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SAGITÁRIO ,
TEXTO DE CÍCERO ARATUS , SÉCULO XI |
Dentro do capítulo da
cinegética (do grego kinegetikê, arte
de caçar com a ajuda de cães), temos que citar obrigatoriamente a história de
Acteon na medida em que ela ilustra um dos principais problemas de alguns tipos
sagitarianos que não sabem escolher a sua “caça”. Desta categoria fazem parte
principalmente os tipos extrovertidos do signo, muito tentados pelas aventuras,
de temperamento nômade, atlético ou explorador, sempre em busca de novos
horizontes. Esta falta de discernimento
pode ser atribuída certamente à ausência de um mental superior, nunca
trabalhado, que os orientasse nas “caçadas”.
Do seu entusiasmo não faz parte o
conhecimento, a cultura nem qualquer ideal de sabedoria.
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ACTEON , ÁRTEMIS E NINFAS ( HENDRICK VAN BALEN , 1575 - 1636 |
Filho de Aristeu,
apaixonado pela cinegética, Acteon foi educado por Kiron, mas, como a sua
história nos deixa patente, não aproveitou ele as lições do Centauro-mestre. De
temperamento inquieto, ávido de sensações, muito curioso, a história nos conta
que durante uma caçada
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ÁRTEMIS |
noturna ele teve a sua atenção despertada por ruídos que
vinham de uma fonte próxima, chamada Parthenios. Atraído pelo forte esplendor
luminoso que se irradiava do local, logo entendeu que era uma divindade, a
deusa Ártemis, que ali se banhava. Aproximou-se mais, tentando surpreendê-la,
ver de perto o corpo da deusa. Irritada pela insolência do jovem caçador,
Ártemis não o perdoou. Jogando-lhe água no rosto, transformou-o num veado,
excitando e enfurecendo contra ele os cães que o acompanhavam. Os animais o
destroçaram rapidamente.
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MORTE DE ACTEON ( PALÁCIO REAL DE CASERTA , ITÁLIA ) |
Acteon, nos diz o
mito, embora hábil caçador, cultivava a arte venatória de modo muito
indiscriminado. Lançava suas setas na direção de alvos mal selecionados,
descuidado quanto às suas escolhas, fazendo da vida um jogo oportunista, que o
levava sempre a mais uma aventura. Despreocupado e inconsequente, preso à
exploração de sua natureza sensual, desviava-se do caminho das buscas
superiores. O fogo lhe dava o desejo e também o exagero na sua auto-expressão.
Cheio de hybris, confundindo limites, invadiu o campo do sagrado para a
satisfação do seu lado animal.
O tema da hybris, a desmedida, a falta de limites
como transgressão, liga-se especialmente, como se sabe, aos elementos fogo e
ar. O mito de Acteon bem ilustra, sagitarianamente o pecado do jovem caçador
contra a
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JAMES STEWART ( A JANELA INDISCRETA,
FILME DE ALFRED HITCHCOCK , 1954 ) |
cinegética. Esta história, à luz da astrologia, nos põe também diante
do primeiro voyeur da mitologia, diante de
um personagem que dá revestimento ao arquétipo do voyeurisme, prática através da qual um espectador é atiçado por uma
curiosidade mórbida. Voyeur é a
pessoa que procura ver, para a sua satisfação e sem ser visto, cenas íntimas ou
eróticas. Acteon é um exemplo clássico da pessoa que é tomada pela chamada
pulsão escópica, a que têm por finalidade “olhar” ou “se mostrar”
(exibicionismo).
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PÃ E CROTOS |
Um mito grego que na
antiguidade foi associado também ao signo de Sagitário é o de Crotos, um filho
do deus Pã e de Eufeme, a famosa ama das Musas. Ele era muito parecido com o
pai e habitava o monte Helicon, em companhia das filhas de Mnemósina. Era
excelente caçador, rápido na perseguição das presas e também muito versado em
artes. Sua vida era tão feliz que para agradar as suas companheiras,
recompensando-as pelo que delas recebia, inventou o aplauso (bater palmas em
sinal de aprovação) como manifestação de apoio, louvor e elogio. Quando Crotos
morreu, as Musas pediram a Zeus que ele fosse colocado nos céus como uma
constelação, revestido de suas principais características: uma figura que
lembrasse um sátiro a cavalgar, a caçar, sempre pronto a disparar as suas
flechas. Numa outra versão, Crotus teria formado a constelação do Centauro (2º
Libra-28º Escorpião) e não a de Sagitário. Os gregos têm ainda uma outra versão
para a origem de Sagitário, uma versão bastante “pobre”, aliás, já que um dos nomes gregos do signo,
Touzeutes, seria uma homenagem a uma planta que ao brotar suas folhas tomam a
forma de flechas.
