quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

AQUÁRIO (5)


CONSTELAÇÃO   DE   AQUÁRIO
     
Uma das figuras mitológicas mais ligada aos impulsos aquarianos de desafio, de rebeldia, de fraternidade, de vida comunitária é a do titã Prometeu, filho de Jápeto (lançar, arremessar) e de Clímene (a que atende, a que ouve com simpatia), oceânida, sendo ele neto, pelo lado paterno, de Geia e de Urano. É Prometeu (o que sabe antes, por antecipação), sem dúvida, entretanto, um dos personagens mais ambíguos, contraditórios e paradoxais da mitologia grega. Num momento, coloca-se em guerra aberta contra Zeus, a autoridade suprema, noutro procura se compor com ele em nome de um utópico projeto político, o da salvação da humanidade. 

O nome Prometeu, lembro, admite uma outra etimologia em grego; ele é o hábil, o que sabe fazer e se conduzir, como, aliás um dos componentes de seu nome sugere. Com efeito, o nome Prometeu
MÉTIS , CERÂMICA GREGA
admite dentro dele a palavra metis, conceito que os gregos divinizaram ao criar uma deusa, Métis, tornando-a dona do arquétipo, desse padrão de comportamento. Na palavra grega metis reúnem-se ideias de habilidade, esperteza, sutileza, juízo previsor, pensamento precavido, qualidades e virtudes que nosso herói possuía, sem dúvida, mas que, por razões “inexplicáveis”, como um bom exemplo da incongruência aquariana que era, as ignorava muitas vezes, como se não as possuísse. 

Prometeu era recriminado pelo fato de nunca se ter definido claramente por um lado na guerra entre titãs e olímpicos, ora parecendo alinhar-se com os primeiros, ora com os outros. Sua independência de espírito, seu constante esforço no sentido de buscar a objetividade, seu apego à ideia de liberdade parecem ser os responsáveis por sua espantosa “versatilidade”, por suas flutuações e vacilações, tão típicas de pessoas do elemento ar.

MOSAICO   ROMANO,
( TRÉVERIS , ALEMANHA )
Para o fim a que me proponho, aproximar o mito da astrologia, acredito ser útil ouvir duas figuras da literatura grega que sobre ele falaram, Hesíodo e Ésquilo. Para o primeiro, o titã era um amigo dos homens (Filantropíssimo, o seu apelido), um salvador, pois Zeus sempre desejara destruir a raça humana, criada durante a dinastia de seu pai, Cronos. Uma raça indigna, na qual não se podia confiar, constituída por seres ignorantes, boçais, “seres rastejantes”, como dizia Zeus, que viviam pregados ao solo, comendo poeira, alimentando-se de coisas putrescíveis. Essa destruição veio, primeiro, por uma proibição: os humanos não mais poderiam usar o fogo, elemento que controlavam muito precariamente. Com a perda do elemento ígneo, regrediriam eles à vida animal, passando certamente a viver refugiados no fundo das cavernas ou empoleirados no alto das árvores, prisioneiros dos seus terrores noturnos. 


PROMETEU ROUBA O FOGO
(JAN COSSIERS , 1600-1671)
Prometeu, como se sabe, interveio, assumindo as dores e sofrimentos do triste destino a que Zeus queria impor aos humanos. Roubou um pouco do fogo solar do deus Hélio, trazendo-o dos céus para a Terra, escondido no galho oco de uma figueira, a árvore do fogo. Por esse crime, o titã, depois de muitas discussões, será punido pelo senhor do Olimpo. Agrilhoado nas montanhas do Cáucaso, seu fígado era destruído durante o dia pelas bicadas de um monstruoso abutre enviado por Zeus, recompondo-se o órgão durante a noite e assim sucessivamente. Depois de muito tempo, séculos e séculos, será Prometeu enfim libertado por Hércules e se reconciliará com os olímpicos. 

