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AS CÁRITES ( SANDRO BOTTICELLI , 1445 - 1510 ) |
Integram-se também à constelação
de Libra as Cárites, as Graças, divindades inicialmente ligadas ao mundo
vegetal e depois aparecendo sempre associadas à convivência harmoniosa entre os
humanos. Kharis, em grego, significa
graça exterior, beleza, encanto, boas maneiras, disposição para a convivência
alegre, harmoniosa, divertimento saudável. Todas estas características
encontradas tanto no mundo natural como no mundo dos humanos era delas. Nesta condição,
eram as Cárites reverenciadas desde os primeiros momentos do dia. Em várias
tradições mediterrâneas são registrados os seus cultos, destacando-se
especialmente, por sua antiguidade, os de Creta, os jogos (agones) celebrados em sua honra, desde tempos do rei Minos. Seu
mais antigo santuário estava em Orcômenos, antiga cidade da Beócia.
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ORCÔMENOS , ANTIGA BEÓCIA |
A beleza da variedade do mundo natural deve-se a elas, que, assim, agiam
em comum com as Horas nesta área. Tinham responsabilidade direta pela suavidade
primaveril, atenuando o que esta estação trazia de quente e áspero. Os poetas
logo se apoderaram desta imagem, fazendo das Cárites as amigas e protetoras de
tudo o que aparecia como suave, gracioso e belo. É o caso de Píndaro, gênio da
poesia grega, que as considerou sempre como fonte do decoro, da pureza, da
felicidade da vida diária e da boa vontade. Lembremos que palavras gregas eukharistia (ação de graças) e eukharistos (agradecido, obrigado) têm
relação com as Cárites. O verbo é kharizomai,
agradar, dar gosto, mais o prefixo eu,
bem, bom.
Eram representadas por três jovens, nuas ou seminuas, sempre dançando,
rodopiando, cantando, perto de fontes, usando uma decoração corporal e
ambiental muito florida, com especial destaque para as rosas, as flores de
Afrodite. Passavam grande parte do seu tempo com as Musas, perto do Olimpo. Na
maior parte das versões, as Cárites passam por filhas de Zeus e de Eurínome,
uma oceânida, que casada com Ofion administrava o cume nevoso do Olimpo.
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CÁRITES
( C. VAN LOO , 1705-1765 ) |
As Cárites eram três: Aglaia (Brilhante, Esplêndida), Talia (Festa) e
Eufrosina (Alegria da Alma). Em Atenas eram apenas duas, Kleta (a que causa
impressão profunda, emitindo sons) e Phaenna (a que lampeja, a tremulante).
Aglaia uniu-se a Hefesto, sendo a responsável, conforme atestado por muitas
tradições, pelo elevado padrão estético das obras e peças que saíam das
oficinas e forjas do deus. Palas Athena, muito desajeitada nas questões de
beleza, recorreu várias vezes às Graças para suavizar o utilitarismo das suas
ações e dos produtos que inspirava. O deus Hermes, muito pragmático, se valeu
do conselho das Graças para aumentar a capacidade de penetração dos seus
discursos. No mais, as Cárites tanto
influenciavam positivamente os trabalhos artísticos e as atividades
intelectuais como participavam alegremente dos cortejos de Afrodite, Eros e
Dioniso.
Na Grécia, numerosos templos e santuários mantinham com destaque as
imagens dessas três divindades. Havia um festival anual que as honrava, chamado
Charistesia, do qual faziam parte
jogos teatrais, canto e dança. Eram também muito invocadas nos
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SYRINX |
banquetes e nos
simpósios, sendo o primeiro brinde feito sempre em sua homenagem. Tinham como
atributo a rosa, o mirtilo e os dados, como símbolos do alegre divertimento.
Maçãs, vasos floridos, papoulas, espigas de trigo e instrumentos musicais
(lira, flauta e syrinx) faziam parte
da decoração dos ambientes em que pontificavam.
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AFRODITE PANDÊMIA
( CHARLES GLEYRE, 1806 - 1874 ) |
Entre os gregos, astrologicamente, o signo de Libra foi entregue à deusa
Afrodite, aquela que veio para controlar o deus Eros, ou seja, para colocar as
relações divinas e humanas numa perspectiva de reciprocidade, integrando numa
justa proporção o amor sob a sua forma física, bem como o desejo e o prazer dos
sentidos. O mundo grego enquadrou a deusa Afrodite em vários tipos, sendo os
mais conhecidos
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AFRODITE URÂNIA , 1878
( CHRISTIAN GRIEPENKERL ) |
o “popular”, o da chamada Afrodite Pandêmia, e o “elevado”,
“celeste”, o da chamada Afrodite Urânia, ou seja, a deusa como símbolo dos
amores e das uniões onde podem prevalecer, respectivamente, o aspecto terrestre
ou celeste da deusa. O cristianismo, lembremos, procurou construir a imagem da
Virgem Maria sob a inspiração de influências egípcias e gregas, isto é, de Ísis, quanto às primeiras, e da Afrodite
Urânia e das Cárites quanto às outras.