Ainda que possamos
descrever uma tipologia sagitariana mais ou menos variada, não devemos esquecer
que há um traço no temperamento de todos os do signo que os une, uma
necessidade de ultrapassagem de certos limites, uma ideia permanente de
expansão. Esta ultrapassagem pode ser encontrada tanto nos tipos extrovertidos
ou introvertidos, prevaleça neles o lado animal, humano ou espiritual. Há
sempre um além para qualquer sagitariano, a expectativa de que algo poderá
acontecer ou ser obtido mais adiante. Podemos falar que com Sagitário há sempre
um eu em constante expansão, uma aspiração de superação de limites.
Não é por outra
razão, por exemplo, que faz parte da vida de muitos sagitarianos o vício do
jogo, tido muitas vezes como um transtorno psicológico de natureza compulsiva
que os
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DOSTOIEVSKI, 1968
( ILYA GLAZUNOV ) |
leva a jogar e a apostar, algo que os domina de tal modo que ficam
deixados de lado todos os seus deveres e obrigações sociais, profissionais,
familiares e materiais. Um exemplo que bem ilustra o que aqui se expõe é o caso
de Dostoievski, que, em 1866, publicou uma novela autobiográfica, O Jogador, na qual nos revela as
dificuldades de um jogador patológico com relação às dívidas que contraía.
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TOULOUSE- LAUTREC |
Também não é por
acaso que na vida de muitos sagitarianos encontramos referências a cavalos.
Dentre dois casos notáveis podemos mencionar o de Toulouse-Lautrec (Sol,
Júpiter e Mercúrio em Sagitário), que devido a dois acidentes, em anos
sucessivos, na adolescência, quebrou o fêmur (região sagitariana no corpo) de
ambas as pernas. Os traumatismos, operações mal feitas e doença óssea congênita
fizeram dele quase um anão. Além de grande pintor e desenhista, foi artista
gráfico excepcional, deixando-nos uma obra publicitária famosa, na qual se
incluem cartazes sobre as corridas de cavalos no Jockey Club de Paris. Esta
grande ligação com cavalos, aliás, era algo que lhe vinha da adolescência, uma
paixão, diga-se, que o fazia, ainda bem jovem, cobrir folhas e folhas de vários
cadernos de estudo com desenhos desses animais galopando, saltando ou sendo
atrelados.
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NIETZSCHE |
Quando Nietzsche nos
fala do super-homem, não há como se deixar de notar, a alimentar todas as suas
formulações sobre este importante tópico de sua filosofia, aquilo que
encontramos nos traços escórpio-sagitarianos de sua personalidade. Nietzsche
encarna de modo exemplar, com essa combinação, o sagitariano revoltado e
crítico com relação ao meio em que vive. Ao propor a libertação das rotinas e
das tradições, aponta para horizontes em que o homem poderia se abrir para
valores morais e espirituais mais elevados. Diz ele: Ir para além do homem é ir para além da forma homem pregada pelos
humanismos que existem por aí, ultrapassar as ideias fechadas, os conceitos que
mais parecem prisões. O que pode o homem? Mais nada, o melhor a fazer é
ultrapassá-lo.
