quarta-feira, 9 de julho de 2014

HÉRCULES - DÉCIMO SEGUNDO TRABALHO


BOIS   DE   GERIÃO

OS BOIS DE GERIÃO - Como último trabalho, Hércules havia recebido a incumbência de libertar os bois vermelhos aprisionados
GERIÃO
por Gerião, o gigante de três corpos e de seis braços. O gado estava na ilha Eritia que ficava nos confins do Ocidente, no reino do deus Oceano, além do jardim das Hespérides, as ninfas do poente. Os animais avermelhados eram guardados por um pastor chamado Eurítion e pelo seu monstruoso cão Ortro, filho de Tifon e de Équidna. Gerião governava a ilha. O rebanho deveria ser trazido por Hércules para Micenas.



ORTRO

Antes de partir, Hércules fez oferendas ao deus Hélio, o deus solar, pondo-se depois a caminho da ilha que, sabia, ficava muito além, nas brumas do Ocidente. Havia partido sem ter resolvido um dos grandes problemas, talvez o maior, que enfrentaria: como trazer de volta os animais, como transportá-los?  Ao atravessar o grande deserto líbio, entrou em luta contra vários monstros e assaltantes que infestavam a região. O Sol abrasava, causticante. Lembrou-se então de pedir por empréstimo ao deus Hélio a sua grande barca, a chamada Taça do Sol, gigantesca, que o astro-rei usava todas as noites para mergulhar no oceano ao retornar ao seu palácio no Oriente. Hélio negou-se a atendê-lo. Hércules então ameaçou vará-lo com as suas infalíveis flechas apolíneas. O deus resolveu então lhe ceder a grande Taça.


HÉLIO

O tema da Barca Solar traz a ideia da vida como viagem, uma travessia cheia de perigos, uma viagem que diariamente se renova. Fonte de luz, o Sol é aqui esperança de  renascimento para um outro tipo de vida, já que ele, ao fim de cada dia, toma a sua Barca para atravessar o reino das trevas, reaparecendo a cada manhã, vitoriosamente. Assim como ele, os que entram na sua Barca também retornarão da viagem que a cada noite terão que fazer.

O trabalho, mencione-se logo, refere-se ao signo de Peixes, o fim do inverno. Iconograficamente, o peixe em todas as culturas do mundo indo-europeu é um emblema da salvação. Por viver nas profundezas do elemento líquido, tem relação com as forças sagradas do abismo, portanto, com a vida inconsciente.  A cultura hinduísta, por exemplo, usará o peixe (matsya) como símbolo do primeiro avatar do deus Vishnu, a segunda pessoa da sua trindade, para designar aquele que salva do dilúvio Manu, o homem mítico, o legislador do ciclo atual.  No Cristianismo, o peixe (ichtus) adquire o 
VISHNU   E   MANU
mesmo sentido, o da salvação. O pastor é a imagem simbólica do guardião que protege dos agressores. A imagem nos vem dos povos nômades, pastores. David, que defendia os rebanhos contra os leões e os ursos, entre os judeus, é um exemplo. Jesus será chamado por isso de o Bom Pastor, imagem muito difundida nos meios cristãos. Na mitologia grega, lembremos, um dos nomes do deus Hermes era Crióforo, o pastor que carregava nos ombros o animal tresmalhado, uma imagem de solicitude com relação aos que se perdem na vida. Nesse sentido, era a divindade protetora dos pastores nômades do mundo indo-europeu. 



HERMES   CRIÓFORO

O simbolismo do pastor põe em evidência características de sabedoria intuitiva e experimental, de proteção ligada a um conhecimento. Além disso, nos fala sempre de uma função que para o seu exercício requer constante atitude vigilante. Por outro lado, o pastor é sempre um nômade, um desenraizado, sempre alguém que está de passagem, como a alma que um dia tem de abandonar o corpo físico para continuar a sua viagem num outro plano.

Preso ao Mediterrâneo com a enorme Taça, Hércules tem outra ideia engenhosa. Criar uma passagem deste mar para o grande oceano. Com a Taça do Sol força a passagem, abrindo um estreito, de 15 km. de largura e de 350 m. de profundidade, separando assim os dois continentes e levantando em cada uma das margens, da europeia e da africana, duas enormes colunas para celebrar essa separação. Essas colunas receberam o nome de Colunas de Hércules; a "coluna europeia" é hoje constituída de Gilbraltar, Algesira e Tarifa; a "africana", de Ceuta e Tânger.




