DELPHINUS é uma constelação que tem mitos em várias tradições, inclusive no norte do Brasil. O delfim, como sabemos, é um mamífero marinho muito inteligente e esperto. As populações mediterrâneas, desde tempos muitos remotos, sempre o colocaram nas suas histórias, lendas e mitos. Segundo um antigo mito grego, o deus Apolo tomou a forma de um delfim para conduzir até a Grécia alguns habitantes de Creta que foram a Delfos levantar um templo em sua homenagem. É daí que vem um dos apelidos do deus, Delphinios, o senhor dos delfins. Os cretenses e os habitantes dos territórios por ele dominados usavam o delfim como símbolo para honrar o deus Apolo.
POSEIDON ( FONTE ROMANA ) |
POSEIDON E HIPOCAMPOS |
Um dos nomes de Poseidon, como sabemos, era Hippios, apelido que recebeu como o deus criador de cavalos. Este acontecimento está ligado a um fato muito importante da vida ateniense. A cidade não possuía uma divindade tutelar. A população ateniense estabeleceu então uma espécie de competição entre as divindades para esse fim. Duas se
apresentaram. Poseidon, com um golpe de tridente, fez com que das profundezas da terra surgisse um cavalo, animal até então inexistente, e o ofereceu, como presente, à cidade. Palas Athena, outra candidata, arrancou da terra uma árvore, também até então inexistente, presente a que o povo de Atenas deu preferência àquele de Poseidon. Era a oliveira, símbolo da paz e da fertilidade. Desde então a filha de Zeus se tornou a grande divindade tutelar de Atenas, denominando-se Acrópole (akros, ponta, extremidade) o ponto mais alto da cidade, onde se construiu um templo em sua homenagem.
PALAS ATHENA COM RAMOS DE OLIVEIRA ( BOTTICELLI - SÉCULO XV ) |
Além de Poseidon, Dioniso e Afrodite também têm ligação com o delfim. O primeiro, certa vez, sob a forma humana, contratou um barco para uma viagem à ilha de Naxos. Os marinheiros, entretanto, tentaram levá-lo para a Ásia, para vendê-lo como escravo. Dioniso
transformou os remos em serpentes, encheu o barco de hera e de agudíssimos sons de flautas invisíveis. Enlouquecidos, os marinheiros se lançaram ao mar, sendo metamorfoseados pelo deus em delfins. Esta história é contada pelos gregos para explicar porque os delfins, os piratas arrependidos, se tornaram salvadores de náufragos. Já Afrodite, devido às suas origens marinhas, é muitas vezes representada com delfins ao seu lado, que fazem parte da magia amorosa.
NASCIMENTO DE AFRODITE |
MOSAICO ROMANO |
Muitas imagens gregas nos mostram um homem montado num delfim, provavelmente uma referência a uma história narrada por Plutarco. Nela, Arion, um aedo que caiu no mar, foi salvo por delfins. Desde então a mediação dos delfins passou a simbolizar a salvação. Esta história acabou por ser aproveitada pelos cristãos, identificando-se Cristo, como salvador da humanidade, ao delfim. Mais ainda: pela mediação dos delfins será possível ao homem sair das incertezas, dos perigos e dos terrores imaginários com que se depara nas suas viagens (a vida como viagem) e ir para um mundo de serenidade, de contemplação e de certezas. Pela intervenção da bondade, do amor e do devotamento que o delfim passou a representar no cristianismo a evolução espiritual poderá ser sempre buscada. Esta evolução tem como ponto de partida a predominância da emotividade e da imaginação. Surgindo o delfim em nossa vida (Cristo Salvador) atingimos a iluminação na glória e na paz interior.
As características do delfim fazem dele um peixe muito utilizado, em várias culturas, para representar ideias de elevação, de espiritualidade, de vida superior. Muito “próximo” do ser humano (é mamífero), pelo seu modo de deslocamento o delfim sugere sempre um esforço de superação, de uma saída da indiferenciação. O animal do mar que a ele se opõe, símbolo da vida instintiva, é o tubarão-tigre (tintureira), extremamente voraz.
INO E DIONISO |
Um dos mitos gregos associados ao delfim é o de Palemon, um primo de Dioniso. Sua mãe, Ino, era irmã de Sêmele, a mãe do
deus. Ele, a princípio, era chamado de Melicertes. Enlouquecida por Hera, Ino se suicidou, levando consigo seu filho. As divindades marinhas, compadecidas da sorte de Ino a transformaram numa nereida com o nome de Leucoteia (a deusa branca). Melicertes se transformou em Palemon, tomando a forma de um delfim. Mãe e filho no mar se tornaram grandes protetores dos marinheiros, sobretudo durante as grandes tempestades (vide a Odisseia: a salvação de Ulisses quando do seu naufrágio).