Zeus, como o mito nos dá conta, acabará permitindo que os humanos passem a usar o fogo. Pune-os, contudo, através de
PANDORA  E  EPIMETEU
Pandora, a dotada por todos os deuses, arquétipo mítico da mulher, que Zeus faz descer dos céus à terra, trazida por Hermes, para provocar a divisão entre os sexos, divisão até então inexistente. Ao descer, Pandora trazia nas mãos uma jarra, na qual os deuses haviam encerrado todos os males que doravante infernizariam a vida dos humanos. Quando Pandora chegou, Prometeu estava ausente. Quem a recebeu foi seu irmão Epimeteu (o que sabe sempre depois). Encantado e seduzido por Pandora, antecipando o que Eva faria com Adão como está no texto bíblico, ambos, de comum acordo, destamparam a jarra, liberando todos os males que desde então infelicitam o gênero humano, males representados pelas divindades que viviam na antecâmara do Hades, no Bosque de Perséfone. Assolam a Terra e a humanidade, assim, desde esse fatídico dia, monstros como Algos (Dor), Geras (Velhice), Eris (Discórdia), Ftonos (Inveja), Limós (Fome), Ate (Erro), Lyssa (Fúria), Penia (Pobreza), Penthe (Luto), Apate (Fraude), Strophe (Chicana) e outros mais. 


ELPIS
Com os malefícios acima citados, veio também na jarra de Pandora uma entidade que, à primeira vista, muito benéfica, contrariamente às demais, revelou-se logo, em bem pouco tempo, como talvez a mais deletéria de todas. Refiro-me a Elpis (Esperança), espectro terrível, revestido de uma falsa aura benfeitora, que trouxe um dos grandes males que afligiriam a humanidade desde então. O mito nos conta que Epimeteu e Pandora, ao perceber que as entidades infernais escapavam da jarra aberta afoitamente, conseguiram fechá-la, retendo apenas uma, a chamada Elpis. Ao conservá-la como um “valor positivo”, os humanos, como logo se viu, “perderam” o presente, isto é, deixaram de vivê-lo, para se projetar em direção do futuro, expectantes e frustrados sempre, como a experiência e a história da humanidade sempre demonstraram. Uma das consequências mais danosas decorrente da conservação de Elpis foi a perda da dimensão física do presente por grande parte da humanidade, que passou a viver tão somente em termos de projeções mentais, construindo mapas de territórios inexistentes. Elaborações puramente mentais, sendo um de seus melhores exemplos o tema filosófico da utopia, palavra que, etimologicamente, significa não estar em lugar nenhum.


Como se sabe, Utopia foi o nome dado pelo inglês Thomas Morus  ao país imaginário que ele descreve numa obra de mesmo titulo, um país no qual vivia um povo perfeitamente sábio, poderoso e feliz, graças às suas instituições ideais. O tema, como se constata, tem forte acento aquariano, como aliás as têm produções semelhantes da literatura filosófica produzida ao longo dos anos, obras como Pantagruel e Gargantua, de  François Rabelais (1483-1553); La Città del Sole,  de Tommaso Campanella (1568-1639); La Salente, descrita em Télémaque 1651-1715), de Fénélon; Le Voyage en Icarie, de Étienne Cabet (1788-1856). Ainda dentro deste enfoque pode ser consultada, sempre com grande interesse e prazer, a obra Guide de Nulle Part & D´Ailleurs à l´usage du voyageur intrépide en maints lieux imaginaires de la littérature universelle, de autoria de Gianni Guadalupi e de Alberto Manguel, já traduzida para o português (de modo não completo).

