A Psicologia dos Elementos
Todas as correntes psicológicas conhecidas nos falam que a psique humana tem um lado consciente e outro inconsciente, opostos e complementares, em proporções muito variáveis. Nós nos identificamos só com a parte consciente do nosso psiquismo. Isto acontece sempre que usamos o pronome eu, geralmente sem a mínima noção do que o nosso lado inconsciente representa ao fazermos isso. A cada momento de nossa vida isso acontece de modo até muito inconveniente para nós. Com o nosso lado consciente experimentamos o mundo, tentamos compreendê-lo, agir sobre ele. O inconsciente fica encarregado de fazer as adaptações internas.
Todas as nossas experiências internas e externas só podem ser percebidas através do nosso eu (ego). A consciência é a função ou atividade que mantém a relação dos conteúdos psíquicos com o ego. Este deve ser entendido como um complexo de ideias que constitui o centro do campo de nossa consciência e que parece ter um alto grau de identidade e de continuidade.
O nosso ego pode, ao longo desse processo, não querer ver o que a consciência lhe mostra, lhe passa. Estas coisas mostradas são então reprimidas, rejeitadas, desaparecendo do consciente, indo para o inconsciente. Esses conteúdos reprimidos têm lá uma vida própria, podendo invadir o campo da consciência, gerando sofrimento ao ego ou ajudando-o a corrigir a sua unilateralidade.
A Astrologia, ao lado dos vários processos terapêuticos do psiquismo existentes, tem muito a dizer sobre tudo isto, ajudando-nos a tomar consciência de nossas motivações inconscientes. Dentre as inúmeras contribuições que nos são oferecidas para a abordagem desta questão, a astrológica é, sem dúvida, uma das mais importantes. Para começar, ela nos fala dos quatro diferentes processos elementares da nossa consciência, todos relacionados com os quatro elementos da tradição, o fogo, a terra, o ar e a água.
O tipo fogo – O elemento fogo é formado pelo quente e pelo seco. Tem relação com os signos de Áries (S>Q), Leão (Q>S) e Sagitário (Q>S+u). Os signos de fogo têm relação com a nossa autoexpressão, com a nossa exteriorização. Ideias de liderar, conduzir e inspirar estão sempre presentes. Onde houver falta de espontaneidade, de iniciativa ou de vontade, há pouca ou nenhuma ênfase no elemento fogo.
O fogo regula o processo de combustão interna do corpo (digestão, produção de insulina, temperatura, eliminação das toxinas e eliminação das sobras). Tem a ver com o sistema imunológico (luta contra invasores). Competitivo, o elemento é facilmente ameaçado pelos demais elementos. O equilíbrio do elemento fogo no corpo deve ser verificado sobretudo pela urina (cor), pelos olhos e pela digestão.
A dominante fogo esquenta a pele; se elevado, o elemento pode gerar problemas de pele (gordura, inflamações etc.). A presbiopia (vista cansada), por exemplo, será sinal de excesso de fogo no organismo. O excesso de fogo pode aumentar bastante o apetite, decorrendo disso vários problemas digestivos, sendo ademais a causa de muitas das dores de cabeça dos arianos mais típicos. Uma dominante fogo controlada proporciona espontaneidade, jovialidade e entusiasmo. Descontrolada, gera irritação, agressividade e violência. Ausência de fogo costuma levar à depressão, dificultando sobremaneira a luta pela vida.
A dominante fogo “odeia” a doença, pois ela será sempre para ela uma rejeição da vida. Nunca pensam os de fogo que podem aprender alguma coisa com a doença. Temem-na, deixando de combatê-la logo e invariavelmente estimulando até os outros a agirem do mesmo modo. Comuns, por isso, os casos de moléstias agudas que acabam se transformando em males crônicos.
O tipo terra – O elemento terra é formado pelo frio e pelo seco. Tem relação com os signos de Touro (F>S), Virgem (S>F) e Capricórnio (F>S+u). Onde houver ideias de eficiência, de planejamento, de estruturação, de quantificação, de regulamentação, de direção, de praticidade e de senso de dever, os signos de terra serão dominantes. Ausência de receptividade e visão demasiadamente materialista serão os aspectos negativos dessa dominação.
O AVARENTO QUE PERDEU SEU TESOURO ( GUSTAVE DORÉ , 1832 - 1883 ) |
O elemento terra tem a ver com os fundamentos, a construção, a manutenção e os reparos da estrutura corporal e a sua sobrevivência. É anabólico, construindo mais que a água. Por isso, tem relação com a pele, os ossos, os dentes, as unhas, as cartilagens e os tendões musculares. Excesso de terra torna os tecidos do corpo mais densos. Riscos de esclerose, de sedimentações do cálcio, lentidão metabólica etc.
Os de terra são os que costumam, no seu universo, sentir os males muito intensamente, embora para eles o apetite seja a “última coisa que morre”. No geral, são resistentes e os menos vulneráveis às sequelas.
