu julgamento no Outro Lado.