sábado, 7 de janeiro de 2017

CORVUS, CRATER






OVÍDIO
CORVUS – Esta constelação sempre apareceu associada à da Hydra e à de Crater, tudo conforme a mitologia grega e segundo encontramos também na literatura latina, em Ovídio, nos seus Fasti Lembremos, porém, que aves negras, na antiguidade, eram, de um modo geral, classificadas genericamente como corvos, encontradas em todos os continentes, com exceção da América do Sul. 

KORAX
Entre os gregos o corvo era chamado de Korax, ave do deus Apolo, participando de mitos relacionados com Cronos e com Asclépio. Este último, como se sabe, é filho de Apolo a da princesa Coronis, mortal, filha de Flégias, rei dos lápitas. Temendo Coronis que o deus, por ser eternamente jovem, a abandonasse na velhice, uniu-se ela secretamente a Ísquis, um lápita, antes do nascimento de Asclépio. Avisado por sua ave predileta do ocorrido, o corvo, Apolo vingou-se, matando Ísquis, enquanto sua irmã gêmea, Ártemis, se encarregou de dar fim a Coronis. 



Entre os latinos, o corvo era chamado de Phoebe Sacer Ales, ave sagrada de Phoebus, O Brilhante, o Apolo dos romanos. Em ambas as tradições, participava assim a ave da mântica profética, que tinha como titular o deus Apolo. Foram os corvos que determinaram a localização exata do oráculo de Delfos. Embora o corvo sempre apareça ligado a Apolo, como ave companheira, lembremos que nem sempre as relações entre ambos foram satisfatórias. 

CORVO   CORONE
Conforme a crônica de Apolo, a plumagem do corvo, que era inicialmente branca; tornou-se negra quando o deus o amaldiçoou para castigá-lo por ser muito indiscreto, sempre ansioso para divulgar más notícias (o caso de Coronis, por exemplo). Consta, aliás, do mito de Palas Athena que a deusa o privou do título de sua ave predileta por esse mesmo motivo, substituindo-o pela coruja. É devido a esta passagem, a tagarelice do corvo, que os latinos deram à constelação o nome de Garrulus Proditor (O Mexeriqueiro Sussurrante). 

Outra história nos informa que certa vez Apolo determinou que o corvo cumprisse determinada missão (encontrar um lugar onde houvesse água). Chegando ao local, ao ver  um cadáver boiando, esqueceu o que tinha ido fazer, pondo-se a devorá-lo avidamente. Ao retornar, cheio de desculpas, foi punido: suas penas, que eram brancas, tornaram-se negras. Esse episódio é responsável pela fama que cerca o corvo como uma ave necrófaga que tem predileção especial por cadáveres de pessoas que foram enforcadas. 


Outra história grega nos revela que, encarregado por Apolo de cumprir certa missão,  muito tempo se passou até a sua volta. Não cumpriu a missão, mas  trouxe, para justificar o seu atraso, uma serpente aquática, presa às suas garras. Consta que o deus ficou tão irritado com ele que resolveu colocá-lo entre as estrelas, sendo esta a origem da constelação de Corvus. No céu, ao lado, a Hydra o impede de beber na cratera (Crater), constelação vizinha.

ORÁCULO SIBILINO
De um modo geral, o corvo sempre apareceu consagrado a Apolo e desempenhando funções proféticas. Esta certamente a razão pela qual ele aparece citado nos chamados Oráculos Sibilinos. Muito difundidos nos meios judaico-cristãos, antes do cristianismo se tornar a religião oficial do império romano, os Oráculos Sibilinos fazem parte das chamadas Escrituras Apócrifas. 


OMPHALOS (MÁRMORE , II AC)
A mais recuada história que temos sobre as sibilas no ocidente é encontrada entre os gregos, em Delfos. Apolo transformou o oráculo, antes sob a tutela de divindades femininas, em centro do mundo (omphalos, umbigo). A partir dali, desbarbarizou antigas tradições matriarcais, propondo sempre o meio-termo, o equilíbrio e a moderação como forma de vida aos que lá iam consultá-lo. Contudo, embora Apolo signifique a substituição da mântica (adivinhação, profecia) feminina, que era por incubação, pela mântica masculina, por inspiração, os cultos do deus, nitidamente masculinos, sempre mantiveram  relação com o mundo feminino, considerado  "de baixo". Em seu Oráculo, Apolo dependeu sempre do feminino para que suas sentenças (mântica profética) fossem ouvidas, pois a mediunidade é dominada  sempre pelo feminino.
SIBILA  DÉLFICA ( MICHELANGELO )
Enquanto o masculino "dá", "insufla", o feminino "recebe", "acolhe" é a lei universal. Em transe, "recebendo" o deus, as mediuns, as sibilas ou pitonisas, revelavam as suas mensagens. Difícil, porém, interpretá-las, pois elas as sibilavam ao verbalizá-las. Sibilar é produzir sons agudos, acentuar as consoantes sibilantes, falar entre os dentes, silvar como as serpentes (símbolo da vida inconsciente). Quem interpretava as mensagens das sibilas eram os sacerdotes do deus, que administravam o Santuário de Delfos, "traduzindo-as" para os consulentes.
   