Uma das mais interessantes abordagens da
relação Nietzsche-Sagitário-cavalo foi, sem dúvida, a de um dos maiores nomes do
cinema contemporâneo, o húngaro Bela Tarr, com o seu intrigante filme O Cavalo de Turim (2011), no qual temos,
presentes, além de outras implicações, o tema do “eterno retorno”, como o
filósofo o desenvolveu em sua obra. Num trecho de A Gaia Ciência encontramos essa ideia explicitada: Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás
de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nada de novo,
cada dor e cada prazer e cada pensamento e cada suspiro e tudo o que há de
indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar; e tudo na
mesma ordem e sequência – e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna
ampulheta da existência será sempre virada outra vez e tu com ela, poeirinha da
poeira. Este tema é apresentado e enfatizado no filme pela rotina diária do
camponês, de sua filha e do cavalo.
Outro tema, que o primeiro acima referido deixa subentendido, é o do
esforço da moral nietzscheana para que o homem possa sair do seu pessimismo
mais profundo, indo além dele. Uma saída que deve se dar pelo reconhecimento de
todas as suas experiências negativas, as “infelicidades” que a vida pode lhe
reservar, e fazer com o seu desespero
mais profundo a esperança mais invencível.
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O CAVALO DE TURIM
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No que diz respeito a
Nietzsche, o filme trabalha com um episódio da vida do filósofo nele não
apresentado, mas conhecido por depoimentos de pessoas que o presenciaram, por
elas narrado. Tudo, ao que consta, se passou em 3 de janeiro de 1899.
Nietzsche, então vivendo na Itália, em Turim, saindo de casa, presenciou na
rua o espancamento de um cavalo velho e miserável que se recusava a puxar uma
pequena carroça. Um camponês, tão envelhecido e alquebrado como o cavalo, o
chicoteava furiosamente. Nietzsche se colocou entre o velho e a carroça, de
modo a impedir que a brutalidade continuasse, recebendo no seu próprio corpo as
chicotadas. Perdendo os sentidos, foi levado para casa. A partir desse
acontecimento, conforme registra a história do filósofo, Nietzsche nunca mais
falou nem recobrou a razão. Morreu dez anos depois, a 25 de agosto de 1900,
atendido principalmente pela irmã que sempre procurou associar os seus textos à
doutrina nazista.
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CRIME E CASTIGO |
É de se lembrar
também que alguns anos antes desse acontecimento com Nietzsche, Dostoievski, em
Crime e Castigo, havia feito
Raskolnikov, principal personagem do seu romance, passar por algo semelhante.
Na sua infância, Raskolnikov teria visto uma égua sendo brutalizada por um
bando de bêbados; em prantos, abraçou-se ao pobre animal, tentando protegê-lo.
Leitor e admirador de Dostoievski, teria Nietzsche revivido o doloroso episódio
inconscientemente? Ou mais uma influência sagitariana dentre as inúmeras que
encontramos quando aproximamos Dostoievski e Nietzsche?
A melhor maneira de
se estudar esta questão, além, naturalmente, do que nos oferecem os biógrafos
do filósofo e a história da filosofia é, sem dúvida, a que nos proporciona a
astrologia através das posições e das relações que o planeta Júpiter, regente
do signo, ocupa e estabelece numa carta astrológica. Numa analogia com a
condição humana, podemos descrever a fase jupiteriana na vida de alguém como a
da aprendizagem do controle das pulsões instintivas e das ilusões do ego em
proveito de uma contínua série de aquisições e benefícios diversos voltados
para a humanidade. Se bem posicionado e relacionado, Júpiter sempre significa
uma espécie de enriquecimento vital, que pode, contudo, se revelar muitas vezes
de modo contraditório, tanto como confiança, generosidade, altruísmo e
plenitude, como uma inexplicável rendição às pressões instintivas do lado
animal do signo, do qual fazem parte apetites desmedidos, gourmandise, exageros, totalitarismo, prepotência e ostentação.
A Iátrica, outra arte
ensinada por Kiron, é palavra grega que quer dizer prática médica (med é radical que indica dispensar
cuidados, ocupar-se de). É a arte clínica, onde esta última palavra tem o
significado de inclinar-se o médico sobre o doente, ao lado do leito. A Iátrica
de Kiron procurava fazer com que os seus discípulos fossem os seus próprios
médicos além, é claro, de agirem em função dos outros. A arte da Iátrica que Kiron passava a seus
discípulos tinha por base a klinikê,
técnica médica que o iatra (médico) exercia junto do leito (kline).
