domingo, 24 de setembro de 2017

LIBRA (3)

                                           
AS  CÁRITES ( SANDRO BOTTICELLI , 1445 - 1510 )

Integram-se também à constelação de Libra as Cárites, as Graças, divindades inicialmente ligadas ao mundo vegetal e depois aparecendo sempre associadas à convivência harmoniosa entre os humanos. Kharis, em grego, significa graça exterior, beleza, encanto, boas maneiras, disposição para a convivência alegre, harmoniosa, divertimento saudável. Todas estas características encontradas tanto no mundo natural como no mundo dos humanos era delas. Nesta condição, eram as Cárites reverenciadas desde os primeiros momentos do dia. Em várias tradições mediterrâneas são registrados os seus cultos, destacando-se especialmente, por sua antiguidade, os de Creta, os jogos (agones) celebrados em sua honra, desde tempos do rei Minos. Seu mais antigo santuário estava em Orcômenos, antiga cidade da Beócia.


ORCÔMENOS  ,  ANTIGA  BEÓCIA

A beleza da variedade do mundo natural deve-se a elas, que, assim, agiam em comum com as Horas nesta área. Tinham responsabilidade direta pela suavidade primaveril, atenuando o que esta estação trazia de quente e áspero. Os poetas logo se apoderaram desta imagem, fazendo das Cárites as amigas e protetoras de tudo o que aparecia como suave, gracioso e belo. É o caso de Píndaro, gênio da poesia grega, que as considerou sempre como fonte do decoro, da pureza, da felicidade da vida diária e da boa vontade. Lembremos que palavras gregas eukharistia (ação de graças) e eukharistos (agradecido, obrigado) têm relação com as Cárites. O verbo é kharizomai, agradar, dar gosto, mais o prefixo eu, bem, bom.

Eram representadas por três jovens, nuas ou seminuas, sempre dançando, rodopiando, cantando, perto de fontes, usando uma decoração corporal e ambiental muito florida, com especial destaque para as rosas, as flores de Afrodite. Passavam grande parte do seu tempo com as Musas, perto do Olimpo. Na maior parte das versões, as Cárites passam por filhas de Zeus e de Eurínome, uma oceânida, que casada com Ofion administrava o cume nevoso do Olimpo.

CÁRITES
( C. VAN LOO , 1705-1765 ) 
As Cárites eram três: Aglaia (Brilhante, Esplêndida), Talia (Festa) e Eufrosina (Alegria da Alma). Em Atenas eram apenas duas, Kleta (a que causa impressão profunda, emitindo sons) e Phaenna (a que lampeja, a tremulante). Aglaia uniu-se a Hefesto, sendo a responsável, conforme atestado por muitas tradições, pelo elevado padrão estético das obras e peças que saíam das oficinas e forjas do deus. Palas Athena, muito desajeitada nas questões de beleza, recorreu várias vezes às Graças para suavizar o utilitarismo das suas ações e dos produtos que inspirava. O deus Hermes, muito pragmático, se valeu do conselho das Graças para aumentar a capacidade de penetração dos seus discursos.  No mais, as Cárites tanto influenciavam positivamente os trabalhos artísticos e as atividades intelectuais como participavam alegremente dos cortejos de Afrodite, Eros e Dioniso.

Na Grécia, numerosos templos e santuários mantinham com destaque as imagens dessas três divindades. Havia um festival anual que as honrava, chamado Charistesia, do qual faziam parte jogos teatrais, canto e dança. Eram também muito invocadas nos
SYRINX
banquetes e nos simpósios, sendo o primeiro brinde feito sempre em sua homenagem. Tinham como atributo a rosa, o mirtilo e os dados, como símbolos do alegre divertimento. Maçãs, vasos floridos, papoulas, espigas de trigo e instrumentos musicais (lira, flauta e syrinx) faziam parte da decoração dos ambientes em que pontificavam.     

AFRODITE   PANDÊMIA
( CHARLES  GLEYRE, 1806 - 1874 )
Entre os gregos, astrologicamente, o signo de Libra foi entregue à deusa Afrodite, aquela que veio para controlar o deus Eros, ou seja, para colocar as relações divinas e humanas numa perspectiva de reciprocidade, integrando numa justa proporção o amor sob a sua forma física, bem como o desejo e o prazer dos sentidos. O mundo grego enquadrou a deusa Afrodite em vários tipos, sendo os mais conhecidos
AFRODITE  URÂNIA , 1878
( CHRISTIAN GRIEPENKERL ) 
o “popular”, o da chamada Afrodite Pandêmia, e o “elevado”, “celeste”, o da chamada Afrodite Urânia, ou seja, a deusa como símbolo dos amores e das uniões onde podem prevalecer, respectivamente, o aspecto terrestre ou celeste da deusa. O cristianismo, lembremos, procurou construir a imagem da Virgem Maria sob a inspiração de influências egípcias e gregas, isto é, de Ísis, quanto às primeiras,  e da Afrodite Urânia e das Cárites quanto às outras.