Divinamente inspiradas, as sibilas revelavam o futuro. Em tempos remotos, anteriores, à cristianização, muitas sentenças oraculares foram guardadas, exercendo sempre muita influência na pública e privada dos povos mediterrâneos. Grupos judaicos, aproveitando-se certamente da grande influência das sentenças oraculares na vida
NOSTRADAMUS
dos povos da época, se valeram da prática para fins de propagação religiosa, o que deu origem às chamadas Sibilinas Judaicas, fortemente marcadas por traços de profetismo. Com o tempo, muito do que foi produzido por grupos cristãos e judaicos acabou se fundindo, integrando-se ao cristianismo e depois ao catolicismo vitorioso, sendo citados por muitos autores cristãos ou não, como Santo Agostinho, Nostradamus e outros.

Em várias tradições, encontramos muitas histórias sobre o corvo. Na Mesopotâmia, ele participava do mito de Gilgamés, aparecendo também ligado ao deus Mithra, antiga divindade persa de natureza solar. Na Bíblia,  encontramos o corvo relacionado com o profeta Isaías e como emissário de Noé para, num voo de reconhecimento, informá-lo sobre as águas do dilúvio e sobre terras visíveis. Um dos nomes desta constelação entre os judeus vem exatamente deste episódio, O Corvo de Noé. Entre os árabes, Corvus era chamada ora de Al Ajmal (O Camelo), ora de Al Hiba (A Tenda). 


MARDUK   E   TIAMAT
Um mito mesopotâmico, projetava nos céus a associação das constelações de Corvus e da Hydra. Enquanto esta representava o monstro Tiamat, aquela era um corvo gerado por este, nascido de uma grande ninhada, chamado pelos mesopotâmicos de O Grande Pássaro da tempestade. Tiamat, como sabemos, é a personificação do elemento líquido, o grande oceano, que dá origem à vida, Simboliza as forças cegas do caos primitivo contra as quais os deuses inteligentes e organizadores, chefia por Marduk, entraram em luta. 

ODIN

No mundo celta, o corvo faz parte do mundo da profecia. Segundo a tradição, teriam sidos os corvos os responsáveis pela indicação do melhor lugar para a fundação de Lugdunum (Lyon), cidade do deus Lug, o de Longo Braço,  uma colina, chamada desde então de A Colina do Corvo. No mundo escandinavo-germânico, não podemos esquecer dos dois corvos que acompanham dia e noite o deus Odin. Um tem o nome de Hugin, a inteligência, e Munin, a memória, e lhe passam as informações de tudo o que acontece no universo.

SÃO  BENTO  DA  NÓRCIA
No mundo cristão, o corvo tem participação nas histórias de muitos santos, tanto eremitas como provedores, Bento, Bonifácio, Vicente e outros. As representações de São Bento da Nórcia no-lo mostram com o livro da Regra monástica por ele fundada, com cálice quebrado e com um corvo carregando um pão em seu bico. Três símbolos de grande importância em sua vida. Nas imagens do santo, o corvo lembra um episódio de sua vida em que monges invejosos de sua obra tentaram envenená-lo com um pão que um corvo levou para longe.

De um modo geral, porém, o mundo cristão, apesar da participação acima apontada,  sempre considerou o corvo muito negativamente como um agente propagador de contágios, de corrupção e de destruição. Inimigo da Igreja, contava-se que na Idade Média o Diabo se expressava através da onomatopeia do crocitar do corvo, cras, cras, cras, que significava amanhã, amanhã, amanhã, para instigar os pecadores a que deixasse para outro dia o arrependimento dos seus crimes e pecados. 