Uma das versões do mito de Prometeu nos relata que inicialmente alinhado com os titãs ele foi por eles desprezado devido às suas atitudes simpáticas para com os humanos, criaturas criadas no reino de Cronos. Bandeando-se para o lado dos olímpicos, não demorou muito para mudar de lado novamente, assumindo a posição de grande protetor dos humanos diante das intenções de Zeus, que queria destruí-los. Uma incoerência, sem dúvida, um traço comum na personalidade de muitos aquarianos, como já disse, que não conseguem harmonizar as suas motivações afetivas com os seus mecanismos mentais. Esta a razão talvez pela qual muitos aquarianos estão "tão presentes quando tão ausentes e tão ausentes quando muito presentes".


PROMETEU ACORRENTADO   ( P.P. RUBENS, 1577 - 1640 )


HEFESTO
(G. COUSTOU, 1677-1746)
A prisão de Prometeu aos rochedos, determinada por Zeus, por Hefesto, Crato e Bia, a sua imobilização, constitui um castigo exemplar para qualquer aquariano. Com efeito, mesmo nos tipos menos conscientes do signo qualquer ameaça de cerceamento, de impedimento na liberdade de ir a e vir, qualquer limitação física ou mental, qualquer ideia de contenção pode se constituir numa tortura insuportável.

Ao trazer o fogo de natureza divina dos céus para terra a fim de entregá-lo aos humanos, Prometeu, diz-nos uma versão, estava tentando fazer com que eles recuperassem um dom que haviam recebido quando criados, no reino de Cronos, o do conhecimento do futuro. Tal privilégio havia sido revogado por Zeus, que, como vimos, queria exterminá-los. Uma hipótese para a tendência que muitos aquarianos apresentam, a de “querer” conhecer o futuro, a de desejar antecipá-lo, talvez, quem sabe, possa ser explicada por esse episódio.


HÉRCULES  E  PROMETEU
O mito do titã Prometeu nos conta ademais que ele possuía um segredo. Ele sabia que um filho que Tétis, a mais bela de todas as nereidas, tivesse com Zeus ou Poseidon, que a cortejavam, destruiria o pai. Para uns, a libertação de Prometeu foi negociada, quando o titã se prontificou a revelar tal segredo. Uma outra versão registra que a libertação de Prometeu ocorreu por intervenção de Hércules, quando matou o abutre que o agredia, ao retornar de uma viagem ao oriente quando do seu terceiro trabalho. 


GILGAMÉS  E  ENKIDU
Uma terceira versão nos permite aproximar a história de Prometeu da epopeia de Gilgamés. Conta-se nesta versão que inicialmente não havia o sexo feminino. Os humanos, todos machos, se viravam sexualmente entre si ou, como o fazia Enkidu, no mito mesopotâmico, com gazelas e cabras. Devido à petulância de Prometeu, os deuses resolveram punir os humanos, criando Pandora, irresistivelmente bela, mas curiosa, cheia de defeitos, tipicamente femininos segundos os deuses, um ser fatal para os protegidos de Prometeu. Com isso, instalou-se a divisão, machos e fêmeas, homens e mulheres separados para sempre, aqueles eternamente em busca de uma integração perdida através destas últimas, complementares, mas vivendo como opostos.

Foi Epimeteu, que não tinha o dom da profecia, como o irmão, aquele que recebeu a mulher, acolhendo-a, embora advertido para não aceitar nenhum presente dos deuses. Ele e Pandora,  como vimos, retiveram Elpis no fundo da jarra, tão imprudentemente aberta por eles. Muitos poetas, voltando-se em particular para este acontecimento, vêem Elpis como um bem infinitamente precioso. Graças a ele, apesar de tudo, de todas os sofrimentos, desgraças e misérias a que continuamente são submetidos, os humanos jamais perderam o gosto de viver. É neste sentido que Elpis faz parte da história da humanidade já que são os aquarianos os encarregados de nos fazer acreditar em dias melhores, em invenções científicas estimulantes e utopias maravilhosas. 

