Uma das formas mais perversas pela qual a tendência tanática se insinua atualmente é a depressão, nome que se dá a um estado de desencorajamento, de falta de interesse, que decorre de alguma perda, de contrariedades, de decepções, de fracassos, apoderando-se daquele que a experimenta sempre uma grande solidão e muito sofrimento. Com ela vem também a prostração física e moral, distúrbio fisiológico e/ou psicológico causado por circunstâncias e acontecimentos que são adversos, a que muitos, sem o saber bem, dão o nome de estresse.
RETRATO ( LUCIAN FREUD - 1922 - 2011 ) |
Enquanto isso, um número cada vez maior de terapeutas chega anualmente ao mercado das terapias do psiquismo, no qual a da depressão representa uma grossa fatia. A indústria farmacêutica, por outro lado, vai fazendo a sua parte, pondo ao alcance da humanidade as chamadas pílulas da felicidade, os famosos remédios de tarja preta.
Dentre as divindades que vivem no Hades é preciso destacar a ação daquelas que se envolvem diretamente com a morte. Dentre estas,
muito deletérias eram as Keres. Esta palavra em grego tem relação com verbos que significam devastar, arruinar. A palavra latina caries, podridão, vem do verbo grego kerainein, destruir. Cárie, em português, destruição de um osso por corrosão progressiva, tem origem nesse universo semântico. Figuradamente, cárie será a destruição progressiva de alguma coisa.
muito deletérias eram as Keres. Esta palavra em grego tem relação com verbos que significam devastar, arruinar. A palavra latina caries, podridão, vem do verbo grego kerainein, destruir. Cárie, em português, destruição de um osso por corrosão progressiva, tem origem nesse universo semântico. Figuradamente, cárie será a destruição progressiva de alguma coisa.
KERE |
MICENAS - PORTA DOS LEÕES |
A ação das Keres tem a ver com o tipo de vida que o homem decide levar, ou melhor, a que ele se vincula desde o seu nascimento. Há casos em que elas o vão “apodrecendo” (o chamado instinto da destruição freudiano) desde o primeiros anos de vida, uma sucessão de atos, às vezes gloriosos, mas, no fundo, sempre destrutivos (não esqueçamos que elas contam sempre com o desgaste natural de tudo o que toma forma), que, num momento determinado pelas Moiras (Átropos), precipitarão o desenlace final. Por isso, o golpe das Keres ou da Kere (elas são tantas quantos os tipos de morte que existem) é sempre contundente. Elas, como Thanatos, agem sempre com as Moiras; põem o ponto final na vida do homem, golpeando-o, prostrando-o por terra inapelavelmente, parecendo ter mais “prazer” quando se trata de liquidar a vida dos mais orgulhosos, cheios de hybris. Com bocarras enormes, dentes pontiagudos, presas como as de javalis, se atracam ao calcanhar (zona corporal ariana) do morto e o arrastam para lugares ermos, afastados das cidades, jogando-os em montes de lixo. Ali, em meio à podridão, depredam o cadáver, dilaceram-no e depois deixam o resto par os animais necrófagos, os cães selvagens, as hienas e os corvos.
HOMERO |
Todavia, não podemos esquecer que a mutilação no mito também pode ter outro caráter, equivalente à nigredo alquímica, na medida
em que ela pode possibilitar o acesso a planos de conhecimento de alto valor. A mutilação, no mito, pode ser total, como no caso de Tirésias, o maior vidente da Grécia mítica, que, tendo perdido a visão por castigo da deusa Palas Athena, deixou de ver o mundo real e adquiriu o poder da vidência. É de se notar que as mutilações como as aqui mencionadas geram, se assim podemos dizer, especializações. No mito, se, por exemplo, a mutilação afeta a visão, ela pode proporcionar ao mutilado a aquisição da inspiração profética (capacidade de ver longe), da antecipação do futuro.
TIRÉSIAS |
Os únicos agentes da morte que se assemelham às Keres são as
Harpias, pois tanto umas como outras atuam sempre em função de uma trajetória existencial escolhida pelo próprio herói. Elas não podem ser confundidas com as Erínias, que operam sempre a posteriori, como se verá. Neste sentido é que as Keres e as Harpias aparecem como executoras do que já está predeterminado pelo tipo de vida escolhido pelo herói. É o caso de Aquiles a quem foi dada pelos deuses a opção de poder escolher o tipo de Kere que desejaria encontrar quando de sua morte. Uma Kere lhe proporcionaria uma morte tranquila, anônima, na velhice. A outra lhe daria uma morte gloriosa, masculina, no campo de batalha, uma morte “jovem”, que lhe proporcionaria um renome imperecível.