Entrando no grande oceano, nosso herói chega à ilha Eritia, a ilha vermelha, enfrentando logo o monstruoso cão, morto a golpes de clava. O pastor Eurítion aproximou-se de Hércules, que logo se preparou para também lutar contra ele. Mas não houve luta, o pastor era inofensivo, Hércules acabou concedendo-lhe a graça da vida. Aproximando-se da manada, Hércules viu surgir diante si, colérico, em meio a uma grande nuvem de poeira, entre urros e berros, a figura monstruosa de Gerião.

Gerião quer dizer fazer ruídos com a voz, fazer ressoar, estertorar (estertor é a respiração dos moribundos, respiração agônica, como o estourar de bolhas). Uma outra etimologia admitida para Gerião nos diz que o nome se aproxima mais de palavras como canto e discurso ao invés de ruidoso ou barulhento. O gigante é, em geral, representado não só com três cabeças como com três corpos, além de dois pares de pernas, e, em algumas versões, com asas.  


PERSEU   COM   A   CABEÇA   DA   MEDUSA

Era filho de Crisaor (filho de Poseidon e da Medusa), a "espada de ouro", nascido do pescoço ensanguentado da Górgona quando decapitada por Perseu. Desde seu nascimento, tinha em suas mãos uma espada de ouro. No momento em que a nuvem de poeira baixou em torno de Gerião, Hércules conseguiu com uma de suas flechas apolíneas, disparada com grande violência e como que orientada por mão divina, atravessar os três corpos do gigante, prostrando-o ferido de morte, inapelavelmente.

O trabalho prosseguiu: Hércules tentava, com grande esforço, juntar os animais, extremamente indisciplinados. Aos poucos, com muita paciência, empurrou-os para dentro da Barca Solar. Partiu, então, em direção do continente. Fez o caminho de volta pelo norte,
RUINA  DAS  TORRES   DE   HÉRCULES
entrando pelo noroeste do que é a Espanha de hoje, pela Galícia, onde até hoje, segundo a tradição local, perto de la Coruña existem, como lembrança dessa passagem, ruínas de duas torres, conhecidas deste tempos imemoriais como as "torres de Hércules". Com o seu "gado vermelho", Hércules entrou pela Gália, descendo pela Itália. Além de tentar recuperar muitos animais que fugiam e se extraviavam constantemente, um trabalho insano, Hércules teve que travar muitas lutas para protegê-los não só de ladrões como de falsos pastores que tentavam atraí-los de várias maneiras. Na Ligúria, perto da futura Gênova, lutou contra dois gigantescos filhos do deus Poseidon, que tentaram, em nome do pai, se apossar do rebanho. No Lácio, perto da futura Roma, mais lutas. Recebido pelo rei Evandro, seguiu depois em direção do sul. Muitos animais fugiram, entrando nas águas, dispersando-se em direção da Sicília. Hércules os trouxe de volta, matando o rei da ilha, que deles se apossara. O nome Itália, lembremos, tem origem neste trabalho de Hércules. Em Latim, uitulus é vitelo, bezerro. De uitulus, uitela, portanto, saiu Itália.




  
Depois de muitos esforços, recuperando os animais que se extraviavam, perdendo alguns, o restante do rebanho, ainda assim muito numeroso, foi atacado por moscardos gigantescos, enviados pela deusa Hera. Este ataque quase enlouqueceu os animais. Com muita paciência e obstinação Hércules conseguiu recuperar quase todos, inclusive os que haviam se dispersado pelas montanhas da Trácia. Ao final, depois de tão acidentada e penosa viagem, nosso herói deu por terminado o seu último trabalho, entregando os animais a Euristeu em Micenas, que mandou soltá-los nos pastos.

O gado vermelho mencionado neste trabalho é, metaforicamente, a humanidade, a manada, submetida ao monstro de três cabeças, cada uma delas representando os três corpos que aprisionam o homem-massa, a vida instintiva, a vida afetivo-emocional e a vida conduzida pelo mental inferior, fixando-a nos seus desejos inferiores. O vermelho, como sabemos, é a cor do princípio vital, enquanto representa força, a circulação do sangue, a vida instintiva, o impulso vital. O vermelho é a cor das pulsões fundamentais e também das paixões, lembrando a indiferenciação, a vida inconsciente, não reflexiva. Neste sentido, o vermelho tem relação com o mundo infernal, algo devorador, a cor de uma goela chamejante e profunda que indiscriminadamente tudo engole.