Epimeteu, o que sabe depois, o seduzido, assumirá a grandiosa tarefa de pôr em andamento os sonhos aquarianos, gerando, com Pandora, Pirra, a vermelha, que se unirá a Deucalião, seu primo, filho de Prometeu e de Clímene, oceânida. Deucalião será o grande ancestral dos helenos. Juntos eles salvarão a humanidade quando do dilúvio enviado por Zeus. Achando-os dignos, Zeus os preservará. Salvar-se-ão numa arca, na qual guardaram seus bens e animais. Terminada a tormenta, ancorada a arca no topo do monte Parnaso, ambos participarão da criação de novos seres humanos. 

DEUCALIÃO   E   PIRRA  ( VIRGIL SOLIS , 1514 - 1562 )

Receberam Pirra e Deucalião ordens de lançar às suas costas as pedras que encontrassem; as atiradas por Deucalião transformaram-se em homens e as atiradas por Pirra em mulheres. Os descendentes de Prometeu vêm perpetuando, apesar de tudo, a estranha vontade e para muitos a incompreensível determinação de, a todo custo, com enormes sacrifícios, preservar a humanidade das malévolas intenções divinas. 

Serão os filhos diretos de Prometeu, os aquarianos superiores, aqueles que conduzirão a humanidade para uma nova era, onde ideias tão retrógradas e incômodas como as de divindade, diabo, seres superiores, pecado e culpa etc. serão abandonadas. A humanidade, iluminada pelas propostas aquarianas, compreenderá enfim que aquilo que vem realmente em seu auxílio são as qualidades com as quais cada um de seus membros pode e deve contar. Os homens deixarão assim de representar as suas qualidades superiores por divindades, que idealizam, afastando de sua vida tanto tormento, tanta angústia, tanta impotência, tanta inibição... 

Por isso, encaminhando-se o Sol para o seu exílio na futura era de Aquário, a sua viagem noturna de 2160 anos, os deuses serão letra morta no ideário religioso da humanidade futura bem como toda a simbologia construída a partir dele. Na sequência das idades da mitologia grega (cosmogonia, esquizogenia, autogenia) chegaremos à quarta, aquela em que o homem assumirá o controle do universo. Encerrado no sistema solar há milhões de anos, o homem   já o vasculha em várias direções, preparando-se, como vem dando provas, para desbravar a galáxia, da qual o nosso sistema solar é uma ínfima parte. Depois de Urano (Céu) Cronos (Terra) e Zeus (Espírito), o Homem assumirá o comando da quarta idade, a da Autogamia. Circunscrito à botânica, este nome ganhará uma leitura nova na era que se aproxima. Seu significado se ampliará, do vegetal ao animal (humano). Através da homogamia, a maturação simultânea do androceu e do gineceu de uma mesma flor, chega-se à autogamia (autopolinização) embora não se exclua a alogamia. Transpostas estas ideias para o mundo humano, resolver-se-ão inclusive algumas contradições e confusões homo e heterossexuais presentes nestes séculos finais da era de Peixes.



AUSONIUS
É de se lembrar que os romanos e gauleses (o poeta Ausonius, séc.IV dC e Vercingetorix, inimigo de Júlio Cesar, chefe dos gauleses) registram a constelação. O primeiro lhe deu o nome de Amphora. O outro mandou cunhar moedas onde ela aparecia com o nome de Diota, uma jarra com duas alças. Em muitos zodíacos romanos, a constelação tem o nome de Pavo, ave consagrada à deusa Juno,  Junonis Astrum, nome latino o do pavão. Os romanos adotaram também uma antiga denominação da constelação entre os gregos, transliterando-a como Hydrochous.