LEUCOTEIA J. ALLASSEUR, 1862 |
O caráter puro, ingênuo e às vezes infantil do delfim levou os franceses, desde o século XIV, a dar um título com esse nome ao filho primogênito do rei, dauphin. Assim, a famosa expressão ad usum delphini, colocada na capa de livros destinados ao uso desse primogênito real, significava que estávamos diante de obras “puras como a juventude e virgens de todos os detalhes imorais”, livros todos cuidadosamente expurgados. Lembre-se ademais que, em grego, irmão é adelphos, palavra que exprime a ideia de separação ou de extração de uma mesma matriz, de um mesmo seio. É dentro desse campo semântico que se explica a origem do título dauphin dada ao herdeiro presuntivo do trono francês, sendo sua esposa chamada de delfina (dauphine). O primeiro a usar tal título foi o príncipe Carlos, a partir de 1.349, futuro rei Carlos V.
No Brasil, o delfim tem também o nome de boto, roaz ou toninha. Nas lendas amazônicas, o boto (nome que vem de barrica, odre de vinho) aparece muitas vezes como um sedutor das jovens que vivem nas margens do rios, sendo por isso os pais de todos os filhos de paternidade desconhecida (veja neste blog "A Boiuna e o Boto"). Ao anoitecer, o boto sai dos rios e se transforma num
bonito jovem, alto, forte, bom dançador e bebedor. De chapéu na cabeça, que nunca tira, frequenta bailes, dança, namora e engravida as moças. Antes do amanhecer, pula na água e volta a ser boto. A expressão “filho de boto” é comum no Pará, significando criança sem pai, filho natural. Noutras histórias, o boto tinha o hábito de assumir a forma de uma bela mulher, de cabelos compridos, que saía à noite para passear, seduzindo os moços, levando-os para o rio. Uma espécie de mãe-d´água. Atracava-os pela cintura e mergulhava com eles nas águas, soltando gritos de triunfo.
Este lado andrógino do delfim não tem maiores registros na Astrologia, mas julgo que não devemos perdê-lo de vista, principalmente pelo fato de ele aparecer sempre muito relacionado com deusas da fertilidade, como Afrodite e Demeter. O lado “feminino” do delfim fez dele, por isso, como dragão, um guardião natural do oráculo de Delfos, cujas divindades tutelares originais eram Geia, a Grande-Mãe, e Têmis, sua filha.
Quanto à magia amorosa, os delfins aparecem em muitas histórias sempre ligados à voluptuosidade, à natural propensão que apresentam de se "enamorar" e de sentir saudade (pothos). Os gregos viam no movimento dos delfins, quando se deslocavam, seu dorso descendo e se elevando acima da superfície das águas, uma grande semelhança com o movimento que o corpo do homem faz ao se relacionar sexualmente. Amigável, brincalhão e inteligente, a "afetividade" que o delfim demonstra pelo homem, principalmente como salvador de náufragos, é relatada em muitas passagens e depoimentos, em várias culturas.
PALÁCIO DE CNOSSOS , CRETA |
PTOLOMEU |
EQUULEUS é a constelação do Potro, tendo sido os gregos, talvez, os únicos que por ela se interessaram na antiguidade, deixando-nos uma versão sobre a sua origem. O animal que está nos céus como constelação é Celeris (velocidade, rapidez, etimologicamente), um cavalo, irmão de Pégaso (também constelação), que Hermes deu de presente a Castor, um dos Dioscuros. Os Dioscuros (estrelas da constelação zodiacal de Gêmeos), como sabemos, têm seu mito centrado em Esparta. São eméritos cavaleiros. Irmão de Pégaso, Celeris tem, portanto, como pai o deus Poseidon, que como gerador de cavalos recebeu o nome de Hippios. Castor é o irmão “mortal” de Polux ou Polideuces, este filho de Zeus, sendo Leda a mãe.
Esta constelação é uma das menores do céu; sua história não tem antes de Ptolomeu nenhum registro. Os únicos que a ela fazem referência são Gemino e Hiparco, conforme citação encontrada em Manilius. Marcus Manilius foi poeta latino do primeiro século dC, contemporâneo de Ausgusto e de Tibério. Deixou o poema Astronomica, em cinco partes, no qual Equuleus, por aparecer antes do "irmão" nos céus, é chamada de “A parte dianteira do Pégaso”.