HARPIAS ( GUSTAVE DORÉ ) |
AQUILES |
BYRON |
O poeta foi, sem dúvida, o melhor representante na literatura brasileira da “escola do morrer moço”e, por extensão, de um componente existencial altamente destrutivo, tanático, que impregnou boa parte das biografias de artistas a partir do séc. XIX. A este componente se dava o nome, na literatura francesa, de mal du siècle (mal do século), um mal-estar caracterizado por uma grande dificuldade de conviver com os valores burgueses da época e por um profundo sentimento melancólico e de desencanto diante da vida.
Em 1851, consciente do seu fim, Álvares de Azevedo passou a disparar inúmeras cartas à mãe, à irmã e aos amigos. Em toda a sua obra e na correspondência enviada a temática da morte era dominante. Uma sensibilidade aguda, exasperada diante das dificuldades da vida e do mundo que o cercava, dava-lhe uma sensação profunda de impotência. Aos vinte anos, tão desejoso da morte, a Kere o abateu no dia 25 de abril de 1852.
Um pouco de seus versos de despedida: Quando em meu peito rebentar-se a fibra,/ Que o espírito enlaça à dor vivente,/ Não derramem por mim nenhuma lágrima/ Em pálpebra demente./ E nem desfolhem na matéria impura/ A flor do vale que adormece ao vento:/ Não quero que uma nota de alegria/ Se cale por meu triste pensamento.
PSICOSTASIA |
A querostasia era um rito encontrado só no mito. Na verdade, significava ele a confirmação do que o destino de um personagem, um herói invariavelmente, lhe reservava. O rito se cumpria por meio de uma balança, como na psicostasia egípcia. Sempre numa situação conflitual, “pesavam-se” os destinos , representados pelas Keres, de cada um dos personagens envolvidos. O prato que mais se inclinasse para o Hades decretaria a morte do seu “dono”.
AQUILES E HEITOR |
O melhor exemplo da querostasia é encontrado na Ilíada; os
destinos de Heitor e de Aquiles são pesados, inclinando-se os pratos de ambos para o Hades, só que muito mais pesado se mostrou o prato do primeiro. Cumpria-se assim o destino do herói troiano, apesar de ser ele um grande guerreiro, idolatrado pelo povo, respeitador dos valores familiares como filho, esposo e pai. Aquiles, embora grande herói dos gregos, guerreiro excepcional também, era, ao contrário, irritado, frenético, violento, sendo sempre muito problemáticas as suas relações com os deuses, seus companheiros de armas e mulheres. Assim, na querostasia grega, Zeus, que convocara as Keres de cada herói, decide pela morte de Heitor, que desceu então ao Hades.
TETIS ( PETER PAUL RUBENS 1577 - 1640 ) |
Esta participação de Zeus na querostasia de Aquiles e Heitor explica-se: o primeiro era filho de Tetis, a nereida, a mais bela das filhas de Nereu, grande divindade marinha. Cortejada por Zeus e por Poseidon, um oráculo revelado por Têmis afirmava que o filho que nascesse dela se tornaria muito mais poderoso que o pai. Foi o que bastou para que os imortais procurassem para ela um marido mortal. Além do mais, Aquiles, embora muito “problemático”, criando sempre casos com mortais e imortais, fora muito útil ao Senhor do Olimpo. Ele participara ativamente da guerra de Troia como uma verdadeira máquina de guerra, matando enorme quantidade de troianos. A guerra de Troia, como se sabe, fora uma ideia aceita por Zeus para diminuir o excesso populacional da Terra. A Grande-Mãe Geia, sempre muito reverenciado por Zeus, vinha se queixando há muito de que o descontrolado crescimento demográfico naquela região do Mediterrâneo oriental vinha se tornando insuportável para ela.
