domingo, 17 de junho de 2018

CAPRICÓRNIO (5)


VERÃO
(MARC CHAGALL , 1938)
Não podemos deixar de lembrar ainda que alguns mitos gregos nos falam de  sistemas familiares em que as faltas e crimes dos pais são pagos pelos filhos. Acontecimentos dessa natureza estão registrados em muitas histórias e  descrevem a meu ver um mal-estar, ou melhor, uma espécie ferida que às vezes não fecha nunca, apresentada por grande parte dos capricornianos, ferida que lhes faz sentir que nunca obtiveram dos pais o que deles realmente necessitaram.   

Mitos gregos que melhor exemplificam o que acima aponto são os que nos falam da família dos átridas, também chamados de pelópidas, e da família dos labdácidas. Os primeiros têm como ponto de partida Tântalo, pai de Pélops, que por sua vez gerou Atreu, Tieste e Plístene, sendo o primeiro pai de  Agamêmnon e Menelau. Quanto à segunda, tudo começa com Lábdaco, passando por Laio, até chegar a Édipo e seus filhos. Nas duas famílias, uma corrente ininterrupta de traições, misérias, mazelas, crimes, incestos, mortes, onde um tipo de paternidade capricorniana
GEIA  E  URANO
apresenta claramente aspectos em que as ideias de fecundação se misturam às de dominação, de inibição e de autoridade indiscutível. O grande arquétipo deste tipo de paternidade tem naturalmente como modelo original a figura de Cronos, que, em última instância representa o mundo da autoridade em oposição ao das forças da mudança e da inovação. Cronos, como se sabe, é um titã, nascido de uma relação incestuosa entre Geia, a terra, e Urano, o céu, seu filho e amante. 

A mitologia grega, quando é posta em discussão a questão da paternidade (tema capricorniano, por excelência), deixa claro que no seu contexto (o das tradições patriarcais) a figura paterna é muito mais uma instauradora de valores, de leis e de regras que propriamente uma figura familiar, papel que elimina uma possível pretensão de igualdade da figura materna com ela. É nesse cenário
ÉDIPO E ANTÍGONA
(BRODOWISKI, 1784-1832
que, no mundo moderno, a figura paterna ainda se insere:  é o pai que estabelece o que é justo, bom e conveniente para a família e para os filhos, sendo considerado, por isso, como fonte de transcendência. Mas deixa ele também implícito, ao desempenhar desse modo o papel que lhe cabe, que o progresso passa pela sua supressão, tudo como também nos descrevem as histórias das dinastias da mitologia grega e de personagens como Édipo, Orestes, Teseu, Antígona e muitos outros.

É do mundo romano que nos vem um dos mitos que a tradição astrológica costuma associar a Capricórnio. Refiro-me à história de Janus, o deus bifronte dos povos da península itálica, por eles considerada como uma divindade indígete, isto é, autenticamente nacional, por oposição às importadas, as novênsiles. Janus, com efeito, tinha o seu culto celebrado no mês de janeiro, mês em que o Sol atravessa a constelação de Capricórnio. Uma das faces de Janus olhava o passado e a outra o futuro. Numa das mãos ele carregava uma chave e na outra uma foice. A chave, como sabemos, tem um duplo simbolismo, ela fecha, trazendo ideias de limite, de separação, de impedimento, de encerramento, e abre, sugerindo um
JANUS
meio de dar acesso a algo, de permitir, de libertar. Também símbolo de sabedoria, a chave, com o bastão, aparecem nas mãos de Janus como deus das portas solsticiais, exercendo assim uma função de guia (do qual o bastão é um símbolo) abrindo o caminho iniciático. O bastão de Janus dá ritmo à marcha do iniciado; sua dimensão, sua forma e sua flexibilidade correspondem sempre a medidas sagradas. Com a foice, na forma de um crescente lunar, Janus incorpora mais traços saturninos, simbolizando a sua figura tanto a morte como a esperança de um renascimento, falando-nos assim do inexorável progresso temporal.

Janus, como se sabe, é, entre os romanos, o guardião da porta principal, chamada janua. Por extensão, Janus acabou adquirindo poder sobre tudo aquilo a que o ser humano dava início, como está na palavra initium. A etimologia mais remota de Janus está numa raíz indo-europeia, ya, que tem o significado de passar, transitar. Entre os romanos, passagens abertas eram chamadas de iani. É por esta razão que o início do ano na Roma antiga foi colocado sob a tutela de Janus, no seu mês, janeiro, isto é, no signo de Capricórnio, pois neste mês o Sol, a 21 de dezembro, retomava o seu caminho de volta em direção do hemisfério norte. 