MAHA  KUMBA - MELA

Entre os hindus, Aquário é Kumbha. A cada três anos, realiza-se na Índia uma imensa assembleia (kumbha-mela) no mês de janeiro, dela participando milhares de sannyasins pertencentes a todas as ordens religiosas e vindos de várias regiões do país. Alternativamente, a assembleia se realiza em Hardwar, Allahabad, Nasik e Ujjain. A ideia é a de reunir, congraçar, participar de uma grande festa na qual as energias superiores são distribuídas.
SANGAM
Khumba significa pote, e mela, festival. Cada ciclo de doze anos é encerrado por um grande festival (
Maha Kumbha-Mela), onde milhões de devotos se reúnem para se banhar no Sangam, nome do local do encontro de três rios sagrados, o Ganges, o Yamuna e o Saraswati, para se purificar, participando assim daquele que é considerado o maior festival religioso do mundo. Em 2007, ocorreu em Allahabad o chamado Ardh Kumbha-Mela, que fechou um ciclo de doze festivais (144 anos), evento que reuniu cerca de 70 milhões de pessoas. 

O Kumbha-Mela é uma cerimônia que tem por base uma passagem da mitologia hinduísta, a luta entre deuses e demônios pelo pote que contém o néctar da imortalidade, chamado amrita (não-morto). Diz o mito que durante a disputa quatro gotas caíram dos céus nas quatro cidades acima referidas. O amrita foi produzido pelos deuses e pelos demônios quando da agitação dos oceanos, nos momentos iniciais da criação do universo. Lutando pela posse do néctar maravilhoso, os deuses conseguiram a duras penas vencer os demônios. A cada três anos, esse acontecimento é celebrado no grande festival do signo de Aquário. 

Entre os judeus, Aquário é Shevat, o décimo primeiro mês do calendário hebraico, governado por Saturno. Em hebraico, Aquário é Dli, palavra que quer dizer jarra, balde, recipiente para líquidos, sendo o signo representado por um aguadeiro, uma figura humana que transporta água. A água na perspectiva astrológica judaica é símbolo da misericórdia e da purificação, razão pela qual as energias de Shevat devem ser esparramadas, distribuídas indiscriminadamente, beneficiando a todos. 

Embora uma respeitável tradição afirme que o signo de Israel é Capricórnio, outra, também muito relevante, estabelece que é Shevat. Ambas acabam se reconciliando, porém, na medida em que o período solar de Tevet (Capricórnio) se estende por Shevat, correspondendo ambos os signos aos dois órgãos da visão. Mais ainda: no Livro da Criação (Sefer Yetsirá), obra mística do início da tradição, que alguns atribuem a Abraão, nos seus capítulos iniciais, afirma-se que o estômago também se relaciona com Shevat porque este signo traz a ideia de retificação do ato de comer. Esta retificação fala que devemos buscar com os olhos o melhor para que a nossa “digestão” mental não sofra, para que não a prejudiquemos. Esta preocupação encontra apoio nas letras que se

associam ao mês. Primeiro Bet, que criou Saturno, e depois Tzadi, que criou o próprio signo, que tem o significado de justiça, de equilíbrio. É no mês de Shevat que temos a oportunidade de nos redimir pela revelação da verdade e da luz, sendo por isso Shevat considerado com o mês da redenção. O Livro da Formação e o Zohar, lembremos,são considerados como a base do conhecimento cabalístico. 

A justificativa para se considerar Shevat como o signo de Israel está no fato de o conteúdo da jarra ser a água, que é símbolo da Torá, como está escrito em Isaías. A Torá significa ensinamento e é um dos conceitos fundamentais do judaísmo, compreendendo tanto o Pentateuco (Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) como a Bíblia hebraica e, num sentido mais amplo, toda a tradição judaica. A proposta que está em Shevat é a de se ver a criação através do serviço divino através da Torá. 

Ainda que Saturno governe Capricórnio e Aquário, a astrologia judaica entende que os dois signos devem ser considerados a partir de um Saturno que se volta para o Sol, isto é, para o interior do sistema solar, e de outro Saturno, que “olha” para o infinito do espaço sideral. Enquanto o primeiro diz respeito a Capricórnio, significando o limite físico das construções e dos sistemas, o outro aponta para a superação destes limites, inclusive para a sua destruição.