Por fazer parte do eixo equinocial, marcando o início do outono, ao signo de Libra sempre foi atribuída grande importância. É nessa condição que ele é a porta de entrada do terceiro quadrante zodiacal, o da vida social, sucedendo o segundo quadrante, o da vida familiar, e preparando para o do coletivo, da humanidade, o quarto e último quadrante. Os hindus sempre associaram está área do Zodíaco, o terceiro quadrante, ao conceito de dharma, palavra que traduz ideias de lei, obrigação, dever e responsabilidade.


Os antigos gregos só muito tardiamente reconheceram o signo da Balança, dando-lhe a forma que tem hoje. Tal aconteceu ao tempo dos grandes astrônomos-astrólogos, Hiparco, Eratóstenes e Ptolomeu, quando, como se disse, as Pinças ou Garras de Escorpião ganharam autonomia. A elas se deu o nome grego de Zygon (Parelha), de onde saiu a palavra zigoto, usada na biologia para indicar o estágio do embrião em que os gametas masculino e feminino (esperma e óvulo) se encontram pela primeira vez no útero materno, ocorrendo então, verdadeiramente, a concepção.

Os romanos chamaram esta constelação de Jugum, palavra que traduz a ideia de algo que conecta, que enlaça, que junge, que atrela, designando ela  também uma espécie de cabresto com o qual desfilavam os prisioneiros. Outros nomes romanos da constelação eram, como se disse, Chelae (Pinças), Libra e muito raramente Noctipares. Este último era a palavra que os romanos usavam para designar pesos ou medidas de um modo geral. Alguns astrólogos gregos, lembremos, com formação mitológica, chegaram a ver na constelação de Libra o carro que levou Koré ao Hades, fazendo-se assim a ligação entre o signo de Virgem e o de Escorpião. Nas tabuinhas caldaicas, esta constelação era chamada de Zibanitu, palavra que parece significar algo como “chifres do escorpião”.

MARCUS   MANILIUS
Há uma tradição greco-romana que coloca a constelação de Libra sob a tutela de Hefesto (Vulcano), que passa por ter sido a divindade que a forjou. O defensor desta tradição é Marcus Manilius, poeta latino do primeiro século da nossa era, contemporâneo dos imperadores Augusto e Tibério, famoso autor de Astronomica, poema em cinco livros. Esta história de Hefesto como regente de Libra tem alguma justificativa mitológica se lembrarmos que Palas Atena chegou a ser considerada por muitos astrólogos gregos como a divindade regente do signo de Áries.

É no mito de Erictônio (o que provoca ruínas, o que despedaça) que encontramos a ligação entre as duas divindades acima referidas. Erictônio tem o seu nascimento ligado a um violento e incontrolável desejo de Hefesto por Palas Atena. Consta que a deusa certo dia procurou o deus metalúrgico para que ele fabricasse algumas armas de que necessitava. Ainda mal refeito do affaire Ares-Afrodite, Hefesto se inflamou quando viu a deusa virgem, tomado por um violento furor erótico. Tentou por todos meios possui-la e, embora coxo, a alcançou na corrida. Atena se defendeu bravamente, repelindo-o. No calor da refrega, entretanto, gotas do sêmen de Hefesto caíram sobre as coxas da deusa. Conseguindo se safar, depois, mais calma, segura de que não voltaria a ser atacada, Atena, horrorizada, com um floco de lã, limpou todo o esperma das suas belas pernas, jogando-o longe, no chão. No lugar em que a lã tocou a terra, uma criança dela brotou, um menino, recolhido de imediato pela deusa, que o chamou de Erictônio, o filho da terra.