Lembremos, porém, que nem sempre foi unânime este entendimento entre os romanos, quanto ao mês que marcaria o início do ano. Segundo a tradição mítica, Rômulo havia fixado o início do ano no mês de março, em homenagem ao deus Marte, seu pai. Numa Pompílio, o segundo rei de Roma,  alterou essa disposição ao estabelecer o início do ano no mês de Janeiro e
JUNO
definindo o mês seguinte, fevereiro, meses inexistentes. Fevereiro vem de februa, um apelido da deusa Juno (Hera) enquanto esposa de Fébruo (O Purificador), uma divindade infernal. O mês de fevereiro (februaris mensis) era o último do antigo calendário romano, mês dedicado às expiações e purificações. Fébruo acabou sendo identificado como Pai Dite (Dis Pater), o equivalente do Plutão (Hades) grego, divindade em honra da qual se realizavam, no mundo romano, no período, as
NUMA   POMPÍLIO
cerimônias de mundificação e de expiação anuais. Esse mês foi instituído por Numa Pompílio desejoso de igualar o sistema romano de contar o tempo com o dos povos mais cultos (gregos e fenícios), com os quais os romanos começavam a entrar em contacto. Lembremos que Numa Pompílio (715-672 aC) é um personagem que não tem a sua identidade histórica claramente definida, aparecendo muitas vezes como uma figura mítica. 

A título de curiosidade, é de se lembrar também que o mês de fevereiro é o menor dos meses do ano. Isto se deve ao fato de no tempo do imperador Augusto (63 aC-14 dC) os seus aduladores terem proposto que o mês a ele consagrado, agosto, até então com 30 dias, tivesse a ele acrescentado mais um, para se igualar ao de julho, consagrado ao seu tio, o grande imperador Julio César, já falecido. Seria inadmissível, diziam tais aduladores, que o maior imperador romano, o divino Augusto, ficasse numa situação inferior à de qualquer outro imperador. Assim, o mês de fevereiro foi usado para que tal acerto fosse feito no calendário romano. 


O imperador Carlos Magno, todo poderoso sobre a Europa ocidental, no séc. VIII, fez o início do ano retornar à data fixada por Rômulo. No séc. XIII, a Igreja Católica tentou fazer coincidir o início do ano com o sábado de Aleluia, quando se procede à cerimônia do fogo novo, da bênção das pias batismais, e com a ressurreição de Cristo, que assegura ao homem uma promessa de vida nova e feliz. No séc. XVI, o rei Calos IX, fixou para a cristandade o princípio do ano no primeiro dia do mês de janeiro.  

Voltando a Janus, é de se ressaltar que o deus possuía um templo em Roma com doze portas, com um altar em cada uma delas. No dia 1º de janeiro, nesse templo, os romanos trocavam presentes, figos, maçãs, bolos de mel, peles de carneiro, taças de vinho etc., costume que está na base das festividades celebradas até hoje, entre 31 de dezembro e 1º de janeiro. Janus, no panteão romano, pode ser citado juntamente com os Lares, os Manes e os Penates, divindades que tinham sido espíritos que perseguiam os vivos como personificação de antepassados mortos, transformados depois em entidades protetoras da família e da casa. Janus é um desses deuses mais antigos entre os romanos, sendo, como se disse, representado com duas faces contrapostas numa cabeça, dominando as portas de passagem. Era uma divindade de caráter nacional. Numa das sete colinas de Roma, desde tempos muito remotos, havia uma cidade denominada Janiculum, em sua homenagem. 


LARES   E   PENATES

Segundo alguns mitólogos, Janus teria sido um herói que emigrara da Tessália (Grécia) para a Itália, recebendo do rei Câmeses parte de seu reino. Morrendo este último, conta o mito que Janus reinou sozinho no Lácio e que acolheu mais tarde o deus Cronos que emigrara para a Itália depois da vitória dos olímpicos. Janus dividiu seu reino com ele (como Câmeses o fizera), recebendo Cronos, entre os romanos, o nome de Saturno (nome que vem dos verbo
TERMAS   DE   SATÚRNIA
latino serere, semear, plantar). Unindo-se à deusa Ops Consivia (a Terra, semelhante à deusa Cibele, da Ásia Menor), a prodigalizadora da abundância, Saturno fundou uma cidade fortificada (Saturnia) na região do Capitólio, assumindo a condição de uma divindade civilizadora, instaurando a chamada aetas aurea (idade do ouro). 