        Astrologicamente, como dissemos, estamos no signo de Peixes,
final do inverno, o período que antecede o equinócio de primavera. Tudo o que ainda estava preso a uma forma aqui a perderá. Ideias de liquefação, de dissolução. Tudo é desfeito, a coesão se igualará a zero, fusão com o todo. Retorno ao ilimitado, comunhão, confusão. Dois peixes (matéria e espírito) unidos por um fio, em sentido contrário, um subindo e outro descendo, libertação final. Corta-se aqui o fio para que o corpo deixe de reter a energia. Não mais, então, o corpo como prisão da alma.

Peixes é o último signo do elemento água, associado ao mundo hibernal, onde aparecem os fluxos do degelo que criam o dilúvio purificador, onde tudo é posto em comum, onde as fronteiras são
abolidas. É neste momento que a alma aprisionada faz o seu retorno. Termina o processo iniciado em Câncer (águas ligadas ao nascimento, origem da vida orgânica), que passou pelas águas paradas de Escorpião, lugar de germinações ocultas, de fermentações, de estagnação. Em Peixes, temos as águas em permanente movimento, a imensidão oceânica, a alma se libertando das suas funções terrestres e retornando à sua fonte original, na sua mais perfeita representação, que é a do Brahman dos hindus. 

Enquanto Virgo, signo oposto ao de Peixes, é detalhe, minúcia, particularidade, limite, fronteira, medida certa, este último é o ilimitado, o global, o infinito, o inclassificável, o inapreensível, o inefável, o inconsciente. Duas dimensões: Virgo é a microscopia, a patologia, a relojoaria, a filatelia, a precisão mecânica; Peixes é a telescopia, a astronomia, a nuvem, a imensidão, a galáxia.  Em
MESSIANISMO
Peixes temos, no lugar da ideia de um homem, a de "todos os seres humanos", um oceano comunitário onde não deve haver diferenciação. Peixes engloba por isso o que não é mais, o que está além das fronteiras individuais. No signo, assim, sempre presentes ideias de dilatação, superação, misturas, indistinção, fusão do eu com o não-eu. São do signo os movimentos coletivos de solidariedade, o messianismo, a salvação, o socialismo nas suas diversas formas, o impressionismo na arte. Negativamente, o signo é caos, abulia, anarquia, escândalo, alucinação, droga, visionarismo, escapismo, afinidade com mundos utópicos, perda da identidade, com rendição, em favor do todo.



IMPRESSIONISMO   -   MONET

O planeta de Peixes é Netuno, cujo símbolo é o tridente (trikala, na Índia). Dois deuses na Mitologia grega o usam de modo especial, Poseidon e Hipnos. Nas mãos do primeiro, é indiferenciação, anulação de fronteiras, a indistinção primordial que antecede a criação. É de Peixes que parte a manifestação original, simbolizada, conforme o caso, pela ilha, pelo lotus, pelo carneiro, pelo impulso primaveril, pela montanha etc. Na Índia, quem usa o tridente (trishula) é Shiva, terceira pessoa da trindade hinduísta, o transformador dos mundos e destruidor das aparências. As três pontas do tridente representam o passado, o presente e o futuro ou os três gunas (rajas, tamas e sattva).


POSEIDON   (  NETUNO  )

Quando Hipnos, o deus do sono, irmão gêmeo de Thanatos, deus da morte, toca com o tridente as nossas pálpebras, fechamos os olhos, dormimos; o tempo é abolido, Morfeu, o de mil formas, seu filho, poderá então se manifestar, vindo como Oniro, o sonho enganador, ou Hypar, o sonho premonitório. É em Peixes e com os seus astros regentes (Netuno e Júpiter) que as fronteiras entre o pessoal e o cósmico desaparecem. Os do signo são, por isso, os que menos se pertencem, os que têm mais facilidade para fazer desaparecer o egocentrismo e o individualismo. Daí, os grandes temas piscianos como renúncia, sacrifício, martírio, adaptação extrema, subjetivismo cósmico, plasticidade psicológica excepcional, maleabilidade, receptividade absorvente, sugestionabilidade, vulnerabilidade. Tudo isto pode transformar o pisciano numa caixa indiscriminada de ressonâncias. Ao mesmo tempo, pode ocorrer uma expansão extrema do ser, que levará invariavelmente, os tipos mais malogrados do signo, ao abandono da vontade (não querer ser, não escolher, não decidir), a um deixar-se absorver, ao sacrifício do eu em prol do todo, a êxtases místicos. 