GAIA   APRESENTA   ERICTÔNIO   A   PALAS   ATHENA

Sem que ninguém soubesse, nem os deuses, Palas Athena encerrou a criança numa arca, confiando a sua guarda às filhas de Cécrops, antigo fundador e rei mítico de Atenas. Apesar da recomendação de que jamais abrissem a arca, as jovens o fizeram; logo, porém, fugiram apavoradas diante da visão que tiveram: a criança era monstruosa, uma serpente da cintura para baixo. Punidas pela deusa com a loucura, as jovens princesas morreram ao se atirar da acrópole. Educado pela “mãe”, Erictônio, ao chegar à maioridade, recebeu o poder de Cécrops. A ele se deve, como rei de Atenas, a invenção da quadriga, a introdução do dinheiro na Ática e a organização das Panateneias em honra da mãe.   

HEFESTO
O mito de Erictônio une estreitamente Hefesto e Palas Atena na Ática, mais exatamente em Atenas. Homero, como sabemos, sempre exaltou Hefesto por causa de sua grande habilidade como construtor, criador, associando-o a Atena. Não é por outra razão que Platão (Critias) coloca as duas divindades compartilhando a tutela de Atenas, encontrando nelas uma conjugação de duas qualidades; de um lado, por Atena, a

philosophia (a razão guiando a força), e, de outro, por Hefesto, a philotekhnia (o amigo de todas as técnicas e artes). Ambos têm em comum também um grande pendor para tudo o que signifique artesanato, sendo divindades muito honradas pelos artesãos, que viviam no bairro do Cerâmico, onde anualmente se realizava uma grande festa (Khalkheia) em homenagem às duas divindades.

SURYA
Se pensarmos (astrologicamente) no fato de o fogo ariano ser atenuado ou controlado por Libra, talvez seja possível entender melhor esta relação entre Hefesto e Palas Athena e a de ser atribuída ao primeiro a regência do signo. Os mitos que cercam as origens de Hefesto têm, sem dúvida, suas raízes fixadas no mundo das tribos arianas. Lembremos que os primitivos povos árias reverenciavam o fogo através de três divindades.
AGNI
O fogo celeste era representado por Surya, o Sol; as suas emanações radiantes, ou seja, o fogo como intermediário entre o Sol e a Terra, tinha Indra por patrono; o fogo terrestre, o da vida doméstica, dos sacrifícios, das lareiras e das cremações, era de Agni; este último tipo de fogo podia ser preparado ou gerado pelos próprios seres humanos.  Era deste modo que no Rig Veda se faziam referências a Agni:
Tu que és o deus mais próximo de nós, vem nos socorrer, tu o nosso mais doce amigo.

Agni, na terra, podia tomar formas benéficas ou maléficas, como o fogo sacrificial no primeiro caso, promovendo a união terra-céu, ou como fogo dos incêndios, descontrolado, terrível, no segundo caso, quando destrutivamente rugia como um touro bravio ou como as ondas revoltas dos mares. Na língua sânscrita, Yavishtha, um superlativo de yuvan, jovem (juvenis, junior, em latim), é juveníssimo, ou seja, o eternamente jovem, aquele que sempre se renova, que não perde jamais a sua força, uma epiclese do deus Agni.

Chamado pelos gregos de Aphaistos (aph, água, e aistos, acender, produzir fogo), Hefesto, é o fogo celeste nascido das águas. O Hefesto grego adquire o status de artista dos deuses, atividade muito semelhante à de Agni na Índia védica, chamado, nesta condição, de Tvasthar, palavra que quer dizer artífice, o mais operoso dos deuses, criador não só de coisas inanimadas como de animais e homens. No mundo védico, havia um colégio sacerdotal que administrava os cultos relativos ao fogo como Agni, principalmente nos seus aspectos práticos, exercendo seu poder sobre o elemento ígneo como criador de riquezas, produtor de alimentos e gerador de bens temporais.

HEFESTO   E   TÉTIS
Hefesto, como sabemos, segundo uma versão mais aceita, nasceu da união legítima de Zeus e de Hera, mas, segundo Homero, uma união sem amor. Noutra versão, Hera teria gerado Hefesto sozinha em represália ao nascimento de Palas Atena, fruto de um famoso “parto cerebral” de Zeus, tipicamente ariano. Para o defeito físico de Hefesto há também duas versões. A primeira (Ilíada) nos diz que Hera, ao ver o filho coxo e
ZEUS   E   HERA
deformado, o lançou do alto do Olimpo em direção da terra. Caindo no mar, Hefesto foi recolhido por Tétis e Eurínome, divindades marinhas, que o protegeram, levando-o para uma gruta, onde fez a sua longa aprendizagem no trabalho do ferro, do bronze, dos metais e pedras preciosas. Numa outra versão, Hefesto teria nascido hígido. A causa estaria numa discussão entre Zeus e Hera a propósito de Hércules. Ao tomar o partido da mãe, Zeus, irritado, o lançou no espaço, caindo ele na ilha de Lemnos. Devido ao tombo, teria ficado manco, com os pés voltados para trás.   