As figuras de Janus e de Saturno acabaram por se fundir. Para o povo, entretanto, Janus foi sempre o senhor das passagens, sendo-lhe não só consagrado o mensis ianuarius, o mês que marca a passagem de um ano a outro, como também a ele foi atribuída a tutela de todos os começos, sendo por isso invocado ao nascer de cada dia, antes de qualquer outra divindade. Na festa celebrada em sua honra, no dia 9 de janeiro, era feito o sacrifício (agonium) de um carneiro (guia do rebanho). O santuário principal do deus, o Janus Geminus ou Quirinus (quiris, quiritis, nome pelo qual eram designados  os cidadãos romanos) estava situado ao norte do Fórum, diante do templo de Vesta. A estátua de Janus bifronte foi
JANUS   BIFRONTE
colocada debaixo de um arco na porta principal da cidade, de modo que ele olhasse para a sua entrada e a sua saída. Esta atitude era considerada pelos romanos como um símbolo de sua solicitude, o que o transformava no patrono dos porteiros. Aliás, como porteiro (janitor), Janus usava o seu bastão (virga) para evitar as intrusões molestas e afastar animais inconvenientes. Nesta função de porteiro, Janus era chamado pelos sobrenomes de Patulcius, o que abre, e de Clusivius, o que fecha. O culto de Janus estava centralizado na colina Janiculum, onde o rei Anco Márcio havia estabelecido uma fortificação para proteger o caminho dos comerciantes que iam à Etrúria e ao porto do Tibre, razão pela qual Janus recebeu o apelido de Portunus. Com o tempo, Janus tornou-se não só protetor das entradas e das saídas como dos comerciantes e dos navegadores. Sua cabeça figurava na mais antiga moeda dos romanos. 





Deus ambivalente, deus dos deuses na Roma antiga, Janus assumiu a condição de deus das transições e das passagens, marcando inclusive a evolução do passado em direção do futuro, de um estado a outro, de um mundo a outro. Sua dupla face significava que ele supervisionava tudo, tanto as entradas e as saídas como olhava para o interior e para o exterior. Neste sentido, Janus é a encarnação do próprio princípio da vigilância que pode se constituir também na imagem de um imperialismo sem limites. Sua figura bifronte está sempre nos arcos, nas portas, nas galerias, nos lugares de passagem. Alguns mitólogos fazem referência a um Janus quadrifons, o de quatro faces, capaz de guardar as quatro direções do universo. 

A cabeça de Janus passou a alguma culturas como o símbolo da ambiguidade, algo assim como uma lâmina que tem dois gumes. Positivamente, a cabeça do deus é considerada como a união do positivo e do negativo, qualidades que estão em todas as situações e ações humanas. Entre os romanos antigos, a cabeça bifronte de Janus era também um símbolo da vigilância (pessoas que têm “olhos na nuca”). Aos poucos, porém, esse sentido se perdeu para dar lugar ao da falsidade, como no caso da pessoa que tem “duas caras”, pessoa não digna de confiança, a que oculta o seu verdadeiro eu.    

DESTRUIÇÃO  DO  TEMPLO  DE  JERUSALÉM
( NIKOLAI   GE , 1831 - 1894 )
Entre os judeus, Tevet é o mês de Capricórnio, relacionado com a montanha e, no corpo humano, com a raiva e o fígado. O nome Tevet indica uma carência, uma falta de influência divina. Foi durante este mês que o cerco que levaria à destruição de Jerusalém começou; durante o mês de Tamuz, brechas foram abertas nas muralhas da cidade; em Av, o templo foi destruído. Assim, Tevet (Capricórnio), Tamuz (Câncer) e Av (Leão) são considerados pelos judeus como meses de influências negativas.

