CENTAURUS forma com Lupus e Ara, o Altar, um conjunto que deve ser apreciado de modo interdependente, pois nos contam histórias que falam de adoração e de devoção. Esta constelação foi
KIRON |
ERATÓSTENES |
FAMÍLIA DE CENTAURUS ( SEBASTIANO RICCI , 1659 - 1734 ) |
Na mitologia grega, os centauros são seres híbridos, compostos por um corpo de cavalo e um busto humano. Desde a antiguidade, seu valor simbólico é ambíguo. Na cultura grega, sua origem estava ligada historicamente às primeiras invasões de cavaleiros vindos da Ásia Menor, que aterrorizavam as populações dos países mediterrâneos. Os povos da América central, aliás, consideraram os invasores espanhóis do mesmo modo, quando irrompiam nas aldeias montados em cavalos. Viam-nos, ao mesmo tempo, como humanos e animais.
BATALHA ENTRE CENTAUROS E LÁPITAS ( KAREL DUJARDIN , 1667) |
IXION E NEPHELE ( P.P. RUBENS , 1615 ) |
IXION NO TÁRTARO ( BERNARD PICARD , 1731 ) |
Os centauros são considerados símbolos da força bruta e das
CENTAURO |
Ao mito de Ixion não podemos deixar de acrescentar a história de seu filho Piritoo, um ser também vitimado pelas paixões como o pai, cujas aventuras fazem parte da crônica do grande herói Teseu. Impressionado pelo filho de Egeu e por suas façanhas, Piritoo passou a acompanhá-lo como uma espécie de escravo. Uma das maiores aventuras desta dupla foi a tentativa (fracassada) de rapto de Perséfone, a rainha do Inferno. Nas obras de arte simbolizam os centauros a concupiscência carnal, que torna o homem muito semelhante às bestas, sempre ausentes quaisquer traços da vida racional e espiritual, abolida qualquer luta interior no que diz respeito ao controle dos instintos.
SILENO |
SILENO ÉBRIO ( JOSÉ DE RIBEIRA , 1626 ) |
Folo era um centauro extremamente pacífico e cordato, muito diferente dos filhos de Ixion. Quando da realização do seu sétimo trabalho, o da captura do javali de Erimanto, Hércules, ao passar por Fóloe, foi recebido com muita hospitalidade por Folo. Há muito que Folo aguardava a visita do nosso herói, pois Dioniso lhe dera uma jarra de vinho, hermeticamente fechada, recomendando-lhe que só a abrisse quando o filho de Alcmena viesse à sua gruta. Preparada lauta refeição, servido o vinho, os outros centauros que viviam na região, sentido o perfume da divina bebida, invadiram a gruta, atacando Folo e seu hóspede. Hércules matou muitos
FOLO |
GAIUS JULIUS HYGINUS |
Na astronomia medieval cristã, esta constelação foi visualizada de outro modo. Uns a chamaram de Noah (Noé), personagem bíblico que sobreviveu juntamente com a sua família ao dilúvio. A figura de Noé aparece na tradição medieval obviamente ligada ao tema do vinho. Ele foi, biblicamente, o primeiro personagem a descobrir os efeitos da bebida alcoólica que, uma vez ingerida descontroladamente, ao invés de levar ao céu, leva ao inferno, por libertar a besta (o centauro) que há em todo ser humano. Há na Bíblia algumas advertências contra o álcool apesar da declaração de que ele alegra o coração do homem, conforme está em Salomão.
EMBRIAGUEZ DE NOÉ ( GIOVANNI BELLINI ) |
Outras versões do medievalismo cristão sobre esta constelação, menos difundidas, mas muito importantes para a compreensão do seu campo semântico, a ligam, uma, ao tema de Abraão e Isaac no que diz respeito ao tema do sacrifício (akedá) e, outra, à figura de Nabucodonosor, rei da Babilônia, na medida em que este personagem aparece associado à rainha de Sabá e a Salomão, a primeira identificada por alguns como Lilith. Ainda com relação à
PTOLOMEU |
No antigo Egito, Bungula, ligava-se ao equinócio de outono, e serviu de orientação para a construção de templos no norte e no sul do país entre os anos de 4.000 e 2.000 aC. Recebeu, entre os egípcios, o nome de Serkt. Para Ptolomeu, Bungula favorece as
MAO TSE-TUNG |
CETUS, a Baleia, é o monstro que aparece na história de Andrômeda, enviado por Poseidon para devorá-la, conforme já visto quando esta constelação foi estudada. Foram os gregos que fixaram para a Astrologia a constelação da Baleia, dando-lhe uma origem mítica. Cetus é um monstro marinho, uma figura híbrida, constituída por traços de baleia, de crocodilo e de hipopótamo. É
AS GREIAS ( H. FUSELI ) |
JONAS |
JONAS E A BALEIA |
BEEMOT E O LEVIATÃ |
O que a história de Jonas simboliza é a morte iniciática. Entrar no ventre do monstro é morrer, dele sair é renascer. O monstro, a baleia, neste caso, aparece, pela sua forma ovoide, com um encontro de opostos, que podem representar o nascimento ou a ressurreição. Os dois arcos da figura ovoide significam aqui a conjunção do mundo inferior com o mundo superior, ou do céu com a terra, a totalidade.