Mais tarde, admitido no Olimpo, assumiu a condição de mestre do elemento ígneo e patrono de todos os que o utilizam para a produção de bens e utensílios. Para os deuses, fabricou maravilhas, armas terríveis. Temível, violento, atormentado e arrebatado, as indicações que temos nas antigas tabuinhas mesopotâmicas se ajustam porém a nosso ver, muito mais, a alguém nascido sob a influência das Pinças de Escorpião, que iriam mais tarde constituir o signo de Libra.

PALAS   ATHENA
( 1898  ,  KLIMT )
Quanto a Palas Atena, lembremos que Marcus Manilius, ao narrar a sua história, destaca os traços arianos que na deusa encontramos, desde o seu nascimento, da cabeça do pai. Zeus a “concebe” só. O momento do parto é anunciado por uma grande dor de cabeça. Hefesto é o “parteiro”. Abre a cabeça de Zeus e dali arranca a deusa, nascida adulta e armada, soltando gritos de guerra. Mal nascida, a jovem deusa guerreira pôs-se a lutar ao lado do pai e de outros deuses olímpicos no episódio da Gigantomaquia. Tanto as armas que usou como os seus sábios conselhos foram decisivos para a vitória dos olímpicos.

Outra característica ariana de Palas Atena estava no seu grande empenho em participar de competições e concursos. Citemos, dentre eles, a disputa pelo título de “a mais bela”, que teve por cenário o casamento de Peleu e de Tétis, e a disputa que travou com Poseidon, pela tutela da polis ateniense. Sua enorme vocação para ultrapassar a tudo e a todos, levou-a, por exemplo, a assumir a proteção dos lugares elevados, como a deusa das acrópoles. Se numa perspectiva idealizada é a deusa da inteligência, da prudência e da força guiada pela razão, na prática, na realidade, sua história está repleta de passagens em que se mostra rancorosa, impulsiva, violenta, amante das batalhas, das competições, traços que aproximam bastante do mundo ariano.

MARCUS   MANILIUS
Ainda segundo Marcus Manilius, em seu poema, as características do carneiro não devem ser perdidas de vista quando procuramos descrever os tipos do signo, pois o carneiro, cujo rico velo produz lã tão útil, espera renová-lo a cada vez que dela é despojado; situado sempre entre uma fortuna brilhante e uma ruína instantânea, não enriquecerá senão para perder tudo, sendo sua felicidade o prenúncio de sua queda. Nem a própria Palas Atena desdenhou trabalhar com a lã e considerou glorioso e digno o triunfo que obteve sobre Aracné.

Libra é o sétimo signo, oposto polar de Áries, e constitui, como sabemos, no zodíaco, o lugar mais distante do eu. Em qualquer circunstância ou momento em que, como indivíduos, tivermos que
VÊNUS
( BOTTICELLI , 1445 - 1510 )
iniciar um relacionamento  com outras pessoas o simbolismo do equinócio de outono e o de Libra é invocado. Há que se considerar, todavia, que o simbolismo de Libra deixa muito a desejar quando pensamos em amor. A Vênus libriana realmente não empolga; é bela, pode ter padrões estéticos refinados, é diplomática, socialmente agradável, companheira, mas falta-lhe aquilo que a Vênus taurina tem, o lado carnal, terreno, o prazer sensual, onde o erotismo sempre pode entrar, glorificado de algum modo.

Embora eu não seja um defensor da defenestração de Vênus da regência de Libra, julgo que a corregência do signo deva ser compartilhada de um modo mais definido entre ela, Vênus, Palas Atena e Hera, deusas-asteróides que começaram a ocupar o seu espaço no signo e nos assuntos da sétima casa pelo que ambas, com muita propriedade, têm a dizer. Hera, na mitologia grega, era a deusa das justas núpcias e da fidelidade conjugal, a legítima (legal) esposa do Senhor do Olimpo. É, como tal, a protetora das uniões oficiais, estendendo-se o seu domínio por isso aos partos e à educação dos filhos.  Por outro lado, Palas Atena é, sem dúvida, o lado lutador da sétima casa, o seu lado aguerrido  que, às vezes, aparece como a coação da lei, a  espada da justiça. É neste caso, que a balança e a espada se tornam inseparáveis. A primeira como símbolo do julgamento, da medida, da prudência e da medida. A outra, a espada, na sua dupla função, como destruidora da injustiça e restauradora da ordem. 


