sábado, 8 de julho de 2017

LEÃO (4)



SISTEMA   SOLAR

Lembremos que Netuno, no século XX, entrou em Leão no mês de junho de 1.916 e nele permaneceu até 1.929. O mundo dos investimentos (ações, financiamentos, hipotecas, commodities, empréstimos para a aquisição de bens suntuários) é leonino e foi construído nesse período com base nas ilusões e nas fantasias netunianas de riqueza e poder, em várias formas de ganhos repentinos (ganância). Netuno em Leão trouxe muito talento musical e artístico, mas, por outro lado, através do cinema (governado por Netuno) criou-se o star system e a chamada Usina de Sonhos, nome pelo qual Hollywood passou a ser conhecida como produtora de expressões artísticas inferiores relacionadas
GRANDE   DEPRESSÃO
com um romantismo exagerado, um idealismo carregado de sentimentalismo, de superficialidade, de fantasias sobre o poder, tudo saturado de extravagâncias, luxo e prazer de gosto profundamente discutível. Na economia, tivemos desastres, implosão, começo daquilo que tomou o nome de a “Grande Depressão” (o crack de 1.929). Quando Netuno transitou por Leão tivemos também o primeiro concurso feminino de beleza em trajes de banho, o rádio se firmou como meio de comunicação ligado à massificação (alienação, divertimento). Durante esse período, denominado pela expressão Roaring Twenties, em cima de descontrolada especulação, se alimentou a fantasia de uma riqueza ilimitada. 

Mais: lembremos que durante da década de 20, Urano transitou por Peixes, de 1.920 a 1.927, e que hoje ele (séc. XXI) voltou a transitar por esse signo (2.003-2011). Netuno entrou em Aquário em 1.999, juntando-se catastroficamente nos céus tendências humanitárias, salvadoras (Netuno) com tecnologia (Urano), ficando o homem desde então aprisionando pelo complexo de Ícaro, tomando o nome de globalização, através da sigla WWW, o sonho da fraternidade universal.


A   QUEDA   DE   ÍCARO  ( P.P. RUBENS , 1636 )

Ícaro era filho de Dédalo, o famoso inventor. Ele e o pai estavam presos no palácio de Minos, em Creta. Dédalo fabricou para o filho um par de asas, que foram  presas aos ombros do jovem com uma cera especial por ele inventada, com a  recomendação de que ele, evadindo-se da prisão, não se aproxime demais do Sol, que procurasse manter uma altura média entre o astro solar e a Terra. Nada lhe aconteceria se observasse o metron recomendado. Apesar de todos os conselhos de prudência, o jovem afoitamente lançou-se nos céus, elevando-se cada vez mais. A cera foi se derretendo, as asas se soltaram. Resultado: queda, catástrofe e morte. 

Ícaro desde então deu nome ás ingênuas aspirações humanas de se atingir a vida espiritual, o Sol, no exemplo, através de meios técnicos. O complexo se configurou: ambição desmedida, exaltação vaidosa e megalomania. Uma dupla perversão, pois, em Ícaro: julgamento errado e coragem idiota. As asas de cera de Ícaro tornaram-se o símbolo da tecnologia moderna. A conclusão se impõe: não é com elas que chegaremos a uma vida espiritualmente orientada. 


A tradição astrológica que incorpora aproximações com o Tarot costuma associar o arcano 11, A Força, ao signo do Leão. Afirma essa tradição, a meu ver erradamente, que a figura da lâmina traduz uma ideia de controle das forças instintivas pelo lado feminino da personalidade masculina, a chamada anima. A vida instintiva domada pelo eu solar. Alguns atribuem este controle a uma sabedoria, representada pelo chapéu que a figura feminina leva sobre a cabeça, a que chamam de lemniscata.

A figura feminina do arcano 11 tem tudo a ver com a das grandes-mães, figuras típicas do mundo matriarcal, poderoso símbolo que, mesmo depois da vitória do mundo patriarcal, continua presente na vida masculina. A figura me lembra mais a ilustração de uma relação mãe-filho em que ela, invadindo o território da quinta casa astrológica (o da conquista de um eu autônomo), continua a exercer a sua função tutelar. A suavidade da figura feminina, sugerindo compreensão e benevolência, é desmentida pelo seu gesto. Ela força o leão a abrir a sua mandíbula. A mandíbula, lembre-se, é o maxilar inferior, o único osso móvel da cabeça, em forma de ferradura e que se articula com o osso temporal de cada lado do crânio. A boca, dos humanos ou dos

animais, é antes a abertura inicial do tubo digestivo. Entretanto, ela é mais que um orifício por onde passa o alimento, ela permite o ato de falar e é por ela que passa também o sopro vital. A boca, sob muitos aspectos, tem também relação com o seio materno. O que a figura evidencia não é a força do ego. Ao contrário, o que ela demonstra claramente é o poder da grande-mãe, das figuras como Cibele, Ishtar, Isis, Durga e outras. 