MOISÉS ( MICHELANGELO, 1475-1564 )

Uma das principais figuras do judaísmo, Moisés, “o salvo das águas”, personagem principal do Êxodo, associa-se a Shevat na medida em que a Torá é chamada também de lei mosaica. Moisés é, assim, aquele que presta serviços, como um aguadeiro através da distribuição das águas da Torá. Shevat é um mês de bênçãos abundantes, o que tem a ver com a tribo que o representa, a tribo de Asher (felicidade, em hebreu), filho de Jacó e de uma empregada de sua esposa, Léa, que se instalou no norte do país de Canaã. Com base no Gênese (cap. 49, v.20), o óleo é um usado como um símbolo da Torá porque assim como ele se separa de outros líquidos e mantém a sua pureza, assim acontece com a sabedoria da Torá. Por isso, água e óleo são usados como símbolos da sabedoria da lei mosaica. O óleo (shemen) é um equivalente da tradição oral da Torá que começou com Moisés, tradição chamada de Mishná, que contém letras de shemen


MOISÉS  RECEBE  AS  TÁBUAS  DA  LEI
(MARC  CHAGALL , 1887 - 1985 )
O elemento de Shevat é o ar, elemento da tradição oral, essencial para a manutenção do corpo físico, já que é com ele fazemos trocas com o meio exterior. Os demais signos relacionados com o ar, Sivan e Tishrei, Gêmeos e Libra, tem a ver, respectivamente, com a entrega da Torá no monte Sinai e o segundo com as tábuas da lei, dos dez mandamentos. A tarefa do povo judaico é a de dar de beber os ensinamentos da Torá ao resto do mundo. 

O planeta que tem relação com Shevat é Saturno (Shabtai), que rege também Capricórnio, indicando ele a necessidade de se buscar a contemplação e o aprofundamento das virtudes do coração. Os que nascem sob a influência de Shevat costumam revelar uma tendência para a originalidade, possuindo também uma mente curiosa, inquisitiva. O pensamento original do signo é indicado pelas letras da palavra Dli, que contém as mesmas que significam “dar nascimento”. Uma implicação etimológica liga o nome Shevat à palavra Shevatim, que lembra aflição, pois foi durante este mês que Deus começou a afligir os egípcios com as pragas, causadoras do início da sua decadência. 

Ainda no terreno das associações, os astrólogos judeus notaram que enquanto em Israel a celebração do Shabat (descanso, do anoitecer de sexta-feira à noite de sábado) se liga tanto ao nome de Saturno (Shabtai) como à Lua (shabater, é um verbo que indica o descanso da Lua, dia em que ela para de crescer, tendo a ver pois com o plenilúnio) em outras tradições o dia do repouso semanal foi deslocado para um outro dia, para o dia do Sol, o primeiro dia da semana. Segundo eles, a nação de Israel, que se situa acima da influência das constelações, sempre conservou a cerimônia no dia de Saturno, uma prova de sua profunda compreensão, pois nesse dia os judeus recebem uma alma extra e os fogos do inferno são arrefecidos. Diz a tradição que se todos os judeus pudessem guardar respeitosamente, completamente, o dia do Shabat, o Messias viria. Os antigos astrólogos místicos judaicos achavam que os aspectos feminino e masculino de Deus se unirão no Shabat, um dia de harmonia cósmica, quando as forças do reino do mal (Sitra Achra) perderão sua força. As ressonâncias dessas ideias no mundo aquariano são, como se vê, muito evidentes, se lembrarmos da androgenia natural do signo.

Segundo muitos cabalistas, a chamada era de Aquário, também conhecida como era da Revelação ou da Redenção, já começou. Isto se deve ao fato de já estar a humanidade, por influência de Shevat, procurando se unificar de algum modo, impulso básico para uma futura redenção. Esse impulso, no mundo todo, como sabemos, vem buscando a unificação através do que há de mais negativo em Aquário, a tecnologia. Ou seja, enquanto a tecnologia de Shevat une o mundo (aldeia global), as nações vêm contraditoriamente levantando barreiras de todo tipo, físicas, militares, econômicas, religiosas, que só reforçam as suas fronteiras, criando verdadeiros guetos, obstáculos à livre circulação das pessoas. 