Jonas passou no ventre da baleia três dias e três noites. Atendidas as suas preces, Deus fez com que o monstro o vomitasse, voltando ele à vida de uma outra maneira, um novo ser. Esta mesma imagem, aliás, será repetida no Novo Testamento, em Mateus, quando ele registra a previsão de Cristo: Pois assim como Jonas passou no ventre do
TIAMAT |
PAUSÂNIAS |
CETUS |
No meu entender, parece ter ficado de fora, quanto a Cetus e Menkar, o mais importante quanto às suas possibilidades significativas. Em muitas tradições, a passagem pelo ventre de monstros, os marinhos de modo especial, é expressamente considerada como uma descida ao mundo infernal, ao mundo subconsciente. Equivale a entrar na noite, símbolo das gestações, das germinações que vão se revelar à luz do dia. A noite é rica de todas as virtualidades. Entrar no ventre da baleia é entrar na noite, é voltar à indeterminação. É nas trevas do ventre da noite como no da baleia que se fermenta o futuro, a preparação do dia, a volta à vida.
Entrar no ventre da baleia sempre significou uma volta a um estado pré-formal, embrionário, equivalendo o monstro à noite cósmica, ao caos antes da criação. A passagem pelo ventre da baleia era simbolicamente o caminho de todo processo iniciático. Uma imagem desta luta está, por exemplo, no romance de Herman Melville, escritor americano do século XIX, Moby Dick ou a Baleia Branca, um avatar do Leviathan judaico.
Se considerarmos o inconsciente do ser humano, pessoal ou coletivo, como um imenso oceano, monstros como Cetus podem emergir subitamente, adquirindo um caráter destrutivo. Cetus aponta, nos temas astrológicos, para uma área de águas profundas, muito abaixo da superfície, onde monstros podem se esconder. Ao subir à superfície, podem trazer muito perigo, destruição, inclusive coletivamente. Menkar, no grau em que estiver, pode ser um ponto onde temos possibilidades de contacto com o inconsciente coletivo,
NAPOLEÃO |
CORONA AUSTRALIS, a Coroa do Sul, embora muito modesta, foi reconhecida por Ptolomeu. Os latinos a chamavam de Corona Sine Honore. A tradição astronômica, incorporada por muitos astrólogos, chamou esta constelação de A Coroa do Centauro. Isto se deve ao fato de que em muitas representações os artistas punham uma coroa na cabeça dos centauros. Esta ideia tem provavelmente origem na figura dos Gandharvas, que, na Índia, são representados com um torso humano e um corpo ora de cavalo, ora de pássaro, coroados.
GANDHARVA VOADOR |
Ainda dentro do campo das possibilidades significativas da figura do centauro, outra tradição deu a esta constelação o nome de A Roda de Ixion (Rota Ixionis), uma alusão ao desditoso pai dos centauros, conforme relatado no texto sobre a constelação do Centauro, acima.
CENTAURO |
HADES ( ANÔNIMO ) |
Uma outra versão sobre a origem desta constelação tem relação com Dioniso. Sêmele, filha de Cadmo e de Harmonia, era uma uma princesa tebana. Foi amada por Zeus e concebeu Dioniso. Ao ter conhecimento da aventura amorosa do marido com ela, Hera, a protetora dos amores legítimos, resolveu intervir. Concebeu um plano para destruir a jovem e lindíssima rival. Tomando a forma humana, de uma velha e sábia mulher, insinuou-se no palácio onde
ZEUS E SÊMELE ( G. MOREAU ) |
RIO ESTIGE |
NASCIMENTO DE DIONISO |
MORTE DE SÊMELE ( PETER PAUL RUBENS ) |
Mais tarde, já tendo assumido os seus deveres divinos, como um dos imortais, Dioniso, de volta de uma viagem que fizera à Ásia para difundir o seu culto, desceu ao Hades e de lá retirou o eidolon (forma que a alma toma para descer ao Hades) de sua mãe. Ressuscitada, Sêmele foi devidamente coroada por Dioniso sob o nome de Tione, como a primeira das mênades, suas sacerdotisas. Depois, resolveu Dioniso levar Tione apoteoticamente para viver entre os olímpicos, colocando antes, porém, a coroa que lhe dera entre as estrelas como uma constelação, chamada pelos gregos de Coroa Austral.
MÊNADES |
Outra versão grega sobre a origem desta constelação pode ser encontrada nas biografias de Píndaro e de Karinna de Tanagra, ambos poetas do século V aC.,esta professora daquele, que ficou
KARINNA ( WILLIAM BLAKE ) |
A constelação da Coroa Austral aparece ainda em algumas outras tradições com o nome de Uraniscus, diminutivo de céu (Urano), em grego. Uranisco é a abóbada palatina ou palato, divisão óssea e muscular entre as cavidades oral e nasal. É o chamado palato ósseo, placa óssea que forma o céu da boca.