PRÍAMO E HÉCUBA ( PADOVANINO 1588 - 1649 ) |
Quanto a Heitor, Zeus também tinha as suas razões para agir como o fez, isto é, deixando a decisão para as Keres. Heitor era o filho mais velho de Príamo e de Hécuba, reis de Troia, considerado o primeiro, por muitos, apenas como seu pai putativo. Como herói, Heitor tinha um pai divino, Apolo, que sempre o protegeu nos embates por ele travados. Esta ascendência tornava Heitor um neto de Zeus e explica porque, apesar de Príamo ser o soberano, o verdadeiro governo da polis troiana era exercido por Heitor. De fato, era este herói que convocava e dirigia as assembleias no caso das decisões mais importantes e se encarregava de todos os negócios relacionados com a guerra em Troia.
HERMES |
As Harpias, como o seu nome indica, eram monstros arrebatadores.
Na língua grega, harpadzein quer dizer arrebatar, raptar, subjugar à força, violentar. No mito, eram filhas de Taumas e de Electra. O primeiro, cujo nome lembra maravilha, milagre, aquilo que provoca admiração, espanto, era filho de Pontos, divindade marinha primordial, e de Geia. Era, portanto, irmão de Nereu, Fórcis, Ceto e Euríbia, todos também ligados aos mares e aos oceanos.
HARPIA |
A GRANDE ONDA ( KATSUSHIKA HOKUSAI - 1760 - 1849 ) |
Taumas não teve praticamente participação no mito. Ele representava a espetaculosidade dos mares e oceanos, as ondas gigantescas no seu movimento de vai-e-vem. É do nome grego taumas que sai taumaturgia (milagre + trabalho) para designar um ramo das religiões que se dedicam ao levantamento e estudo dos prodígios e dos milagres. A taumaturgia, para os cristãos primitivos, se distinguia da teurgia, esta relacionada com os milagres de Cristo e dos apóstolos, enquanto aquela tinha a ver somente com a magia.
As Harpias eram três: Aelo, Occípite e Celeno, respectivamente a borrasca ou tempestade; a rápida de voo; e a obscura. Sempre representadas como monstros femininos horríveis, rosto muito envelhecido, corpo semelhante ao de abutres, garras, seios pendentes. Viviam no Hades e apareciam entre os mortais para, ávidas de sangue e de sexo, raptar jovens ou mesmo crianças. Levavam-nos para vampirizá-los, para se apropriar da energia deles. Costumavam também frequentar banquetes, pousando nas iguarias, para apodrecer tudo.
A sua maneira mais regular de atuar, como grandes arrebatadoras, se concentrava naqueles que se tornavam vítimas de suas próprias paixões, da sua sensualidade desenfreada, como os “possuídos” de toda espécie por desejos de ter, de enriquecer, de comer, de gozar a vida de qualquer maneira. Tinham especial predileção pelos que se entregavam à Volúpia, os amigos dos deleites, os libidinosos, os philargykós, os que só amam o prazer. Onde há paixões desregradas, torturantes, ideias fixas, obsedantes, apegos de toda a espécie, elas atacam, sendo, por isso, grandes abastecedoras do Hades.
HARPAGON ( COMÉDIE FRANÇAISE ) |
Como agentes do mundo infernal, encontramos também as Górgonas, palavra que lembra em grego algo terrível, apavorante.
No mito, elas eram três, Medusa, Steno e Euríale, filhas de duas divindades marinhas, Fórcis e Ceto, irmãos de Taumas, acima mencionado. A rigor, só Medusa (a que reina, a que domina, em grego) foi importante no mito. Ela vivia com as suas irmãs no extremo-ocidente, perto dos país das Hespérides. A imagem clássica da Medusa: cabeça cheia de serpentes, presas pontiagudas, mãos de bronze, o rosto como um esgar, sempre crispado convulsivamente.
Transformava em pedra quem com ela trocasse olhares. Todos a temiam, inclusive os deuses. Apenas Poseidon ousou se aproximar dela, fazendo-a mãe de Crisaor, um gigante dourado, e de Pégaso, o famoso cavalo alado, símbolo da inspiração artística controlada. O herói grego Perseu, auxiliado pelos deuses, matou a Medusa e a decapitou. Sua cabeça desde então passou a ornar a égide da deusa Palas Athena, que, com ela, como atributo mágico, pôs em fuga muitos de seus adversários.