PALAS , VÊNUS , HERA (HANS VON AACHEN, 1552 - 1615)

Se pensarmos na questão da estética, Hera sempre foi vista como uma mulher de beleza majestosa, embora às vezes irascível e altiva, elegantemente vestida, cabelos impecáveis, classe na gesticulação, corpo rijo, uma presença que impunha respeito e, quem sabe, desejos eróticos mudos naqueles que a viam espetacularmente se movimentando nas reuniões olímpicas. Sendo esposa de Zeus, detinha Hera naturalmente certos atributos de soberania que lhe eram pessoais e intransferíveis, que a distinguiam muito das outras deusas. Exercia inclusive, para reforçar a soberania de sua posição, uma poderosa ação sobre alguns fenômenos atmosféricos. Era reverenciada sobretudo nas alturas celestes, lugar onde se amontoavam as nuvens, de onde vinham as chuvas benéficas, mas de onde também provinham violentas tempestades. As más línguas olímpicas diziam que as querelas entre Zeus e Hera, típicas da sétima casa, eram uma alegoria, representando as perturbações atmosféricas naturais das alturas celestes. Hera seria assim, também, a imagem da atmosfera tantas vezes carregada, agitada, escura, ameaçadora. Quanto a Zeus, se personificava o éter puro, a serenidade do firmamento, podia, muitas vezes, se manifestar através de seus três terríveis atributos, o trovão, o relâmpago e o raio.

ZEUS  E  HERA
O casamento entre Zeus e Hera foi um acontecimento que decorreu sobretudo de acordos e arranjos políticos, econômicos e sociais; uma história de poder e de lutas, como ocorre ainda hoje com muitas uniões no mundo das elites, algo bem distante de uma associação motivada por amor. A aproximação entre o amor e o casamento, na civilização ocidental, só foi feita muito tardiamente, como se sabe.  Nas classes superiores, os casamentos, como sabemos, ainda hoje, são arranjados. Por isso, embora associemos Vênus ao amor, não há dúvida de que ela se relaciona muito mais com o casamento-instituição, como aliás aconteceu com Afrodite, quando do seu casamento com Hefesto. Por uma questão de justiça, seria por isso muito mais apropriado talvez dar um poder maior a Hera sobre as questões de Libra e da sétima casa. Razão maior para isto a encontraremos se pensarmos o quanto as relações de Zeus e Hera tipificam mais adequadamente as relações “normais” da instituição chamada casamento, relações cheia de crises, arrufos, brigas, histórias de infidelidade, acessos de ciúme e vinganças.

A corregência de Palas Atena em Libra, como já foi possível deduzir do que sobre ela se falou acima, encontra a sua justificação principalmente no caso de librianos que tenham em suas cartas uma dominante fogo ou ar, isto é, mais ativos, “legalistas”, “justiceiros” (a espada a serviço da Justiça), ou que, devido ao componente aéreo, sejam mais frios, mais lógicos, menos propensos a se envolver nas confusões afetivas que o signo tradicionalmente costuma apresentar.

HÉCUBA  E  PRÍAMO  
Não podemos esquecer que os gregos sempre aproximaram do signo de Libra uma das figuras mais contraditórias de sua mitologia. Referimo-nos ao príncipe troiano Páris, também chamado Alexandre (o que repele), filho de Príamo e de Hécuba. Antes do seu nascimento, os adivinhos, consultados, anunciaram que a criança causaria um dia a destruição de Troia através do fogo. Por causa dessa predição, Príamo determinou que a criança fosse exposta, abandonada. Hécuba, porém, entregou o menino a uns pastores do monte Ida.

PÁRIS ( 1628 , VAN DYCK )
Se nos primeiros anos de sua juventude e vida adulta Páris demonstrou virtudes afirmativas que o levaram de volta ao palácio do pai, seu comportamento, depois, com a ninfa Enone foi lamentável. Com relação a Helena, então, Páris, outrora arrojado pastor, teve um comportamento pusilânime e só não morreu nas mãos de Menelau por causa da intervenção de Afrodite a seu favor. Ele, como sabemos, terminará a sua vida lamentavelmente na condição de um anti-herói, encarnando as expressões inferiores de Libra, apesar de ter sido o autor indireto da morte de Aquiles, o maior guerreiro dos gregos.