O tipo ar – O elemento ar é formado pelo quente e pelo úmido. Tem relação com os signos de Gêmeos (Q>U+s), Libra (U>Q) e Aquário (Q>U). Quando falamos de informação, comunicação, relacionamentos, contactos, formas associativas, adaptações sociais e organizações informais, estamos nos referindo aos signos de ar. Indecisão, dispersão, excessiva abstração e alheamento são problemas com relação à falta ou ao excesso deste elemento num mapa astrológico. O ar adquire especial importância porque ele ativa o potencial de todos os elementos. Sem ele, os outros elementos não “funcionam”. Urano, por exemplo, quando transita por um mapa que tenha a dominante ar, poderá ser causa de muitos problemas. A dominante ar proporciona movimentos rápidos e muito dispêndio de energia (primariedade) tanto mental como física.
Entenda-se: a dominante ar tem dificuldade para desligar a mente; o quadro é de nervosismo e excitação, tornando-se por isso difícil o relaxamento. Embora a dominante ar capte muitas informações, sempre terá dificuldades para processá-las e arquivá-las. No geral, há grande propensão à inquietação, à preocupação e à ansiedade.
Os de ar são muito curiosos, leem, discutem, sabem dos tratamentos e, por isso, são os que mais entram em conflito com os médicos. Muito sujeitos a males de curta duração com recaídas frequentes.
O tipo água – O elemento água é formado pelo frio e pelo úmido. Tem relação com os signos de Câncer (F>U+s), Escorpião (F>U) e Peixes (U>F). Os signos de água se associam ao mundo subconsciente, à subjetividade, ao que é oculto. Seus conceitos básicos são receptividade, permeação, compaixão, empatia. As debilidades do elemento estão nos excessos emocionais, na possessividade, na falta de ordem, no jogo da sedução, no vampirismo psíquico etc.
THE KISS , 1951 ( RENÉ MAGRITTE ) |
A dominante água costuma ter um peso muito grande na infância, afetando bastante a saúde. Além do mais, inclina em demasia à coesão social (gregarismo), a variadas formas de autoproteção. O tipo água é normalmente de movimentos lentos, tende ao excesso de peso e à preguiça. Temores, insegurança e um certo medo do mundo podem levar à gula, ao apego ao ambiente em que nasceram e à passividade; tudo tende a ser valorizado subjetivamente.
Os de água sofrem, no geral, de males de natureza psicossomática. Mais imaginam a doença do que a vivem. As curas costumam ser demoradas, há lentidão, precisam muito de terapeutas que os tranquilizem e nos quais possam confiar com toda a segurança.
Cada elemento apresenta um modo peculiar de olhar o mundo, todos tendo a mesma importância para o equilíbrio do nosso corpo físico e de nossa personalidade. Eles formam uma totalidade. Cada
um deles se refere a uma função do nosso consciente: a intuição é do fogo, a sensação é da terra, o pensamento é do ar e o sentimento-emoção é da água. Nossa consciência usa sempre uma ou duas funções (elementos) para nos pôr em relação com o mundo, operando os outros elementos a partir do nosso inconsciente. Qualquer opinião ou julgamento que emitirmos será sempre colorido pelas funções ou elementos que operam a partir do consciente. Não precisamos nos esforçar muito para perceber o quanto tudo isto afeta a nossa saúde física e a nossa vida mental.
ASCENDENTE NOSSA PERSONALIDADE VISÍVEL |
Os astrólogos erram sempre quando nos dizem, por exemplo, que temos tantos planetas em terra ou em água, considerando simplesmente a sua posição neste ou naquele elemento. Não levam em consideração que alguns planetas serão mais importantes para o nosso consciente que outros. Por isso, a distribuição dos planetas pelos elementos deverá levar sempre em consideração os que atuam no nosso plano consciente ou no nosso plano inconsciente.
A avaliação das proporções relativas a cada elemento num mapa não é fácil, como se pode ver na prática astrológica. Ela não depende apenas, como vimos, do número de planetas distribuídos pelos diversos signos. Um dado muito importante, pouco considerado, é que quando pensamos nessa distribuição a posição da Lua deverá merecer atenção especial. Além disso, quando levamos em consideração os trânsitos, não se deve esquecer que planetas podem alterar até bastante a ponderação dos elementos. Um Marte sempre aumentará o fogo; Netuno, a água e assim por diante.
O Conceito de Energia
A energia universal aparece, toma uma forma, se mantém e desaparece constantemente, num eterno devenir. A Astrologia dá a esta dinâmica os nomes de cardinal, fixa e mutável. A primeira é
iniciadora, a segunda é sintetizadora e a terceira é modificadora. A primeira corresponde aos equinócios e solstícios, sendo representada pela chamada cruz cardinal, composta pelos signos de Áries, Câncer, Libra e Capricórnio. A segunda corresponde aos meses intermediários das estações, Touro, Leão, Escorpião e Aquário; é a chamada cruz fixa. A terceira corresponde aos meses que fazem a passagem de uma estação a outra, Gêmeos, Virgem, Sagitário e Peixes; é a chamada cruz mutável.