TÚMULO   DE   POE
Não foi outra razão, aliás, aproveitando o gancho acima, que Edgar Allan Poe, uma das principais figuras do movimento romântico, ultrarromântico, se quisermos, também chamado de Romantismo das Trevas, elegeu o corvo como um dos seus principais símbolos. A par das suas grandes virtudes narrativas, dos seus recursos estilísticos, de rimas e jogos fonéticos, o poema The Raven (O Corvo) é certamente o mais contundente exemplo da carga tanática que a geração romântica, toda ela, em maior ou menor proporção, vítima do chamado mal du siècle, pôs em circulação na literatura ocidental.    


Astrólogos da Idade Média juntaram Corvus e Crater, passando a chamar as estrelas assim agrupadas de A Arca da Aliança, naturalmente inspirados por uma leitura libriana (Libra, o signo dos acordos e da paz), já que ambas as constelação cobrem praticamente todo o signo da Balança. Em hebraico, aliança é berit e designa o relacionamento especial entre Deus e o homem. Este pacto remonta ao acordo feito entre Deus e Abraão e renovada no monte Sinai por Moisés. É por essa razão que os israelitas são conhecidos como os “filhos da Aliança”, obrigando-se a cumprir os mandamentos da Torá divina. A Arca é um símbolo dessa aliança. É de madeira, revestida de ouro, guardada no deserto e depois no templo, em Jerusalém. No interior da Arca ficavam as tábuas do decálogo.


ARCA   DA   ALIANÇA  ( JUAN  MONTERO  ROJAS )


PRAJPATI
Os hindus, por sua vez, associaram Corvus a Virgo, Libra e Bootes para formar nos céus uma figura a que deram o nome de Prajapati, distribuindo as partes do seu corpo entre as principais estrelas das mencionadas constelações. Prajpati quer dizer Senhor das Criaturas. Nos Vedas, o nome é aplicado a várias divindades, Indra, Savitri, Soma etc. A designação se fixa depois na figura de Brahma, a primeira pessoa (aspecto criador) da trimurti do Hinduísmo. 

De um modo geral, a visão que os mitos têm do corvo na tradição ocidental é negativa, uma ave agourenta que anuncia infelicidade,
ALQUIMIA
doenças, corrupção e morte. Na Alquimia simbólica, a nigredo, a primeira fase da Opus, é chamada de corvus, fase que dá início a um caminho evolutivo, a uma busca de transcendência, quando pensamos naquele que nela se inicia. A nigredo corresponde à fase das trevas e da putrefação pela qual é preciso passar, seja na Opus considerada materialmente ou psicologicamente, antes de se atingir a albedo, a segunda fase, que é do branco, para se passar à terceira, citrinitas, do amarelo, e chegar finalmente à quarta, a rubedo, do vermelho. Estas quatro fases representam simbolicamente as quatro etapas do caminho solar, da escuridão à luz plena, da meia-noite ao meio-dia. Este simbolismo, como fica fácil constatar, tanto pode ser aproximado da busca que o homem pode fazer em termos psíquicos como espirituais.  

    
NASCIMENTO   DE   ASCLÉPIO

Uma associação que não se pode deixar de fazer aqui é a relação entre Asclépio, deus médico (veja a constelação de Ophiucus), o corvo e o princípio da cura a partir da cor negra. A medicina do deus, praticada no santuário de Epidauro, a metanoia, associava a escuridão, o negro (a nigredo, a primeira das quatro fases da Alquimia) à vida inconsciente, como o ponto de partida para o renascimento, para a busca de formas evolutivas de vida. 



A constelação do Corvo estende-se de 5º a 15º Libra. Segundo Ptolomeu, sua influência é da natureza de Marte e de Saturno, proporcionando inveja, ingenuidade, maledicência, passionalidade, egoísmo, paciência, e, sobretudo, tendência a envolvimento com assuntos “sujos” e agressividade. Suas principais estrelas são Al Chiba, Gienah e Algorab. Nenhuma delas mereceu atenção sob o ponto de vista astrológico. 



BAUDELAIRE  ( GUSTAVE  COURBET )
É se se lembrar, contudo, que em alguns temas astrológicos de escritores ligados ao simbolismo do corvo, temas como o do próprio Poe, de Fernando Pessoa (tradutor do poema para o português) e de Baudelaire (editor de Poe na França), a constelação aparece de  de modo ascendente ou culminante.
   