MEDUSA ( MUSEU DE COLÔNIA ) |
PALAS ATHENA |
A Medusa, ao petrificar as suas vítimas, torna-se um símbolo da estagnação e, como tal, reflete a imagem de uma culpa pessoal, sempre de natureza paralisante, toda vez que o ser humano tem que romper com os seus atavismos, com os seus hábitos herdados, com o seu inconsciente pessoal na medida em que este inconsciente é modelado principalmente pelo ambiente familiar da infância. Perseu foi o herói que, no mito, representou de maneira exemplar, arquetipicamente, o ser humano que procura romper as ligações com esse mundo, fortemente marcado pela figura materna (Danae, no mito) e que precisa se preparar para assumir o controle de sua personalidade (livre-arbítrio). A história de Perseu nos revela que não é uma tarefa fácil alguém se tornar uma alma livre. Astrologicamente, nosso herói superou as chantagens da quarta casa (não se deixou petrificar pela culpa ao abandonar a mãe para realizar a sua efebia), ingressou na sétima ao se unir à princesa Andrômeda e assumiu finalmente o seu Meio-do-Céu ao matar o avô, conforme previsto em antiga sentença oracular.
ERÍNIAS |
Divindades infernais, as Erínias perseguem sem descanso os criminosos que, por suas ações nefastas, perturbaram a ordem pública e social. Muitas vezes, enviam punições coletivas para atingir uma região, uma cidade, sob a forma de epidemia ou catástrofe natural. No geral, porém, atacam o criminoso inspirando-lhe terríveis remorsos, um tremendo pavor de castigos, uma angústia sem fim.
CLITEMNESTRA |
No caso do arrependimento sincero do criminoso, dispondo-se ele, por longo tempo, a dar demonstrações explícitas desse sentimento através de atos concretos (pagamento de pesadas multas pecuniárias e de trabalho social desinteressado por longos anos), elas poderiam se transformar nas Eumênides, as Benfeitoras, ajudando-o a tranquilizar a sua consciência culpada, doente.
Uma das mais cruéis agentes do Hades era Hécate (etimologicamente, a que fere a distância), divindade infernal muito temida. No mito, era filha de Perses e de Astéria, ambos da raça dos titãs. Quando Zeus obteve o controle do universo, ela conservou os seus privilégios e suas prerrogativas anteriores. Era representada pelas três fases visíveis da Lua. Nas noites de Lua nova ela subia à superfície da terra. Suas aparições ocorriam nas encruzilhadas, lugar cuja tutela ela dividia com o deus Hermes, este na sua forma itifálica.
Esta forma de Hermes, como se sabe, vem da palavra grega herma, um pequeno monte de pedras que desde tempos pré-históricos era usado para sinalizar mudança nos caminhos. Este pequeno monte de pedras logo se transformou em pequenos pilares, pilastras, aos quais, depois, quando das elaborações mitológicas, foram acrescentadas cabeças do deus e um órgão fálico em ereção, uma clara indicação de que as encruzilhadas eram lugares de fecundação.
Por causa de sua situação de cruzamento de caminhos, a encruzilhada simboliza um verdadeiro centro do mundo para quem nele se encontra, um lugar de mudanças de destinos. A encruzilhada é universalmente um lugar onde são colocadas pedras, erigidos obeliscos, esculturas, capelas, calvários etc., sempre com o sentido de passagem de um mundo a outro. Ligadas ao sobrenatural, é nas encruzilhadas que se produzem revelações e aparições, tanto boas como más, de gênios, fadas, santos, espíritos maléficos, fantasmas, animais monstruosos etc.
HÉCATE |
Hécate favorecia aqueles que nas encruzilhadas procuravam mudar o seu destino, não ficando nelas imobilizados, indecisos, sem saber escolher. Nesse sentido, aos que nas encruzilhadas procuravam mudar conscientemente (vide Édipo), ela poderia favorecer, concedendo-lhes prosperidade material, eloquência nas assembleias, vitória nas batalhas, encher suas redes de peixes e fazer prosperar os rebanhos.
Aqueles que não sabiam mudar, ela, sempre acompanhada de espectros, fantasmas e de animais que simbolizavam fertilidade (jumentas, cadelas, lobas etc.), nas noites de Lua nova, vinha para destruí-los, empalando-os simbolicamente. A empalação era uma antiga punição infligida a condenados; consistia em espetar-lhes pelo ânus um estaca, deixando-os dessa maneira fixados até a sua morte.
Hécate, aos poucos, se transformou numa divindade infernal, de caráter noturno, tornando-se deusa da magia, da imaginação, das alucinações, das aparições e dos terrores noturnos. Os gregos chamavam de hecateias os gigantescos fantasmas que apareciam nas festas realizadas em homenagem à deusa. Assimilada à Lua, Hécate tinha relação com os lobisomens e as feiticeiras em geral. Seus cultos se caracterizavam por sacrifícios sangrentos realizados nas encruzilhadas.