Manias de perseguição podem se apresentar, tendências à fuga, evasão, falta de impulsos energéticos. Em muitos, temos os casos de o menos direcionado dos psiquismos, onde tudo é difuso, oscilante, ficando os tipos mais inferiores sempre sujeitos à mínima vibração ambiental. Nascem neles então, o conformismo, a adaptação, o desejo de serem tratados de modo diferente já que se apresentam como seres muito indefesos. Nos tipos mais passivos, comuns as táticas, o teatro, o papel de vítima que nada faz,  mas que quer ser levada a sério, o irresponsável que pede considerações especiais; arte inconsciente, estratégias infantis, mimetismo, identificação; sensação de vítima sem meios de reação, impotência, resignação. Os mais negativos escolhem suas vítimas, submetem-se a elas, servem-nas, mas as escravizam, nelas criando sentimentos de culpa. Peixes é o signo que mais dificuldades encontra para obter alimento para o seu psiquismo. Por isso, o vampirismo psíquico é uma das grandes marcas do pisciano malogrado.

Os tipos superiores, ao contrário, redimem-se, escolhem, usando as antenas da sua enorme sensibilidade para aliviar males, curar, auxiliar, servir, salvar. Não mais a doença e o sofrimento como refúgio. Agora, um servidor da humanidade. Não mais o complexo de mártir ou de fuga. Transformar o martírio em serviço. Mesmo no pisciano superior, contudo, as características mais positivas estão, muitas vezes, latentes, inibidas, devido à grande pressão do ambiente que o faz captar demais, sentir, desenvolver tendências altamente empáticas. Neste sentido, Peixes é o signo dos embaraços e dos obstáculos. O excesso de água pode impedir que os  traços superiores se manifestem. A saída muitas vezes é feita pelo emocional ou pela imaginação.



As propostas são, pois, as que o décimo segundo trabalho sugere: libertar a alma das pressões dos três corpos, libertar a humanidade do cativeiro, a alma das suas pressões instintivas, afetivo-emocionais e mentais (inferiores). Transmutar o inferior em elevado, a negatividade e impotência em controle; a mediunidade inconsciente em intermediação consciente, a autopiedade e autocomiseração em trabalho aplicado. O dilema pisciano é, em certo sentido, afundar ou nadar. Se nadar, não mais o amor sacrificado, mas o amor oblativo (oblatus, oferecido). "Quem perder a sua vida se salvará! Quem quiser ganhá-la, se perderá!" 

Netuno, o planeta de Peixes, nas suas expressões superiores, é sublime, elevado, relaciona-se com o social, com os salvadores da humanidade, tem a ver com a dinâmica pela qual as obrigações sociais podem ser observadas como resposta a um sentimento obscuro de culpa ou de dever espiritual. Prestar serviços à sociedade, libertá-la, contribuir de algum modo, desenvolver a sensibilidade à injustiça, jogar-se nas utopias com os pés no chão, elevação acima das paixões negativas, ideias de mitigar, de dar alívio, entregar-se a uma causa, proteger, dedicar-se.

É de Peixes a frase: "Feche os olhos e veja!" A riqueza de
SURREALISMO   NO   CINEMA

possibilidades nos do signo pode levar muitas vezes à irresolução, à vida projetada nos sonhos, sempre uma espécie de neblina a envolvê-la, uma neblina que enfraquece os contornos (o Impressionismo e o Simbolismo aparecem como movimentos artísticos quando da descoberta de Netuno em meados do séc. XIX, 1846; são do signo, também, o Surrealismo e o Cinema, a "arte de mentir", que apareceriam mais tarde). 