CRATER – Como se disse, Corvus, Crater e Hydra, antes unidas, formando uma só constelação, foram separadas. Crater ou a Taça, como símbolo, representa em inúmeras tradições o modelo de recipientes sagrados, vasos, jarras, caldeirões etc., mencionados nos mitos e nas religiões. Neste sentido, é um símbolo feminino já que implica ideias de conter, receber, guardar. Associa-se assim a centros vitais, a temas que lembram vitalidade, fertilidade, crescimento. Tem o símbolo, sob o ponto de vista físico, muita relação com cerimônias para combater a seca, a desertificação, a preparação de sementeiras. Num outro sentido, mais amplo, fala do recebimento de influências celestes. Além do mais, ao lembrar recipientes que contêm (arcas, sarcófagos, urnas etc.) adquire ele um significado maternal, terrestre. 


CRATERA   GREGA
Cratera é uma espécie de jarro, semelhante a uma ânfora, usada pelos gregos para levar vinho e água à mesa. Várias lendas fizeram de uma taça a que se deu o nome de graal, na literatura medieval europeia, o símbolo de um tesouro a ser conquistado. A sua posse conferia plenitude, abundância, iluminação, espiritualidade. É uma espécie de talismã maravilhoso que, por seu simbolismo, se aproxima da cornucópia. A busca do graal (Santo Graal) é, no fundo uma aventura espiritual, que exige, antes de conquistas externas, vitórias interiores, pedindo transformações radicais de coração e espírito. 

Na mitologia de egípcios e babilônicos, esta constelação estava ligada a ideias de crescimento, de desenvolvimento. Antigos textos
ISHTAR
egípcios nos falam que quando a constelação de Crater aparecia de modo bem visível nos céus a cheia do Nilo atingia a sua maior altura. Os babilônicos davam à deusa Ishtar o poder sobre Crater. Esta deusa, como sabemos, é um dos modelos da Afrodite grega, cabendo-lhe a distribuição do princípio da fertilidade, da fermentação, sobre os reinos vegetal, animal e humano. Esta fermentação tem dois momentos, um ligado primeiramente à decomposição, à perda da forma, à ação da umidade, e outro relacionado com o aparecimento de formas novas. Estes conceitos estão na Alquimia e nos falam de transmutação, de transformação. 

PITONISA  COM  GOBELET
Para os gregos, a constelação da Taça tanto era o recipiente que Icário usou quando foi instruído por Dioniso na arte de fabricar o vinho (veja a constelação de Bootes) como podia ser o gobelet do deus Apolo, usado na sua mântica profética. O primitivo nome deste recipiente no culto apolíneo era kantaros. Passou a ser chamado de krater, latinizado o nome por Cícero como Cratera. Astrólogos latinos chamavam também a constelação de Gratus Iaccho Crater, Urna, Calix, Scyphus ou Poculum 

SANTO   GRAAL
( GABRIEL   ROSSETTI )
Entre os celtas Crater era o caldeirão do deus Bran, divindade infernal. Na Idade Média cristã, Crater toma a forma do Santo Graal, cujo modelo parece ser uma síntese de três tipos de caldeirão que aparecem como atributos de deuses celtas (abundância, ressurreição e sacrifício). Entre os árabes, Crater chamou-se primitivamente, segundo a Astronomia do deserto, de Al Malaf, A Tenda. Depois, por influência dos gregos, recebeu o nome de Al Batiyah, uma espécie de taça para vinhos. Na Índia, esta constelação era chamada de Chashaka Soma, ou seja, a taça que o deus Soma usava para distribuir o precioso néctar. Outras divindades também usavam a referida taça, deuses como Kubera, Kusmmanda Durga, Varuni. Para o homem comum, chashaka era simplesmente a taça que ele usava para para consumir vinho, tendo, nesta função, relação com rituais tântricos. A bebida dos deuses na Índia, conforme está nos Vedas e noutros textos, chamava-se soma. Entre os persas, era haoma. Ela produzia a embriaguez sagrada que levava à imortalidade. Equivalia à ambrósia dos gregos, todas com função enteógena. A religião védica elevou soma, uma bebida, à categoria de divindade. Na mitologia purânica, é dado o nome de Soma à Lua. Lembremos que na Astrologia hindu (Jyotish) é a posição e a força da Lua (chamada de Chandra ou de Soma) na carta natal que determina o quanto uma pessoa receberá do seu néctar. O bem estar-estar dessa uma pessoa dependerá da situação da Lua em seu tema.  