Os antigos gregos associavam a Equuleus também um outro mito, o de Hipe, nome que pode ser considerado como o feminino de hippos, cavalo. Hipe era filha do centauro Kiron. Raptada pelo deus dos ventos, Éolo, e por ele engravidada, no momento de dar à luz, fugiu, procurando voltar para junto do pai, à sua gruta no monte Pelion. Perseguido por Éolo, pediu a intervenção dos deuses, que a transformaram numa constelação que tomou a forma de um cavalo. Uma outra versão nos relata que Hipe chegou a ter um filho de Éolo, de nome Melanipe. Envergonhada, não querendo que Kiron nada soubesse desse filho, pediu que Ártemis, deusa lunar, a ajudasse. Foi então transformada numa constelação na forma de potro, posicionada atrás da imagem celeste de Pégaso.
No geral, o que é de mais seguro, é que não mereceu esta constelação atenção maior dos antigos. É formada por quatro estrelas de magnitude desprezível para fins astrológicos. Sua estrela mais importante chama-se Kitalpha (de quase quarta magnitude), palavra que em árabe quer dizer "parte do cavalo". Os antigos associaram a sua influência ao temperamento dos potros, inquietos, instáveis, infantis, frívolos, brincalhões, sempre em busca do que lhes agradasse. Estende-se Equuleus de 19º a 28º de Aquário.
HÉRCULES |
HÉRCULES, antes de ter recebido este nome dos gregos, esta constelação era conhecida pelo nome de O Fantasma, uma forma humana que, segundo os antigos, parecia a de alguém pronto a entrar em ação, para cumprir alguma tarefa. Era também chamada de “Aquele que se ajoelha”. Assim fixada nesta posição, a figura parecia esmagar a cabeça do dragão (Draco), da qual está próxima. Os egípcios viram nesta constelação uma figura humana que representaram por um hieróglifo que significava tanto render tributo, adorar, como prestar algum tipo de serviço. Esta figura egípcia talvez tenha motivado os gregos a colocar o herói Hércules como constelação orientada para a adoração do centro que se encontra no polo norte celeste.
Muito antiga, esta constelação teve a sua forma fixada desde tempos imemoriais segundo a tradição cultural que a estudou. Para os mesopotâmicos, por exemplo, era Gilgamés. De todos os heróis assiro-babilônico ele é o mais famoso; empenhou-se como nenhum
outro na busca da imortalidade; seus feitos, glórias e fracasso são descritos no poema intitulado Aquele que descobriu a fonte ou Aquele que tudo viu. Herói sumeriano, rei de Uruk, Gilgamés, com seu amigo Enkidu travou combate contra o gigante Humbaba. A deusa Inana (Astarte) o proclamou herói, mas ele recusou os seus favores e proteção. A deusa se vingou, enviando contra os dois companheiros um touro celeste, que foi vencido. Por artes da deusa, entretanto, Enkidu morreu. Tomado de grande dor e medo, Gilgamés partiu então em busca da imortalidade. Acaba por encontrá-la sob a forma de uma planta marinha, que lhe é roubada por uma serpente. Retornando da grande aventura, perdendo a planta, acabou por se resignar à sua condição de mortal.
GILGAMÉS E ENKIDU |
Os gregos deram o nome de Hércules, o seu mais famoso herói solar, a esta constelação, aproximando-a, como se disse, da
constelação de Draco. Aparentemente, Hércules é uma síntese de várias figuras mitológicas anteriores, de origem muito distinta. Na sua versão final, este herói aparece como filho de Zeus, seu pai divino (o mortal era Anfitrião, rei de Tebas), e da princesa tebana Alcmena. Apesar de perseguido pelo ciúme de Hera, a irmã-esposa de Zeus, desde o seu nascimento, conseguiu chegar à vida adulta. Para se purificar de um crime (assassinato de sua família), cometido numa crise de loucura, segundo uma sentença do oráculo de Delfos, cumpriu doze trabalhos, que o imortalizaram.
HÉRCULES |
Herói civilizador, Hércules, por seus trabalhos, por suas aventuras, pela sua personalidade cheia de contradições, pelas suas grandes vitórias e por seus defeitos e erros, é considerado uma representação idealizada do ser humano e da força combativa. Ou, de outro modo, um símbolo da alma humana e de suas lutas em busca da transcendência, com a sua grandeza e as suas fraquezas.