PÉS   E   PLEXO   SOLAR


Saúde física e psiquismo em Peixes são, mais do que em qualquer outro signo, inseparáveis. Outro aspecto importante: a repercussão que a vida coletiva tem sobre a saúde. É o pisciano o primeiro a captar o sinal das epidemias, hipotéticas ou ainda distantes, o primeiro a estudá-las. Já se observou que o pisciano não é um doente que se escuta, mas um doente que escuta (leitura de publicações médicas, hipocondria, farta documentação etc.). Daí, os diagnósticos difíceis, os erros médicos e de exames laboratoriais, já que há grande tendência de que as causas das doenças estejam sempre em lugares diferentes dos apontados. Mais do que qualquer outro tipo astrológico, são os piscianos os que mais necessitam de médicos generalistas, médicos da família. Grande é a tendência a delírios psicológicos de natureza sensorial. No geral, disfunções glandulares, mucosas, pulmões, problemas alérgicos. A porta de entrada de várias doenças está em muitos casos nos pés. Comuns os inchaços, as varizes, as deformações nos pés. Estudar as relações entre plexo solar (Virgo) e os pés (Peixes). Tudo o que aparece sob o rótulo de veneno, toxina, álcool, droga, de produto sintético ou
artificial é muito prejudicial a Peixes.  Grande vulnerabilidade dos do signo a tipos astrológicos que tenham signos "fortes" e "dinâmicos". Grande afinidade com asilos, creches, prisões, serviços sociais, enfermarias, teatros, cinema, lugares isolados, ilhas, refúgios,  laboratórios. As lágrimas são do signo como líquido do sofrimento. Nos tipos superiores, a lágrima é a água que faz renascer para uma outra vida.

O pisciano superior vai fazer da sua grande capacidade de sentir, da sua piedade natural, da sua compaixão, o impulso básico da sua vida. Transforma assim a ideia de sina, de destino cego, de maldição, a sua hipersensibilidade, num fator positivo. Ele será então capaz de compreender tudo, de perdoar tudo, não mais na base da complacência absurda, mas na perspectiva de que as coisas não mais voltarão a ocorrer. Não mais fazer que não vê, não mais deixar passar, aquela horrível sensação de rendição, de desproteção diante da vida, não mais a simulação da doença. De Sagitário a Peixes, das coxas para baixo até os pés, estes que são os agentes que tudo suportam, resignados, espremidos, apertados, maltratados. Mas são eles, a dor do mundo, que nos põem de pé, verticalmente. É por esta razão que Leonardo da Vinci destacou os pés de Bartolomeu, iluminando-os, o apóstolo que representa o signo, na sua Última Ceia.   


ÚLTIMA   CEIA  -  ESBOÇO  A  CARVÃO  -  ( LEONARDO  DA VINCI )
   
Na galeria dos piscianos, pelo signo solar ou pelo ascendente, encontramos: Schopenhauer, o solitário de Frankfurt, com seu cão Atma; Georges Bernanos (Fico feliz por ter construído tão mal a minha vida...), Gorki, Lenin, Saint Just, Victor Hugo, Chopin (esquizoide, um ferido pela vida); Bach, Oscar Wilde, Flammarion, Rudolf Steiner, Leonardo da Vinci, Galileu, Michelangelo, Einstein, Lautreamond, Montaigne, Petrarca, Ronsard, Edgar Alan Poe, Lindbergh, Leão XIII, Santa Teresa de Lisieux, Renan,   Cesário Verde, Anna Magnani,  Camilo Castelo Branco, Ovídio, Dirk Bogard.

Quando o Sol chega à constelação de Peixes, como se disse, estamos no último mês do inverno, a totalidade criada chega ao fim. Nada mais ficará preso a uma forma. O signo de Peixes se situa no limite entre dois universos, um que está deixando ser e outro que ainda não é.  Por isso, o símbolo do signo, dois peixes nadando em sentido contrário, expressam tão bem esse setor do zodíaco.

É por essa razão que aos nativos do signo é impossível aplicar a lógica do signo oposto (Virgem), a análise, já que vivem mergulhados na sua interioridade, intimamente relacionados com o êxtase e a compaixão. Eis porque o signo acolhe gente como Johan Sebastian Bach, com as suas catedrais musicais, Michelangelo, o pintor do juízo final, e Einstein, com a sua formulação do infinito cósmico diante da finitude terrestre.


JUÍZO   FINAL   -   MICHELANGELO   

 É neste período do ano, fevereiro - março, em que o úmido reina soberano, que temos, com toda a sua evidência, sinais de difusão, de diluição, de fusão das partes na totalidade, de uma imensidão fluida. A água é o elemento em que os mais profundos mistérios da vida se radicam. Nascimento e morte, passado, presente e futuro, tudo se interliga com a água. É por essa razão que os espíritos da água profetizam; para eles, não há fronteiras entre o passado, o presente e o futuro. O tridente de Netuno põe tudo em comum