Quanto ao chapéu, ele é sempre um símbolo de poder, de soberania e também de uma função, de uma posição social ou de uma atividade. O chapéu que está na cabeça da figura feminina em questão faz parte, ao que parece, de indumentárias femininas
LEMNISCUS
europeias do séc.XVII/XVIII. A palavra lemniscata usada como símbolo da sabedoria me parece despropositada. Lemniscus, em latim, é faixa, fita, galão, atadura. A palavra é um cultismo que entrou em circulação a partir do séc.XIX, designando formas feitas com fitas,  arrumadas na forma de um oito. As fitas, como se sabe, participam normalmente do simbolismo dos nós, prendem, atam, submetem de algum modo. 

Lembremos ainda que o número 11 é um símbolo da desmedida, de excessos, de incontinência, de violência, na medida em que aparece depois do 10, que simboliza um ciclo fechado, completo. Santo Agostinho, por exemplo, o associa ao pecado pela razão apontada (excesso), ligando-o ao perigo, ao conflito e à rebelião. Em antigas tradições, era conhecido como a “dúzia do Diabo”. O número aparece na expressão “ser salvo na undécima hora” (eleventh hour, em inglês), uma alusão à parábola de Cristo sobre os trabalhadores que recebiam salário diário mesmo que tivessem sido contratados à última hora do dia de trabalho. 


SANTO   AGOSTINHO ( PHILIPPE  DE  CHAMPAGNE , 1650 )

Às vezes, o número adquire o significado de início de um novo ciclo, uma renovação, como ruptura do número 10. Algumas tradições judaicas falam em daath, a undécima sephirot, a do conhecimento. Analogicamente, o 11 tem a ver com o 2, mas considerada a experiência da trajetória indicada pelos números precedentes. São muito conhecidos os ciclos de atividade magnética do Sol, num período de 11 anos, que dão origem às manchas solares e cuja influência sócio-psicossomática foi comprovada (em 2.006 um novo ciclo começou).    



Muito mais apropriado ver no arcano 18, o Sol, através das duas figuras infantis, a caminhada do ego que acaba de nascer na quinta casa astrológica. Elas indicam um começo, algo ainda “a ser”, como em Áries, mas, agora, já presentes os dois lados a integrar nessa caminhada, o lado masculino e o feminino da personalidade humana. As imagens das duas crianças são diferentes, uma é mais esguia, a outra é um pouco mais cheia de corpo, tem, levemente, formas um pouco mais arredondadas. É verão, elas pisam a terra, lugar da trajetória humana.

As duas figuras devem ser entendidas, evidentemente, em planos que não o biológico. São crianças (no Tarot de Marselha), ainda não totalmente desenvolvidas, espontâneas, sendo o jogo uma das maneiras privilegiadas  destas formas ainda embrionárias se desenvolverem. Há que se vê-las, sobretudo, animicamente, pensando-se numa combinação dos dois princípios que atuam em todos os seres humanos e também segundo o entendimento que o homem e a mulher não são totalmente masculinos ou femininos. Todo símbolo masculino ou feminino participa do seu oposto. Como a figura sugere, em Leão ainda estamos na “infância” do ego. Há um muro atrás das duas crianças. Muros, de um lado, indicam proteção, segurança, defesa, mas podem significar também, de outro, prisão, fechamento. O valor simbólico desse obstáculo deve ficar subordinado à sua altura. Transpô-lo não será difícil, é baixo. A opção de permanecer ou de ultrapassá-lo terá também a ver, conforme entendo, com os dois pequenos pães, um ao lado de cada uma das crianças, produtos das origens, símbolos do mundo familiar, que deverão ser “ingeridos” antes da partida. O pequeno tamanho dos pães indica, numa leitura astrológica, a proporção e de que modo a quarta casa deve participar na caminhada. Sempre, porém, uma ideia de se incorporá-la, fazer dela algo integrado ao ser que vai buscar o seu caminho. 

O número 19 é também um número solar, tendo a ver com o ciclo dos saros, período compreendido entre a repetição dos eclipses do Sol e da Lua, que totaliza 18 anos, 11 dias e 8 horas. A palavra saros nos veio da Babilônia e lá  queria dizer repetição. Esse ciclo é também conhecido como ciclo metônico. Quem deu nome a ele foi um astrônomo ateniense, Meton (séc.V aC). Ele, certamente com base em informações recebidas dos babilônicos, inventou uma regra de sete intercalações de um mês em dezenove anos no calendário lunar. Esse ciclo tem por base o fato de que dezenove anos lunares, aos quais são acrescidos sete meses, correspondem a dezenove anos solares. Na prática, astrológica isto quer dizer: registrar os contactos das Luas novas a cada mês no mapa, tendo em vista que cada contacto se repetirá dezenove anos mais tarde. Estas Luas novas medirão as oportunidades para se empreender algo de novo no que diz respeito ao ponto que no mapa é tocado. Cada empreendimento deverá se relacionar com o contacto similar dezenove anos antes e será condicionado pelo que nesse período se tenha realizado. Esses contactos de eclipse poderão se constituir em momentos particularmente importantes no ciclo geral da Lua nova com relação ao mapa natal.  