Por fazer parte do eixo equinocial, marcando o início do outono, ao
signo de Libra sempre foi atribuída grande importância. É nessa condição que
ele é a porta de entrada do terceiro quadrante zodiacal, o da vida social,
sucedendo o segundo quadrante, o da vida familiar, e preparando para o do coletivo,
da humanidade, o quarto e último quadrante. Os hindus sempre associaram está
área do Zodíaco, o terceiro quadrante, ao conceito de dharma, palavra que traduz ideias de lei, obrigação, dever e
responsabilidade.
Os antigos gregos só muito tardiamente reconheceram o signo da Balança,
dando-lhe a forma que tem hoje. Tal aconteceu ao tempo dos grandes
astrônomos-astrólogos, Hiparco, Eratóstenes e Ptolomeu, quando, como se disse,
as Pinças ou Garras de Escorpião ganharam autonomia. A elas se deu o nome grego
de Zygon (Parelha), de onde saiu a
palavra zigoto, usada na biologia para indicar o estágio do embrião em que os
gametas masculino e feminino (esperma e óvulo) se encontram pela primeira vez
no útero materno, ocorrendo então, verdadeiramente, a concepção.
Os romanos chamaram esta constelação de Jugum, palavra que traduz a ideia de algo que conecta, que enlaça,
que junge, que atrela, designando ela
também uma espécie de cabresto com o qual desfilavam os prisioneiros.
Outros nomes romanos da constelação eram, como se disse, Chelae (Pinças), Libra e
muito raramente Noctipares. Este
último era a palavra que os romanos usavam para designar pesos ou medidas de um
modo geral. Alguns astrólogos gregos, lembremos, com formação mitológica,
chegaram a ver na constelação de Libra o carro que levou Koré ao Hades,
fazendo-se assim a ligação entre o signo de Virgem e o de Escorpião. Nas
tabuinhas caldaicas, esta constelação era chamada de Zibanitu, palavra que parece significar algo como “chifres do
escorpião”.
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MARCUS MANILIUS |
Há uma tradição greco-romana que coloca a constelação de Libra sob a
tutela de Hefesto (Vulcano), que passa por ter sido a divindade que a forjou. O
defensor desta tradição é Marcus Manilius, poeta latino do primeiro século da
nossa era, contemporâneo dos imperadores Augusto e Tibério, famoso autor de Astronomica, poema em cinco livros. Esta
história de Hefesto como regente de Libra tem alguma justificativa mitológica
se lembrarmos que Palas Atena chegou a ser considerada por muitos astrólogos
gregos como a divindade regente do signo de Áries.
É no mito de Erictônio (o que provoca ruínas, o que despedaça) que
encontramos a ligação entre as duas divindades acima referidas. Erictônio tem o
seu nascimento ligado a um violento e incontrolável desejo de Hefesto por Palas
Atena. Consta que a deusa certo dia procurou o deus metalúrgico para que ele
fabricasse algumas armas de que necessitava. Ainda mal refeito do affaire Ares-Afrodite, Hefesto se
inflamou quando viu a deusa virgem, tomado por um violento furor erótico.
Tentou por todos meios possui-la e, embora coxo, a alcançou na corrida. Atena
se defendeu bravamente, repelindo-o. No calor da refrega, entretanto, gotas do
sêmen de Hefesto caíram sobre as coxas da deusa. Conseguindo se safar, depois,
mais calma, segura de que não voltaria a ser atacada, Atena, horrorizada, com
um floco de lã, limpou todo o esperma das suas belas pernas, jogando-o longe,
no chão. No lugar em que a lã tocou a terra, uma criança dela brotou, um
menino, recolhido de imediato pela deusa, que o chamou de Erictônio, o filho da
terra.
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GAIA APRESENTA ERICTÔNIO A PALAS ATHENA |
Sem que ninguém soubesse, nem os deuses, Palas Athena encerrou a criança
numa arca, confiando a sua guarda às filhas de Cécrops, antigo fundador e rei
mítico de Atenas. Apesar da recomendação de que jamais abrissem a arca, as
jovens o fizeram; logo, porém, fugiram apavoradas diante da visão que tiveram:
a criança era monstruosa, uma serpente da cintura para baixo. Punidas pela
deusa com a loucura, as jovens princesas morreram ao se atirar da acrópole.