Na tradição judaica, o ano-novo do reino vegetal é celebrado a 15 de Shevat. Isto pode ser entendido pelo fato de ser o mundo vegetal a única força do mundo físico capaz de vencer a força da gravidade, um dos mais poderosos anseios dos representantes do signo. Para controlar estes anseios de rompimento das limitações do mundo físico e de distribuição de energias das alturas para o todo, derramando-as sobre a humanidade, os astrólogos judaicos pedem que sejam levadas em consideração as energias do signo oposto, Leão (Av). Dois aspectos a salientar aqui: a) muitos aquarianos escondem fortes traços leoninos nos seus discursos e propostas humanitários. b) outros aquarianos se descuidam completamente do seu eu pessoal, desintegrando-o promiscuamente numa vida grupal. 

Os astrólogos judeus nos dizem que estas tendências negativas de um signo podem ser atenuadas ou mesmo revertidas se aplicado o conceito cabalístico do tikum, palavra que, em hebraico, quer dizer correção. Este conceito, no seu sentido mais abrangente, é o aplicado trabalho de correção que a alma pode fazer através de suas
CABEÇA E CAUDA DO DRAGÃO
encarnações. O tikum é representado no mapa pelo eixo dos nós lunares, descrevendo o nó sul, a chamada cauda do dragão, tudo aquilo que alguém traz de vidas passadas. Já o nó norte, a chamada cabeça do dragão, descreve o caminho corretivo a ser tomado segundo as energias do signo em que se encontre, desenvolvidas superiormente. Temos sempre que considerar ambos os nós para obter algum sucesso na encarnação em que nos encontramos. Esse eixo, na astrologia cabalística, é muito importante porque ele afeta todo o mapa astrológico. Se alguém, por exemplo, tem o tikum em Aquário, a proposta para esta pessoa será a de desenvolver as anergias superiores deste signo procurando conciliá-las, inclusive, com o que o Sol, a Lua ou o Ascendente representem no seu mapa, estejam onde estiverem.

A constelação de Aquário estende-se de 9º de Aquário a 26º de Peixes, sendo suas principais estrelas, em magnitude decrescente, Sadalmelek, no ombro direito do aguadeiro, Sadalsuud, no ombro esquerdo, Sadachbia, na jarra, Skat, na perna e Ancha no quadril. Ptolomeu afirmava que os ombros do aguadeiro tinham características saturninas e mercurianas.  


CONSTELAÇÃO  DE  AQUÁRIO
Sadalmelik (A Favorecida do Rei), alfa de Aquário, é uma estrela de 3ª magnitude, hoje em Peixes, a 3º04´. Sadalsuud (A Favorecida do Reino), beta, também de 3ª magnitude, está hoje nos 22º 42´ de Aquário. Ambas são consideradas como favoráveis, fertilizam como a água, não no sentido material (dinheiro, bens etc.), mas fazendo com que (principalmente se relacionadas com o Asc. Os luminares, Júpiter e Vênus) o bem-estar seja “vivido” muito mais interiormente. Esta “felicidade” interior, contudo, costuma ser traduzida muitas vezes por um otimismo ingênuo, por expectativas sem fundamento, mas que podem bastar para aquele que os experimenta. Mapas como os de Jules Verne, do Brasil e dos USA podem ser úteis para estudos sobre ambas as estrelas. Os astrólogos latinos davam o nome de Sidus Faustum Regis à primeira e Fortuna Fortunarum à segunda. Os nomes, respectivamente, têm origem árabe, Al Sad al Malik e Al Saad al Suud.