A constelação do Leão estende-se hoje entre 12º de Leão e 22º de Virgem. Ptolomeu atribuiu às duas estrelas da cabeça influências como as de Saturno e Marte, esta parcial. As três estrelas do pescoço atuam como Saturno, com discreta participação de Mercúrio. As que estão no lombo lembram influências de Saturno e Vênus. As das coxas atuam como Vênus e, menos, como Mercúrio. 


CONSTELAÇÃO   DE   LEÃO

A estrela alfa de Leão é Regulus, de 1ª magnitude, hoje a 29º08´, conhecida como Cor Leonis, atuando como Marte e Júpiter. Esta estrela, como já foi dito, era uma das quatro estrelas reais dos
AHRIMAN
persas. Eles a consideravam como a “guardiã do Norte”, ligada ao todo-poderoso rei mítico Feridum. 


A história deste rei merece que nos detenhamos nela um pouco mais porque ela é arquetípica. Na eterna luta entre o Bem (Ahura Mazda) e o Mal (Ahriman), este último conseguiu se apoderar, através da magia, da personalidade de Zohak, príncipe do deserto, que, com isso, obteve muitas vitórias. Uma noite, Zohak teve um sonho: um jovem príncipe o derrotava. Interpretado o acontecimento pelos sábios, Zohak ficou sabendo que esse futuro príncipe de nome Feridum, acabara de nascer e que herdaria o seu trono. Zohak mandou então assassinar todas as crianças recém-nascidas do seu reino. 


AHURA   MAZDA

A mãe de Feridum, uma jovem e sábia mulher, conseguiu contudo salvá-lo. Ela o confiou a um jardineiro que cuidava de um terreno ajardinado onde vivia uma vaca maravilhosa, que alimentou a criança. Jovem, Feridum foi levado.as escondidas, pela mãe, às montanhas do Hindustão, onde passou a viver sob a tutela de piedoso mestre. Tornando-se adulto, Feridum soube pela mãe dos desmandos e crimes do rei Zohak. Depois de muitas peripécias, inclusive participação de seres angelicais, Feridum acabou vencendo Zohak, ajudado por um pequeno grupo de descontentes. Instalando-se no poder, Faridum reinou por muito e muitos anos, sempre proporcionando muita felicidade aos seus súditos. Morrendo muito velho, deixou, forçado, a coroa para seus descendentes, que disputarão desastradamente entre si o reino.

Desde de tempos muito remotos, Regulus sempre apareceu associada a sucesso em posições de mando, honras militares, altos postos em comando, podendo, contundo, atrair agressões e complôs. Regulus, em latim, é diminutivo de Rex, rei, isto é, rei ainda criança ou muito jovem. Às vezes, a palavra toma o sentido de chefe de pouca importância (reinos da África), mas de temperamento tirânico. Em Ptolomeu, Regulus é o equivalente de
CLAUDE   DEBUSSY
( H. DE GROUX, 1909 )
Basilikos


Na Índia, a estrela tem o nome de Magha, a Poderosa, dona da 8ª mansão lunar. Entre os árabes é Malikiy. Entre os romanos, é Basilica Stela. No ascendente a estrela reveste a personalidade de realeza, empurra para o sucesso, para o brilho, mas pode trazer problemas, uma grande (hiper)sensibilidade quando esta realeza não é reverenciada, reconhecida. Um mapa para estudo de Regulus é, por exemplo, o do compositor francês Claude Debussy.

A estrela beta de Leão é Denebola, situada na cauda da figura celeste, hoje a 20º 55´ de Virgem. O nome vem do árabe, Dhanab al Asad. Costuma ser chamada de Deneb. Para Ptolomeu, apresenta características de Saturno e Vênus. Esta estrela tem um forte componente aquariano, podendo levar a pessoa a viver fora dos padrões sociais, afrontando-os, um traço não conformista. Pode colocar por isso a pessoa adiante do seu tempo. 

A estrela gama de Leão é Algeiba, “escondida” na juba, não usada astrologicamente. A estrela delta é Zosma (a cinta ou a cintura, em grego), perto do cauda, hoje a 10º 37´ de Virgem. É uma estrela
JOHN   KENNEDY
( E. DE KOONING, 1963 )
potencialmente perigosa, podendo, conforme o caso, tornar a pessoa vítima de alguma coisa, algo injusto, mas de caráter inexorável, muitas vezes. Na casa em que está, indica possibilidade de abuso, de algum ataque, de alguma violência. Segundo a tradição mitológica, Zosma foi o ponto do corpo do Leão de Nemeia atacado por Hércules. O mapa do presidente americano John F. Kennedy é um bom exemplo para o estudo de Zosma.  

Uma curiosidade que se liga à constelação do Leão é uma chuva de meteoros, denominados Leônidas, que ocorre a cada ano, entre 9 e 17 de novembro, proveniente da região da cabeça da figura. Tal fenômeno se verifica de modo particularmente espetacular a cada 33 anos, tendo ocorrido o último no ano de 1.999. Há notícias dos Leônidas desde a antiguidade. 


LEÔNIDAS