Educado pela “mãe”, Erictônio, ao chegar à maioridade, recebeu o poder de
Cécrops. A ele se deve, como rei de Atenas, a invenção da quadriga, a
introdução do dinheiro na Ática e a organização das Panateneias em honra da
mãe.
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HEFESTO |
O mito de Erictônio une estreitamente Hefesto e Palas Atena na Ática,
mais exatamente em
Atenas. Homero, como sabemos, sempre exaltou Hefesto por
causa de sua grande habilidade como construtor, criador, associando-o a Atena.
Não é por outra razão que Platão (Critias)
coloca as duas divindades compartilhando a tutela de Atenas, encontrando nelas
uma conjugação de duas qualidades; de um lado, por Atena, a
philosophia (a razão guiando a força),
e, de outro, por Hefesto, a philotekhnia
(o amigo de todas as técnicas e artes). Ambos têm em comum também um grande
pendor para tudo o que signifique artesanato, sendo divindades muito honradas
pelos artesãos, que viviam no bairro do Cerâmico, onde anualmente se realizava
uma grande festa (Khalkheia) em
homenagem às duas divindades.
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SURYA |
Se pensarmos (astrologicamente) no fato de o fogo ariano ser atenuado ou
controlado por Libra, talvez seja possível entender melhor esta relação entre
Hefesto e Palas Athena e a de ser atribuída ao primeiro a regência do signo. Os
mitos que cercam as origens de Hefesto têm, sem dúvida, suas raízes fixadas no
mundo das tribos arianas. Lembremos que os primitivos povos árias reverenciavam
o fogo através de três divindades.
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AGNI |
O fogo celeste era representado por Surya, o
Sol; as suas emanações radiantes, ou seja, o fogo como intermediário entre o
Sol e a Terra, tinha Indra por patrono; o fogo terrestre, o da vida doméstica,
dos sacrifícios, das lareiras e das cremações, era de Agni; este último tipo de
fogo podia ser preparado ou gerado pelos próprios seres humanos. Era deste modo que no Rig Veda se faziam
referências a Agni: Tu que és o deus mais
próximo de nós, vem nos socorrer, tu o nosso mais doce amigo.
Agni, na terra, podia tomar formas benéficas ou maléficas, como o fogo
sacrificial no primeiro caso, promovendo a união terra-céu, ou como fogo dos
incêndios, descontrolado, terrível, no segundo caso, quando destrutivamente
rugia como um touro bravio ou como as ondas revoltas dos mares. Na língua
sânscrita, Yavishtha, um superlativo
de yuvan, jovem (juvenis, junior, em latim), é juveníssimo, ou seja, o eternamente
jovem, aquele que sempre se renova, que não perde jamais a sua força, uma
epiclese do deus Agni.
Chamado pelos gregos de Aphaistos (aph,
água, e aistos, acender, produzir
fogo), Hefesto, é o fogo celeste nascido das águas. O Hefesto grego adquire o
status de artista dos deuses, atividade muito semelhante à de Agni na Índia
védica, chamado, nesta condição, de Tvasthar, palavra que quer dizer artífice,
o mais operoso dos deuses, criador não só de coisas inanimadas como de animais
e homens. No mundo védico, havia um colégio sacerdotal que administrava os
cultos relativos ao fogo como Agni, principalmente nos seus aspectos práticos,
exercendo seu poder sobre o elemento ígneo como criador de riquezas, produtor
de alimentos e gerador de bens temporais.
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HEFESTO E TÉTIS |
Hefesto, como sabemos, segundo uma versão mais aceita, nasceu da união
legítima de Zeus e de Hera, mas, segundo Homero, uma união sem amor. Noutra
versão, Hera teria gerado Hefesto sozinha em represália ao nascimento de Palas
Atena, fruto de um famoso “parto cerebral” de Zeus, tipicamente ariano. Para o
defeito físico de Hefesto há também duas versões. A primeira (Ilíada) nos diz
que Hera, ao ver o filho coxo e
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ZEUS E HERA |
deformado, o lançou do alto do Olimpo em
direção da terra. Caindo no mar, Hefesto foi recolhido por Tétis e Eurínome,
divindades marinhas, que o protegeram, levando-o para uma gruta, onde fez a sua
longa aprendizagem no trabalho do ferro, do bronze, dos metais e pedras
preciosas. Numa outra versão, Hefesto teria nascido hígido. A causa estaria
numa discussão entre Zeus e Hera a propósito de Hércules. Ao tomar o partido da
mãe, Zeus, irritado, o lançou no espaço, caindo ele na ilha de Lemnos. Devido
ao tombo, teria ficado manco, com os pés voltados para trás.