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ASCLÉPIO, KIRON, APOLO
( AFRESCO DE POMPEIA ) |
Desde os tempos
míticos, a medicina praticada entre os antigos gregos, como Apolo, Kiron e
Asclépio a representaram e Homero dela nos descreveu alguma coisa, tomou um
sentido bastante concreto. No mundo homérico, os ferimentos eram pensados com
bálsamos e algumas práticas mágicas eram utilizadas. Nesse cenário, não há como
negar, porém, que influências xamânicas faziam parte dos processo de cura.
Embora os estudos acadêmicos sobre a Grécia antiga sempre tenham evitado
aplicar a expressão de Claude Lévi-Strauss, pensée
sauvage, a manifestações terapêuticas como as aqui descritas, quanto ao
mundo que abordavam, não há dúvida que a Grécia antiga, sempre considerada como
a terra da filosofia e mãe da civilização ocidental, era em grande parte
bárbara e foi muito mais oriental e "selvagem” do que se supunha por ter
incorporado às suas tradições muitas influências orientais (anatolykas) e egípcias, de povos que não
falavam línguas helênicas.
A Iátrica ensinada
por Kiron estava muito presente nos templos de Asclépio (asclepieions). Além isso, é preciso considerar que grande parte do
conhecimento médico do mundo mítico foi sempre transmitido dentro dos genos, abertos inclusive para o que vinha do exterior (Egito e Ásia Menor).
Em pouco tempo, grandes centros médicos (muitos rivalizando entre si) se
desenvolveram em Crotona, Cyrene, Rodes, Cnido e, sobretudo, Kós, cuja
influência se estendeu até muito depois do chamado período helenístico da
história grega.
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MAPA DA GRÉCIA ANTIGA
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RUÍNAS DE KÓS |
Oriundo de Kós, a
figura histórica mais conhecida da medicina grega, é Hipócrates, que com a sua
prática difundiu o que o mito registrara com relação às suas divindades
médicas. Hipócrates, por exemplo, nos falou da ciência dos temperamentos a
partir das relações entre os elementos universais (fogo, terra, ar e água) e
das qualidades primitivas e dos humores. Para ele, como para a Iátrica de
Kiron, o ponto de partida das suas doutrinas médicas centrava-se na ideia
apolínea de que a doença provém sempre de um desequilíbrio homem-mundo. Por
isso, sua medicina foi, a um só tempo, biológica, psicológica, geográfica,
histórica e astronômico-astrológica.
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AGONES ( CERÂMICA GREGA ) |
A terceira arte
ensinada por Kiron foi a agonística. Agon,
em grego, para o homem comum na Grécia antiga era concurso, jogos públicos, que
ocupavam grande lugar na vida das cidades gregas. Revestiam.se esses jogos de
um caráter solene, em homenagem a uma divindade, a um herói, a um imperador, a
um morto ilustre. Os concursos podiam ser musicais, poéticos, hípicos,
esportivos, atléticos etc. Literalmente, agon
é luta, como temos em agonia, luta contra a morte
A agonística de Kiron
era a arte pela qual o discípulo aprendia a lutar para superar os obstáculos
que encontrava na vida, sempre presente uma ideia de transcendência. Contudo,
os maiores obstáculos e dificuldades, conforme a agonística de Kiron dava a
entender claramente, não estavam fora, mas, sim, dentro do discípulo, na
situação conflitual do seu psiquismo, no combate que devia travar contra as
suas tendências regressivas, contra os seus monstros interiores. É neste
sentido que a agonística de Kiron procurava fazer com que o discípulo se
identificasse muito mais com as potências do espírito (fogo espiritual,
Sagitário) do que com as potências do mental (fogo racional, Leão) e do físico
(fogo das paixões, Áries), ressaltando que a primeira vitória que o discípulo
tinha que obter era a interior, sobre si mesmo.