Era igualmente nas encruzilhadas, por influência dos cultos de Hécate, que aconteciam as necromancias e que se matavam galinhas negras para invocar as forças diabólicas e com elas concluir algum pacto. As galinhas são símbolos de abundância por causa da grande quantidade de ovos que põem. Desde tempos pré-históricos, quando se sacrificava uma galinha, era costume romper a sua clavícula, fazendo-se um voto augural. Desde a alta Idade Média, a galinha, principalmente a negra, se distinguiu como um agente de ligação com as forças demoníacas. Segundo muitos demonólogos, o Diabo, através de uma galinha negra, costumava se fazer presente nos sabás (assembleia noturna das feiticeiras).
A encruzilhada, na origem, como seu nome indica, era uma
intersecção de quatro caminhos (quadrivium). Ela se tornava o centro do mundo e da vida quando estes quatro caminhos eram considerados simbolicamente como os que conduziam aos quatro pontos cardeais. A encruzilhada sempre foi por isso considerada como um lugar carregado de energias sagradas onde o homem se encontra o seu destino. É preciso, pois, como se disse, honrar neles, adequadamente, Hermes e Hécate. É nas encruzilhadas também que pode o homem, fertilizando-se, isto é, escolhendo conscientemente, se desvencilhar das suas energias negativas.
TRANSFORMAÇÃO DAS FEITICEIRAS ( GOYA , 1746 - 1828 ) |
A encruzilhada, também chamada quadrifurcus, sempre foi um lugar de invocações e encantamentos para todos os povos. Lembre-se que, no Candomblé, a encruzilhada é de Exu, o grande orixá, “aquele que é preciso convocar para se fazer qualquer coisa”. Este “fazer qualquer coisa” é o “despacho de Exu”. Ele é o despachante. O despacho de Exu é a cerimônia inicial ou padê nos terreiros. Os negros costumam chamá-lo por isso de “O Homem das Encruzilhadas”. Exu está sempre nas encruzilhadas, no cruzamento de caminhos, ruas e estradas. Para obter o “despacho” dele é preciso honrá-lo, dando-lhe pipocas e farinha com azeite-de-dendê.
Vermelho e negro, na Astrologia, recorde-se, são cores ligadas aos signos de Áries e de Escorpião, as cores de Exu no Candomblé. Exu recebe
como oferenda especial o chamado “ebó”, que é um “despacho”, com tripla finalidade: 1) fazer-se o mal a alguém; 2) pedir-se o bem; 3) agradecimento por uma “graça” recebida. O “ebó” é sempre colocado nas encruzilhadas. Quem faz um “ebó” não pode olhar para trás para vê-lo. No primeiro caso, o mal pedido se voltará na direção de quem o fez. Nos casos dois e três o “ebó” fracassará, gorará. No geral, “ebó toma o nome de feitiço, coisa-feita, muamba, isto é, despacho.
EBÓ |
Hécate, como deusa lunar, chamada de Trivia, ctônica, invocada adequadamente, tem a ver com as germinações e os partos. Seus três rostos visíveis representam as três fases da evolução vital, aparecer, se manter e desaparecer. Hécate foi muito venerada na costa oriental grega, nas regiões que faziam limites com a Ásia Menor. Em Egina, era objeto de uma secreta veneração (Mistérios) e era muito invocada para combater a loucura.
Quando de algum nascimento ou de alguma morte, no momento em que a alma se unia e se separava do corpo, Hécate estava sempre presente. Em tempos muito remotos, ela também vivia entre os túmulos, que ficavam junto das casas. Para apaziguar a deusa, ao final de todos os meses, se depositavam nas encruzilhadas os resíduos dos sacrifícios de purificação.
CIRCE |
Como divindade dos esconjuros espirituais e dos encantamentos,
Hécate era a madrinha das magas Circe e Medeia. Com efeito, é de Hécate que dependem todos os aspectos espirituais e mágicos da noite. A face esquerda da deusa representava a Lua crescente, a da direita, a Lua minguante, e a do centro a Lua cheia, a que encarava os que a olhavam. A copa e o cântaro, símbolos característicos da deusa, significavam nos seus cultos as oferendas de líquidos aos mortos.
MEDEIA |