Mais tarde, admitido no Olimpo, assumiu a condição de mestre do elemento
ígneo e patrono de todos os que o utilizam para a produção de bens e
utensílios. Para os deuses, fabricou maravilhas, armas terríveis. Temível,
violento, atormentado e arrebatado, as indicações que temos nas antigas
tabuinhas mesopotâmicas se ajustam porém a nosso ver, muito mais, a alguém
nascido sob a influência das Pinças de Escorpião, que iriam mais tarde
constituir o signo de Libra.
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PALAS ATHENA
( 1898 , KLIMT ) |
Quanto a Palas Atena, lembremos que Marcus Manilius, ao narrar a sua
história, destaca os traços arianos que na deusa encontramos, desde o seu
nascimento, da cabeça do pai. Zeus a “concebe” só. O momento do parto é
anunciado por uma grande dor de cabeça. Hefesto é o “parteiro”. Abre a cabeça
de Zeus e dali arranca a deusa, nascida adulta e armada, soltando gritos de
guerra. Mal nascida, a jovem deusa guerreira pôs-se a lutar ao lado do pai e de
outros deuses olímpicos no episódio da Gigantomaquia. Tanto as armas que usou
como os seus sábios conselhos foram decisivos para a vitória dos olímpicos.
Outra característica ariana de Palas Atena estava no seu grande empenho
em participar de competições e concursos. Citemos, dentre eles, a disputa pelo
título de “a mais bela”, que teve por cenário o casamento de Peleu e de Tétis,
e a disputa que travou com Poseidon, pela tutela da polis ateniense. Sua enorme
vocação para ultrapassar a tudo e a todos, levou-a, por exemplo, a assumir a
proteção dos lugares elevados, como a deusa das acrópoles. Se numa perspectiva
idealizada é a deusa da inteligência, da prudência e da força guiada pela
razão, na prática, na realidade, sua história está repleta de passagens em que
se mostra rancorosa, impulsiva, violenta, amante das batalhas, das competições,
traços que aproximam bastante do mundo ariano.
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MARCUS MANILIUS |
Ainda segundo Marcus Manilius, em seu poema, as características do
carneiro não devem ser perdidas de vista quando procuramos descrever os tipos
do signo, pois o carneiro, cujo rico velo
produz lã tão útil, espera renová-lo a cada vez que dela é despojado; situado
sempre entre uma fortuna brilhante e uma ruína instantânea, não enriquecerá
senão para perder tudo, sendo sua felicidade o prenúncio de sua queda. Nem a
própria Palas Atena desdenhou trabalhar com a lã e considerou glorioso e digno
o triunfo que obteve sobre Aracné.
Libra é o sétimo signo, oposto polar de Áries, e constitui, como
sabemos, no zodíaco, o lugar mais distante do eu. Em qualquer circunstância ou
momento em que, como indivíduos, tivermos que
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VÊNUS
( BOTTICELLI , 1445 - 1510 ) |
iniciar um relacionamento com outras pessoas o simbolismo do equinócio
de outono e o de Libra é invocado. Há que se considerar, todavia, que o
simbolismo de Libra deixa muito a desejar quando pensamos em amor. A Vênus libriana
realmente não empolga; é bela, pode ter padrões estéticos refinados, é
diplomática, socialmente agradável, companheira, mas falta-lhe aquilo que a
Vênus taurina tem, o lado carnal, terreno, o prazer sensual, onde o erotismo
sempre pode entrar, glorificado de algum modo.
Embora eu não seja um defensor da defenestração de Vênus da regência de
Libra, julgo que a corregência do signo deva ser compartilhada de um modo mais
definido entre ela, Vênus, Palas Atena e Hera, deusas-asteróides que começaram
a ocupar o seu espaço no signo e nos assuntos da sétima casa pelo que ambas,
com muita propriedade, têm a dizer. Hera, na mitologia grega, era a deusa das
justas núpcias e da fidelidade conjugal, a legítima (legal) esposa do Senhor do
Olimpo. É, como tal, a protetora das uniões oficiais, estendendo-se o seu
domínio por isso aos partos e à educação dos filhos. Por outro lado, Palas Atena é, sem dúvida, o
lado lutador da sétima casa, o seu lado aguerrido que, às vezes, aparece como a coação da lei,
a espada da justiça. É neste caso, que a
balança e a espada se tornam inseparáveis. A primeira como símbolo do
julgamento, da medida, da prudência e da medida. A outra, a espada, na sua
dupla função, como destruidora da injustiça e restauradora da ordem.