Os signos cardinais, que correspondem às casas angulares, denotam iniciativa, ação, causalidade, coragem, audácia, irreflexão, à maneira do seu elemento constitutivo. Os signos fixos, que correspondem às casas sucedentes, denotam concentração, constância, reflexão, lentidão, egoísmo. Os signos mutáveis indicam flexibilidade, adaptação, inconstância, sensibilidade, dispersão.
Os signos cardinais ou impulsivos ocupam os setores angulares do zodíaco-padrão; os signos fixos, ou estáveis, ocupam os setores sucedentes e os mutáveis ou comuns, ocupam os setores cadentes.
Como avaliar?
As funções ou elementos devem ser divididos em dois pares; de um lado, o pensamento e o sentimento-emoção e, de outro, a intuição e a sensação. O primeiro par é o responsável pela avaliação de uma situação existencial, por um julgamento; o segundo par atua no campo da percepção. Em termos de elementos, temos, no primeiro caso, um diálogo entre ar e água e, no segundo, um diálogo entre fogo e terra.
Se o elemento dominante num mapa for o elemento água, função superior, o elemento ar representará a função inferior. Num caso destes, se pensarmos em escolhas com relação aos outros elementos, fogo e terra, a decisão da função superior (água) se voltará naturalmente para o elemento terra que, como a água, é feminino, passivo, introvertido. Quando o ar, que se opõe à água, representar a função superior, ele sempre terá maior liberdade de escolha, porque é mais teórico, mais lógico.
Desse jogo de elementos e funções, podemos admitir, por exemplo, que conflitos entre elementos não opostos na forma acima são sempre mais fáceis de se resolver. Uma quadratura Gêmeos-Virgo (ar-terra) é sempre mais “amena”, menos tensa, do que uma quadratura Virgo-Sagitário (terra-fogo).
A nossa visão de mundo depende sempre do elemento predominante no nosso tema (função consciente, superior). Por isso, é importante lembrar que quando duas pessoas, uma com dominante fogo e outra com dominante terra, dizem que uma coisa é bonita, elas podem estar se referindo a coisas muito diferentes. A dominante terra estará se referindo a aspectos concretos, cor, forma, volume, material, valor etc. A dominante fogo estará se referindo ao que será possível realizar com essa coisa; a dominante fogo “vê” uma invisível conexão entre o objeto e algo “mais adiante”, tudo o que se poderá fazer com ele. Tenderá, por exemplo, a instrumentalizar o objeto. Grandes confusões e desentendimentos costumam ocorrer quando não fazemos a leitura correta dos elementos.
Planetas que estejam no elemento oposto ao que temos na nossa função superior, tendem sempre a reagir de modo “desconhecido”
para nós, invadindo o campo da função superior. É característico dos conteúdos inconscientes que eles invadam o campo da consciência de uma maneira muito inconveniente (sentimo-nos muitas vezes “traídos”), causando sempre muito mal-estar, trazendo muita perturbação. Exemplo: alguém que tenha Plutão no plano da função inferior (inconsciente) poderá ter muita dificuldade para se tornar consciente do que este planeta é essencialmente e do que representa no mapa. Lembro que Urano, quando atuando através da função inferior (inconsciente), sempre costuma fazer irrupções bruscas no plano do consciente.
PLUTÃO |
A interpretação do jogo dos elementos, distribuídos como função superior (consciente) e função inferior (inconsciente), exigirá muita atenção, uma prática constante, pois servirá sempre para nos ajudar bastante quando entramos no tópico dos diagnósticos. Nem sempre a função inferior poderá ser considerada como totalmente
“maléfica”. Exemplo: tomemos o caso de uma pessoa fortemente orientada pelo elemento fogo (intuição) que tenha Vênus no elemento terra, em Touro. Esta pessoa procurará na vida, de um modo geral, se experimentar, buscar possibilidades, evitar quaisquer formas de limitação, de constrangimentos. O elemento terra, como se sabe, fala de segurança, estabilidade etc. Um tipo como o descrito “sentirá”, num primeiro momento, que, embora possa obter segurança no amor, este amor taurino significará restrições, limitações etc. Uma tensão se estabelecerá. Este conflito, com sérias repercussões no plano físico e mental, poderá se prolongar. A Astrologia terá certamente o que dizer aqui: ajudar a pessoa deste exemplo a se conhecer um pouco melhor, permitindo que ela aceite mais facilmente as suas imperfeições e conheça melhor as suas reais possibilidades no plano da vida afetiva.
VÊNUS REGENTE DO SIGNO DE TOURO |
As manifestações dos planetas que atuam na função inferior podem ser consideradas como “primitivas”. A função inferior (elemento) se mantém normalmente numa situação “subdesenvolvida”, não sabemos bem como lidar com ela. Exemplo: alguém com ar na função superior tenderá a se expressar muito mais teoricamente do que afetivamente (gestos, contactos etc.). O elemento água (planetas que lá se encontrem) sempre significará uma fonte de problemas.