CHANUKÁ  ( CHAGALL , 1887 - 1985 )
Tevet é o décimo mês lunar do calendário hebraico a contar de Nissan, mês do Êxodo, ou quarto mês a partir da festa de ano novo (Rosh ha-Shaná). Tevet começa geralmente na segunda metade de dezembro. A festa de Chanuká (festa das luzes) estende-se até os primeiros dias deste mês. Em seu oitavo mês foi completada a tradução da Bíblia para o grego pelos setenta e dois sábios. A história desta tradução está narrada numa obra grega (carta de Arísteas). Por ela ficamos sabendo que a Torá, no séc. III aC, foi traduzida e passou a fazer parte da biblioteca do imperador egípcio Ptolomeu Filadelfo, em Alexandria. O sumo sacerdote de Jerusalém enviou setenta e dois sábios (seis para cada tribo) que fizeram a tradução, que impressionou bastante o imperador. Os rabinos consideraram, entretanto, a tradução uma tragédia, pois não a viram como correta, apenas um texto para uso dos gentios. No dia dez de Tevet se realiza um jejum público para lembrar o cerco de Jerusalém pelos babilônios, cerco este que deu origem à destruição do primeiro templo. Este dia de jejum é o único no calendário judaico que pode cair numa sexta-feira. 

O elemento terra aparece associado a Tevet, simbolizando o vagaroso poder de materialização que nele predomina. Entretanto, é dentro da terra que o poder de sustentação da vida está contido, assim como é dentro do fígado que está o sangue novo, fonte de energia do corpo humano. Segundo algumas tradições, os meses de Tevet (Capricórnio) e de Shevat (Aquário) correspondem aos dois olhos. Este entendimento decorre do fato, segundo tais tradições, de serem os olhos humanos os órgãos que mais facilmente afastam o homem da espiritualidade, segundo o ditado: O olho vê, o coração deseja.

Segundo a astrologia judaica, os olhos correspondem a dois meses do verão, Tamuz e Av, e, por essa razão, por ação reflexa, se ligam a dois meses do inverno, Tevet e Shevat. O atributo natural de Tamuz é a visão, sentido dependente do olho, lugar onde o mal encontra a sua primeira base de influência. Este signo aparece associado ao caranguejo, lembrando, por isso, movimento e flutuação. 

O astro que se associa a Tevet é Shabtai, Saturno, nome que etimologicamente lembra limitação, inatividade, razão, confirmando-se as tradições, pelas quais ele dá lugar a que as influências destrutivas do mal se manifestem. No seu aspecto positivo, Saturno representa a compreensão profunda, a erudição, e a contemplação, associada ao Shabat, na medida em que refreia a atividade mundana para permitir a experiência do transcendental. A expressão negativa deste signo, segundo a astrologia judaica, está no fato de ser Tevet para os cristãos um mês festivo, pois está na base da religião cristã, religião que quanto mais se difundia maior a perseguição e o sofrimento dos judeus.

A tribo relacionada com este signo é a de Dan, que tem a ver com o poder do severo julgamento. Dan, nome que quer dizer julgamento, é o sétimo filho de Jacó e o primeiro de Bilha (escrava de Rachel), ancestral de uma pequena tribo que se instalou em Leshem, perto da nascente do rio Jordão, no extremo norte de Israel. Sansão foi o
ADORAÇÃO DO BEZERRO DE OURO
( MARC  CHAGALL )
mais célebre dos descendentes desta tribo. No acampamento dos judeus, no deserto, a tribo de Dan ocupava um território onde o Sol se escondia, o norte, associado a Satã, ao mal, lugar do infortúnio, de obscuridade e morte, como o atesta Jeremias: é do setentrião que a infelicidade se espalhará  sobre todos os habitantes do país. Em muitas catedrais e igrejas cristãs, a porta do norte é conhecida como a porta do Diabo. O norte, para os judeus, é uma direção associada à acumulação de riqueza; foi dela, conforme explica a Midrash (método de interpretação bíblico), que a tribo de Dan recebeu o ouro com o qual contribuiu para a confecção do bezerro de ouro. 


Segundo os judeus, os nascidos no mês de Tevet costumam demonstrar uma forte inclinação para amealhar riqueza material. Esta tendência está expressa na letra Ayin, a letra deste mês, bem como está associada ao olho direito. Os judeus, durante a sua vida, devem prestar especial atenção neste mês à função espiritual da visão, conforme está em Isaías (cap. 40, 26): levantai vossos olhos ao alto e vede que criou esses corpos celestes: quem faz marchar em ordem o exército das estrelas e as chama a todas pelos seus nomes: pela eficácia da sua fortaleza, e força, e poder, nem uma só faltou. 