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PALAS , VÊNUS , HERA (HANS VON AACHEN, 1552 - 1615) |
Se pensarmos na questão da estética, Hera sempre foi vista como uma
mulher de beleza majestosa, embora às vezes irascível e altiva, elegantemente
vestida, cabelos impecáveis, classe na gesticulação, corpo rijo, uma presença
que impunha respeito e, quem sabe, desejos eróticos mudos naqueles que a viam
espetacularmente se movimentando nas reuniões olímpicas. Sendo esposa de Zeus,
detinha Hera naturalmente certos atributos de soberania que lhe eram pessoais e
intransferíveis, que a distinguiam muito das outras deusas. Exercia inclusive,
para reforçar a soberania de sua posição, uma poderosa ação sobre alguns
fenômenos atmosféricos. Era reverenciada sobretudo nas alturas celestes, lugar
onde se amontoavam as nuvens, de onde vinham as chuvas benéficas, mas de onde
também provinham violentas tempestades. As más línguas olímpicas diziam que as
querelas entre Zeus e Hera, típicas da sétima casa, eram uma alegoria,
representando as perturbações atmosféricas naturais das alturas celestes. Hera
seria assim, também, a imagem da atmosfera tantas vezes carregada, agitada,
escura, ameaçadora. Quanto a Zeus, se personificava o éter puro, a serenidade
do firmamento, podia, muitas vezes, se manifestar através de seus três
terríveis atributos, o trovão, o relâmpago e o raio.
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ZEUS E HERA |
O casamento entre Zeus e Hera foi um acontecimento que decorreu
sobretudo de acordos e arranjos políticos, econômicos e sociais; uma história
de poder e de lutas, como ocorre ainda hoje com muitas uniões no mundo das
elites, algo bem distante de uma associação motivada por amor. A aproximação
entre o amor e o casamento, na civilização ocidental, só foi feita muito
tardiamente, como se sabe. Nas classes
superiores, os casamentos, como sabemos, ainda hoje, são arranjados. Por isso,
embora associemos Vênus ao amor, não há dúvida de que ela se relaciona muito
mais com o casamento-instituição, como aliás aconteceu com Afrodite, quando do
seu casamento com Hefesto. Por uma questão de justiça, seria por isso muito
mais apropriado talvez dar um poder maior a Hera sobre as questões de Libra e
da sétima casa. Razão maior para isto a encontraremos se pensarmos o quanto as
relações de Zeus e Hera tipificam mais adequadamente as relações “normais” da
instituição chamada casamento, relações cheia de crises, arrufos, brigas,
histórias de infidelidade, acessos de ciúme e vinganças.
A corregência de Palas Atena em Libra, como já foi possível deduzir do
que sobre ela se falou acima, encontra a sua justificação principalmente no
caso de librianos que tenham em suas cartas uma dominante fogo ou ar, isto é,
mais ativos, “legalistas”, “justiceiros” (a espada a serviço da Justiça), ou
que, devido ao componente aéreo, sejam mais frios, mais lógicos, menos
propensos a se envolver nas confusões afetivas que o signo tradicionalmente
costuma apresentar.
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HÉCUBA E PRÍAMO |
Não podemos esquecer que os gregos sempre aproximaram do signo de Libra
uma das figuras mais contraditórias de sua mitologia. Referimo-nos ao príncipe
troiano Páris, também chamado Alexandre (o que repele), filho de Príamo e de
Hécuba. Antes do seu nascimento, os adivinhos, consultados, anunciaram que a
criança causaria um dia a destruição de Troia através do fogo. Por causa dessa
predição, Príamo determinou que a criança fosse exposta, abandonada. Hécuba,
porém, entregou o menino a uns pastores do monte Ida.
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PÁRIS ( 1628 , VAN DYCK ) |
Se nos primeiros anos de sua juventude e vida adulta Páris demonstrou
virtudes afirmativas que o levaram de volta ao palácio do pai, seu
comportamento, depois, com a ninfa Enone foi lamentável. Com relação a Helena,
então, Páris, outrora arrojado pastor, teve um comportamento pusilânime e só
não morreu nas mãos de Menelau por causa da intervenção de Afrodite a seu
favor. Ele, como sabemos, terminará a sua vida lamentavelmente na condição de
um anti-herói, encarnando as expressões inferiores de Libra, apesar de ter sido
o autor indireto da morte de Aquiles, o maior guerreiro dos gregos.