A agonística , como
fácil é constatar, punha em circulação muitas ideias que fariam parte da
filosofia grega e que depois se integrariam
no pensamento greco-alexandrino (Hermetismo), em alguns de seus
princípios como os da vibração, da polaridade, do ritmo e do gênero. Na prática
os agones tinham grande importância
na vida pública dos gregos. Esses princípios se revelavam sobretudo pela
oposição mais evidente, a do homem e do mundo. É nesse sentido que toda
doutrina humanista é dualista na medida em que através dela se afirma a
liberdade do homem e a
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AGONES ( AFRESCO GREGO ) |
impossibilidade de se reduzi-la às leis da natureza
(determinismo absoluto), de absorvê-lo nos mecanismos sociais, num
totalitarismo de Estado, por exemplo. Na prática, os agones eram dominados por concursos públicos musicais, hípicos,
atléticos, esportivos de danças, literários, teatrais, poéticos, esportivos
etc. Os mais famosos agones eram,
naturalmente, os pan-helênicos, dos quais participavam as grandes cidades
gregas, tornando-se os artistas e atletas vencedores verdadeiros heróis
nacionais.
A base filosófica da
mântica, outra arte que Kiron ensinava, era a sympatheia: afinidade entre corpos, elementos e humores; relação
corpo e mente, um afetando o outro; solidarização com algo ou alguém,
especialmente com o estado mental de outra pessoa, sem que para isso o
indivíduo se colocasse no lugar do outro; relação entre micro e macroscosmo. O
entendimento do que eram sympatheia
cósmica e dynamis (doutrina das
potências), associadas à teoria dos elementos e às suas qualidades primitivas.
Tudo isto em Kiron e depois na medicina de Asclépio, seu discípulo, tinha
relação com uma arte que mais tarde tomaria o nome de Semiologia (semeion, sinal distintivo) médica, meio
e modo de se examinar um doente, especialmente o de se verificar os sinais e os
sintomas (sintomatologia) apresentados.
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KIRON ( EDESSA, SÉCULO V ) |
A mântica de Kiron
tem grande relação com a filosofia grega pré-socrática na medida em que ela
aparece, principalmente através da medicina que era praticada em Epidauro,
esvaziada do maravilhoso, do sobrenatural e do mediúnico. A proposta de Kiron
era, no fundo, a de que seus discípulos se tornassem mestres na arte do
diagnóstico, a arte de ver através dos sinais, não só sob o ponto de vista
médico, mas mestres com a faculdade de
discernir, de conhecer, todas as mensagens que a vida lhes trouxesse. A palavra
mantike é traduzida geralmente como
adivinhação, uma possibilidade de comunicação com acontecimentos futuros, no
geral concedida pelos deuses aos homens. A mantike
grega admitia dois tipos diferentes. O primeiro era a comunicação direta
através de um medium humano, o prophetes,
processo divino, cujo melhor exemplo é o da mântica apolínea como a encontramos
no oráculo de Delfos. Uma variante deste processo era o do aparição de um deus
a um indivíduo num sonho (oneiros). O
segundo tipo podia ser aprendido, ao invés da concessão divina, por inspiração.
Consistia na leitura de vários fenômenos naturais como os hábitos dos pássaros
(augúrio) e as entranhas de animais (haruspícia, hepatoscopia), na leitura do
corpo humano e de suas partes (dactilomancia, quiromancia, glossomancia,
craniomancia etc.
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TEATRO DE EPIDAURO |
As informações
mitológicas que temos sobre Kiron põem também em evidência, com muito destaque,
o seu papel como curandeiro, cujos métodos se baseavam sobretudo em tratamentos
de natureza holísitica, com muita importância dada às dietas. A medicina posta
em prática por seu discípulo Asclépio, em Epidauro, usava os mesmos processos,
ampliando-os, porém, com o uso de técnicas psicoterápicas (metanoia, nooterapia). A medicina de Kiron se concentrava também na
cirurgia e na quiropática, ambas relacionadas com o uso das mãos (kheir). Para astrólogos: lembremos que no início da década de 1.970
Júpiter transitou por Sagitário. Foi a partir desse período, ao que parece, que
a medicina holística começou a ser mais praticada, entrando em moda no
ocidente, de modo mais intenso, inclusive as técnicas a ela ligadas como a
acupuntura, o do-in, a massoterapia, a fitoterapia, a naturopatia e outras.
Kiron, como nos revela o mito, teve uma longa existência e era considerado como
um modelo da velhice robusta.