O mês de Tevet tem como atributo emocional a raiva (rogez), que tem o mesmo valor numérico da palavra Yirah, orgulho e consciência inspirada. Isto pode ajudar alguém a direcionar a energia de sua raiva orgulhosa contra a inclinação ao mal. A palavra raiva (rogez) é também numericamente equivalente à palavra poder (gevurah). O Mal usa o poder para vencer a santidade de Israel. A vitória sobre os atributos negativos do mês de Tevet pode trazer a uma pessoa um grande crescimento espiritual. A letra Ayin, acima mencionada, conforme certas tradições, representa também o poder de Esaú; sua forma, agachada e curva, simboliza a queda de Esaú.

Esaú, lembremos, em hebraico é peludo, felpudo, filho de Isaac e de Rebeca, apelidado O vermelho, considerado como o ancestral dos edomitas. Ávido de poder, trocou a sua primogenitura com seu irmão gêmeo e mais novo, Jacó, sendo depois privado da benção

SITRA   ACHRA 
paterna em razão de conflitos com o irmão. Assassino, estuprador e adúltero, Esaú morreu quando um neto de Jacó, durante os funerais deste, cortou-lhe a cabeça. Entre os judeus, Esaú simbolizou primeiramente o cruel império romano e depois, na Idade Média, o mundo cristão, pela sua postura antagônica com relação aos descendentes de Jacó. Entre os místicos, Esaú representa o Sitra Achra, o lado do Mal.

Os filisteus (povo semítico, talvez originário de Creta ou do sul da Ásia Menor; por volta de 1.200 aC), instalaram-se nos territórios sírios e palestinos e no norte do Egito; aniquilaram os hititas, fundaram várias cidades, dente elas Gaza; exerceram sempre muita pressão sobre Israel, o que contribuiu para fazer dele uma monarquia; no final do séc.VIII aC, foram submetidos pelos assírios), astrologicamente, são representados para os judeus pelo signo de Capricórnio. Desejando purificar a má influência da origem de sua mulher filisteia, lembram os judeus que Sansão, da tribo de Dan, deu-lhe de presente uma cabra.

Segundo a astrologia judaica, a influência de Capricórnio atinge negativamente Israel só se negligenciados ou esquecidos os preceitos da Torá. Particularmente importante neste mês é a influência do patriarca José, cuja história (sua estada no Egito) é sempre lida ao final do shabat, destacando-se a insegurança que ele deve ter experimentado enquanto vivendo no país dos faraós, um traço capricorniano, segundo os judeus. Durante os meses de Tevet e Shevat são lidos também trechos do livro do Êxodo. A influência de Sagitário em Tevet é representada por José e é enaltecida na festa da Luzes.


CABRA
Para os judeus, a cabra é, dentre todos os animais que vivem em rebanhos, o primeiro a avançar quando chega a um pasto. Essa afirmação está baseada no Talmud, maneira de agir que se confunde com o próprio processo da criação. Antes havia trevas, agora há luz, concluem os judeus. A natureza da cabra, no sentido de tomar a dianteira, assemelha-se à natureza dos capricornianos. Esta postura, porém, tanto pode significar, como eles a consideram, impulso em direção da espiritualidade como em direção da impureza material. Quanto ao primeiro, há que se remover todos os obstáculos quando a meta é a vida espiritual. A grande santidade de Capricórnio está no valor numérico da palavra gdee (cabra), dezessete, o mesmo valor numérico da palavra tov, divindade. 

É preciso lembrar que os judeus não vêem o bem e o mal como forças independentes, mas produzidas pelo próprio Deus. Encontramos em Isaías: Eu formo a luz e crio a escuridão. Eu faço a paz e crio o mal. Muitos rabinos recomendam que uma bênção
SAMAEL
deve ser proferida tanto na ocorrência do bem quanto do mal, pois tudo o que Deus faz é feito no sentido do bem. Na Idade Média, muitos filósofos judeus consideravam que o mal era tão somente a ausência do bem. A Cabala, entretanto, afirma que a fonte do mal está no Sitra Achra, o Outro Lado, sempre em conflito com as forças do bem. O Sitra Achra é o nome genérico das forças demoníacas, estruturadas de modo sefirótico. Esse Outro Lado não tem energia própria, sendo um parasita da luz divina, uma espécie de antimatéria. É governado por Samael, príncipe dos demônios, e por Lilith, gênio feminino do mal.   