Nesta perspectiva, Hércules é, no fundo, um herói trágico, como seu suicídio apoteótico nos deixa claro. Sempre a cercá-lo existencialmente uma situação conflitual, alimentada pelo seu conturbado psiquismo. De um lado, os seus atributos solares, de outro sempre a ameaçá-lo, o exagero, a hybris, as trevas e a morte. Tudo isto pode ser entrevisto em algumas passagens de sua vida, em muitos traços de sua personalidade básica, sendo bastante significativos o seu componente andrógino e homossexual que parece conviver com aquele do seu poder e da sua virilidade. Refiro-me aqui, neste particular, como exemplo, ao longo tempo que passou aos pés da rainha Omphale, vestido de mulher, ajudando-a a fiar lã.
HÉRCULES E OMPHALE ( FRANCESCO GIOVANNI ROMANELLI , 1610 - 1650 ) |
Vítima dos ciumes de sua mulher Djanira, foi nosso herói ao encontro da morte. Ao vestir uma túnica que ela lhe enviara, começou a sentir dores lancinantes. Explica-se: a túnica, sem que Djanira soubesse, fora mergulhada no sangue de um centauro, o que a tornara envenenada para sempre, nenhum antídoto possível. Vestindo-a, nosso herói começou a ter a sua carne corroída. Tentou arrancá-la, não conseguiu. Para escapar da dor, intolerável, armou rapidamente uma fogueira gigantesca, nela se lançando para buscar a morte. Este episódio constitui o chamado suicídio apoteótico de Hércules. Zeus, que do alto tudo via, compadecido, fez seu filho subir aos céus e o instalou no Olimpo, para que afinal pudesse ter paz depois de tão intensa e sofrida existência. A morte de Hércules tem como causa o fogo, por ela indicando-se claramente que o herói teria que ser purificado pela calcinatio, pela via rápida, radical, a fim de que se purificasse por inteiro, destruindo todos os seus elementos terrestres, mortais.
Em várias culturas, encontramos figuras como a de Gilgamés ou Hércules para representar a união das forças terrestres com as forças celestes, ora vistas como deuses decaídos, ora como humanos divinizados. Entre os celtas da Irlanda, o modelo é o herói Cuchulain que, desde a sua tenra idade, realizou feitos guerreiros extraordinários. Heróis como os apontados tanto simbolizam a essência da função guerreira como o elã evolutivo. É neste sentido que o herói se reveste de atributos do Sol, cuja luz e calor devem triunfar sobre as trevas e o frio da morte.
MORTE DE HÉRCULES ( FRANCISCO DE ZURBARÁN , 1634 |
CUCHULAIN |
Hércules é, em última instância, um símbolo da ambivalência na medida em que a sua força física se apoia sempre no excesso, na desmedida (hybris), como no impulso espiritual. Oscila nosso herói entre o anthropo (o homem comum) e o aner (o herói), indo de um lado para outro, por algo que sempre o ultrapassa, sem conhecer jamais o seu metron, a medida de um Ulisses, por exemplo, que sempre soube escapar de todas as ciladas do excesso.
Mais conhecido pela realização dos seus trabalhos (a passagem do Sol pelos doze signos zodiacais), o mito de Hércules invadiu a religião, a filosofia, a arte, a literatura, o teatro. Seus descendentes, os Heráclidas, conquistaram todo o Peloponeso. Seu ciclo heroico
se estendeu por toda a Grécia, a leste e a oeste, seguindo a expansão comercial e colonial grega no Mediterrâneo. Inúmeras famílias gregas, ao longo da História, procuraram demonstrar que descendem do herói, citando-se, particularmente, o caso dos Lágidas do Egito, os Antonii de Roma, tendo estes últimos como representante mais famoso Marco-Antônio (86-30 AC), locotenente de Cesar e amante de Cleópatra.
MARCO - ANTÔNIO |
A grande multiplicidade de aspectos da personalidade de Hércules ensejou um grande número de interpretações sobre a sua vida, paixões e morte. Desde sábios e filósofos, todos tiveram a dizer algo sobre ele. Os órfico-pitagóricos, por exemplo, transformaram a sua história num modelo de vida edificante. Ésquilo, o grande trágico, o viu como um ser voltado para a physis e que durante a sua existência encarnou a máxima “sofrer para compreender”.