EMBRIAGUEZ   DE   NOÉ

Na tradição religiosa ocidental, judaica e cristã, Crater recebe o nome, quanto à primeira, de A Taça de Vinho de Noé e, quanto à outra, de A Copa da Paixão de Cristo. Noé, como sabemos, salvou-se do dilúvio juntamente com sua família numa arca, uma grande embarcação. Terminada a catástrofe, ele desembarcou no monte Ararat. Recomeçando a vida, plantou algumas videiras obtendo delas muito vinho. Provou dele, gostou e se embriagou, sendo repreendido por seus filhos, conforme consta da sua história. A constelação de Crater representa a taça que Noé usou para se embriagar.


CRISTO   NA   CRUZ
( ANÔNIMO , XVII )
Já a versão cristã, aproxima a constelação de Crater da história de José de Arimateia, um discípulo de Cristo que, após a crucificação, pediu a Pilatos o seu corpo e o colocou num novo sepulcro. Nada se sabe da vida deste homem além do que consta nos Evangelhos. No século IV, começaram a aparecer várias lendas a seu respeito que não chegaram a ganhar corpo. No século XIII, entretanto, o tema foi retomado com muita intensidade. A história que se espalhou pela Europa cristã a esse tempo conta que José de Arimateia teria colhido o sangue de um ferimento de Cristo antes de ser ele enterrado, valendo-se para tanto uma copa usada na última ceia. Consta que Arimateia teria vindo para a Bretanha com o precioso recipiente, que se perdeu, depois de muitas aventuras em que se metera e de sua prisão. 

Nesta história, a copa (Crater) toma o nome de graal,  do latim gradalis, passando para a langue d´oïl  e a langue d´oc como griau, gruau etc., sempre com o sentido de um recipiente de larga abertura. O graal, como vaso maravilhoso, alimentava o corpo, a alma e o espírito. Para a alma medieval, atormentada pelo problema do Mal, o graal era um sinal de esperança, de acesso a um tipo de vida superior, da irrupção do divino no âmbito do humano. Reunindo contribuições orientais, célticas e cristãs, o tema do graal corresponde também a um anseio que tomou conta do mundo medieval, fixado em muitas histórias e lendas: a busca de talismãs que dariam a quem os encontrasse poderes sobre-humanos, muito comuns na Astrologia da antiguidade, chamados pelos latinos de sigila planetarum.



 A constelação de Crater estende-se de 13º de Virgem a 3º de Libra, tendo suas estrelas influências da natureza de Vênus e, em menor grau, de Mercúrio, segundo Ptolomeu. As propostas são de generosidade, natureza hospitaleira, receptividade, habilidade mental com alguma apreensão e indecisão. Reversões,  tendências negativas podem ser esperadas, acontecimentos imprevisíveis. A única estrela  desta constelação registrada pela Astrologia é Alkes (alfa), 23º Virgo, de pouca expressão devido à sua magnitude (abaixo da terceira). Alkes é nome que vem do grego, com o sentido de vigor, força ou poder que se opõe a alguma coisa, sugerindo ideia  de proteção, socorro e defesa. Os latinos a chamaram de Fundus Vasis devido à sua posição na base da constelação. Em alguma tradições, no lugar de Alkes, aparece o nome de Labrum,  também chamada de Santo Graal, palavra latina usada para designar vasos (em terra, pedra ou metal), de larga abertura, podendo servir inclusive de bacia para banho. Idealismo, favorecimento, poderes psíquicos, purificação e salvação estão entre as influências proporcionadas. Espiritualidade, misticismo e natureza profética podem eventualmente aparecer como influências.

Alkes marca no signo de Virgem um ponto onde podem se tornar mais claras, evidentes, principalmente se no grau indicado tivermos algum planeta ou a cúspide de alguma casa, tendências evolutivas ou involutivas para o ego que nasceu teoricamente em Leão (5ª casa). No caso das primeiras, temos a preparação para o acesso a Libra (3º quadrante, o do social). Estas tendências, positivas, de natureza espiritualizante, levarão a Sagitário (3º nível do elemento fogo) e deste para o 4º quadrante, o do coletivo, da humanidade. Negativamente, podemos a partir deste ponto ter a fixação do ego que nasceu nas tendências leoninas negativas (poder, glória, orgulho, prepotência etc.) ou a sua regressão a formas instintivas. 


Temas como os do Papa João Paulo II, de Van Gogh e de Gandhi podem ser utilizados para estudo do que aqui acabamos de apresentar.