O mal que os filisteus sempre representaram para o povo judaico sempre apareceu associado a Lilith e ao poder que ela tem sobre o reino do desejo. Dalila, que Sansão tentou subjugar, é uma manifestação desse poder. Sansão, como sabemos, é um herói bíblico nazirita que viveu no tempo dos Juízes, oriundo da tribo de Dan. Dotado de força extraordinária, realizou proezas que o
SANSÃO MATA LEÃO (CHAGA
tornaram célebre entre o povo de Israel. Matou um leão com as suas próprias mãos e pôs em fuga os seus inimigos, atacando-os com a queixada de um asno. Sua mãe foi avisada pelo anjo Uriel que teria um filho, a ser educado no caminho da religião, pois ele livraria Israel da opressão dos filisteus. Vitimado, porém, por violentas paixões sexuais, acabou sendo entregue aos filisteus por uma de suas amantes, Dalila. Aprisionado, seus olhos foram vazados, sofrimento que lhe coube como uma punição, um castigo divino, assim entendiam todos, por ter sempre cedido às tentações da luxúria que eles lhe traziam. Enquanto aprisionado em Gaza, cego, as mulheres iam visitá-lo na sua cela, para com ele ter relações sexuais, na esperança de  ter um filho tão forte quanto ele. Sabemos que Sansão fez com que o templo filisteu desmoronasse, rompendo as colunas que o sustentavam. Sua morte, para os judeus, teve sempre a característica de um martírio altruísta.


Para a astrologia judaica, o nome de cada signo ensina o processo pelo qual a alma de cada um dos tipos zodiacais pode ser aberta para o divino. A imagem de uma flecha sendo disparada (Sagitário) guarda analogia com a saída da alma do mundo infernal. Esta flecha encontra a sua estabilidade em Tevet, Capricórnio, o tempo de autodisciplina e de preparação para a iluminação. Este processo alcança o mês seguinte, Shevat, Aquário, com a ideia de retidão. 

Negativamente, Tevet pode trazer influências de caráter depressivo, que levem à solidão, ao auto-confinamento. As letras da palavra gdee (cabra) podem ser arranjadas de modo a formar geed, falo. Para os judeus, o uso inadequado deste último, no sentido de desejo, gera ocasiões em que o bem é removido de sua normal posição neste signo. O símbolo da pureza capricorniana é o tsadik (homem justo, probo, personificado como José), cuja energia possibilitou a vitória que a festa das Luzes simboliza, corrigindo-se o que de mal houver em Tevet. José, como se sabe, venceu a tentação do olhar que, dentre outras coisas, leva ao adultério. O poder para a vitória sobre esta tentação está escondido no povo de Israel, sendo ele chamado por isso de reminiscência de José pela tradição religiosa.



CONSTELAÇÃO   DE   CAPRICÓRNIO 

A constelação de Capricórnio estende-se hoje de 2º a 24º Aquário, sendo suas estrelas pouco significativas astrologicamente. Sua principal estrela (alfa) é Giedi, também chamada de Algedi, num dos chifres da cabra, de magnitude ligeiramente superior a 3, hoje a cerca de 3º10´ de Aquário. Este nome é retirado de Al Jady (A Cabra), o nome árabe da constelação. Ptolomeu viu nela influências da natureza de Vênus e de Marte. Há nela também alguns traços uranianos, que sugerem acontecimentos inesperados, às vezes violentos e agressivos, dependendo, é claro, de sua posição e aspectos. A estrela beta de Capricórnio é dupla, Dabih Major e Dabih Minor, na base do chifre. A estrela gama é Nashira, a Afortunada, na região da cauda da figura. Com exceção da primeira estrela mencionada e de Deneb Algedi, estrela delta, as estrelas de Capricórnio não têm maior expressão astrológica. A rigor, a única levada em consideração é esta última, a 22º50´ de Aquário, situada na cauda da cabra, com magnitude 3,1. Entre os árabes é Al Dhanab al Jady (a cauda da cabra). Ptolomeu a relacionou com Saturno e Júpiter, lembrando legalidade, tempo, justiça, sabedoria que protege e que auxilia, vontade de ajudar liderando. Para que estas
LE   VERRIER
características ganhem relevo e destaque é necessário que Deneb Algedi mantenha de algum modo relações positivas com o signo de Libra e com planetas que nele se encontrem. Um fato curioso com relação a Deneb Algedi é que o astrônomo Le Verrier manifestou sempre seu descontentamento com relação às efemérides de Urano, descoberto em 1.781.
GALLE, 1912-1910



Achava Le Verrier, na década de 1840, que havia um elemento perturbador da órbita uraniana, uma massa desconhecida, a 5º na direção leste de Deneb Algedi. Poucos anos depois (1846), com base nesta indicação, o astrônomo Galle descobria o planeta Netuno.