Os moralistas viram em Hércules um retrato da condição humana. Muitos o transformaram num ser dotado de grande força deliberativa, capaz inclusive de “escolher os doze trabalhos”, de chamar a si os sofrimentos como proposta de vida, fazendo dele um paladino dos costumes e da lei. Nesse papel, Hércules é muitas vezes representado nas encruzilhadas, a meditar, solitário, sempre pronto para iniciar uma nova jornada. Há um autor grego, Pródico, do séc. V aC, que, num apólogo, Hércules na Encruzilhada, reveste o nosso herói de qualidades superiores, transformando-o num exemplo edificante. Nesse lugar, Hércules pondera sobre o vício (Kakia) e a virtude (Areté). Tomando forma, nesse momento, aparecem-lhe duas deusas. Kakia, magnificamente vestida e ornada, tenta seduzi-lo, fazendo a apologia do ócio e do prazer; Areté, vestida de branco, modesta, pudica, lhe fala da felicidade, que só pode ser alcançada pelo trabalho honesto, pelo conforto do dever cumprido, obtidos pela submissão da vida instintiva à vida racional. Em muitas versões, Kakia foi identificada como Afrodite e Areté como Palas Athena, esta última a protetora dos heróis.
Apesar da grandeza de todas essas interpretações, Hércules, conforme os próprios mitos nos revelam, é antes de tudo, por um aspecto, um ser contraditório, empurrado de um lado para outro pelos seus arrebatamentos, pelas suas paixões, pela sua hybris descomunal, muitas vezes; por outro, sempre a inspirá-lo, o desejo de transcendência, a busca do elã evolutivo, de natureza espiritual. A situação é sempre conflitual, agônica, representando, por isso, nosso herói a própria situação do psiquismo humano em permanente luta contra as força regressivas, simbolizadas pelas tarefas que tem de desempenhar e pelos monstros e malfeitores que tem de enfrentar exteriormente e, sobretudo, interiormente (a vida subconsciente). Conquistas solares constantemente ameaçadas de dissolução pelas forças das trevas.
A constelação de Hércules se estende de 28º de Libra a 2º de Capricórnio. Recebeu tal agrupamento estelar esse nome para que fosse celebrada de um modo especial e solene a participação do nosso herói quando da vitória dos olímpicos sobre os Titãs, auxílio sem o qual a vitória não teria sido possível. Para Ptolomeu, como para outros que o seguiram na antiguidade, a constelação tem, no seu todo, características mercurianas, o que não me parece cabível. Hércules, sem dúvida, tem uma personalidade, em que pesem quaisquer outras explicações, inegavelmente moldada, sob o ponto de vista astrológico, por características leoninas e arianas.
A primeira façanha pública do herói diz respeito à morte de um leão no monte Citerão, um animal de porte fora do comum e ferocíssimo. No quinto dos seus trabalhos, Hércules voltou a se defrontar com um leão, um monstro filho de Tifon e de Équidna, no bosque de Nemeia. Hércules fez do couro desse leão, invulnerável, uma capa para lhe cobrir os ombos e da cabeça do animal fez um elmo, jamais abandonados ao longo de sua vida. A arma predileta de Hércules, com a qual se lançará nos seus doze trabalhos, é o porrete, arma dos brutos. Nosso herói só “entenderá” o arco e a flecha no nono trabalho e, mesmo assim, sem jamais rejeitar o seu velho e bom porrete. As “virtudes” de Hércules ligam-se invariavelmente e acima de tudo aos três signos zodiacais do elemento fogo (Áries, Leão e Sagitário): força, coragem, violência, ferocidade, cegueira, rebeldia, vitalidade incandescente, emoções fortes, sensações violentas, ativismo, insubordinação. Tudo isto temperado, por outro lado, pelas influências dos demais elementos (terra, ar e água), nas suas expressões de generosidade, idealismo, combatividade e solidariedade.
ASTRÓLOGO |
Quanto ao primeiro mencionado, Hércules cobre parte do primeiro quadrante de seu mapa, principalmente o Ascendente e a 2ª casa, o
que coloca Ras Algheti em ascensão. Sabemos que Freud, antes dos trinta anos, desde antes de seu contacto com Charcot e Bernheim, e de sua colaboração com Breuer, sobre trabalhos ligados à etiologia da histeria e da utilização da hipnose em processos terapêuticos, já desenvolvia suas ideias sobre a “via real que conduzia ao inconsciente”. No que diz respeito ao segundo (prêmio Nobel em 1.964), Sol no Meio do Céu, notemos que Hércules cobre parte do terceiro quadrante, ocupando Ras Algheti a 8ª casa. Quanto a Nietzsche, Hércules cobre parte do primeiro e do quarto quadrantes, colocando-se Ras Algueti em ascensão, enquanto Plutão e Júpiter, regentes do Ascendente têm relação com o Nadir.